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Aragão desmascara golpismo sem-vergonha de Janot

(Foto: Wilson Dias / Agência Brasil) Subprocurador e ex-ministro de Dilma relata discussão e rompimento com Janot Eugênio Aragão é sub-procurador-geral da República e foi ministro no governo de Dilma antes da cassação do mandato da petista Por Luiz Maklouf Carvalho, enviado especial O Estado de S.Paulo 15 Janeiro 2017 | 05h00 BRASÍLIA – “Arengão, […]

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(Foto: Wilson Dias / Agência Brasil)

Subprocurador e ex-ministro de Dilma relata discussão e rompimento com Janot

Eugênio Aragão é sub-procurador-geral da República e foi ministro no governo de Dilma antes da cassação do mandato da petista

Por Luiz Maklouf Carvalho, enviado especial
O Estado de S.Paulo

15 Janeiro 2017 | 05h00

BRASÍLIA – “Arengão, bota a língua no palato”, dizia o e-mail do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para o subprocurador-geral e ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão. Ou “Arengão”, apelido com que Janot o carimbou, só entre eles, nos bons tempos em que a amizade prevaleceu. Por maio de 2016, quando o e-mail chegou, já iam às turras.

Recém-saído do Ministério da Justiça, nem completados dois meses de mandato – 14 de março a 12 de maio, no governo da presidente Dilma Rousseff –, Eugênio José Guilherme de Aragão, de 57 anos, estava de volta à Procuradoria-Geral da República, onde entrou em 1987. E tratava, com Rodrigo, que é como chama Janot, da função que passaria a ocupar.

Entre e-mails e “zaps”, o procurador-geral perguntou se o ex-ministro gostaria de assumir a 6.ª Câmara do Ministério Público Federal (MPF) – a que trata de populações indígenas e comunidades tradicionais. “Não gostaria”, respondeu Aragão. “Teria de lidar com o novo ministro da Justiça (Alexandre de Moraes, de Michel Temer), com quem eu não tenho uma relação de confiança”, explicou. “E o Supremo (Tribunal Federal)?”, contrapôs Janot. “O Supremo a gente conversa”, respondeu Aragão. “Então, tá, Arengão, bota a língua no palato”, escreveu o procurador-geral. “Rodrigo, quer saber, nós somos pessoas muito diferentes, e eu não dou a mínima para cargos”, respondeu Aragão, sem mais retorno.

“Que diabos quer dizer ‘bota a língua no palato’?”, perguntou-se Aragão durante a entrevista ao Estado, gravada com seu consentimento, em uma cafeteria da Asa Sul do Plano Piloto, em Brasília. Foi uma dúvida que surgiu ao ler a metáfora sobre o céu da boca. “Significa um palavrão?”, perguntou-se, experimentando dois ou três. Conformou-se com a ordinária explicação de que Rodrigo o mandara calar a boca e/ou parar de arengar. Era um sábado, 21 de maio. Na segunda, 23, um impalatável Aragão foi ao gabinete de Janot.

“Ele me deu quarenta minutos de chá de cadeira”, contou, no segundo suco de melancia. Chegou, então, o subprocurador da República Eduardo Pelella, do círculo de estrita confiança de Janot (mais ontem do que hoje). “O Rodrigo é o Pink, o Pelella é que é o Cérebro”, disse Aragão, brincando com o seriado famoso.
Pelella, que não quis dar entrevista, levou-o, “gentil, mas monossilábico”, à sala contígua ao gabinete, e foi ter com Janot. Quando sentiu que outro chá de cadeira seria servido, Aragão resolveu entrar. “Os dois levaram um susto”, contou. Pelella pediu que o colega sentasse, e se retirou.

Começou, então, conforme diálogo relatado por Aragão ao Estado, a tensa e última conversa de uma longa amizade:

