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Entrega do Pré-Sal: O tucano e o marshmallow

Charge: Latuff Por Tadeu Porto*(@tadeuporto), colunista do O Cafezinho [Resgatei um texto meu de Junho de 2015, nos meus tempos de Brasil Debate, que está bem atual com os destaques da entrega do Pré-Sal sendo votados nesse momento na câmara] Existem textos que começamos a escrever um pouco contrariados. Digitamos, digitamos e digitamos, parecendo não […]

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Charge: Latuff

Por Tadeu Porto*(@tadeuporto), colunista do O Cafezinho

[Resgatei um texto meu de Junho de 2015, nos meus tempos de Brasil Debate, que está bem atual com os destaques da entrega do Pré-Sal sendo votados nesse momento na câmara]

Existem textos que começamos a escrever um pouco contrariados. Digitamos, digitamos e digitamos, parecendo não acreditar que temos de juntar tais palavras, orações e pensamentos naquele momento. É exatamente assim que eu me sinto formulando um artigo para defender a manutenção do regime de partilha no País, efetivado faz menos de cinco anos.

Contextualizando: o Senado nacional colocou em pauta, utilizando o famigerado regime de urgência (visto outrora na votação do PL 4330), uma lei que revisa o modelo de exploração por partilha, tirando da Petrobrás a prerrogativa de ser operadora única do óleo proveniente do pré-sal. Esse projeto de lei, de número 131/2015, é de autoria do senador José Serra.

Já na síntese, de apenas um parágrafo, é possível achar alguns absurdos utilizados para a defesa e a implantação do projeto proposto pelo vampiro paulista. Destaco alguns a seguir:

Em primeiro lugar, é inacreditável que uma figura política como o Serra consiga se eleger para fazer exatamente o que prometeu a uma concorrente, fato apenas descoberto graças ao trabalho revolucionário de Julian Assange e seu WikiLeaks (a propósito, Assange completou três anos sem poder sair da embaixada do Equador em Londres e ainda não recebeu nenhuma visita de senadores brasileiros).

Pois então, e se um engenheiro da Ferrari fosse descoberto contatando a equipe da Mercedes e dizendo ”fiquem tranquilos vamos mudar isso” e ainda mantivesse o emprego?

Difícil, não é?!

E esse mesmo funcionário ainda no cargo, sabe-se lá por que, propondo em uma reunião dividir com equipes adversárias algumas ideias. “Pelo bem da Fórmula 1”, diria o mesmo…

Bem, é mais ou menos essa façanha que o senador tucano paulista está querendo, sem o menor senso de vergonha, o que, obviamente, não é de se estranhar.

Em segundo lugar, a despeito do entreguismo nojento – mas previsível – do ex-meio prefeito de São Paulo, vem os resultados atuais do regime de partilha. A Petrobrás não fica para trás em nenhum quesito operacional, quando comparada as principais petroleiras do mundo (mesmo com crise do petróleo e tudo). Muito pelo contrário! A taxa de retorno de exploração do pré-sal é extremamente satisfatória e, arriscaria dizer, é uma das mais altas da história recente do mercado petrolífero, pois não é qualquer empresa que sai do zero para 800 mil barris/dia em menos de sete anos.

O único argumento plausível para rever a partilha é o de que poderíamos explorar ainda mais nosso óleo com outras empresas no circuito, gerando mais royalties, empregos e receita fiscal no curto prazo. O que não é uma mentira se não pensarmos no grande estrago colateral de médio e longo prazo que essa atitude traria, que é, em resumo, tirar a soberania nacional sobre a reserva de uma energia tão estratégica como o petróleo.

 

Num mercado tão engenhoso e complexo, há de se ter a destreza de pensar que nenhuma empresa que deseja ser grande deve entregar sua matéria-prima para algum monopólio.

E é nessa hora que recorremos ao famoso teste do marshmallow, talvez um dos mais populares da psicologia: entre as décadas de 60 e 70 do século passado, um psicólogo de Viena, Walter Mischel, realizou em Stanford, nos EUA, um experimento que visava a entender as características de crianças que conseguiam ou não retardar o recebimento de uma recompensa, se a mesma fosse maior depois de um prazo definido.

