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Entre loas ao corte dos juros e o arrocho no Rio, avançam as privatizações

Espiando o poder: análise diária da grande imprensa Foto: Givaldo Barbosa/Globo Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho O Valor, o Estado e a Folha de São Paulo têm hoje o mesmo assunto como manchete. “Inflação volta à meta e BC acelera a redução de juros”, diz o jornal de economia. Os outros dois falam a […]

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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa

Foto: Givaldo Barbosa/Globo

Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho

O Valor, o Estado e a Folha de São Paulo têm hoje o mesmo assunto como manchete. “Inflação volta à meta e BC acelera a redução de juros”, diz o jornal de economia. Os outros dois falam a mesma coisa, com a informação adicional no título do Estadão sobre a redução da “Selic para 13% ao ano”, que parece ser, a julgar pelo entusiasmo sugerido pelas manchetes, também pela maioria dos ditos especialistas, uma boa notícia. O Globo, no entanto, dá a boa nova na capa, sim, e no alto, mas não na manchete, que se concentra, de novo, na crise caseira do Rio de Janeiro. “Acordo entre União e Rio envolve R$ 50 bi até 2020”, informa o jornal carioca, dizendo num dos subtítulos que “total inclui revisão de gastos e receitas”, mas sem contar nada, não na capa, “das demissões em massa e redução de salários e pensões. Dois carregamentos de pólvora, o segundo até ilegal”, citados por Jânio de Freitas em sua coluna, na Folha. Em compensação, o Globo informa no outro subtítulo da manchete que “papéis da Cedae serão dados em garantia ao pacto”, revelando a joia da coroa do acordo que deixa o Estado do Rio como o governador Luiz Fernando Pezão na imagem acima, com a língua de fora, ao lado do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na foto que ilustra a matéria no jornal carioca.

Na reunião de ontem entre o governador e o ministro “ficou acertado que a Cedae será transferida para o governo federal como garantia do acordo”, continua o texto da chamada na primeira página do Globo, para em seguida dizer que “a União fará a concessão da empresa à iniciativa privada” e que “o processo dependerá da aprovação da Alerj, mas pode ser concluído em 2017”. Embaixo da matéria na página de dentro, como quem torce para o negócio ser realizado o mais rápido possível, o diário carioca dá sua forcinha afirmando no título que a Cedae é “uma empresa ainda lucrativa, mas que não leva o saneamento a todos”.

Em outra chamada de canto da primeira página, abaixo da queda dos juros, o Globo informa que a “Petrobras vai expandir os investimentos”. Diz que a estatal “anunciou para 2017 investimentos de US$ 19 bilhões, 35% a mais do que no ano passado” e que “também vai retomar obras do Comperj”, sem informar, não na capa, que só empresas estrangeiras foram convidadas a participar da licitação para tais obras. A notícia de que as empresas brasileiras investigadas na Lava Jato não participarão da licitação, como uma espécie de punição pelo envolvimento com corrupção, foi dada ontem, na primeira página do Estadão. Hoje o Globo a repete só nas páginas internas, sem nada dizer, também sobre a corrupção das empresas estrangeiras, exposta no Diário do Centro do Mundo (DCM).

“Empresas estrangeiras que a Petrobras quer trazer ao Brasil estão envolvidas em corrupção”, avisa o título da matéria de Joaquim de Carvalho no DCM. O repórter enumera a lista por ordem alfabética e informa que “no topo da relação, está a empresa Acciona, da Espanha, acusada por uma empresa alemã por fraude na aquisição de uma estatal de gás natural.” Em seguida vêm a “a inglesa Amec Foster Wheeler”, acusada de “operar ‘com violações da lei'” pelo Comitê de Proteção do Petróleo do Azerbaijão, onde atua desde maio de 2001. Segundo Carvalho, “a acusação principal é a de não respeitar regras trabalhistas no país e sonegar impostos”.

A lista segue com a Areva, da França, as norte-americanas Bechtel Corporation e Chicago Bridge & Iron Company, a chinesa subsidiária da Chalco, estatal de alumínio daquele país., e “nenhuma busca no Google de nome da empresa acompanhada da palavra corrupção vem sem resultado”. Segundo a matéria de Joaquim de Carvalho, “até a alemã ThyssenKrupp, que havia adotado rigorosos sistemas de controle anticorrupção em 2011, se viu recentemente alvo de uma investigação pela suspeita de subornar autoridades turcas”.