Janot: Você me deu um soco na boca do estômago com aquela mensagem (“não estou interessado em cargos”).
Aragão: É aquilo mesmo que está escrito lá.
Janot: Então considere-se desconvidado.
Aragão: Ótimo. Eu não quero convite (para função), tudo bem, não tem problema. Olha, Rodrigo, nós somos diferentes. É isso mesmo. Para mim, você foi uma decepção…
Janot: O que você está querendo dizer? Vai me chamar de traíra?
Aragão: Não, traíra não. Não chega a tanto. Desleal, mas traíra não. (No caso Operação da Lava Jato) você foi extremamente seletivo…
Janot: Você vem aqui no meu gabinete para me dizer que eu estou sendo seletivo?
Aragão: É isso mesmo.
Janot: Você vai para a p… que o pariu… Você acha que esse (ex-presidente) Lula é um santo? Ele é bandido, igual a todos os outros…
Aragão: Você foi muito mesquinho em relação ao Lula, só porque ele disse que você foi ingrato (em razão da indicação para a função)… Não tinha nem de levar isso em consideração.
Janot: Isso é o que você acha. Eu sou diferente. O Lula é bandido, como todos os outros. E você vai à m…
Aragão: E os vazamentos das delações? Eu tive informações, quando ministro da Justiça, pelo Setor de Inteligência da Polícia Federal, que saíram aqui da PGR…
Janot: Daqui não vazou nada. E eu não te devo satisfação, você não é corregedor.
Aragão: É, você não me deve satisfação, mas posso pensar de você o que eu quiser.
Janot: Você vá à m…, você não é meu corregedor.
Aragão: Eu não vim aqui para conversar nesse nível. Só vim aqui para te avisar que estou de volta.
Nunca mais se falaram. O Estado quis ouvir Janot a respeito das declarações de Aragão. A assessoria de imprensa da PGR assim respondeu ao pedido: “O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está em período de recesso e não vai comentar as considerações do subprocurador-geral da República Eugênio Aragão”.

Sem função. Desde então, sem ter sido designado para nenhuma função em especial, Aragão continua trabalhando normalmente como subprocurador-geral da República, no mesmo prédio em que despacha Janot.

Os dois foram amigos por muitos anos, relação que incluía as respectivas famílias. Não poucas vezes Aragão degustou a boa comida italiana que Rodrigo aprendeu a fazer. Compartilhavam a bebida, também, embora com menor sede.

A divergência começou, sempre na versão de Aragão, nos idos do mensalão, mais precisamente quando Janot, já procurador-geral – “com a minha decisiva ajuda”, diz Aragão – pediu a prisão de José Genoino (e de outros líderes petistas), em novembro de 2013, acatada pelo ministro Joaquim Barbosa, do Supremo. “O Rodrigo já tinha dito ao Genoino, na minha frente, e na casa dele, várias vezes, que ele não era culpado”, contou o ex-ministro da Justiça.

Como ministro do governo petista, Aragão aumentou o volume das críticas aos excessos da Lava Jato e aos frequentes vazamentos de delações premiadas ainda sob sigilo. Chegou a ser considerado, pelo procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o maior inimigo da operação.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Roberto Ramos

18/01/2017 - 10h09

Temos que arregimentar forças contra essesmalfeitires da República, inimigos do País. Aragão pode liderar essa luta que talvez já esteja, porém, parece lenta demais ainda e os bandidos golpistas continuam fazendo estragos no nosso Brasil. Roberto Ramos – rlr.ramos@yahoo.com.br

M Claudia Santana

16/01/2017 - 19h40

Parabéns Aragão.

Eduardo Collen Leite

16/01/2017 - 17h06

Não sou adepto do culto à personalidade, mas esse Aragão é um cara que lava a alma de todos aqueles que lutam por justiça.

lur

16/01/2017 - 15h40

O ARAGÃO lavou a minha alma. Infelizmente Lula não o nomiou procurador no lugar deste tucano gordo chamado Janot.

Diogenes Viana

16/01/2017 - 10h22

São criaturas assim como este então procurador geral seletivo e pelo visto caluniador que deveria ser expulso deste país assim como todos os lesas pátrias golpistas!

ANTONINO DE PÁDUA

16/01/2017 - 00h51

O que se pode esperar de Janot, procurador seletivo e mordomo do PSDB?

Que venha logo o tão esperado 2018!

L’Amie

15/01/2017 - 23h28

Pelo exposto e pela posição adotada até aqui, o Sub-Procurador da República Brasileira, Sr.e Dr.Eugênio de Aragão merece todo o nosso apreço , respeito e consideração como Pessoa, como Funcionário da União, como Profissional em Direito e como Alma digna na Criação. Que nada possa se impor a esses Valores, sejam quais forem as condições ou injunções. Honra ao Mérito como bom Brasileiro.

Camilo França

15/01/2017 - 21h37

Eu espero que a morte não me bata à porta antes de dar um abraço nesse grande homem público chamado Aragão. desde o primeiro texto dele que li , percebi que estava diante de um ser humano acima da média. O texto dissecava a canalhice de Janot como mestre Junuíno…

Camilo França

15/01/2017 - 21h33

Quem traçou um esboçou cirúrgico de Janot foi o senador Collor de Melo. É só procurar numa das narrativas dele, em pleno senado…

Cicero Aparecido da silva

15/01/2017 - 20h57

Que bom que ainda tem gente aí encima falando a verdade viu ,pois está difícil de acreditar até no STF. Estamos com um caso aí no TSE que é uma vergonha e gostaria de passar pra vocês.

