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O surrealismo de Eduardo Campos

Se a eventual candidatura de Eduardo Campos à presidência da república em 2014 vinha assumindo, nos últimos meses, contornos enigmáticos e perigosos (tanto para o governo quanto para a oposição), parece agora ter descambado numa panacéia surrealista.

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Se a eventual candidatura de Eduardo Campos à presidência da república em 2014 vinha assumindo, nos últimos meses, contornos enigmáticos e perigosos (tanto para o governo quanto para a oposição), parece agora ter descambado numa panacéia surrealista. Refiro-me, naturalmente, à informação, publicada em primeira mão pelo Nassif e repetida hoje em artigo no Valor, de que estaria havendo um movimento de aproximação entre José Serra e Eduardo Campos. A sinistra tertúlia vem sendo mediada por Roberto Freire, presidente do PPS.

Poucas vezes me deparei com uma história tão inverossímil, mas verossimilhança é uma qualidade exigida na ficção. A vida real – e em especial, a política brasileira – é antes absurda.

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A informação peca pelo excesso de verbos no futuro do pretérito, gerúndios, subjuntivos. Joga muito mais sombra do que luz sobre Eduardo Campos, mas nos permite tecer algumas considerações sobre os significados que estão sendo construídos em torno de sua candidatura.

Em primeiro lugar, Campos parece adotar uma estratégia que Fernando Gabeira tentou, com relativo sucesso (mas não o suficiente para ganhar), aplicar nas eleições municipais de 2008. Na época, o professor Wanderley Guilherme observou que o verde mais parecia uma instalação artística, dessas bem moderninhas, que ninguém sabe distinguir se é muito ruim ou genial, se faz uma crítica inteligente aos preconceitos sociais ou chancela-os submissamente. Gabeira se prestou a uma candidatura criada nas sombras e envolta em névoa – e não falo da fumacinha inocente e perfumada nos shows de Marcelo D2.

No esforço de conquistar o voto conservador, Gabeira foi ao Clube Militar falar mal dos heróis da luta contra a ditadura. E tudo isso sem perder a aura de ídolo dos maconheiros. Ao cabo, Gabeira realizou uma proeza digna de nota. Promoveu uma das eleições mais incrivelmente classistas da história do Rio: nos bairros mais ricos, obteve quase 80% dos votos, nos bairros pobres, foi esquecido. Perdeu a eleição. Dois anos depois, Gabeira se tornaria o principal cabo eleitoral do PSDB no Rio de Janeiro, sacrificando sua carreira política numa candidatura vazia para o governo do estado apenas para dar um palanque a José Serra.

A mesma fórmula foi usada por Marina Silva em 2010. É sempre a mesma coisa: pega-se um líder com um capital político na esquerda, e se tenta vendê-lo a forças conservadoras.

Duvido (ou não quero acreditar) que seja essa a intenção de Campos. A maior parte dos boatos, planos, debates em torno de sua candidatura acontece à revelia de qualquer posicionamento real do governador – embora ele pudesse neutralizá-los com algumas declarações. Enfim, me parece que Campos está se deixando levar pela onda, observando com um misto de curiosidade e espanto as forças que se alevantam a seu redor, todos querendo lhe puxar seu lado.

Com certeza, a perspectiva de poder é uma coisa que mexe com a vaidade de qualquer um. E isso não é brincadeira. O poder enlouquece os espíritos mais nobres. A ironia dessa situação é que pode-se dizer que as pessoas contempladas pelo poder apenas não se tornam autoritárias, egoístas e loucas em virtude do que se considera o lado podre da política: para alcançar o poder e mantê-lo, são obrigadas a fazer tantas concessões, a uma luta diária tão dura e mesquinha, tornam-se alvos de tanta inveja, ganham tantos inimigos, aos quais precisam destruir ou subornar, que elas acabam jamais se esquecendo que são humanas, jamais esquecendo o preço altíssimo cobrado pelo poder, jamais esquecendo a superficialidade, transitoriedade e perigo de todo poder.

Veja-se o caso de Eduardo Campos. Ainda faltam quase dois anos para as eleições de 2014, ele aparentemente não decidiu nada, mas se vê no meio de um tremendo ciclone político, que tanto pode levá-lo para os píncaros de sua glória, como pode despedaçá-lo completamente, arruinando sua carreira.

Sejamos claros: o despedaçamento de Campos acontecerá se a direita conseguir, com golpes de adulação e astúcia, convencê-lo a se lançar candidato como representante oficial ou alternativo do campo conservador. Mas eu acho que o governador está num daqueles momentos cruciais da vida de um político, em que ele pode cair no abismo ou chegar do outro lado do precipício. Então, também pode acontecer que ele – se tiver talento para tal – poderá sair da enrascada em que se meteu maior do que entrou, e cacifar-se como a principal liderança não-petista do Brasil. O que é importantíssimo para a esquerda nacional: um quadro não-petista. Até como estratégia para quebrar o preconceito ideológico contra o PT que o conservadorismo, que detêm os meios de comunicação, vem cultivando há décadas em amplos setores sociais.

Não confundamos preconceito com visão crítica. O PT merece ser criticado. É saudável que o seja. Outra coisa é o desenvolvimento de um ódio visceral, irracional, contra um partido cujas credenciais democráticas são impecáveis. Pertencendo a um partido diferente, é natural que Campos tenha suas diferenças com o PT, e as exponha, e eventualmente até resolva se lançar candidato.

A candidatura de Eduardo Campos não pode ser considerada nociva em si. O PT também deve tomar muito cuidado para não incorrer em sectarismo partidário e não compreender o florescimento de novas forças, o que é saudável para ampliar a pluralidade política nacional.

A candidatura de Eduardo Campos apenas será nociva, e muito mais para si mesmo do que para o PT ou Dilma Rousseff, se ele abraçar a direita. Porque tomará mais votos de Aécio do que da presidenta, dificilmente se elegerá e ficará queimado junto a maioria da população.

Por outro lado, se Campos optar por uma candidatura alinhada ao Planalto, ou seja, uma candidatura satélite, apenas para marcar posição e expor suas ideias e seu rosto em cadeia nacional, ele correrá ricos bem grandes:

  • A lua de mel com a mídia terá um fim trágico. Se a mídia tucana entender que Campos não é seu aliado, e que sua candidatura visa antes tirar votos do PSDB do que dividir a base aliada, ele será alvo de uma campanha terrível de desconstrução simbólica. E a esquerda não terá tempo ou disposição para defendê-lo, porque estará totalmente absorvida nos esforços para vencer mais uma vez o tucanato.
  • Vai confundir o eleitorado, que mesmo sem que ele faça nada, vai identificá-lo como “inimigo” de Lula e Dilma. Com isso, Campos perderá uma base eleitoral importante, com prejuízo para candidatos do PSB em todo país. Os candidatos do PMDB e de outros partidos aliados evidentemente que se aproveitarão para ocupar o vácuo deixado pelo PSB.
  • Mostrando um desempenho eleitoral fraco, Campos perderá prestígio, atrapalhando um processo bonito, lento, natural, sólido, de construção de sua imagem.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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migueldorosario (@migueldorosario)

08/03/2013 - 20h42

O surrealismo de Eduardo Campos http://t.co/XUvNCNYU0W


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