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Anotações para uma resistência possível em 2017

Em segundo lugar (porque em primeiro, vocês já sabem), iremos resistir, lutar e vencer. Em terceiro lugar, desculpem, desculpem, desculpem, pela confusão incrível pela qual passou a programação visual do Cafezinho nos últimos dias. Apenas digo o seguinte: estamos trabalhando dia e noite para oferecer uma plataforma mais leve e mais agradável visualmente a todos. […]

29 comentários
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Em segundo lugar (porque em primeiro, vocês já sabem), iremos resistir, lutar e vencer.

Em terceiro lugar, desculpem, desculpem, desculpem, pela confusão incrível pela qual passou a programação visual do Cafezinho nos últimos dias. Apenas digo o seguinte: estamos trabalhando dia e noite para oferecer uma plataforma mais leve e mais agradável visualmente a todos. Foram dias turbulentos para o Cafezinho em termos de programação. O profissional que nos apoiava saiu, eu fiquei sozinho por uns dias e resolvi mexer em tudo, qual um macaco numa loja de cristais. Quase destruí o blog. Ao cabo, o bom senso prevaleceu, como sempre, e contratei uma empresa especializada que está reorganizando e limpando tudo. Tínhamos problemas acumulados ao longo de anos.

Daqui a um dia ou dois, tudo vai se estabilizar.

Assim como o Brasil.

O Brasil vai se estabilizar. Voltará a crescer e se tornará uma grande nação, próspera, justa e feliz.

Desculpem-me se pareço um pouco piegas, talvez até ridículo, com todas essas chamadas de auto-ajuda, sobre resistência, luta, vitória, todas essas profecias de estabilidade, justiça e crescimento, mas é que eu sinto que o momento pede isso.

O lado mais sombrio da crise vivida pelo Brasil é a sua ausência de esperança.

Não podia ser diferente após o golpe. As duas principais plataformas políticas da direita brasileira, cujo principal partido político é a grande mídia, são a desesperança e o medo.

A grande mídia nacional é uma arma imperialista de destruição em massa cujo único objetivo é nos transformar numa nação de escravos, submissos, medrosos, quietos.

A própria crise econômica tem uma função diabólica: ela tenta nos dominar pela pobreza. Quando todos estivermos na lona, sem um tostão no bolso, lojistas, sindicatos, pequenos empresários, empreendedores de comunicação alternativa, profissionais liberais, quando todo mundo estiver quebrado, desesperado, deprimido, então nos contentaremos (pensam eles) com qualquer migalha que nos jogarem.

É uma fórmula básica. Um sujeito com mil reais na carteira entra num bar. Em momento de prosperidade econômica, como vivíamos antes do golpe, esses mil reais são, naturalmente, um trunfo deste indivíduo. Ele pode beber quantas cervejas quiser. Pode pagar cervejas para quem quiser. Mas não é um deus. Há outras pessoas no bar com 100, 200, 500 reais no bolso. Há um outro cara que também tem mil reais. Enfim, há um ambiente mais democrático.

Em momento de profunda crise econômica, tudo muda. O mesmo sujeito entra no bar com os mesmos mil reais no bolso, mas o seu poder agora é infinitamente maior. Porque ele é o único.

Assim pensa o grande capital brasileiro.

Milhares de empresas brasileiras estão quebrando, inclusive as grandes companhias de construção pesada. Isso gera uma enorme transferência de poder para os setores que não são afetados pela crise: os grandes bancos, algumas firmas de seguro, agências de investimento, além, é claro, da Globo.

Para o investidor estrangeiro que não tinha apostado no crescimento do Brasil, ou seja, todos aqueles abutres que nunca acreditaram em nosso país, a crise econômica atual representa uma oportunidade de ganhar dinheiro fácil. Basta comprar os ativos ao preço mais baixo possível. Assim que estes se valorizarem, eles o venderão mais caro, produzindo outra crise econômica.

O atual governo brasileiro está fazendo tudo às avessas. A estabilidade de qualquer país só pode ser alcançada através do aumento do controle nacional, em especial do Estado, sobre os investimentos, infra-estrutura, energia. Esta é a fórmula do sucesso de todos os países ricos do mundo. O único país que usa um modelo diferente, com mais participação do setor privado, os Estados Unidos, o faz porque é o centro do novo imperialismo global. O banco central dos EUA controla as finanças mundiais através do dólar, e o Pentágono controla politicamente o planeta através da força das armas. É um caso à parte. Não se pode comparar nada com os EUA.

