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O deus-dinheiro, o impeachment e a volta da caça às bruxas

Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil por Robson Sávio, em seu blog As novas ações midiáticas patrocinadas pela juristocracia tupiniquim (desta vez tendo à frente um pupilo da tresloucada autora do pedido de impeachment), recolocam no debate a questão acerca dos maiores interessados no golpe, esse estupro à democracia brasileira. Cada vez fica mais claro que, para […]

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Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil

por Robson Sávio, em seu blog

As novas ações midiáticas patrocinadas pela juristocracia tupiniquim (desta vez tendo à frente um pupilo da tresloucada autora do pedido de impeachment), recolocam no debate a questão acerca dos maiores interessados no golpe, esse estupro à democracia brasileira. Cada vez fica mais claro que, para além dos pastelões, corruptos e fanfarrões que abundam no Congresso e no governo interino, os verdadeiros interessados no imediato retorno de nosso país à velha categoria das repúblicas das bananas são os ricos e poderosos. Por isso, é fundamental entendermos o que está por detrás do jogo jogado do impeachment fajuto.

Giorgio Agamben, um dos principais intelectuais contemporâneos, professor em diversas universidades europeias e norte-americanas explicou, em entrevista recente (leia na íntegra, aqui), como funciona a atual fase do capitalismo (concentrador de riqueza, fundamentalmente rentista e excludente, que move todos os interesses, inclusive a determinar os rumos da política e da vida das pessoas). Agamben foi definido pelo Times e pelo Le Monde como uma das dez mais importantes cabeças pensantes do mundo. Sua obra, influenciada por Michel Foucault e Hannah Arendt, centra-se nas relações entre filosofia, literatura, poesia e, fundamentalmente, política.

Quando lemos com atenção algumas considerações de Agamben sobre a democracia, por exemplo, entendemos com mais clareza o que está por detrás de afrontas à cidadania em várias partes do mundo, como o golpe em curso no país. Para ele, “a nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governabilidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas”.

Para manter um empreendimento dito democrático e que, paradoxalmente, produz imensa concentração de renda e riqueza nas mãos do 1% mais ricos em detrimento à dignidade da absoluta maioria das pessoas, o capitalismo, atualmente, sobrevive da fabricação de crises: “Crise e economia atualmente não são usadas como conceitos, mas como palavras de ordem, que servem para impor e para fazer com que se aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum para aceitar. “Crise” hoje em dia significa simplesmente “você deve obedecer! ”.

Neste sentido, explica Agamben, “é preciso tomar ao pé da letra a ideia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro.  Deus não morreu, ele se tornou dinheiro. ”

Nos dizeres do professor Ladislau Dowbor, “a expansão dos lobbies, a compra dos políticos, a invasão do judiciário, o controle dos sistemas de informação da sociedade e a manipulação do ensino acadêmico representam alguns dos instrumentos mais importantes da captura do poder político geral pelas grandes corporações. Mas o conjunto destes instrumentos leva em última instância a um mecanismo mais poderoso que os articula e lhe confere caráter sistêmico: a apropriação dos próprios resultados da atividade econômica, por meio do controle financeiro em pouquíssimas mãos.”

Ademais, a associação entre os grandes oligopólios do capitalismo internacional com a manipulação da mídia, serviçal desses grupos, naturaliza todo o tipo de violência real e simbólica contra a democracia:  “É mais simples manipular a opinião das pessoas através da mídia e da televisão do que dever impor em cada oportunidade as próprias decisões com a violência. ”

No caso brasileiro, a liturgia formal do voto popular deixou de ser um “esquema” a beneficiar os históricos usurpadores das riquezas e do trabalho nacionais e, assim sendo, não mais interessa aos donos do deus-dinheiro respeitar as regras procedimentais da democracia. O resultado eleitoral pode, portanto, ser anulado com desculpas das mais esfarrapadas. Os capachos tupiniquins do grande sistema de corrupção internacional que move o capitalismo atualmente resolveram jogar no lixo as deliberações eleitorais para tocarem um impeachment sem crime de responsabilidade. O que é isso? Simples: é golpe.