Em suma, a criança ficava numa sala, isolada de distrações, e tinha duas escolhas: diante a um marshmallow, poderia consumi-lo a qualquer hora ou, então, se resistisse 15 minutos sem o mesmo, receberia, em adição, outro doce.

Segundo o estudo, as crianças que conseguiram postergar a recompensa se mostraram, no futuro, mais bem-sucedidas em diversos quesitos como, por exemplo, apresentando melhores resultados acadêmicos e mantendo uma vida mais saudável.

Ou seja, a investigação nos ajuda a inferir que nenhuma tomada de decisão deveria ser feita pensada simplesmente no curto prazo. Se uma atitude inconsequente ou um impulso impensado impacta a vida de uma só pessoa, imagine o que pode acontecer na política mal planejada de todo um país.

Nesse sentido, alguma boa alma, ou mesmo um hábil neurocientista como o Miguel Nicolelis (um dos melhores do mundo), poderia mostrar ao nosso Senado este conceituado teste. Quem sabe, assim, parte do nosso Legislativo não desista de entregar nosso ouro para o exterior, pelo preço de alguns royalties imediatos, em troca da soberania nacional sobre uma gigante reserva de energia, que deve pertencer a toda uma nação.

Vai ser difícil, claro, pois, no nosso caso, o tucano sequer come o marshmallow a que tem direito, apenas pega o doce e entrega para a águia em troca de algumas migalhas. Vá entender, parece que o grande êxtase do entreguista é exclusivamente entregar.

Todavia, não podemos perder o sonho de ver nosso país ser efetivamente um dos maiores protagonistas no mundo do petróleo, pautando a geopolítica mundial e utilizando a indústria como carro chefe do desenvolvimento nacional, criando ainda mais empregos com conteúdo nacional e garantindo serviços públicos de qualidade.

*Tadeu Porto é Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense

 

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Tadeu Porto

Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil

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Atreio

25/10/2016 - 14h13

e mais: não vi ninguem dos notáveis nos ajudar com a análise. eles podiam dizer quanto custava manter a NTS e quanto e a gerava de lucro pra petrobras, depois mostrava a oferta q recebeu por ela e nos fazia entender pq aquilo era um bom negocio….mas não. só venderam. não falam o valor…não informam quanto custava manter aquela estrutura nem quanto a petrobras ganhava com isso…seria demais né? devemos mesmo respeitar os idiotas da outra dimensão. afinal, acabaram com a corrupção depois de seus passeios de domingo vestidos de CBF.
sucesso, dizem.

Italo Rosa

25/10/2016 - 07h46

esse é um dos objetivos do golpe apoiado, incentivado e dirigido pelo imperialismo: apoderar-se do Pré-Sal. de todos os desmandos desses golpistas, esse é o mais ultrajante, porque compromente nosso futuro como nação. se fossem americanos fazendo isso nos estados unidos, seriam condenados como traidores. aqui são apresentados como administradores eficientes. complexo de vira-latas, subserviência, imorallidade, o que pode explicar tamanho crime de lesa-pátria?

CARVALHO

25/10/2016 - 07h01

Quem poderia parar, esses desmandos no País? O entreguismo geral das nossas riquezas. QUEM.

Mário Gonçalves

25/10/2016 - 00h46

Como o texto foi escrito no ano passado convém atualizar a produção de petróleo no pré-sal:
“Em setembro, a produção média de petróleo que operamos no pré-sal bateu também novo recorde mensal, de 1,17 milhão de barris de petróleo por dia (bpd). ”
http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/producao-de-petroleo-e-gas-natural-sobe-1-4-em-setembro.htm
Aumento de quase 50% na produção em 1 ano. Nada mal para uma empresa “falida” como alguns dizem ser a Petrobras.

Marcos Omag

24/10/2016 - 23h34

Está na estrutura celular da “nossa” elite ser entreguista. Ela é incorrigível. Embora existam raríssimas exceções é impossível negociar com ela. Em um possível governo a partir de 2019, os democratas do Brasil devem alijar esta elite de qualquer influência sobre as decisões do Estado. Se quiser reagir com “ignorãncia”, com “ignorância” deverá ser tratada.


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