As empresas americanas de energia, por exemplo, são privadas, mas o governo americano trabalha para elas. A NSA espiona o mundo inteiro e lhes repassa as informações.

As empresas americanas de tecnologia são privadas, mas tem acordos de cooperação com o governo, pelos quais, segundo denunciou Snowden, elas implementam códigos dentro de seus softwares, para permitir a espionagem pela NSA.

A promiscuidade entre o setor privado e o governo americano é discutida em livros, filmes e séries. Tanto a direita como a esquerda norte-americanas, por razões opostas entre si, tem feito profundas críticas a esse modelo de desenvolvimento, que põe em xeque o livre empreendimento e as liberdades.

O sistema de comunicação norte-americano sempre foi profundamente contestado pela sociedade, desde Cidadão Kane, de Orson Welles.

No Brasil, a Globo conseguiu vencer facilmente o debate sobre liberdade de imprensa vendendo uma incrível mentira ao público, a de que ela, o maior monopólio de mídia do mundo, é a própria liberdade de imprensa.

Nos Estados Unidos, Bernie Sanders incluiu a questão da mídia corporativa e a ameaça que esta representa à democracia como tema central em sua plataforma política. Teve apoio da maioria esmagadora da juventude e da poderosa intelectualidade americanas. O partido democrata, no entanto, submeteu-se ao interesse das corporações e indicou Hillary Clinton.

Clinton perdeu as eleições para Donald Trump, que sempre desafiou a mídia corporativa, classificando seu jornalismo como puro lixo “liberal”.

Os grandes jornais americanos, como New York Times e Washington Post, para dar dois exemplos mais famosos, tem um conteúdo infinitamente mais diverso do que qualquer jornalão brasileiro. Mas todos tem uma editoria de política um tanto sinistra, para dizer o mínimo.

O New York Times, por exemplo, vem apoiando todos os golpes sujos e guerras do governo americano desde sua fundação. Às vezes pede desculpas mais tarde, anos depois, como o Globo fez há pouco tempo em relação a seu apoio ao golpe de 64.

Recentemente, por exemplo, o New York Times está à frente de reportagens que mostram a “interferência” de hackers russos nas eleições dos Estados Unidos. As matérias não trazem prova nenhuma, a não ser afirmações de fontes anônimas da CIA e FBI. Trump tem descartado as denúncias simplesmente como “ridículas”, porque é isso que elas são. Acusar um país tecnologicamente atrasado como a Russia de interferir no voto de um país com mais de 320 milhões de habitantes é simplesmente bizarro. Mas os EUA costumam fazer guerras, que matam milhões de pessoas, com base em denúncias ridículas como essa, em geral publicadas no New York Times.

O NYTimes foi contra o golpe no Brasil porque foi um golpe sujo demais. A Globo e as castas da burocracia fizeram o máximo que podiam para lavar branquinho o golpe, ou seja, para lhe dar uma cara democrática. Não conseguiram convencer nem a população brasileira, que deve ser a menos politizada do mundo. As pesquisas de opinião, feitas por institutos pertencentes aos próprios golpistas, sempre disseram que mais de 40% da população entendia que o impeachment não seguiu os corretos trâmites democráticos.

Como podiam seguir trâmites democráticos, se o principal articulador do impeachment foi Eduardo Cunha, devidamente descartado depois de usado pela mídia e castas, conforme todos previam?

A participação do Supremo Tribunal Federal (STF) no golpe é uma parte particularmente triste da história, mas isso também foi costurado meticulosamente pela mídia. A cooptação dos ministros do Supremo foi considerada uma prioridade para Globo, daí todos os prêmios que a família Marinho distribuía, em pessoa, para os juízes considerados “estratégicos”: Joaquim Barbosa, Sergio Moro, Carmen Lucia. Neste ponto, os nomes indicados pelos governos Lula e Dilma ajudaram bastante na operação. Parece que fizeram um concurso nacional para saber quem eram os mais covardes, e indicaram os vencedores.

A lógica dos conchavos políticos do PT no congresso sempre foi questionável, mas ali havia um sentido. Era necessário construir maioria para aprovar reformas e governar. Entretanto, o PT, por inexperiência e estupidez, levou a mesma lógica para a nomeação de ministros do Supremo, que detêm cargos vitalícios. Se Lula e Dilma tivessem escolhido um juiz, um só, com colhões para enfrentar a mídia, a história brasileira seria outra.

