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A produção industrial e a guerra dos números

Toda vez que o IBGE divulga o relatório mensal da produção industrial, temos uma pequena guerra estatística. Quer dizer, não é bem guerra visto que o governo continua tratando o tema da informação com absoluta indiferença. É mais um ataque voraz, por parte da mídia, aos números divulgados, em busca de alguma presa que possa […]

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Toda vez que o IBGE divulga o relatório mensal da produção industrial, temos uma pequena guerra estatística. Quer dizer, não é bem guerra visto que o governo continua tratando o tema da informação com absoluta indiferença. É mais um ataque voraz, por parte da mídia, aos números divulgados, em busca de alguma presa que possa ser apresentada como “fato negativo” à opinião pública.

Segundo o IBGE, a produção industrial de julho caiu 2% sobre junho, mas cresceu 2% sobre o mesmo mês de 2012. É preciso observar, contudo, os detalhes, onde moram diabos, anjos e urubus.

Confira os comentários sob cada tabela.

A tabela é mais ou menos neutra, os dados positivos compensam os negativos. Então vamos analisar por setor.

A forte alta (15%) do setor de bens de capital, na comparação com o ano anterior, é um fator positivo fundamental. Se a produção de bens de capital está tão forte, significa que a indústria está investindo.

 

Mesmo a indústria de bens duráveis, que experimentou declínio na comparação com o mês anterior, ainda tem um tanto de gordura para queimar antes de avaliarmos negativamente o setor:  alta de quase 4% nos acumulados jan/jul e 12 meses.


O gráfico acima traz os setores que mais cresceram em julho, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Por aí vemos que os setores mais estratégicos da indústria brasileira apresentaram um excelente desempenho em julho:

  • veículos automotores, a indústria mais importante do país, cresceu 13%;
  • o refino de petróleo, um segmento fundamental para reduzir as importações, também apresentou um crescimento substancial em julho, de 8,9%;
  • os segmentos de máquinas e aparelhos elétricos cresceu 7,7%;
  • até as fábricas de calçados se deram bem em julho, crescendo igualmente 7,7%;
  • o setor de máquinas e equipamentos creceu 5,1% em julho.

O que está em jogo, nessa disputa simbólica pela melhor interpretação dos números da economia brasileira, é um dos ativos mais importantes para o crescimento: o espírito empreendedor e o otimismo. Se a mídia convencer os empresários, grandes e pequenos, de que tudo vai mal, eles não investem e aí tudo vai mal mesmo. Se eles não acreditarem na mídia e investirem, só aí teremos efetivamente um resultado econômico positivo. O fator subjetivo é fundamental para a economia.

Nessa guerra pela psique empresarial, o temor ao radicalismo é um fator saudável. Uns temem se associar os urubus de sempre, cujo pessimismo se filia a interesses políticos, ideológicos e partidários. Outros se apavoram com a ideia de imitar a propaganda stalinista, quando jornais eram forçados a publicar que tudo ia sempre às mil maravilhas. No auge da ditadura brasileira, na época do “milagre econômico”, os jornais também eram obrigados a promover otimismo.

No entanto, não podemos esquecer que tanto o stalinismo quando o milagre econômico da ditadura foram bem sucedidos em termos de crescimento econômico. Não quer dizer que temos de imitá-los, mas entender que o otimismo é, de fato e direito, um ativo que impulsiona a economia. Devemos usá-lo, por isso mesmo, com prudência, para não desqualificá-lo, para que não seja confundido com propaganda oficial barata. Mas também não podemos jamais menosprezar a importância do otimismo bem fundamentado, do otimismo sólido, que dá suporte à fé em nosso trabalho e em seus resultados, e orienta o empreendedorismo, que é o insumo principal do crescimento.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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