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O ano da sabotagem

A única saída para a oposição, neste momento, é usar a mídia para minar a confiança dos empresários na economia brasileira e, com isso, evitar o grande salto que o país está prestes a dar a partir deste ano. Não sou eu que o digo, mas o economista-chefe do Bradesco.

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Pintura de Bruna Meldau

A única saída para a oposição, neste momento, é usar a mídia para minar a confiança dos empresários na economia brasileira e, com isso, evitar o grande salto que o país está prestes a dar a partir deste ano. Não sou eu que o digo, mas o economista-chefe do Bradesco (em entrevista para Miriam Leitão):

Octavio de Barros acha que o maior risco para a economia brasileira em 2013 é o setor privado não se sentir confiante para investir.

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A seguir, continuo analisando fatores econômicos e depois adentro a seara política e eleitoral. Para ler, porém, você precisa fazer seu login como assinante (no alto à direita). Confira aqui como assinar o blog O Cafezinho.[/s2If]

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Miriam inicia sua coluna, aliás, com uma informação, no mínimo, desencontrada:

O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, prevê que o Brasil vá crescer entre 3% e 3,5% este ano. É dos mais otimistas. Já há previsões abaixo de 3%.

Não é verdade. A previsão de Barros está dentro da média de mercado, aí incluindo pessimistas, realistas e otimistas. Segundo o último boletim Focus, do Banco Central, que sonda a opinião do setor privado, a estimativa média para o PIB deste ano é de 3,10%.

A colunista, porém, omitiu uma informação importante. No mesmo jornal onde escreve, um dos economistas tradicionalmente mais conservadores e pessimistas do mercado, Nilson Teixeira, estimou que o crescimento para 2013 deverá ficar em 4%.

Agora, claro que surpresas podem acontecer, para o bem e para o mal. Economia tem seu lado científico, mas a futurologia não é um deles.

O que me chamou a atenção, neste momento, foi a declaração de Barros sobre a “confiança” dos empresários. Lembro-me de um capítulo da obra principal de Keynes, sobre o qual escrevi um post anos atrás, em que o economista aborda a importância do otimismo e da atmosfera política como condicionantes psicológicos fundamentais para despertar o espírito “animal” do empresariado nacional. A fórmula keynesiana prevê inclusive que governos trabalhistas, em função de suas relações com sindicatos ou forças de esquerda, teriam maior dificuldade do que gestões conservadoras, para convencer as classes proprietárias a apostar em novos empreendimentos.

O próprio Keynes, porém, ressalta que apesar do fator psicológico ter um papel importante nas taxas de investimento, nem tudo depende dessas “marés de psicologia irracional”. Felizmente, no longo prazo, os fatores tendem a se compensar e neutralizar-se mutuamente. Ou seja, razões de força maior acabam por prevalecer sobre o espírito mesquinho do tempo.

Hoje o IBGE divulgou a taxa de desemprego. Eu fiz um gráfico para termos uma ideia do tamanho da “crise” brasileira.

 

Esses números, que seriam comemorados por qualquer imprensa do mundo, no Brasil são recebidos com editoriais apocalípticos, como o de hoje do Estadão, que começa assim:

A economia brasileira está em crise e nenhuma bravata do governo mudará esse fato.

Segundo o economista-chefe do Bradesco, todavia, não só não há nenhuma crise, como poderemos registrar, em 2013, um crescimento de até 8% nos investimentos. Em entrevista à Leitão, Barros afirma que “não ficaria surpreso se [a formação de Capital Fixo, ou seja investimentos] chegasse a 7% e 8% em 2013.

Ele também está confiante na recuperação da indústria:

Octavio está esperando uma surpresa boa na produção industrial de janeiro. Nessa, muita gente aposta. A venda de caminhões foi normalizada. Em 2012, a produção despencou porque os novos caminhões tinham motor Euro 5, mais caro, e o diesel limpo não estava bem distribuído.”

Interessante notar que o problema nas fábricas de caminhões jamais tem sido explicitado quando a imprensa alardeia a queda na produção industrial de 2012. A fabricação de caminhões é um dos setores mais importantes da nossa indústria, e a grande reforma pelo qual passou em 2012 ajuda a explicar, em parte, a estagnação do ano pasado.

No front político, tenho a impressão que a mídia decidiu aplicar um corretivo nas candidaturas de Campos e Marina. Depois do entusiasmo inicial, os barões parecem ter concluído que nenhum dos dois arriscará fazer oposição direta ao governo Dilma, o que esfriou rapidamente sua euforia por esses “dissidentes”. Qual a graça num blogueiro cubano se ele não fala mal de Fidel? Qual a graça de um novo partido ou novo candidato se não fala mal de Lula ou Dilma? Hoje o Globo dá enorme destaque a reportagens um tanto forçadas para desgastar Campos e Marina:

Não digo que o jornal não deveria publicar essas matérias, mas a maneira como elas se apresentam indicam uma mudança na postura da mídia em relação a ambos os candidatos. Na minha opinião, a mídia continuará a incentivar a proliferação de candidaturas, pois isso levaria a redução do tempo do PT na tv e aumentaria as chances de um segundo turno. Mas o seu apoio é condicionado à um posicionamento de oposição bem assertivo. Não irá tolerar mais a tentativa de formar uma terceira via não alinhada ao combate ao governo. Pode ser terceira via, mas batendo no PT e se alinhando caninamente às orientações midiáticas. 

*

João Bosco Rabello fez uma boa análise dos movimentos políticos preparatórios para 2014.

No xadrez político, o mais recente movimento do governo é taticamente correto. Esgotadas as tentativas de manter a aliança com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), na disputa presidencial de 2014, antecipou a campanha eleitoral, reforçou a parceria com o PMDB e, agora, providencia um “racha” no PSB insuflando a indefectível vocação dos irmãos Gomes (Ciro e Cid) para a intriga política.