Entretanto, a nossa crítica, admito, não tem muito sentido. Como esperar que o PT escolhesse juízes com colhões para enfrentar a mídia se o próprio partido, com muito mais liberdade para tal, jamais os teve?

Os leitores sabem que tenho escrito há anos sobre esse tipo estranho de cretinice política, que assolava os ministros do governo Dilma e da própria presidenta, assim como da maioria dos parlamentares e dirigentes do PT. Era quase uma doença mental, se me permitam o deslize politicamente incorreto. Eles não sabiam o que dizer a respeito, como se a concentração da mídia não fosse um tema importante para a vida nacional.

A presidenta, apenas depois do golpe, descobriu que a mídia brasileira não era democrática. Depois do golpe, passou a dar entrevistas a blogs, imprensa internacional, a falar diariamente, ou seja, a fazer tudo que a gente vinha implorando, desesperadamente, que ela fizesse desde o primeiro dia de seu primeiro governo. Que fizessem o bom combate midiático, porque era a única maneira dela sobreviver.

Entretanto, com todos esses erros, o primeiro mandato da presidenta Dilma encerrou com o menor desemprego da história. Dilma elevou os investimentos em educação, infra-estrutura, saúde, ciência e tecnologia, a níveis jamais vistos antes na história brasileira. E não digam que foi exatamente isso que “quebrou o país”. Os números macroeconômicos do país estavam excelentes até meados de 2014. As coisas degringolam com a Lava Jato, que deflagrou um intenso processo de desestabilização econômica e política. Em pouco mais de dois anos, a operação destruiu a maior parte do setor de construção pesada, debilitou severamente toda a cadeia de petróleo e gás, paralisou a economia e a administração estatal, derrubou o governo, levou ao Planalto os tipos mais corruptos da classe política, e fez o desemprego no Brasil saltar de menos de 5% para mais de 12%.

E tudo isso sob aplausos e panelaços de uma classe média idiotizada por décadas de lavagem cerebral.

2017 não poderia começar mais infernal.

Um psicopata mata mulher, filho e dez parentes da mulher, após deixar uma carta em que repete chorumes típicos de um zumbi midiático. Em seguida, uma chacina num presídio em Manaus nos envergonha (se é que ainda nos resta este sentimento, após o golpe) perante o mundo. Pior: o secretário de juventude do governo afirma que “tinha que matar mais, fazer uma chacina por semana”…

O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, é a figura mais idiota que já pisou naquela pasta. O tratamento que Moraes, por exemplo, dá a questão da maconha não pode ser subestimado. Vamos relevar o sensacionalismo da Globo sobre a sua declaração, de que estaria determinado a erradicar a planta do continente. Segundo o próprio ministro disse, em contestação indignada à matéria, seu plano se limita ao Brasil e ao Paraguai. Não é menos idiota por causa disso.

No Uruguai, a maconha foi liberada. Os Estados Unidos estão liberando a maconha paulatinamente em todos os estados. Já são dezenas de estados onde se pode produzir, comercializar e consumir maconha livremente. Ao final de 2016, a Florida liberou a maconha. Mesmo nos estados, onde a maconha ainda sofre restrições, como em Nova York, a tolerância já é total. Nos mercados, vende-se semente de maconha, alardeada por famosas blogueiras de culinária como ingrediente mágico para acelerar o metabolismo, regular os intestinos e emagrecer, além do maravilhoso sabor que proporciona aos alimentos.

Nos filmes e séries que os brasileiros assistem cada vez mais, os personagens fumam maconha livremente. Não é nem mais algo que desvie a atenção da narrativa. E, mais importante, na vida real, a maconha já se tornou, há muito tempo, uma droga social na vida dos jovens brasileiros. Nas universidades, já é tão comum que o consumo começou a cair, pois deixou de ser novidade.

Alguns setores da esquerda partidária, aqueles mais ligados às questões de economia e luta de classes, costumam ver essas micro-políticas, como a liberação da maconha, a agricultura orgânica, as questões de gênero e sexo, aborto, como algo menor, como uma agenda liberal que não os empolga muito. É um erro. E um erro que se agiganta nesse momento de golpe.

A esquerda brasileira, para sobreviver ao regime autoritário que se implementou no país desde o golpe, e que se torna, a cada dia que passa, mais brutal e violento, precisa abraçar as questões de micro-política, com as quais ela conquistará o coração da juventude e da intelectualidade.