Luciano Antonio Fraga de Almeida

15/01/2017 - 19h58

O ARAGÃO É DEZ.

LUIZ TAVE

15/01/2017 - 19h33

COVARDE E GOLPISTA ! DISSE ; QUE O IMPEACHMENT DA DILMA FOI LEGAL ! E AINDA QUER O TERCEIRO MANDATO !

josé cruz de Lima

15/01/2017 - 19h12

Como o Brasil está precisando de aragões.

Antonio Paulino

15/01/2017 - 18h50

Olha, eu nunca vi o Brasil numa desgraceira tão grande como agora,o Aragão esse ai de cima que me representa insinuou que até a mega sena ficou suspeita naquela época que acumulava sempre.Na época que o Cunha havia indicado os diretores.O que o Aragão chamou de megão.Eu não jogo mais,não confio mais em nada do governo.

Pedro Antônio Lacerda

15/01/2017 - 18h23

cada dia Aragão confirma sue carácter ao ler sobre o encontro com o procurador Jonat confirma sua posição em defesa da democracia e da ética dentro do judiciário brasileiro, não aceitando cargo em governo ilegítimo com um cala boca.

Jo0sé Jésus Gomes de Araújo

15/01/2017 - 17h20

Como aq história julgará esses seres repugnantes que se prestaram a servir a interesses ocultos contra o9 povo brasileiro? Nós que cremos em outra vida sabemos que terão de prestar contas a seu Criador de suas infâmias.

Cirley Borba

15/01/2017 - 16h30

O mínimo que Eugênio Aragão merece é: Parabéns! O apelido de “arengão” deve ser aceito com muita honra, pois denota a sua integridade moral por não se calar diante de uma injustiça e ter a coragem de desmascarar um mau-caráter, mesmo sendo da sua relação de amizade.

Carlos Nova

15/01/2017 - 16h25

O procurador Eugênio Aragão, agora que li esta matéria, ganhou mais ainda o meu respeito e admiração. Lamento (sem conhecer pessoalmente a qualquer deles) o rompimento de velhas amizades. Mas, há ser reconhecido que as amizades perdem a sua tônica, por força da incoerência manifesta de um dos dois amigos. Neste caso, a incoerência de Rodrigo Janot é manifesta.

Fernando Oliveira

15/01/2017 - 15h33

Depois de ameaçado de impeachment pelo chefe dá gang no senado ele capitulou e como maçom aderiu ao golpe

Khan

15/01/2017 - 15h20

Aragão é muito educado.
ah se um filho da puta destes fizesse uso de tais palavras comigo.

    enganado

    15/01/2017 - 18h48

    Concordo em gênero / número / grau. Nesta minha lista constam até os pilantras do Reinaldo Azevedo / AÓPIO / Aloysio 300 MIL / Alexandre de Moraes / çERGIO MORO / … etc. O pior disto tudo é que _janot_ foi aos USraHell (Depto. de Estado) entregar de bandeja o PT e confidências governamentais do BRASIL. Imagina se vem um vagabundo aqui contar as putarias que são feitas lá Matriz? NUNCA! Pior ainda a TROPA de OCUPAÇÃO=exercitUS=norte-americanos disfarçados de BRASILEIROS, porque de PATRIOTISMO lá não tem NADA! Ainda tem a afronta de aceitar um pilantra destes, Janot, trair a nação; e sabemos que até a RATAZANA frequentava o anexo da Casa do Terror=Branca em Brasília, embaixada como a Imprensa Empresa Press_tituta ANGLO-SIONISTA tem por hábito chamar a Casa de Comando do __braziUS__.

Jeruan

15/01/2017 - 15h16

Aragão representa.

Edem

15/01/2017 - 14h03

Esse Deltan parece mais um pastor evangélico. Se vc critica um pastor ele diz que vc está contra Deus. Se vc critica o Power point do Deltan, é pq vc está contra a lava jato.

Gilmar Antônio Meneses

15/01/2017 - 13h35

Aragão, orgulho de funcionários públicos igual a você. Que não se escudam na estabilidade e têm como premissa o respeito e a isonomia como meta. Parabéns, agora o outro é um ser abjeto que nem merece ser nomeado. Lacrou…….


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