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Mídia em parafuso

Nas últimas semanas do ano passado, os jornais publicaram alguns textos pesadamente oposicionistas, a maior parte deles ainda refletindo as emoções despertadas com a publicação do livro Privataria Tucana. Refiro-me, especificamente, aos textos quase histéricos de Merval Pereira e Marco Antonio Villa, além do artigo paranóico de José Serra. Entretanto, o primeiro dia de 2012 amanheceu com editoriais e colunas que negavam o teor dos primeiros.

8 comentários
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Nas últimas semanas do ano passado, os jornais publicaram alguns textos pesadamente oposicionistas, a maior parte deles ainda refletindo as emoções despertadas com a publicação do livro Privataria Tucana. Refiro-me, especificamente, aos textos quase histéricos de Merval Pereira e Marco Antonio Villa, e ao artigo paranóico de José Serra.

Entretanto, o primeiro dia de 2012 amanheceu com editoriais e colunas que negavam o teor dos primeiros.

Por exemplo, a Folha publicou, neste domingo, um editorial intitulado “Dilma, ano 1”, surpreendentemente favorável ao governo petista, e não só à gestão Dilma como também à anterior, de Lula.

Confira os dois primeiros parágrafos:

A administração se saiu bem em vários aspectos, mas falta arrojo para desatar nós que emperram a economia e elevar o padrão da educação.

Sucessora de um presidente que fez bom governo e deixou o cargo sob consagração popular, era natural que Dilma Rousseff pautasse sua estreia pela continuidade. Devia o cargo à indicação de Lula, de quem herdou até mesmo boa parte do ministério.

No Globo de domingo, encontrei duas colunas, escritas por personalidades muito influentes da área cultural, que citam elogiosamente o livro de Amaury Ribeiro, que dias antes havia sido tratado com desprezo e até mesmo ódio por outros colunistas do mesmo jornal.

Aldir Blanc abre sua coluna de domingo de maneira impiedosa:

Abro a cortina do passado para melhor encarar 2012. Estou lendo “A privataria tucana”, de Amaury Ribeiro Jr, nos contando sobre o Brasil de FHC I e II, “vendendo tudo”, principalmente o que pertencia a nosotros. Não adianta nhe-nhe-nhem porque o jornalista e escritor tem três prêmios Esso, quatro Vladmir Herzog, e sofreu um sério atentado, investigando assassinatos de menores pelo tráfico no entorno de Brasília. O livro contém lama para mensalão nenhum botar defeito. Só um tira-gosto: o insuspeito Nobel de Economia (2001) J. Stiglitz cunhou o termo “briberzation”, ao invés de privatization. Bribe é coisa roubada, na gíria de ladrões ingleses, desde o século XIV. Infelizmente, não achei, durante a leitura, nada sobre um pretenso compêndio escrito pelo Serra, sob pseudônimo: “O ócio de Aécio no cio”.

Talvez embalada pelo slogan da tucanagem, “vender tudo”, a operadora de telemarketing, amiga de Adriano Ruínas do Imperador, tenha se apresentado — Luzes! Ação! — para depor na delegacia com aquele modelito Das pu Bangu Trois. Gastando um pouquinho meu francês aprendido na Praça Paris foi vraiment une efemèrde.

O outro colunista global que cita o livro é ninguém menos que Caetano Veloso, que aborda o tema, porém, de maneira bem mais comedida que Blanc e compensando com uma tremenda rasgação de seda em prol de Fernando Henrique Cardoso.

Dizem que 2011 foi o ano do livro “A privataria tucana”.  (…) “A privataria tucana” tem estilo jornalístico vibrante.

Ainda no domingo, Jânio de Freitas faz uma referência sarcástica e algo misteriosa ao texto de Villa:

Por fim, Marco Aurélio Villa, professor de história da Universidade Federal de São Carlos e colaborador de jornais, escreve que o best-seller “A privataria tucana”, do repórter Amaury Ribeiro Jr., “foi produzido nos esgotos do Palácio do Planalto”.

Aí há duas possíveis metáforas e uma informação. As primeiras são “nos esgotos” e o próprio historiador e professor de história. É a informação que justifica o desejo inalcançável: ver provar-se, por qualquer meio inequívoco, que “A privataria tucana” “foi produzido” no Palácio do Planalto, mesmo que na garagem ou no abrigo das emas.

Com essas referências, pode-se dizer que o livro de Amaury, o grande acontecimento político do segundo semestre de 2011, finalmente conseguiu romper o bloqueio midiático e provocou um alvoroço interessante, forçando colunistas e intelectuais a tirarem a máscara, oferecendo ao leitor uma postura editorial confusa, contraditória, mas extremamente saudável do ponto-de-vista democrático.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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spin

02/01/2012 - 22h21

A respeito do montante roubado na venda do Banestado:

“(…) De suas 6.000 contas que totalizam US$30 bi, 1.000 foram em 2005 parar na Justiça, em processos onde abundam provas, e delações premiadas de doleiros já presos e condenados ( “farol da colina” ). Apesar de serem os menores dentre os menores (tucano de plumagem mais vistosa tinha método mais seguro que este posto a disposição da “turma do demo”), totalizando mísero US$1 bi, nem mesmo esses 1.000 processos serão julgados. A próxima notícia sobre os mesmos será dada quando eles prescreverem… .(…)”
http://www.viomundo.com.br/politica/privataria-tu

Comendador Phyntias

02/01/2012 - 16h35

Surpreendente pelo conteudo, este post. Eu que não leio habitualmente um ou outro, fiquei encafifado. será que se abriram as portas do inferno??? Que assim seja!!!