Todas essas questões, naturalmente, estão misturadas à agenda social. A agricultura orgânica geraria emprego e prosperidade nos cinturões verdes das grandes cidades.

A questão da mobilidade urbana deve ser vista com lupa, e foi outro erro crasso dos governos petistas não terem dado mais atenção ao tema. Quer dizer, eles fizeram bem mais do que qualquer outro governo, mas mesmo assim, não fizeram suficiente e, sobretudo, não politizaram a questão.

Como é possível que um país como o Brasil não tenha uma grande projeto ferroviário, para ligar todas as capitas por trens de alta velocidade? Ao governo caberia, no mínimo, desenvolver estudos, gráficos, vídeos, com perspectivas de custos, de um lado, e de receitas advindas com o desenvolvimento trazido por essas ferrovias, de outro. Entendo que fazer trens é complicado. Mas não podemos sequer sonhar?

Historicamente, obras de mobilidade urbana são feitas em momentos de mão-de-obra ociosa, como na crise americana dos anos 30 e na China dos últimos 50 anos.

Como é possível que o Brasil não tenha até hoje construído uma ferrovia que nos ligue ao Pacífico, abrindo caminho para a exportação de soja, ferro, e todos os itens produzidos no Brasil, primários ou industriais, para a Ásia e a costa oeste dos Estados Unidos? Por acaso é um projeto bolivariano?

A pequenez mental da elite brasileira é uma aberração. Ela governa o Brasil como se governasse uma minúscula república da América Central. O controle midiático da Globo sobre a opinião pública nacional, em especial sobre as castas burocráticas e empresariais, é um fator de atraso econômico. O custo de publicidade no Brasil é mais caro por causa disso. Temos menos empregos no jornalismo, na publicidade, nas artes, na indústria criativa, em função dos monopólios. Projetos de infra-estrutura ambiciosos, porém essenciais para o nosso desenvolvimento, como o trem-bala Rio-São Paulo, são boicotados e assassinados no berço por editoriais e campanhas da Globo.

Os jornalistas brasileiros, em primeiro lugar, deveriam lutar pela democratizar a mídia, porque é a única maneira deles libertarem a categoria da horrível escravidão ideológica a que são submetidos pelo monopólio.

Não existe nada mais triste no mundo do que um jornalista brasileiro. Às vezes, notamos que ele tem instintos progressistas, que deseja falar alguma coisa diferente, mas não pode. Depois de um tempo, deixamos de sentir solidariedade e nos sentimos irritados, porque em sua opressão ideológica a gente se sente também oprimido, e este sentimento nos irrita e queremos que o jornalista dê um grito, que fale a verdade. Mas ele não pode falar nada porque vive apavorado com medo do próximo passaralho. E os jornais brasileiros, conscientes da necessidade de exercer um controle absoluto sobre seus profissionais, promovem demissões periodicamente. Após um tempo, o jornalista acaba se tornando amargo e cínico, despertando ainda mais antipatia do público, até o ponto em que alguns, percebendo a conjuntura, fazem do cinismo e da sordidez o seu maior trunfo. E passam a ser admirados por seus patrões por darem tão maravilhoso exemplo. Os jornalistas mais tímidos olham com perplexidade para seus colegas recebendo prêmios por seu mau caratismo.

Claro que sou parte interessada nisso e obviamente não tenho isenção neste assunto, mas é um tanto chocante que a primeira iniciativa política do governo Temer, sob aplausos da imprensa, tenha sido sufocar financeiramente os blogs, através da suspensão e cancelamento de contratos de publicidade em vigor entre estes e algumas agências de publicidade com contas de estatais.

A mesquinheza dos proprietários da grande imprensa não encontra limites. A Globo, não satisfeita de estar à frente do mais sinistro monopólio midiático do mundo, vem tentando, há tempos, silenciar as vozes da imprensa alternativa. Para isso, contam com a ajuda da casta golpista. Não deixa de ser instrutivo o que a Lava Jato fez há pouco com a Carta Capital, ao liberar um vazamento, devidamente manipulado, sobre um pagamento de publicidade adiantado feito pela Odebrecht à revista. Ora, poucos anos depois, a mesma Odebrecht fez adiantamentos muito maiores à Folha de São Paulo, mas isso não vem ao caso. A sordidez da grande imprensa brasileira, em sua obsessão maníaca e criminosa para destruir qualquer diversidade jornalística no país, é algo a ser estudado a fundo.

