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A deposição de Dilma e a quebra do pacto social básico no Brasil

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado por J. Carlos de Assis* É possível que para milhões de brasileiros o que aconteceu em Brasília nos últimos meses, com o coroamento agora da deposição definitiva de Dilma Roussef, seja uma “simples”  troca de governo do PT  para a aliança PMDB-PSDB-DEM. É um equívoco. O que aconteceu foi a ruptura […]

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Plenário do Senado durante sessão deliberativa extraordinária para votar a Denúncia 1/2016, que trata do julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Roussefff por suposto crime de responsabilidade. Mesa: presidente do Senado, senador Renan Calheiros (PMDB-AL); senador Aécio Neves (PSDB-MG); presidente do Supremo Tribunal FederaL (STF), ministro Ricardo Lewandowski. Foto: Jefferson Judy/Agência Senado

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

por J. Carlos de Assis*

É possível que para milhões de brasileiros o que aconteceu em Brasília nos últimos meses, com o coroamento agora da deposição definitiva de Dilma Roussef, seja uma “simples”  troca de governo do PT  para a aliança PMDB-PSDB-DEM. É um equívoco. O que aconteceu foi a ruptura do pacto social básico do país que, desde Getúlio Vargas, e confirmado até pela ditadura de 64, estendeu-se pelo governo de conciliação de Lula e  equilibrou as relações básicas da sociedade brasileira sem grandes convulsões sociais durante décadas.

O  símbolo do Governo interino que se apropriou do poder sem votos é sua estreita colaboração com a Fiesp de Paulo Skaf, sendo o traço característico de Skaf – que sequer é  industrial – a profunda ignorância em relação aos interesses da própria burguesia brasileira. Por mais de um século os empresários que representaram a classe capitalista foram suficientemente inteligentes para acolher pelo menos parte dos interesses dos trabalhadores como condição de convivência e, naturalmente, de preservação e ampliação de seus próprios lucros a partir daí.

Skaf não se preocupa com isso porque, na condição de dono de um armazém e não de uma indústria, não precisa de se preocupar com empregados. Na verdade, sua exclusiva preocupação é administrar como bem entende os bilhões de reais que irrigam os cofres do Senai e do Sesi, uma aberração brasileira que coloca impostos públicos sob gestão de empresários privados. Por outro lado, não admira que Temer leve tanto em consideração os conselhos de Skaf. Foi ele quem geriu um caixa de R$ 500 milhões para comprar o impeachment de Dilma, dinheiro recolhido entre alguns presidentes de federações que certamente o tiraram do mesmo lugar, o Sesi/Senai financiado por  imposto.

A forma como a burguesia conciliou seu apetite de lucros com salários controlados por ela mesma foi o que chamo de mais valia social. Em síntese, a mais valia social é o tributo distribuído em programas de interesse social e despesas de infraestrutura do governo. Em termos rigorosos, é a parte do valor da mercadoria produzida pela força de trabalho acima do salário que é apropriada pelos não produtores diretos, ou seja, o próprio capitalista, o rentista e o governo. É a mais valia social que financia a saúde, a educação, a previdência, o Estado de bem-estar social enfim.

Uma vez retirada a mais valia social, resta aos trabalhadores a luta de classes a fim de obter salários diretos que lhes garantam um mínimo de bens e serviços de sobrevivência. Como contrapartida, os lucros advindos da mais valia convencional explodem, na media em que a burguesia se apropria da mais valia social. Essa é uma bela receita para convulsões sociais. A Europa e os Estados Unidos já passaram por isso em tempos de grandes crises sociais no passado. Skaf quer trazer isso para o tempo presente no Brasil, e Temer, com aquela expressão de tão alienado quanto ele, se associou à tarefa politicamente estúpida.

Trata-se de uma situação tão claramente regressiva que eu próprio me vejo usando um terminologia originalmente marxista para descrevê-la. Justifica-se. É efetivamente uma regressão. Bata olhar a pauta Temer-Renan, e agora Rodrigo Maria, para concluir que o Brasil está andando para trás de forma acelerada. Imagine-se quando o interino se tornar permanente. Está em curso uma pauta de abolição de direitos consagrados na Constituição em nome de um suposto equilíbrio fiscal que é fruto exclusivamente de uma ideologia que interessa sobretudo a banqueiros e financistas, e finalmente visando ao Estado mínimo. Certamente, isso não acabará bem!