João Paulo

02/01/2012 - 12h07

Mensalão do PT deve ser julgado pelo STF em 2012. Já o do PSDB…
Denúncia aceita há dois anos pelo Supremo Tribunal Federal contra o tucano Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas, não anda. Justiça passou 2011 sem achar duas testemunhas-chaves e à espera de laudo da Polícia Federal sobre assinatura de Azeredo em recibo por repasse de R$ 4,5 milhões de empresa de Marcos Valério.
André Barrocal
BRASÍLIA – No último dia do ano judiciário em 2011, 19 de dezembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa mandou aos colegas relatório preliminar, de 122 páginas, sobre a ação penal contra o “mensalão do PT”. Resposta inclusive a pressões internas do STF – o ministro revisor, Ricardo Lewandowski, deu entrevista no fim do ano dizendo que os supostos delitos poderiam prescrever -, o gesto de Barbosa torna possível o início do julgamento do processo em 2012.

Leia mais http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMos

    José Vitor

    02/01/2012 - 17h16

    Denúncia aceita há dois anos pelo Supremo Tribunal Federal contra o tucano Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas, não anda.

    Falando de orelhada (porque não li o livro do Amaury), e o processo "secreto" onde Verônica Serra consta como indiciada, e que ninguém sabia que existia ? Pelo que vi, é de 2003 (ou antes, pois pesquisei superficialmente). Como é que "eles" (Serra, PIG et caterva) conseguiram esconder isso em 2010 (ano aleitoral) é um mistério pra mim, o que posso imaginar é que o próprio Judiciário colaborou para encobrir. Enquanto isso, a "pobre" Verônica fazia papel de vítima na propaganda eleitoral de papai…

_spin

02/01/2012 - 11h25

Miguel vc tem o valor aproximado do preju dado ao Brasil pela privataria tucana?

Fiz este comentário no blog do Eduardo Guimaraes

O total de propinas nas privatizações, calculado pelo livro, ultrapassa a casa dos 2 bilhões de reais.(Eduardo Guimarães)

Este valor só se refere a desvios para alguns bolsos. Há uma outra cifra a ser levada em conta: Qual foi o valor do causado pela privataria ao Brasil? Quanto o Brasil deixou de faturar se tivesse sido um jogo limpo, com preço justo, a venda da Vale, Sistema Telebrás(aqui se incluem Embratel e as teles estaduais, centro de pesquisa avançada na área de telecomunicação) e, além destas, outras 200 empresas que entraram na jogatina. Os prejuizos passam de 1 trilhão de reais.

Como se sabe, mesmo depois de abrir mão de todo o seu patrimônio, logo em seguida o Brasil mendigou junto ao FMI, o país assumiu débitos fiscais e trabalhistas das empresas privatizadas,,etc etc

P.S.- Edu, vc foi muito modesto ao contabilizar a roubalheira da privataria. Senão vejamos, só para citar um exemplo. No TO a Celtins(Centrais Elétricas do Tocantins) foi privatizada, ficando nas mãos do atual governador Siqueira Campos(psdb-TO), não sei ao certo se do próprio ou de laranjas. Espero que a CPI da Privataria funcione ao menos como uma espécie de Comissão da Verdade e coloque isso em pratos limpos. Quero saber quem são os donos da Celtins. Dizem que é um consórcio que administra, mas essa coisa de consórcio é convesa prá boi dormir. Na CEMIG uma turma de tucanos tentou ficar com a CEMIG. Uma senhora que assina pelo nome de Landau. Enfim, um trabalho e tanto calcular a roubalheira ocorrida na privataria. Mas seria bom se tudo isso fosse colocado em pratos limpos. Haja pratos…rsss

Castor

02/01/2012 - 10h39

Prezado Elson
Esse acordo (reação) sugerido NÃO é a cara da nossa mídia. É inteligente demais…
Abraço
Castor

    elson

    02/01/2012 - 20h33

    Caro Castor .
    Se , a CPI sair , muita coisa será desenterrada , e então as oposições e sua mídia terão que dar explicações a sociedade .
    Será que nossa mídia , tão zelosa quanto a moral e a ética no trato com a coisa pública irá admitir que incensou , defendeu e se beneficiou das privatizações ?
    É por isso que eles estão dando folga ao governo , eles pensam que podem pautar a política . Porém , se depender da blogosfera , essa CPI sai , doa a quem doer .

elson

02/01/2012 - 08h16

Essa reação dos jornalões , primeiro ignorando e depois resolvendo dar atenção ao livro a Privataria Tucana , alem dos elogios a administração Dilma podem ser uma estratégia , ou uma propósta de trégua para assim tentar cooptar o governo a barrar a CPI da privataria , tipo assim : "Voces não investigam nada , e nós deixamos voces governar em paz" .


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