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Gabrielli reitera: Pasadena sempre foi um bom negócio

Vamos ouvir alguém que entende do assunto? Repare que Gabrielli aborda com sutilíssima ironia o silêncio do blog da Petrobrás, ao dizer que a “oposição distorce fatos e dados” sobre a refinaria de Pasadena. O blog da estatal se chama “Fatos e Dados” e até agora não fez nenhuma contribuição para dirimir as dúvidas da […]

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Vamos ouvir alguém que entende do assunto?

Repare que Gabrielli aborda com sutilíssima ironia o silêncio do blog da Petrobrás, ao dizer que a “oposição distorce fatos e dados” sobre a refinaria de Pasadena. O blog da estatal se chama “Fatos e Dados” e até agora não fez nenhuma contribuição para dirimir as dúvidas da sociedade em relação às recentes denúncias.

Esperemos que Dilma e Foster não ponham sua aparente pinimba contra Gabrielli acima dos interesses nacionais.

A questão sobre Pasadena foi sempre mal posta. O negócio de refinaria, de forma geral, viveu momentos difíceis entre 2008 e 2012. Não foi apenas Pasadena. As margens de lucro das refinarias caíram em todo os Estados Unidos. Se você olhar o histórico das refinarias norte-americanas, sempre foi assim. Períodos melhores alternando-se a períodos piores.

No entanto, para a Petrobrás, a aquisição de uma refinaria que opera a todo vapor tem uma importância acima do fato de ser um “bom negócio” do ponto-de-vista contábil. A Petrobrás, sendo uma estatal que possui o monopólio sobre vários setores do petróleo no Brasil, tem uma obrigação ainda mais importante do que dar lucro rápido a seus acionistas, que são 0,01% da população.

A Petrobrás tem obrigação de assegurar o abastecimento de derivados de petróleo à economia brasileira. E como somos ainda altamente deficitários em gasolina, e vamos continuar ainda muito apertados nesse item durante, no mínimo, uns dez ou quinze anos, é muito bom que tenhamos uma boa refinaria nos EUA, que possa nos assegurar, em caso de emergência, alguns milhões de barris de derivados por ano.

Outra coisa que eu gostaria de acrescentar é uma crítica ao próprio Gabrielli. Ele também cometeu um erro crasso de comunicação. Em sua primeira entrevista após o escândalo, ele voltou a falar nos US$ 42 milhões pagos pela Astra, sem observar que este valor não embutia estoques nem os investimentos feitos pela empresa na refinaria de Pasadena.

Um dia, talvez daqui a alguns anos, quando algum presidente da Petrobrás tiver a generosidade de reativar o blog da estatal e ser um pouco mais transparente em relação aos dados da empresa (não digo divulgar os segredos, mas divulgar dados que já são abertos), saberemos que a Astra gastou meio bilhão de dólares para assumir a refinaria de Pasadena.

Os US$ 42 milhões foram apenas o preço pago pelo controle acionário, e que não interessa que seja alto nem para a Astra nem para o vendedor, porque a ele se aplicarão os pesados impostos do Tio Sam.

*

José Sérgio Gabrielli de Azevedo: Pasadena: mitos e verdades

Na Folha.

20/04/2014 03h00

Pasadena foi um bom negócio? A resposta é sim para o momento da compra, mas não teria sido sob o cenário entre 2008 e 2012.

Nos últimos dois anos, as condições do mercado de petróleo, sobretudo nos Estados Unidos, voltaram a se inverter, com a crescente valorização dos ativos.

A refinaria está em operação todos esses anos e, devido à disponibilidade de petróleo leve e barato no Texas, como efeito do “shale gas” [gás de xisto], ela é lucrativa, ainda que a Petrobras não tenha realizado os investimentos para capacitá-la a processar petróleo pesado.

Irresponsavelmente, a oposição distorce fatos e dados sobre sua aquisição, criando uma narrativa que desinforma a população, prejudica a imagem da Petrobras e atenta na depreciação de seu valor de mercado.

Vamos aos mitos: o primeiro refere-se ao fato de que o antigo proprietário de Pasadena, o grupo Astra, pagou US$ 42,5 milhões pela refinaria e depois revendeu à Petrobras por US$ 1,25 bilhão.

A verdade é que a Astra desembolsou US$ 360 milhões antes de revender por US$ 554 milhões, sendo US$ 259 milhões pagos pela Petrobras em 2006, como afirmou a presidente da empresa, Graça Foster, e US$ 295 milhões posteriormente à disputa judicial, já em junho de 2012, mas considerando as condições de mercado de 2006. O crescimento da demanda de derivados nos EUA, sobretudo de 2004 a 2007, levou a um aumento progressivo no preço das refinarias, contudo, o valor de Pasadena foi inferior à média das transações em 2006.

Outro mito aponta para suposto equívoco do Conselho de Administração na compra de refinaria no exterior. O fato é que a decisão atendia ao planejamento estratégico da companhia definido em 1999, no governo FHC, que previa investir em refino no exterior para lucrar com a venda de derivados de petróleo, sobretudo no mercado americano.

Em 2004, o mercado brasileiro de consumo de combustíveis estava estável havia uma década, enquanto a demanda no exterior era crescente. A Petrobras seguiu estratégia recorrente: pagar mais barato por uma refinaria de óleo leve e adaptá-la para processar óleo pesado.

A aquisição de Pasadena foi aprovada pelo conselho porque era vantajosa e atendia ao planejamento estratégico. A decisão foi pautada em parecer financeiro do Citigroup, que, entre 2003 e 2012, atuou em 125 transações do setor. Empresários que participavam do conselho e não pertenciam ao governo foram favoráveis à compra.

O terceiro mito é que as cláusulas “put option” (opção de venda) e “marlim” (referente ao petróleo brasileiro) seriam as responsáveis por transformar um bom negócio no momento da compra em um mau negócio no cenário entre 2008 e 2012.

Neste período, o mundo mudou, nós descobrimos o pré-sal e o planejamento estratégico da Petrobras acompanhou as mudanças. O mercado de derivados nos EUA se alterou drasticamente. Foram as variações de margens de refino e os diferenciais de preço entre o petróleo leve e pesado que fizeram a lucratividade de Pasadena variar. Enquanto isso, no Brasil, a demanda por derivados se aqueceu, levando a companhia a investir em refino interno.

Quanto à cláusula “marlim”, que garantiria a rentabilidade de 6,9% à sócia da Petrobras no caso de duplicação da capacidade de refino, ela é inócua. Como não houve o investimento, e essa é a razão da disputa judicial, ela não é válida. Isso foi reconhecido pela Justiça americana.

A oposição precisa aprender que assuntos técnicos requerem uma abordagem diferente do espetáculo de uma CPI em ano eleitoral. Perceberão, mais uma vez, que a Petrobras continua sendo uma das empresas mais produtivas do mundo.

JOSÉ SÉRGIO GABRIELLI DE AZEVEDO, 64, é secretário de Planejamento da Bahia. Foi presidente da Petrobras (2005-2012, governos Lula e Dilma)

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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