*Economista, doutor  pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política brasileira.

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Comentários

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Canhoto

27/08/2016 - 01h56

Esta foto e uma que carece ser guardado para a história, e na verdade quase todas onde o Senador chorão aparece ao lado de algum amigo, se é que político tem amigo. A voz do povo dia outra coisa. Nem Joaquim Silvério saindo do tumulto desbanca este aí. O pior legado de Minas a política nacional. Infelizmente nasceu aqui, apesar do espírito querer ser carioca a todo custo. Podiam levar ele pra ser candidato lá.

Fernando Santos

26/08/2016 - 17h57

não vai acontecer nada, o povo brasileiro e as esquerdas deste país preferem morrer de fome do que matar um rico!!!

    Galvão

    26/08/2016 - 23h07

    Parece que você não ficou sabendo que a ditadura militar que se instalou no país em 1964, foi enfrentada à bala. Foi um erro, que não deve ser repetido, ao invés de enfrentar as forças de segurança treinadas, e bem armadas, é bem melhor caçar os golpistas, um a um. Não existe carro blindado para todos eles.

Elena Osawa

26/08/2016 - 16h02

Ontem saiu uma nota no portal UOL de que Paulo Skaf foi depor no Ministério Público sobre supostas irregularidades no uso de recursos da FIESP, bem como do SESI e SENAI. Skaf foi prestar declarações pois o MP recebeu uma denúncia anônima sobre essas irregularidades. Será que o MP vai investigar mesmo?

Leandro Torreal

26/08/2016 - 14h37

de fato, o estado brasileiro quer oferecer com dinheiro que não tem.
por isso é preciso criar condições econômicas.
em termos mundiais, o Brasil está mal na competição do mercado.
somos caros, pouco produtivos, cheios de impostos, com uma legislação horrorosa, aumento da dívida pública.
é bom lembrar que só se pode oferecer mais e mais bem estar social quando existe dinheiro para isso.
sem tal condição, acontece o que vemos agora, crise.

    Andre_Gotha

    26/08/2016 - 16h40

    Somos caros…mas o salário médio do trabalhador brasileiro é rídiculo…em média a produtividade do trabalhador brasileiro é quatro vezes menor que o estadunidense…contudo o salario médio é OITO vezes menor…temos um Estado inchado? Não! O numero de funcionarios públicos por mil habitantes é MENOR que o de qualquer país da OCDE, quatro vezes menos que a Finlândia e TRES VEZES menos que o Reino Unido!
    Cerca de 50% de nossos impostos vão para o pagar JUROS, metade do nosso orçamento é para isso, nossos gastos com bem-estar social são INFIMOS em comparação com o serviço da dívida

      Leandro Torreal

      26/08/2016 - 17h08

      então o melhor é não nos endividarmos ainda mais.
      falta dinheiro pq gastamos muito com a dívida pública, e a solução da esquerda é aumentar o endividamento?
      temos que fazer auditoria na dívida, pagá-la, como foi feito nos governos de Lula.
      aumentar a dívida está acabando com a nossa economia.

      Leandro Torreal

      26/08/2016 - 17h10

      e a questão da produtividade está relacionada ao custo, em impostos, do trabalho.
      pagamos impostos demais.
      o empresário que mais emprega é o pequeno e médio.
      esse não contrata mais porque não consegue pagar tanto imposto.

        Andre_Gotha

        26/08/2016 - 18h25

        https://www.youtube.com/watch?v=LSvhLqwBSxc

          Leandro Torreal

          26/08/2016 - 18h46

          somente reduzindo a dívida é que poderemos crescer de fato.
          não somos um país rico, e talvez nunca sejamos.
          tudo é caro para todos aqui.
          o melhor é que façamos uma redução nos gastos públicos, auditoria da dívida, pagamento dessa dívida, e aí sim, investirmos melhor.
          nos falta projeto e projeção.