Essa percepção acerca do estupro à nossa democracia parece se tornar cada vez mais clara. Mesmo não apreciando certo culturalismo dependente que gosta de bajular as “inteligências” alienígenas como se fossem melhores que a produção da reflexão autóctone, é digno de destaque o fato de, nesta semana, intelectuais de referência em todo o mundo, como os filósofos alemães Jürgen Habermas, Axel Honneth e Rainer Forst, a filósofa norte-americana Nancy Fraser e o filósofo canadense Charles Taylor terem assinado um manifesto internacional de repúdio ao que classificaram como “golpe branco” contra a democracia brasileira. Expressão também já utilizada, mais de uma vez, pelo Papa Francisco. (Veja aqui >>>).

Segundo o manifesto internacional, a oposição no Brasil, formada por partidos de direita, aproveitou-se da crise econômica para levar adiante uma campanha “violenta” contra um governo eleito democraticamente. Por isso, o objetivo do impeachment da presidenta Dilma Rousseff é atacar direitos sociais, desregulamentar a economia e frear as investigações de corrupção.

Noutro documento, com mais de mil assinaturas, artistas e intelectuais estrangeiros também manifestaram solidariedade ao Brasil. O texto diz que os movimentos sociais “estão sujeitos a uma ofensiva política de grande magnitude que leva o Brasil a um período de grande retrocesso democrático” e obscuridade.

Talvez, pelo fato de ameaçar a hegemonia dos donos do capital especulativo e rentista não somente daqui, mas do mundo (haja vista as potencialidades nacionais, como nossas reservas de petróleo e a biodiversidade – ativos valiosíssimos no presente e no futuro), a caçada ao PT voltou com toda a força nesta semana. Curiosamente, depois de uma reunião entre a ninfa justiceira e um ministro interino e, para o delírio dos moralistas sem moral, foram retomados mais uma vez os espetáculos policialesco-midiático-seletivos. Incrivelmente, logo após a divulgação de dezenas de áudios a comprovarem a corrupção endêmica e sistêmica envolvendo o PMDB, o PSDB e o DEM há anos, nestas plagas. A justiça brasileira é uma bênção para os homens e as mulheres de ben$, com cifrão no final.

Não serei eu a defender Paulo Bernardo e ninguém que, eventualmente, tenha praticado atos de corrupção. Mas, até para um idiota político valem as perguntas: alguém já viu ou ouviu falar que a polícia (política) federal tenha vasculhado as sedes nacionais de partidos inúmeras vezes citados em casos de corrupção como o PSDB, DEM, PP, PMDB? Alguém conhece pelo menos um tesoureiro nacional desses partidos que tenha sido investigado? Quantos ministros do governo FHC, flagrados em escutas comprometedoras em diferentes ocasiões, foram conduzidos à prisão, tiveram condução coercitiva ou prestaram depoimentos (cobertos ao vivo pela mídia?) Em síntese: a juristocracia seletiva tupiniquim faz com que o Tomás de Torquemada, no túmulo, sinta-se apequenado.

O fato é que, como nenhum partido conseguiu ganhar quatro eleições seguidas para a Presidência em toda história republicana brasileira (e, não obstante o massacre midiático-justiceiro contra o ex-presidente Lula, uma liderança que continua firme numa provável disputa presidencial futura), o PT ainda é um perigo real e simbólico aos donos do capital internacional e seus capachos daqui e, portanto, deverá ser aniquilado. E o primeiro passo, dado o fracasso da cavalar campanha midiática contra o partido, é consolidar a empreitada golpista.

Os gigolôs do capitalismo rentista, sacerdotes e sacerdotisas do deus-dinheiro, e seus prepostos das coalizões que articulam o golpe nessas plagas (veja aqui >>>) querem manter o país como eterna colônia. E farão de tudo para trucidar quaisquer pessoas e grupos que se opuserem aos seus intentos.

Robson Sávio é Doutor em Ciências Sociais e professor da PUC Minas

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Comentários

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airoldi lacroix bonetti junior

27/06/2016 - 22h07

ué até marines americanos na porta de u m partido político, e os outros partidos vão ficar sem seguranças americanos na porta?bah…..

Paulo Roberto Àlvares de Souza

27/06/2016 - 18h04

Como propor uma ação contra os responsáveis por tal desatino para que eles indenizem o erário pelos gastos irresponsavelmente gastos com a espetacularização da operação? Como caracterizar o crime que eles cometeram ao incorrer em gastos desnecessários, apenas para demonstrar um poder que não detém definitivamente?