A intelectualidade e a academia estão observando isso. Menos do que deveriam, mas estão. Tenho sido convidado para conferências em universidades de todo Brasil, para conversar com estudantes e professores de jornalismo, perplexos com o fato de que os principais empregadores da profissão terem se tornado uma espécie de máfia, onde não há mais nenhum resquício de compromisso com a verdade, com o bem estar social, e agora nem mesmo com as liberdades individuais, como se vê por seu apoio ao código penal fascista que o Ministério Público, com apoio do Judiciário, quer empurrar goela abaixo da população brasileira.

A elite brasileira é mesmo escravocrata. Depois de passar séculos roubando o povo brasileiro, agora ela tenta convencê-lo a apoiar leis que supostamente ajudariam a luta contra a corrupção, mas que na verdade não passam de um mal disfarçado subterfúgio para ampliar o controle do Estado sobre as liberdades individuais. Ou seja, leis que nos escravizam, ao invés de nos libertar.

Sobre a barbárie no Amazonas, temos que atacar a raiz do problema, que é a mesma do massacre perpetrado pelo monstro de Campinas: a mídia.

Subestimar o mal causado pela mídia brasileira, a esta altura do campeonato, não é mais estupidez ou cretinice. Estes adjetivos, que dedicamos generosamente aos governos e dirigentes petistas, já não valem mais. Hoje é uma questão de bom senso e honestidade. Vale para a esquerda e para a direita. A mídia brasileira está destruindo o país a uma velocidade recorde. A Lava Jato jamais se tornaria tão monstruosamente corrupta, entreguista e arbitrária se houvesse denúncia contra seus crimes desde o início. Os elementos mais fascistas e corruptos da comunidade jurídica, em especial juízes e promotores, jamais teriam tanto poder se fossem, desde o início, submetidos ao saudável escrutínio crítico da imprensa.

Imprensa livre é sim, um elemento essencial para a democracia. A ausência dela (da imprensa livre) no Brasil, vítima de um monopólio criminoso e imperialista, mostrou isso.

A sociedade brasileira, portanto, e isso vale para todos os espectros ideológicos, precisa investir numa imprensa plural e descentralizada, que possa dar conta da complexa realidade política e social do nosso país. Sem isso, não haverá desenvolvimento e o país se tornará um lugar cada vez mais inóspito para se viver, como aliás já está se tornando. A nossa imprensa incita a violência, o racismo, a intolerância, o reacionarismo, e não apenas da população mais pobre, mas sobretudo de suas elites e classe média, que são as primeiras vítimas. Bolsonaro pontifica nas pesquisas não entre os mais pobres, mas entre os mais ricos.

O senhor de escravos, já ensinava Nietzsche, torna-se tão escravo quanto o próprio escravo, porque ambos obedecem à mesma lógica. A liberdade humana só existe numa relação livre.

***

Essa é a Arpeggio, minha coluna política diária, cujo título passo a publicar ao final do texto, para ficar mais bonito na primeira página do blog.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Dulcéa Machado Martins

15/01/2017 - 10h47

Excelente artigo, Miguel! Haveremos de vencer! fora Temer e demais golpistas!!
Concordo com Anônimo e Pedro sobre a necessidade/importância de se trabalhar na ideia de doação conjunta ou fundo de doações… que seria dividido entre os blogs progressistas. Eu mesma tenho feito um rodizio anual com as minhas contribuições financeiras, pois não dá para contribuir com todos ao mesmo tempo; além disso facilita a operacionalização de quem contribui financeiramente!
Abraço, Dulcéa

Marcos Aurelio Galo

13/01/2017 - 17h15

O brasil só vai se estabilizar quando de fato o nosso povo acordar e saber votar.https://youtu.be/VixEHePxUEo

Ariadne Maria Castro Lima Cardoso

13/01/2017 - 04h58

Perfeito seu texto, Miguel!!!

Roxane Carreirao

10/01/2017 - 19h43

União! #Resistir!

Anônimo (sem moderação por favor (hehe)

10/01/2017 - 14h03

As hordas golpistas só começarão ser destruídas quando avançarmos na questão midiática.