O repórter do DCM ouviu o diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Herbert Teixeira, e este afirmou que “a substituição de empresas nacionais por estrangeiras nas grandes obras ‘obedece ao um padrão recente de entrega das riquezas e serviços da empresa’. E não protege a estatal da corrupção, como mostra o levantamento das empresas que a Petrobras quer trazer ao país”. Teixeira lembra que o modelo de contratação que fomentou a corrupção não mudou, e que se “na relação cada vez mais estreita com a estatal, as empresas nacionais cresceram e formaram cartéis, como admitiram agora na operação Lava Jato, ‘o que estamos vendo agora é o risco de continuidade dos cartéis, só que nas mãos de estrangeiros'”.

No Tijolaço, Fernando Brito mostra logo no título de seu texto sobre o assunto o que está prestes a cair nas mãos nada limpas das empresas estrangeiras, ao informar e depois perguntar: “produção do pré-sal já é de R$ 83 milhões por dia. Quem entrega isso, não é traidor?” Brito começa lembrando que “há  um ano, O Globo publicou um editorial mentiroso e entreguista sob o título de ‘O pré-sal pode ser patrimônio inútil'”, e que o “’patrimônio inútil’ fechou 2016 produzindo 56% de todo o petróleo e gás natural extraídos no Brasil, mesmo sendo ainda uma fronteira exploratória ainda muito pouco desenvolvida”.

Ainda de acordo com o jornalista, “o pré-sal, sozinho, seria hoje o 15° maior produtor de petróleo do mundo” e gera “US$ 30 bilhões de dólares por ano, isso se não aumentasse em uma gota a quantidade de óleo extraído”. E se Fernando Brito pergunta se “é preciso mais para que se veja que a entrega desta riqueza, como está se fazendo, desavergonhadamente, é um crime de traição nacional”, Joaquim de Carvalho, no DCM, mostra que as chances de reverter esse quadro com Pedro Parente no cargo de presidente da Petrobras, são nulas.

O repórter relembra a compra da “petroleira argentina Perez Companc, controlada pela espanhola Repsol, a preço superfaturado, que teria provocado prejuízo de R$ 790 milhões à época (2,4 bilhões em valores corrigidos)”. Pedro Parente era o presidente do Conselho de Administração da Petrobras em 2001, quando foi feito o negócio e “é réu em ação popular por conta desta compra escandalosa, que na época provocou queda expressiva no preço das ações da Petrobras, mas até hoje ainda não houve julgamento”.

A matéria também lembra que “o ex-diretor da empresa Nestor Cerveró, em delação premiada ao juiz Sérgio Moro, disse que esse negócio gerou o pagamento de propina no valor de 100 milhões de dólares a integrantes do governo de Fernando Henrique Cardoso”. Hoje não é preciso perguntar se tal denúncia teve algum efeito prático nos julgamentos do juiz Sérgio Moro, porque, como ressalta o texto, “Pedro Parente pode assumir a presidência da empresa, assinando agora contratos que entregam reservas de pré-sal a petroleiras de outros países a preço de banana, segundo a Aepec, e favorecendo empresas estrangeiras no contrato de obras e serviços”.

Nem a denúncia de corrupção contra o atual presidente da Petrobras, nem as outras diversas contra as empresas estrangeiras convidadas para a próxima licitação da estatal, nada disso está nas páginas e sites da grande mídia. Mas a corrupção generalizada sem casos específicos nem provas nem nada, só a palavra mágica, genérica, essa de novo aparece como a culpada de sempre, dessa vez no pool de Folha, Estadão e Globo para levantar a bola do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.

“Corrupção é maior problema nas prisões, diz Moraes” na chamada de primeira página do Estadão, na qual afirma, que “o sistema prisional vive crise ‘aguda gravíssima’, mas está ‘sob controle”. Na Folha, também na capa, o título diz que “para ministro, advogado de facção precisa ser monitorado”. E se no Globo Moraes não ganha a primeira página tão almejada, vem enorme na foto em espaço nobre, logo na página 3, sorrindo e apontando pra frente pra dizer no título da matéria a mesma coisa que na capa do Estadão, que “a corrupção é o maior problema do sistema”.

Não é a privatização, não, muito pelo contrário. Mesmo que o maior de todos os massacres até agora tenha ocorrido, por exemplo, no Complexo Penitenciário Anisio Jobim (Compaj), em Manaus, entregue à iniciativa privada, mesmo assim o Globo faz questão de afirmar, no título de um de seus editoriais que “crise dos presídios não deriva da terceirização”. O Compaj está superlotado de presos em condições precárias, desumanas, a empresa responsável é alvo de diversas denúncias de corrupção mas o jornal carioca diz no fim do editorial que “a capciosa ideia de que terceirização e corrupção seriam siamesas atende a setores cujos interesses se confundem com os de um Estado omisso nas questões que fazem da crise penitenciária uma das mais urgentes demandas da agenda nacional”.

