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FHC defende regulação da mídia

A afirmação de FHC aconteceu num seminário que discute a liberdade de imprensa.

5 comentários
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(Ilustração capa: Babel, de Brueghel)

Encontrei a informação escondida ao final de matéria publicada no Globo de hoje, na página 10, sobre palestra de FHC em evento no seu instituto, em São Paulo.

FH defendeu a necessidade de regulação da mídia como parte da construção da democracia.

– Temos hoje uma arquitetura democrática, mas não temos a alma. É uma ideia que ainda está sendo construída. É preciso apoiar mecanismos de regulação que permitam a diversidade – disse Fernando Henrique.

Observe que a afirmação de FHC aconteceu num seminário que discute a liberdade de imprensa. Não dou tanta bola ao que diz FHC, mas ele é talvez o personagem político mais importante da oposição, neste momento. Sua defesa da regulação da mídia enquanto parte “da construção da democracia” ajuda a desmontar, portanto, a tese brandida pelos grandes meios de comunicação, segundo a qual a regulação da mídia seria uma bandeira de radicais petistas (robôs?), de fundo autoritário, com objetivo oculto de amordarçar a “imprensa livre”. Desmontar esta tese conspiratória e provar que regular a mídia é uma agenda essencialmente democrática, visando aproximar a legislação tupi para o setor do que existe de mais avançado no mundo, é um dos grandes desafios do movimento que luta para democratizar a comunicação social brasileira.

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Vamos dar um rolé geral pela mídia e blogosfera, porque tem muita coisa acontecendo.

Por exemplo, ainda não tive tempo de comentar a última tentativa da Veja de envenenar o debate político. Ao ver que a hashtag #VejaBandida foi para o topo da lista das palavras mais citadas no Twitter, ela fez matéria afirmando que o PT usava robôs virtuais para enganar o público. Citou especificamente o twitter Lucy_in_Sky como um robô ou manipulados por robôs. Pois bem, a Veja mais uma vez acusou injustamente. O endereço pertence a uma pacata senhora de 59 anos, que agora está assustada por ver seu nome envolvido numa guerra barra pesada. O nome da Veja voltou a aparecer nos TTs várias vezes nos últimos dias. O Twitter inaugurou uma era de robôs extremamente politizados e criativos. Só que esses robôs tem carne e osso, talvez sejam humanóides criados artificialmente em laboratórios, vindos do futuro, através de alguma empresa norte-americana cujos diretores sejam simpatizantes do PT. Sobre o caso Lucy, ver o final deste post do blog Cidadania.

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Hoje foi anunciada oficialmente a Comissão da Verdade. Vale a pena ouvir o discurso da presidenta. É um momento de grande significado político para o país. Os jornais deram um bom destaque, e quase todos defenderam a posição de que a entidade, formada por sete integrantes, deve investigar somente os crimes cometidos por agentes públicos. Não haveria simetria em investigar também os crimes cometidos por membros da luta armada. Era um exército de centenas de milhares, com recursos ilimitados, contra um punhado de jovens quixotescos.

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Aconteceu hoje o lançamento oficial do Sistema de Acesso a Informação, que se junta ao portal de Dados e o Portal da Transparência, oferecendo ao cidadão oportunidade para conhecer em detalhes os gastos do Estado, em todas as esferas. É uma arma poderosa de combate à corrupção e, portanto, representa um tiro mortal no coração do patrimonialismo brasileiro.

Vale notar que a Copa 2014 e das Olimpíadas 2016 tem portais separados, destacando os investimentos já feitos e por fazer. Qualquer cidadão pode monitorar se estes serão bem feitos ou não.

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O governo federal está, com uma celeridade surpreendente, alijando a Delta das obras do PAC. A estratégia ajuda a blindar a economia das sacudidelas políticas causadas pela CPI do Cachoeira, que envolve a empreiteira.  A presidenta adotou uma estratégia de blindagem ética que irrita políticos, mas é o que lhe forneceu o capital de confiança e credibilidade para enfrentar os bancos privados e os juros. Deu certo. Diariamente, os jornais trazem notícias de cortes de juros, taxas de administração, spreads, por parte de bancos públicos e privados. Em sua queda de braço com o setor financeiro, Dilma está ganhando de lavada.  Não é qualquer político que tem bala na agulha para fazer isso. Lembram daquele papo de que hoje em dia governos não mandam nada, quem manda é o sistema financeiro? Pois bem, a ofensiva da presidenta mostra que a política ainda existe.