Jst

27/06/2016 - 14h30

Sábado, dia 25/06 passou um documentário sobre o golpe de 1964 no canal History.
É inacreditável que depois de 52 anos a história se repita praticamente igual. A desculpa era o comunismo. A perseguição à esquerda por instituições do estado, a mesma. Começaram devagar e a medida que o tempo passava foram aumentando a repressão a tudo que contrariasse a ordem imposta. Tipo, alguém criticar este juiz de merda e a lava rato. Era imediatamente execrado pela mídia e taxado de inimigo da pátria.
O que me chateia é que 52 anos se passaram e nós não aprendemos PORRA nenhuma. Continuamos a mesma MERDA de país que derruba do poder aqueles que não agradam a elite com os argumentos mais pusilânimes possível. Lá, o golpe foi para evitar o comunismo e acabar com a corrupção do governo, cá pedaladas fiscais e corrupção e alguns estupidizados pela mídia ainda falam em comunismo. Haja ignorância, burrice, asnice, etc etc.
Como um país que não tem nenhum respeito pela democracia e o estado de direito pode seguir adiante? Este país vai ser respeitado por países que prezam estes valores e comportamentos? Ou seu povo vai ser sempre olhado pelos estrangeiros como vagabundos e prostitutas?
Como um chefe de estado de um pais desenvolvido receberá os ladrões que agora se aboletaram no governo? E o juiz justiceiro, o que teria a dizer sobre este fato? pelo jeito “não vem ao caso” já que o FDP continua a utilizar o aparato do estado para perseguir a maior liderança de esquerda do mundo.

Henrique Dias

27/06/2016 - 12h25

Os corruptos, o Capital e demais cachorradas não tem outra saída a não ser esta. O povo brasileiro tem.

Antonio Paulo Costa Carvalho

27/06/2016 - 08h52

Os partidos de esquerda precisam. para defender seus membros, entrar na clandestinidade? Penso que não. É importante que o mundo assista o maior assalto nos roubando a democracia. Certamente Temer é um fantoche do capitalismo, tal qual era Sadam Russe no Irak. Temer terá o mesmo fim que Sadan. Aqui será pela ação revolucionária do povo brasileiro. O povo não aceita mais a escravidão, muito menos a escravidão branca.

Claudio

27/06/2016 - 08h14

Tudo isso sempre foi um circo. Quanto tudo estiver concretizado o foco será outro. Vão voltar falar da novela dás oito que agora começa ás nove. O povo tem muito para pensar que no final vai preferir voltar a ficar em casa reclamando do baixo salário, batendo na mulher, bebendo cachaça e assistir o velho futebol ruim das quartas e do final de semana. Já percebi que até os ditos jornais de esquerda já estão mudando lentamente o discurso e voltando para um discurso de aceitação. Ao que parece também faz parte do jogo. O que muda? Nada. O que tinha para ser mudado, já foi. Agora é voltar para a doutrina do choque e ponto. Sempre foi assim: dão o doce para a criança e depois tiram e deixam ela chorando até se cansar, ficar quieta e voltar a comer a papinha.

Bruno Martins

27/06/2016 - 07h56

O Autor ignora totalmente os erros que o PT cometeu colocando a culpa do “golpe” exclusivamente a oposição, PF, e os ditos ricos e poderosos. Lamentável.. mas esse discurso PTista não se sustenta e já está ultrapassado.

    Antonio Paulo Costa Carvalho

    27/06/2016 - 09h00

    Sr. Bruno, o povo brasileiro elegeu uma presidente de esquerda (entenda-se o Estado tem por fim os avanços sociais e não privilegiar o capital) e, um Congresso de Direita (entenda-se financiados pelo capital para proteger o capital). Para governar, Dilma precisou do apoio dos corruptos de todos os partidos. Do contrário não teríamos os avanços. PT errou? Sim certamente, mas impossível ser 100% bom, com uma mídia escrota e entreguista, com o BBB no congresso dirigido por Cunha, Temer, Aécio etc. Todos mais sujos que pau de galinheiro. Tudo com as bençãos do STF&MORO.

      Bruno Martins

      27/06/2016 - 17h16

      Obrigado pela resposta e principalmente pelo respeito apresentado, concordo que o povo brasileiro elegeu esse projeto porém o projeto apresentado e eleito nas urnas não foi o que se iniciou nos primeiros dias de 2015, assim como o projeto do Temer hoje não representa a vontade popular o projeto Dilma também não foi colocado em pratica, houve estelionato eleitoral gritante, espero que sirva de lição para os próximos governos.


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