Se perguntam o motivo de jornalistas, celebridades e outras pessoas do meio artístico não se manifestarem em favor da democracia. Isso acontece porque todos são dependentes do PIG. É o PIG que garante o sustento e a visibilidade desta gente e ficar contra ele significa ser jogado na sarjeta (Jô Soares, Zé de Abreu, Caio Blat, etc). Por isso ninguém se posiciona.

Nisso entram os setores alternativos da mídia que podem oferecer um contraponto aos que romperam com o PIG. Um exemplo é o ator Vagner Moura que tem recebido espaço no cinema e Netflix (Narcos).

O problema existe porque os setores alternativos não são capazes de garantir EMPREGABILIDADE e VISIBILIDADE que faça frente ao PIG.

Para resolver a questão, é preciso garantir FINANCIAMENTO aos setores alternativos e PLURALIZAR a programação e abrangência em comunicação, seguindo aquele velho mantra de “deixar de falar apenas consigo”. O público geral não dá crédito à mídia alternativa porque não enxerga ela como algo “oficial”. É como se fosse até a farmácia e o vendedor apresentasse o remédio “original” e o
“genérico”. No caso, o preço faz a diferença, mas em questão de mídia não existe o fator preço.

Então vamos pontuar:

1 – Não existe mídia alternativa. O público geral deve entender que O Cafezinho, DCM, Opera Mundi, Viomundo, Geledés e outros NÃO fazem parte de um sistema paralelo de comunicação. São e devem ser compreendidos como meios “oficiais” tal quaL Folha, Estadão, etc. Isso será possível apenas por meio de uma campanha publicitária.

2 – MAS PARA QUE ISSO SEJA ASSIMILADO a pessoa que buscar informação além das cercanias do PIG deve encontrar algo que gere aproximação. Por exemplo, João, um cidadão de classe média, um “midiota arrependido” que confere as notícias diárias sempre no UOL.com resolveu trocar pelo Viomundo. Ele precisa encontrar algo relevante que o faça ficar. Se João encontrar um site de
esquerda feito sob medida para pessoas de esquerda, com notícias sobre cinema iraniano, neoliberalismo de Macri e coisas semelhantes, ele vai voltar para o conforto do PIG. Não se trata de produzir conteúdo tóxico para agradar coxinhas, mas sim de diversificar, pluralizar aquilo que ele vai encontrar na tela principal. Vai ser um desafio oferecer algo para o público de fora sem desagradar o pessoal de dentro, mas o momento exige.

3 – Sobre a questão financeira. O aumento do público gera mais receita com publicidade, mas ainda vai ser necessário uma base financeira para equiparar o capital do PIG. Uma ideia seria elaborar um sistema de doação conjunta. A pessoa doa R$ 50,00 / mês que seria fatiado entre os comunicadores progressistas.

henrique de oliveira

10/01/2017 - 10h52

Milhares de empresas brasileiras estão quebrando, inclusive as grandes companhias de construção pesada. Isso gera uma enorme transferência de poder para os setores que não são afetados pela crise: os grandes bancos, algumas firmas de seguro, agências de investimento, além, é claro, da Globo. Muito bom , mas você esqueceu do nosso corrupto judiciário , que fala em combater a corrupção , mas faz lob para que essa casta não tenha teto de salários , e nem sejam responsabilizados por suas cagadas diárias , ai fica muito bom para a classe , não existe nenhum corrupto seja de onde for que tenha tamanha proteção , quem é mais corrupto o politico que recebe uma propina de alguém ou um juiz ou promotor que recebe essa propina institucionalizada em forma de pagamento por sua omissão ou por seu comportamento golpista midiático?

Jonas Pedro

10/01/2017 - 12h37

COM TODOS OS SEUS DEFEITOS, NOSSA DEMOCRACIA AINDA É INFINITAMENTE MELHOR QUE UMA DITADURA!

DITADURA só existe nos países mais pobres da África hoje em dia. Por que será? Confiram o gravíssimo perigo que está sofrendo nossa democracia, e a importância de se DEBATER POLÍTICA nesse momento. Desafiamos a todos que defendem uma intervenção militar, para que leiam o estudo do link abaixo, e tentem refutá-lo. Quem concorda, por favor, COMPARTILHE:

https://www.facebook.com/democracia.direta.brasileira/photos/a.300951956707140.1073741826.300330306769305/902060826596247/?type=3&theater

Se você acha que a coisa não pode piorar, e muito, leia o link acima, atualize-se, instrua-se, e comece a DEBATER POLÍTICA, antes que percamos esse direito…