Além disso, Dilma parece ter conseguido a proeza de  (com perdão do oxímoro) enquadrar o Banco Central mantendo-lhe a autonomia, através do convencimento de seus diretores de que baixar juro é como canja de galinha: é gostoso e não faz mal a ninguém. Economistas privados já estão prevendo que a taxa selic (juro básico do país) pode chegar a menos de 8% ainda em agosto. Nesse ritmo, o Brasil terá, ainda este ano, juros compatíveis com padrões internacionais.

Ler também: Dilma quer adotar Ficha Limpa para cargos federais.

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Em seminário realizado pelo Globo, com participação do italiano Paolo Mieli, 63, o jornal pegou uma frase dele e a converteu em manchete, com chamada na primeira página.

Capa:

 

Um jornalista pode muito bem entrevistar Bin Laden, Fernandinho Beira Mar ou Carlinhos Cachoeira, ou usá-los como fonte. Os dilemas éticos da imprensa são profundos, dolorosos e polêmicos, e a tradição manda que o jornalista seja livre para usar qualquer fonte. Entretanto, o próprio Mieli ressalta: “desde que a imprensa não passe a servir aos interesses desses contatos”. Isso – que é a informação mais importante – a Globo não deu na capa.  O jornalão continua tentando salvar a pele da Veja, e por isso tentou um artifício editorial malandro para inverter o sentido da opinião do italiano. Uma coisa é usar Carlinhos Cachoeira como fonte. Outra é servir a seus interesses. Pior, é ter interesses em comum, financeiros e políticos.

As opiniões de Mieli são bastante óbvias e “chapa-branca” da mídia tradicional. Discordo dele, porém, radicalmente, porque eu estou do outro lado das trincheiras. Quando ele diz que as novas mídias “são nulas a partir do momento em que você precisa parar para refletir”, ele ofende milhões e milhões de blogueiros em todo mundo, cuja produção e importância ainda não foram devidamente sopesadas pela história, e portanto a frase de Mieli é simplesmente leviana. Ele age como um homem tremendamente míope debruçado num balcão de sobrado, que dá para um praça onde se aglomeram 3 milhões de mulheres, reunidas para um concurso de beleza, e diz à sua esposa, que é um tribufu, que não vê nenhuma que lhe chegue aos pés.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Elson

17/05/2012 - 06h53

Ouvir isso de FHC me surpreende, afinal a mídia sempre lhe protegeu e lhe bajulou.

Eu sempre achei que esse negócio de Banco Central independente fosse uma metáfora para não dizer quer que o sistema financeiro privado havia tomado do Estado o direito de fazer política econômica. Fez bem a Presidenta ao colocar o BC para fazer política em favor dos brasileiros , caso contrário , estaríamos que nem a Europa, onde a banca pega dinheiro a juros de 1°/° e empresta aos Estados a taxa escorchantes.

A Globo se superou mais uma vez , teve que buscar um estrangeiro para defender seus parceiros no crime, afinal seus profissionais não tem mais credibilidade, e no Brasil, quem possui esta virtude, tem opinião contrária à da grande mídia.

Jorge Duarte

17/05/2012 - 04h16

Muito bem, agora quero ver a desculpa para o governo não fazer uma regulação da mídia, ainda este ano…

    Pereira

    17/05/2012 - 04h17

    Pode crer, Jorge, agora não tem desculpa.

Vera Souza

17/05/2012 - 00h23

O debate em torno da regulação da mídia está amadurecendo. FHC não quer perder o bonde. Ele podia ter feito isso antes, não? Agora quer surfar na onda, porque sabe que o governo vai vir com uma proposta em breve.

    Helena Vargas

    17/05/2012 - 00h23

    Acho que você matou a charada, Vera. De qualquer forma, é um apoio importante.


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