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Eduardo Galeano abre Bienal do Livro de Brasília

Bienal do Livro lembra em palestras e atividades o golpe de Estado de 64 12/4/2014 16:00 Por Redação – de Brasília, no Correio do Brasil. A Bienal do Livro de Brasília vai até dia 21 deste mês A capital federal começou a comemorar seus 54 anos revivendo o ambiente político, artístico e cultural da luta […]

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Bienal do Livro lembra em palestras e atividades o golpe de Estado de 64

12/4/2014 16:00

Por Redação – de Brasília, no Correio do Brasil.

A Bienal do Livro de Brasília vai até dia 21 deste mês

A capital federal começou a comemorar seus 54 anos revivendo o ambiente político, artístico e cultural da luta contra a ditadura civil militar, com a abertura da II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que guarda nos 50 anos do golpe o eixo central das atividades que promoverá nos próximos dez dias.

Entre debates, palestras, mesas redondas, exposições, exibições de filmes, lançamentos de livros e shows culturais, iniciados desde a noite desta sexta-feira, a história fraudada desse passado recente será recontada. Os eventos buscam o entendimento de como tal conjuntura autoritária influenciou a literatura, a música, o cinema, as artes e os costumes brasileiros.

– A Bienal abre espaço para que a cidade e o Brasil reflitam sobre o rompimento do estado de direito naquele momento e sobre a importante resistência que a cultura impôs à tirania por mais de duas décadas – afirmou o secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, ex-preso político da ditadura e poeta que, com o pseudônimo de “Pedro Terra”, registrou as arbitrariedades do período.

Segundo ele, o evento contará com presenças emblemáticas da resistência à opressão no país e no continente.
– Trazemos a Brasília nos próximos dez dias protagonistas, testemunhas e pensadores sobre o período dos generais, além aqueles que participaram da reconstrução da democracia. O objetivo é fazer com que a capital se reencontre com a história – acrescenta.

Os homenageados são os escritores Ariano Suassuna, que ele classifica como “uma das mais importantes resistências da cultura popular do país”, e Eduardo Galeano, o escritor uruguaio, autor do clássico “As veias abertas da América Latina”, que Hamilton define como “uma espécie de testemunha viva do continente, um escritor engajado na permanente denúncia das ditaduras que assolaram a América Latina”.

Sem releitura

Galeano recusa-se a reler seu principal sucesso: As veias abertas da América Latina

Galeano esteve entre os palestrantes que abriram a Bienal, na noite passada. Ele participou de um sarau em homenagem ao poeta argentino Juan Gelman, no sábado, ao lado do próprio Hamilton, e integrará o debate “Futebol e Ditaduras na América Latina”, neste domingo.

Vencedor de vários prêmios internacionais e com obras traduzidas em diversos idiomas, defensor de propostas contestadoras e frequentemente associado a ideias polítcas de esquerda, Galeano disse que não voltaria a ler As Veias Abertas da América Latina, seu livro mais conhecido.

– Eu não seria capaz de ler o livro de novo. Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é pesadíssima. Meu físico (atual) não aguentaria. Eu cairia desmaiado – brincou Galeano sobre As veias abertas da América Latina.

Galeano, que tem 73 anos, disse que, em todo o mundo, experiências de partidos políticos de esquerda no poder “às vezes deram certo, às vezes não, mas muitas vezes foram demolidas como castigo por estarem certas, o que deu margem a golpes de Estado, ditaduras militares e períodos prolongados de terror, com sacrifícios humanos e crimes horrorosos cometidos em nome da paz social e do progresso”. E, segundo ele, em alguns períodos, “é a esquerda que comete erros gravíssimos”.

Ainda sobre As Veias Abertas da América Latina, Galeano explicou que foi o resultado da tentativa de um jovem de 18 anos de escrever um livro sobre economia política sem conhecer devidamente o tema.

– Eu não tinha a formação necessária. Não estou arrependido de tê-lo escrito, mas foi uma etapa que, para mim, está superada – afirmou.

Autor internacional homenageado pela Bienal, o escritor disse que, embora algumas das questões abordadas nesse livro continuem “se desenvolvendo e se repetindo”, a realidade mundial mudou muito desde que a obra chegou às livrarias. Hoje, Galeano confessa que não tem interesse em reescrevê-lo ou atualizá-lo.

– A realidade mudou muito. Eu mudei muito. Meus espaços de penetração na realidade cresceram tanto fora, quanto dentro de mim. Dentro de mim, eles cresceram na medida em que eu ia escrevendo novos livros, me redescobrindo, vendo que a realidade não é só aquela em que eu acreditava –ressaltou o escritor.

O escritor negou a intenção de concorrer a uma vaga no Parlamento uruguaio, o que chegou a ser anunciado pela imprensa local. Garantindo que sua maior ambição é a literatura, Galeano disse que não serve para a carreira política.

– Minha única ambição é ser um escritor capaz de reproduzir a esperança, a razão e a falta de razão deste mundo louco que ninguém sabe para onde vai. Ser capaz de entrar nessa realidade que parece ser incompreensível. Isso é algo muito difícil que já me consome todo o tempo – disse.

Acusando o cansaço da viagem ao Brasil, o escritor evitou responder a algumas perguntas, como o que achava das manifestações populares que tomaram as ruas brasileiras em junho do ano passado; sobre as críticas à realização da Copa do Mundo no Brasil – “este é um tema muito delicado, sobre o qual não é possível se manifestar tão facilmente” – e sobre a persistência de muitas das mazelas apontadas em As Veias Abertas da América Latina. Galeano falou bem do presidente uruguaio José Mujica – “todos o querem” – e brincou com o episódio em que o falecido presidente venezuelano Hugo Chávez presenteou o presidente norte-americano Barack Obama com um exemplar de As Veias Abertas da América Latina.

Aos risos, Galeano disse que nenhum dos dois políticos tinha condições de entender o conteúdo do livro.
– Chávez teve a melhor intenção do mundo, mas deu a Obama um livro escrito numa língua que o presidente norte-americano não conhece. Isso foi um gesto generoso, mas também cruel – disse ele.

Sobre outra de suas paixões, o futebol, preferiu não arriscar um prognóstico para a Copa do Mundo.

– Não acredito nos profetas. Nem nos bíblicos, que dirá nos esportivos. Assim, o melhor é calar a boca e esperar – concluiu.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Fabrício Procópio

12/04/2014 - 19h49

Aposto que FHC correu pra debaixo da cama!


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