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Golpe de Estado: Conversa com Dilma

Foto: Roberto Stuckert Filho/ PR Tradução da coletiva de Dilma Rousseff à imprensa internacional, sob a ótica de um jornalista alemão por Thomas Fischermann, no Die Zeit | Tradução: Erica Caminha Longas explicações, quando a presidenta do Brasil fala é melhor relaxar. Como jornalista você pede um copo de água e confere se ainda resta bateria no gravador. […]

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Brasília - DF, 24/03/2016. Presidenta Dilma Rousseff durante entrevista para veículos da imprensa internacional. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Foto: Roberto Stuckert Filho/ PR

Tradução da coletiva de Dilma Rousseff à imprensa internacional, sob a ótica de um jornalista alemão

por Thomas Fischermann, no Die Zeit | Tradução: Erica Caminha

Longas explicações, quando a presidenta do Brasil fala é melhor relaxar. Como jornalista você pede um copo de água e confere se ainda resta bateria no gravador. Mulheres em geral não são fracas, mulher brasileira muito menos. Levou 03:09 para dizer como estava, quando lhe perguntamos.

O Brasil está em crise e a presidenta fala com jornalistas estrangeiros do jornal Die Zeite, New York Times, Le Monde entre outros… Não é um fato comum, ela normalmente não faz isso, provavelmente se deve ao fato de que a grande mídia brasileira está abertamente a favor de seu impeachment. “Isso é golpe de estado!”, é a notícia alarmante da presidenta ao resto do mundo, em um país com 200 milhões de habitantes, 7ª maior economia mundial. Como presidente isso não é algo fácil de dizer.

DZ: Um golpe porque a presidenta está contra a oposição? Poderíamos argumentar que essas palavras também não servem às regras democráticas , também pode ser perigoso.

DR: Vamos falar do impeachment diz Rousseff respondendo.

DZ: Ela se joga para traz com os braços na mesa, sabemos que vai ser detalhista, hábito na tradição dos chefes de estado da esquerda na América Latina. Muito mais que confronto democrático, a presidenta acredita que não é normal em uma democracia, e ela parece estar correta. Nas últimas duas semanas o Brasil entrou em confrontos políticos tumultuados como raramente se vê no mundo. Escândalo de grampos, manifestações em massa, corrupção dentro da elite política e um ex-presidente que é perseguido por um juiz.

Perseguidos por corrupção perseguem Rousseff

O problema imediato de Rousseff é o pedido de impeachment na Câmara, na última semana uma Comissão Parlamentar começou os trabalhos, decidirão se a presidenta deve sair do cargo devido a comportamento ilícito. Na metade do mês de abril comunicarão uma decisão, em um processo cheio de absurdos. A comissão é composta por inimigos políticos de Rousseff e não é um grupo com nomes de conduta ilibada. Um terço deles é perseguido pela polícia ou por outras comissões contra corrupção. Um deles é procurado pela Interpol. O chefe dessa comissão, um fanático evangélico e político astuto, Eduardo Cunha, que é citado em investigações policiais. Entre outras coisas, possui conta secreta na Suíça com milhões. “Ele foi denunciado pela PF e não está somente sendo investigado” diz Dilma. Ela diz ter sido acuada por Cunha, algo como “se o governo não parar as investigações, eu vou derrubar a presidenta.”

Sem suspeita

Nenhuma vez usei o poder do governo para prestar favores a alguém que não merecia, diz ela em voz alta e olhos atentos. Eu fiz favores para os pobres desse país, eu governei para os mais fracos.

Realmente Dilma Roussef não é considerada suspeita em investigação de corrupção e sendo assim, é uma exceção na política brasileira. Ela está sendo processada por um detalhe técnico, que nos primeiros 4 anos de seu mandato, antes da reeleição em Outubro de 2014, fez cálculos errados no orçamento, porém, todo mundo no Brasil sabe que essa não é a razão, mas ainda, um golpe?

Campanha da mídia contra Rousseff e Lula?