Pedro Pereira

10/01/2017 - 09h49

fala miguel… nessa questão do início do texto, que vc fala da opressão do povo pelo por conta da regressão econômica… estive pesando sobre aquele questão que vc tem destacado do crescimento da receita da grobo pós golpe… e percebi uma ligação importante aí… para a grobo que depende de modelos defasados de tecnologia (tv aberta e a cabo) a regressão econômica do Brasil é muita importante, já que freia a concorrência da internet, já que quanto mais o povo estiver na m… a expensão e melhoria da qualidade da internet ficará cada vez mais restrita… acho q o sonho da grobo é voltar a época das lan house… quanto mais gente na m… menos pessoas terão internet em casa, menos netflix (que passará a ser tributo, não por um motivo justo e decente, mas para agradar a grobo), menos nba league pass… assim por diante… acho que vc deve destacar isso também… e a juventude será muito afetado por isso… abraço

Tereza Salgado

10/01/2017 - 11h44

Concordo com Carlos Vieira , a saída é a união!

tales

10/01/2017 - 08h08

Dei uma abandonada no blog porque tenho a impressão que ele tem ficado cada vez mais sensacionalista, meio ao estilo ‘Brasil247’, mas os textos do Miguel do Rosário continuam um deleite.

Mario Neto

10/01/2017 - 03h17

Tua palavra ajuda a digestão da angústia interminável

Vilena Soares

10/01/2017 - 03h16

Desenrolou, destrinchou em miúdos. Não conseguia parar.
Adoro, perfeito. Dá-le Miguel Do Rosario ??

Carlos Vieira

10/01/2017 - 02h29

Por que entao os blogs progressistas nao se unem e criam um mega portal? Ja imaginou o poder que esse mega portal teria? Que influencia fantastica? Superaria com certeza o uol e o G1. Pense nisso.

Martin Mikoski de Sousa

10/01/2017 - 02h19

Um Cafezinho é muito bem-vindo a qualquer hora, mesmo sem açúcar a adoçante como é o de hoje. E na situação em que estamos hoje ele é mais acessível do que uma cerveja. Minha preocupação é essas informações possam se ao máximo compartilhadas para serem discutidas e saboreadas , como contraponto ao que a grande mídia esparrama por aí.

Fernanda Nasser

10/01/2017 - 01h39

Miguel, fale da relação de todo essa caos com o embaixador Peter McKinley. Qual a sua opinião?

marcosomag

09/01/2017 - 23h27

O filósofo Jean Baudrilllard escreve sobre esse medo das esquerdas em tomar o Poder em “Partidos comunistas: paraísos artificiais da política”. O PT teve tudo nas mãos para mudar o Brasil. Até um Globo falimentar, desesperada pois o “Império” ameaçava ir a pique com o espetacular fracasso da Globocabo. O que fez o PT? José Dirceu salvou a Globo para “proteger o conteúdo brasileiro” na mídia sem exigir nenhuma contrapartida. A democratização do jornalismo deveria estar no topo da lista de exigências para que a mão amiga do governo petista pudesse salvar a Globo. O experiente dirigente petista, com todo o Poder da Casa Civil federal nas mãos teve medo de agir! Ganhou em troca pelo favor, um par de algemas. Hoje, mesmo depois do que a Globo fez na conspiração contra Dilma, dirigentes petistas ainda dão entrevistas para a Globo como se nada tivesse acontecido.

    RENATO ANDRETTI

    10/01/2017 - 00h54

    HÁ UM ELO PERDIDO NESTA ESTÓRIA TODA!!

    Roberto E.

    10/01/2017 - 10h27

    ??????????

Will Chung Ho

10/01/2017 - 00h51

Salvou legal a segunda -feira! Disse tudo. Lacrou.