        Galvão

        26/08/2016 - 23h17

        Resumindo: Para você, nós os trabalhadores somos os responsáveis pela crise por que passa o capitalismo. Quem sabe a revogação da Lei Áurea não resolva o problema? A proposta de 60 horas semanais de trabalho já foi lançada. A flexibilização da CLT também está na pauta dos golpistas. Vamos ver agora se o brasileiro tem sangue nas veias, ou se não passa de um coitadinho, que se consola com samba, futebol e cerveja.

          Leandro Torreal

          27/08/2016 - 01h22

          não, os trabalhadores não. somos apenas a menor das engrenagens.
          os culpados são os maus gestores públicos que não sabem em que investir, que não sabem como e onde cobrar impostos, que pouco se importam com a empregabilidade.
          o fato é que o Brasil é caro, oneroso.
          aqui é difícil produzir, empregar.
          se fosse mais fácil, talvez tivessemos mais empregos.

Dilson Magno

26/08/2016 - 14h03

No Brasil o nosso congresso e nosso senado condenaram a administração de Dilma por pura antipatia a sua pessoa alegando que os gastos foram acima do orçamento, com isso aplicaram a tal improbidade administrativa, agora veja como estão ás coisas nos USA será que vão pedir impeachment de Barak Obama também, com certeza não, sabe por que lá não tem coxinha Mané do jeito que tem no Brasil, aqui nosso políticos são mais sujos que pau de galinheiro.
Mais uma vez, o déficit do orçamento federal cresce a ritmos mais rápidos do que estava previsto. O Escritório de Orçamento teve de rever o prognóstico: dos 540 bilhões previstos em março para 590 bilhões na versão atualizada. Assim, em 2016, o déficit vai subir 150 bilhões de dólares, ou seja, 35%, em comparação com 2015. Este valor constitui o maior aumento desde 2009. Segundo as estimativas do Escritório de Orçamento do Congresso, já em 2024 o déficit vai alcançar um trilhão de dólares.
Durante a presidência de Barak Obama, a dívida soberana dos EUA dobrou. No final de fevereiro, o Ministério das Finanças americano relatou que a dívida superou o nível de 19 trilhões de dólares (R$ 60 trilhões).
Para compreender a escala destas cifras é preciso olhar para o passado:
Em 1980 a dívida foi de 0,9 trilhões de dólares (que equivalem a 33,4% do PIB americano);
Em 1990 foi de 3,2 trilhões de dólares (que equivalem a 55,9% do PIB americano);
Em 2000 foi de 5,6 trilhões de dólares (que equivalem a 58,0% do PIB americano, graças a uma redução realizada por Bill Clinton nos anos 90);
Em 2010 foi de 13,8 trilhões de dólares (que equivalem a 96,5% do PIB americano);
Em 2016 a dívida já superou 19 trilhões de dólares (que equivalem a mais de 103,7% do PIB americano).
Economia americana está no pior período desde a Grande Depressão Falando sobre os créditos dos estudantes americanos, oficialmente foi relatado que o valor de créditos para formação é aproximadamente de 1,25 trilhões de dólares (R$ 3,95 trilhões) – e esta cifra não é final. Ao mesmo tempo, 11,5% destes créditos estão em estado de falência. Isto significa que cada décimo crédito para formação nos EUA está atrasado pelo menos 60 dias. A dívida está garantida, mas não está garantido um emprego para conseguir pagá-la. Segundo as previsões de economistas, a bolha das dívidas para estudos vai rebentar em um futuro próximo. O mercado de trabalho oferece cada vez menos vagas e os salários estão diminuindo. Há apenas uma pergunta: se os estudantes não consigam pagar seus créditos, o governo obrigará os contribuintes americanos a pagar todos os 19 trilhões de dólares?
http://br.sputniknews.com/mundo/20160808/5974212/divida-soberana-eua.html
Dívida pública norte-americana que, como se espera, vai subir para 28 trilhões de dólares, daqui a 10 anos, vai atingir 86% do PIB norte-americano.


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