Tem mais, um juiz brasileiro por sua luta contra a corrupção é considerado herói no país, sendo que há meses mais se interessa em investigar políticos do governo, com pouco interesse em investigar a oposição. A pouco tempo ele levou coercitivamente Lula de sua casa. Até então, nenhuma prova se sustenta contra Lula, isso leva a uma nova série de confusões, fora que Lula em 2018 se candidatará a presidência. A grande mídia do país concentrada no conglomerado Globo conclama manifestações em massa para protestar contra um novo governo Lula e comparam ambos com chefes de máfia.

Durante a semana passada quando a polícia chegou na maior empresa de construção civil, encontrou uma lista de políticos que na maioria eram acusados de propina, isso foi pouco divulgado na mídia, muitos políticos da oposição na lista.

Tudo isso poderá ser considerado injusto, intrigante e manipulativo, mas é mais que isso? “Os golpes de estado mudaram de metodologia fala a presidenta. “É um ataque criminoso contra ela que foi eleita democraticamente. Isso quebra as regras da democracia e assim é perigoso”, “em democracias maduras é claro que isso não se faz.”

DZ: E seus inimigos conseguem levar isso adiante? Rousseff diz “o Brasil futuramente não seria mais administrado por nenhum presidente eleito”. Ela está tensa e chateada, falando em sua defesa, de vez em quando ri alto, ela acha engraçado que algumas pessoas ficam com pena dela, ela diz “Não é legal ser alvo dessas acusações, mas eu não me importo, eu não sou uma pessoa depressiva, se eu soubesse que tinha alguma culpa aí sim eu ficaria deprimida”. Mas, a posição dela é simples, resistência! Luta contra! Não desvia do caminho. Isso é marca retórica da esquerda juntando com personalidade dura dela. Isso tem a ver com o que ela viveu.

Rousseff conhece bem a resistência

Por muito tempo ela fez parte da resistência contra a ditadura, no período, foi militante ativa, participou de grupos radicais que organizaram greves, sequestros, ataques e assaltos para se financiar. Os críticos dizem que ela era terrorista, na prisão Rousseff foi torturada , inclusive com choques elétricos, passou 3 anos nesse inferno. Foi liberada em 1973 com 25 anos, magra e doente, seus amigos da militância a denunciaram. “Eu tive uma vida complicada e isso agora me põe na posição de lutar pela democracia brasileira, ficar na prisão não era bom, se eu lutei na época, hoje muito mais farei, as circunstancias estão muito melhores”.

DZ: E as manifestações nas ruas? As pessoas gritando fora Dilma?
DR: “Nada contra, precisamos ouvir a voz das ruas”, diz ela, “mas precisamos reconhecer que não representa nem 2% da população brasileira, alguns deles organizados por grupos com interesses escusos”. “Você precisa se perguntar, quem se aproveita dessa situação?” e quando os protestos são feitos de forma a paralisar vias ela vê como instrumento do fascismo.

O desejo da salvação do país de forma autoritária

O que fazer com essa polarização extrema no país onde os dois espectros políticos se digladiam? Qual o dever de uma presidenta que nas pesquisas tem somente 11% de aprovação? Como ela pode unir o povo e criar base para a democracia voltar a funcionar?

A resposta de Rousseff parece estranha, mais complicada que as outras respostas. A crise da confiança é preocupante, principalmente porque dessa forma cresce o desejo de salvação por meios autoritários no país. Ela fala de problemas que o sistema político brasileiro traz a ela, um sistema que possui um enorme número de partidos, os quais chantageiam para fazer coalizões, ela fala do seu antigo plano de reforma da constituição para diminuir esse problema. Fica irritada novamente com esse clima de golpe de estado com tumultos que impactam a economia. Também falou da seca em partes do país, e do dinheiro disponível no orçamento para o governo investir e superar a crise econômica e sobre a conjuntura que devagarzinho está melhorando. Tem muita coisa correta, mas não respondeu, propriamente, a pergunta feita.

É mais uma visão da presidenta, o povo está errado e sob a perspectiva de uma guerrilheira experiente que é, se prepara para uma grande batalha com as duas metades do Brasil em colisão, tudo isso no centro do poder em Brasília. De um lado, Rousseff com as conquistas sociais a favor dos mais pobres, do outro lado, poderes obscuros que na opinião dela estão seduzindo o povo que não gostam desses avanços progressistas.

Revisão: Cleusa Slaveiro

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