Pedro

09/01/2017 - 22h50

Estimado camarada…Assim se relacionam os comunistas! Oras pois! Excelente artigo/análise. Extensa, mas não tem como ser diferente. Já tem alguns anos que procuro manter meu blog e sei dá batalha diária para manter o bichinho no ar. Me imxoda um tanto a minha não contribuição financeira, mas por outro lado como contribuir com o cafezinho, com o portal fórum do Renato robalo , com o Luís Nassif , com o diário do centro do mundo, com o biomundo do azenha, para falar de alguns, não esquecendo os demais que seguem na linha de frente, nas casamatas a enfrentar a guerra midiática destes tempos turbos. Esse estado de coisa, bem poderia ser amenizada se nós juntassemos todos na construção de um fundo capitalista sim! Oras pois! De modo a compartilharmos ao menos a manutenção dos blogs. Tal como você agora necessita de uma empresa para adequar o cafezinho. Claro posto a ideia do cafezinho. Não importa a quantidade de dinheiro colocado na ação, mas sim a quantidade de pessoas contribuindo para o fundo. Penso que muitas pessoas estão passando por este incômodo e quiçá, seja este um novo formato para uma nova imprensa no país, pois temos um longo caminho a percorrer e sabemos todos , um caminho permeado de percalços de toda ordem. Se quiseres avançar na ideia, segue meu contato antoniocarlospedro@gmail.com e o blog : http://www.iddeiaculturaepesquisa.com

Ren Meira Lima

10/01/2017 - 00h35

#ForaTemer

Jota Brizido

10/01/2017 - 00h31

Oh! Miguel, arruma aí logo !
Imprensa honesta, informativa e crítica não se encontra em qualquer esquina como Cachaça, que vai bem, mas acompanhada de bons argumentos na hora da discussão, aí é necessário o Cafezinho!!
Avante companheiro !

José Silva

09/01/2017 - 23h22

a batalha de agora está perdida, é preciso se preparar para a próxima…os inimigos, além dos políticos conservadores e reacionários, são a midia (claro) e as castas burocráticas…contra a mídia no momento não dá pra se fazer muita coisa, mas para as castas burocráticas (judiciário, mp, pf, rf, banco central, etc etc) é possível planejar a “médio” prazo: incentivar as forças progressistas a participarem desses famigerados concursos que colocam pessoas totalmente despreparadas e sem nenhum compromisso moral em situações de poder quase absoluto, como vemos atualmente…se a esquerda não disputa esses núcleos de poder, então eles fatalmente serão ocupados pela direita mais reacionária e pelos estratos mais toscos da população, como vemos acontecer atualmente

Maria Thereza Gonçalves de Freitas

09/01/2017 - 21h08

Excelente análise, como sempre. E já que está mexendo no blog, não tire a opção da gente curtir os comentários, por favor. Nem sempre queremos/podemos responder, mas gostamos de deixar nosso apoio pra companheirada. abraço

    Elena Osawa

    10/01/2017 - 06h13

    Concordo com vc, Maria Thereza. Miguel do Rosário se superou nessa análise. Excelente! E, por favor, volte com a opção de curtir os comentários. É sempre um estímulo a mais para lermos os excelentes comentários que sempre aparecem no blog.

June

09/01/2017 - 20h38

Excelente análise, Miguel. Todos os partidos políticos, o judiciário e a mídia, seja esta qual for, deveriam fazer mea-culpa pelo caos em que colocaram o nosso país. Lamentável isto, pois nosso povo até bem pouco tempo guardava um pouco de respeito e compaixão pelo sofrimento alheio. Este ódio, semeado a quatro ventos, produziu a dura realidade; “Quem semeia vento, colhe tempestade” diz o ditado popular. A ganância pelo poder e pelo dinheiro fácil levam a atrocidades desumanas, como arrancar corações do peito ou mandar matar, este muito comum em regiões menos favorecidas cheias de “coronéis” ou “doutores” . Nos presídios, falou o canibalismo, como prova do animalesco…

Esperança sim, não por aquele Brasil fictício, “O país do eterno futuro”, mas uma nação que resgate os seus princípios éticos e morais no bom exemplo e no respeito. Paz mundial nem cogito, enquanto tivermos no mundo afora alguns países que semeiam a desigualdade e não respeitam a soberania e cultura de outros povos. Países insaciáveis, sempre sedentos e esfomeados pelas riquezas naturais de outras nações e da mão-de-obra quase de graça, isto sem contar com o poder religioso que também ajuda nesta imposição aos humildes e ingênuos.

Pensamento positivo e sigamos em nome do Bem e Equidade.

Tadeu Braga

09/01/2017 - 21h04

Parabéns pela matéria e pelo seu combativo trabalho, Miguel do Rosário!

Guinther

09/01/2017 - 19h03

Excelente texto e triste realidade que se arrasta desde o golpe de 64, até os dias de hoje!

Atreio

09/01/2017 - 17h32

Ótimo artigo!

Sigamos. Até a vitória, sempre.

Não vai levar 21 anos de novo.


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