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PSDB persegue blogs e Mídia Ninja

Acabo de ler essa notícia no 247: MÍDIA NINJA: SENADOR INVESTIGA USO DE DINHEIRO PÚBLICO Esse tipo de coisa me dá vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. É incrível que diante da revelação de uma sonegação bilionária da família Marinho, o excelentíssimo senador Aloysio Nunes decida investigar a… Mídia Ninja. E volte a […]

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Acabo de ler essa notícia no 247:

MÍDIA NINJA: SENADOR INVESTIGA USO DE DINHEIRO PÚBLICO

Esse tipo de coisa me dá vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. É incrível que diante da revelação de uma sonegação bilionária da família Marinho, o excelentíssimo senador Aloysio Nunes decida investigar a… Mídia Ninja. E volte a atacar os blogs.

A fala de Nunes representa uma ameaça grave à democracia, à pluralidade, à liberdade de expressão e de imprensa. Observe que ele não cita nenhum fato que justifique sua determinação de criminalizar a mídia alternativa. Ele mesmo admite, com um descaramento delinquente, que se trata de perseguição política.

Nunes diz o seguinte: “Continuo na minha tarefa de identificar os financiadores desses blogs e movimentos pretensamente independentes, mas que estão a serviço do governo e de partidos políticos, financiados com dinheiro público”.

A asserção é absurda, discriminatória e anti-democrática. As exibições do Mídia Ninja ajudaram a derrubar em mais de 20 pontos a aprovação da presidente Dilma, e abriu caminho para a oposição em 2014. Os Ninjas se tornaram heróis da grande mídia tucana.

Aí quando o Datafolha publica outra pesquisa, que mostra declínio de Aécio Neves, e dois integrantes do coletivo se declaram de “esquerda”, o PSDB decide atacá-los.

Quanto aos blogs, o senador finge desconhecer o fato mais elementar de um ambiente de liberdade democrática: a pluralidade ideológica pressupõe necessariamente que existam blogs a defender ou atacar todos os partidos, governos e tendências políticas. Há blogs tucanos, petistas, do PPS, comunistas. Há blogs que defendem o governo de São Paulo, outros que defendem o governo federal. Há blogs que atacam todos os governos, ou que fingem fazê-lo. Em torno de tudo isso, há a liberdade de expressão. Eu tenho a liberdade de apoiar ou não apoiar qualquer governo ou partido político. O senador Aloysio Nunes, ou qualquer outro parlamentar, não tem o direito de patrulhar o que dizem ou defendem os blogs políticos brasileiros.

Agora, um depoimento. Sou blogueiro desde o início dos anos 2000. Nunca ganhei dinheiro do Estado. Nesse ínterim, a Globo ganhou dezenas de bilhões de reais do governo federal, e mais outros bilhões de governos estaduais e prefeituras. Isso tudo depois de ter ganhado sabe-se lá quanto antes disso, e ter se consolidado financeiramente durante o regime militar, do qual se locupletou.

O Cafezinho, desde que foi fundado há dois anos, tem vivido de assinaturas, doações, um pouquinho de publicidade privada, e agora também da venda de títulos-fantasia.

Agora estou muito bem, graças a Deus, mas a minha vida de blogueiro full time foi sofrida demais para aceitar que um biltre como esse Aloysio Nunes me ofenda com suas acusações genéricas à blogosfera. Paguei, com orgulho, um preço altíssimo pelo exercício da crítica independente: anos e anos vivendo na linha da pobreza, contando centavos para comprar um pão francês. O senhor Nunes não tem ideia do quanto sofre um intelectual no Brasil, sobretudo quando tem postura progressista e defende um governo do PT. Defender governo de esquerda no Brasil de Lula, senhor Nunes, jamais nos trouxe qualquer lucro. Muito pelo contrário, quando se quer ganhar dinheiro, basta dar uns pauladas no PT, para aparecer rapidamente algum laranja da Globo oferecendo dinheiro.

Mas não quero cair na armadilha da direita, que pretende ficar com o dinheiro público apenas para si mesma. A estratégia de distribuição de verbas das entidades públicas é reacionária. Defendo todo o tipo de iniciativa que democratize os recursos públicos para a mídia alternativa.

O Cafezinho aceita como muito gosto qualquer publicidade pública e privada, desde que o anunciante não interfira em nossa linha editorial. Pago meus impostos honestamente, sem usar paraísos fiscais. Não tenho nenhuma offshore chamada Cafezinho Overseas Investments BV, nem adquiro apartamentos em Miami através de nenhum Cafezinho Assas JB Corporation.

Por outro lado, acho extremamente positivo que o senhor Alosyo Nunes peça informações aos órgãos de Estado sobre os gastos com publicidade. Só que eu já dei essa informação, senador. Se você parasse com sua implicância com os blogs, pouparia seu tempo e ficaria melhor informado. Leia esse post:

https://www.ocafezinho.com/2012/09/13/secom-abre-caixa-preta-da-publicidade-institucional/

E esses também:

Bomba! 72% da publicidade do governo na web vai pro PIG

Secom privilegia grandes portais e Rede Globo

Você poderia então agir como o ladrão da música do Bezerra da Silva, que foi assaltar a casa de um pobre, e ficou tão horrorizado com a pobreza do cidadão que saiu correndo, surtado, gritando: “pega eu, que sou ladrão”.

A Secom, cujo secretário-executivo é um reacionário raivoso que deseja prisão de Pizzolato “porque sim” (apesar dele mesmo estar muito mais envolvido nas relações entre DNA e o BB do que Pizzolato), distribui duzentas vezes mais verbas para sites do Rupert Murdoch no Brasil (Fox), do que para a nossa aguerrida, franciscana e esfomeada blogosfera.

Você irá ficar espantado, senhor Nunes, que apesar da blogosfera progressista ser, sim, um dos poucos ambientes em que a grande mídia tucana recebe um contraponto à altura, o governo do PT também nos persegue e tenta nos matar de fome, porque entregou a distribuição de verbas federais para a global e tucana Helena Chagas e para o cafumango Roberto Messias.

Eu até apoio, portanto, a sua iniciativa, senador, desde que tenha coragem de publicar, com transparência e honestidade, os dados que lhe forem fornecidos. Mas publique mesmo!

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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