Rabela finaliza seu texto concluindo que…

a situação mais difícil é a de Eduardo Campos. Não por algum “racha” no partido, mas porque precisará demonstrar determinação suficiente para que sua aspiração não se baseie apenas no eventual fracasso de Dilma. Não parece sustentável uma candidatura que se paute simplesmente pelo apoio ao governo que pretende suceder, sem oferecer alternativas que a tornem atraente pela fundamentação pública.

A conclusão de Rabello é mais uma prova do esfriamento do entusiasmo midiático com a candidatura de Eduardo Campos, tendência esta que foi agravada pela troca de farpas entre Aécio Neves e o governador de Pernambuco durante o último final de semana. Tive a impressão que as hostilidades se deram à revelia dos próprios candidatos. A última coisa que interessa à Aécio é irritar Eduardo Campos, mas a correlação de forças que parecia fazê-los se aproximar, de repente começa a afastá-los, produzindo uma animosidade quase instintiva entre um e outro. Subitamente ficou claro que tanto Aécio quanto Marina e Campos irão disputar um mesmo eleitorado. A ideia de que vários candidatos poderiam facilitar um segundo turno é correta, mas apenas se indicasse a sangria do eleitorado dilmista. Se levar à fragmentação do eleitorado da oposição, terá efeitos desastrosos para esta.

*

A única esperança da oposição, portanto, enquanto Marina e Campos se mostram indecisos quanto à sua postura em relação ao governo, seria uma cisão entre PMDB e PT. E ontem brilhou uma estrela neste sentido. O diretório regional do PMDB fluminense divulgou uma nota intempestiva e deselegante contendo uma chantagem explícita ao governo Dilma: se o PT não retirar a candidatura de Lindbergh Farias e não apoiar Pezão, candidato do PMDB ao governo do Rio em 2014, os pemedebistas do estado irão trabalhar contra a candidatura de Dilma.

O maior temor, naturalmente, não é quanto aos pemedebistas do Rio e sim se o conflito no Rio poderia causar uma ruptura entre PT e PMDB a nível nacional, o que constituiria, aí sim, uma reviravolta na situação política. É um risco sim, que deve ter acendido todas as luzes amarelas dos estrategistas da campanha de Dilma. Tanto é assim que Lula já marcou jantar com Sérgio Cabral e Pezão, para hoje. Contornar uma situação tão complicada, já que dificilmente Lindbergh e o PT fluminense aceitariam retirar a candidatura própria, é uma tarefa que só mesmo Lula poderá resolver, provavelmente trazendo alguma cartada salomônica.

Tudo pode acontecer no Rio. Aqui é onde a corda unindo PT ao PMDB aparece mais perigosamente esticada. Merval Pereira já detectou o risco e tratou de faturar, como sempre pro lado tucano:

A direção do Rio de Janeiro exige em nota oficial nada menos que uma intervenção da direção nacional do PT para cortar a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do Estado na sucessão do governador Sérgio Cabral. A ameaça velada de romper com a unidade do apoio do PMDB ao governo Dilma caso a candidatura do vice Pezão não seja a oficial da base governista traz embutida a ideia de uma possível dissidência para apoiar uma candidatura alternativa, que tanto pode ser a de Aécio Neves como Eduardo Campos.

Entretanto, ironia das ironias!, a súbita relevância de Eduardo Campos no cenário nacional, que levou o ex-presidente Lula cogitar oferecer ao PSB a vice-presidência e, com isso, causando mal estar no PMDB, agora se torna, por outro lado, o principal fator de pressão sobre o PMDB na direção do PT. Porque se o PMDB resolver, numa pirueta, abandonar a candidatura governista e partir para um vôo solo, o PSB ocupará seu espaço imediatamente. Ou seja, o PSB acabou por se tornar uma espécie de substituto sempre a postos, e o PMDB não irá entregar de graça o seu espaço no governo para outro partido.

Além do mais, o presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani, alimenta um profundo ressentimento contra Lindbergh Farias, pois o petista entrou atropelando sua candidatura ao senado em 2010. Picciani representa a ala mais antipetista do PMDB fluminense, enquanto Cabral e Eduardo Paes, que detêm o poder executivo e, portanto, são os donos da bola, tem uma relação extremamente estreita com Lula e Dilma. Tanto Cabral quanto Paes, de Lula nem se fala, são políticos altamente flexíveis e astutos, e o mais provável é que cheguem a algum tipo de acordo de cavalheiros entre PT e PMDB, encorado em pactos de não-agressão. Cabral deve estar mais interessado numa tranquila carreira de senador, e os planos de Paes estão focados para depois de 2016, quando termina sua gestão na prefeitura.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Márccio Campos

27/02/2013 - 12h18

infelizmente você chegou ao ponto que eu já tinha previsto:

as sabotagens serão reais (físicas), principalmente na Copa das Confederações; derrubada de linhas de transmissão (num dos PMO’s do ONS ouvi que, enquanto uma linha de transmissão desenergizada está instalando um reparo em certo trecho, ladrões furtam os cabos de outro trecho no meio do mato…. então, pra acabar com a farra, helicópteros são contratados pra fazer a varredura de toda a linha para inibir as ‘ações’ dos ladrões!!! – quer crime mais organizado? – famoso custo “Brasil” – um país montado (made in usa) pra não funcionar);

apesar que ainda acredito – novamente infelizmente – no assassinato de Lula durante as caminhadas da cidadania… pra esses vampiros é só mais um evento entre tantos outros da história da humanidade…

abraço e bom trabalho!

Márccio Campos
rio de janeiro


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