Que prossigam as privatizações, o mais rápido possível, enquanto as manchetes gritam os vivas ao corte dos juros, à queda esperada da inflação que anima analistas como Celso Ming, na capa do Estadão, para quem “o tombo da inflação e a queda dos juros são fatos que podem ajudar o motor da economia, afogado e sem bateria, a pegar de novo no tranco”. Embaixo dele, Fernando Dantas fica em cima do muro, ao dizer que “Copom tomou carona em onda de boas-novas e apertou acelerador da redução de juros”, e que “em alguns meses ficará claro se foi correto”.

Mais embaixo ainda, Cida Damasco mostra um pouco do outro lado, ao afirmar que “para as pequenas empresas e, mais ainda, para os cidadãos, impressão é de que decisão do Copom ainda passa longe de seus interesses”. Mas qualquer sinal de dúvida, se a notícia é boa ou não, acaba com o vaticínio de Míriam Leitão no título de sua coluna de hoje, “Decisão acertada”. “O Copom tomou uma decisão ousada, mas acertada, ontem, quando derrubou em 0,75 ponto percentual a taxa de juros”, garante a colunista.

Ela reconhece, porém, que “permanece havendo incertezas fiscais e dúvidas nas políticas interna e internacional”, mas ressalta que “a economia está mais fraca do que se imaginava que estivesse neste começo de 2017 e”, por isso, “a inflação teve um comportamento muito favorável nos últimos meses.” Desempregado, sem dinheiro, o consumidor não consome e por isso os preços não sobem, é essa a lógica da queda da inflação, esperada, dizem os especialistas, em meio à recessão.

Mas mesmo assim, Míriam Leitão alerta, ainda, que “a negociação com os estados abrirá outra frente de gastos federais”. “O governo do Rio quer suspender por três anos o pagamento da dívida”, lembra a colunista, e “o que não for pago será acumulado no principal, por isso teoricamente o governo pode dizer que não foi um gasto, já que seus ativos aumentarão”. Nesse caso, diz Leitão, “o risco que se corre agora é de um calote sequencial dos estados no Tesouro.”

E na sua coluna de hoje, cujo título diz que “Os Trapalhões planejam”, Jânio Freitas, lembra que o plano de socorro elaborado pelo governo aos Estados em crise financeira é “tão autoritário e violento que nem os governistas mais serviçais deram-lhe voto na Câmara”. “O governo Temer apresenta um plano de recuperação do Estado do Rio que, ou não passa na Assembleia, ou cai na Justiça, caso saia de onde está”, diz o jornalista, que mais adiante cita matéria do próprio Globo, de Marcello Corrêa, segundo a qual “uma corrente de empresas, beneficiadas com redução do ICMS, recorre à Justiça: não aceitam ceder à recuperação do Estado do Rio nem 10% do ganho extra que têm com o benefício”. “A incitação parte da própria Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, a Firjan”, completa Jânio de Freitas.

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Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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Comentários

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Severino Alves

13/01/2017 - 10h00

Puro fisiologismo. Esse Meireles é uma traça de papel.

JULIO CEZAR DE OLIVEIRA

12/01/2017 - 19h27

Ne por nada não,mas esse meireles é a cara do dik vigarista da corrida maluca.

Robercil R. Parreira

12/01/2017 - 20h47

Mas, Não Era Só Tirar o PT?!

Julio Senna

12/01/2017 - 19h10

Só votaremos no candidato que tomar tudo de volta de graça.

Maria Alcina Torgo

12/01/2017 - 18h05

Tudo tramado pelas grandes corporações

Carrapa-VK

12/01/2017 - 15h58

O que propõe Meirelles e deseja Pezão, na verdade, nada mais é do que a redução salarial de servidores, sua INTIMIDAÇÃO, inclusive com a AMEAÇA DE DEMISSÃO DE SERVIDORES ESTATUTÁRIOS e o grã-finale, com a PRIVATIZAÇÃO DO FORNECIMENTO DE ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO ATRAVÉS DE ESGOTO TRATADO.
É de um CINÍSMO e de uma CRETINICE absurdas, as propostas de Meirelles/Temer e o mero balançar de cabeça do LACAIO Pezão, que, mesmo depois de atravessar um deserto para se livrar da morte, que é a dura luta contra um câncer, NÃO SE SENSIBILIZA COM AS CONDIÇÕES DO MAIS POBRES. Ou seja, NÃO APRENDEU NADA COM A VIDA.
O maior problema, é que ELES dominam “legalmente” (se é que esse termo ainda pode ser usado no Brasil pós-golpe) as ações e será muito dificil evitar agora ou reverter depois.


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