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Os golpes e a boneca russa: uma não-entrevista com o professor de ciência política

“Eu nunca vi situação assim em nenhum país. Eua, França, Inglaterra, Alemanha… Bom, talvez na Alemanha nazista tenha acontecido algo semelhante. Essa autodestruição insana, essa alienação, inclusive de nossa outrora elite intelectual”, diz o cientista político, veterano de tantas escaramuças, nesta não-entrevista ao Cafezinho. Eu comento algo sobre um livro de Stefan Zweig, o Mundo […]

29 comentários
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“Eu nunca vi situação assim em nenhum país. Eua, França, Inglaterra, Alemanha… Bom, talvez na Alemanha nazista tenha acontecido algo semelhante. Essa autodestruição insana, essa alienação, inclusive de nossa outrora elite intelectual”, diz o cientista político, veterano de tantas escaramuças, nesta não-entrevista ao Cafezinho.

Eu comento algo sobre um livro de Stefan Zweig, o Mundo que eu vi. Zweig era um jovem judeu austríaco, profundamente cosmopolita, que construiu relações com intelectuais de toda Europa: poetas, escritores, pintores. Quando o clima político europeu começa a azedar pouco antes da I Guerra, ele descreve sua perplexidade diante da postura de uma imprensa e, sobretudo, de uma elite intelectual, que até então ele considerava sofisticada: sobrevêm um nacionalismo tacanho, violento, agressivo em relação a qualquer outro país que não fosse aquele do qual se fizesse parte. E isso em toda Europa. Na França, contra alemães e austríacos. Na Áustria, contra franceses e italianos. O que mais choca Zweig é que mesmo grandes intelectuais alemães, como Thomas Mann, que ele até então admirava tanto, aderem alegremente à onda de xenofobia.

O professor vai à estante e tira um livro que corrobora a citação de Zweig. Mostra-me um trecho em que prestigiados intelectuais, incluindo Max Weber, um dos fundadores da ciência política moderna, assinavam listas em favor da guerra, em favor de medidas xenófobas, discriminatórias, racistas.

O assunto veio à tona porque ele falava sobre seu espanto em relação a vários intelectuais brasileiros, que se entregaram a essa onda deprimente de linchamento político, contra a esquerda, contra o Estado, contra tudo que existia de bom, humanista, estável, no país. “Até o Edmar Bacha!”, espanta-se o professor, dizendo-se saudoso de conservadores como Alceu Amoroso Lima e Gustavo Corção.

Eu tinha vindo de bicicleta e chegara com o cérebro meio-derretido pelo sol. Saíra de uma outra entrevista, com João Feres, cientista político do Iesp, cujo vídeo devo publicar amanhã por aqui. Na hora de começar a entrevista com o professor, dei-me conta de que não tinha perguntas a fazer. Gaguejei alguma coisa sobre falarmos sobre a conjuntura, a morte de Teori, os erros da esquerda, do PT, dos governos populares…

O professor foi impiedoso. Queria uma pergunta objetiva, e não achava que era o momento de criticar a esquerda. Em geral, em situações como essa, apela-se à vaidade do entrevistado. Todos querem falar alguma coisa. Principalmente um intelectual. Não o professor. Seu estado de humor não lhe dava espaço para vaidade.

Desmascarado, um pouco humilhado, com o cérebro ainda não recuperado do sol psicótico do verão carioca, converti a entrevista numa conversa informal, uma não-entrevista. Mantenho o professor no anonimato pela mesma razão.

Testemunhei então um fato curioso: o professor é uma pessoa bem-humorada, e se mantém assim, apesar de tudo. Ao longo da conversa, rimos melancolicamente de nossas desgraças nacionais.

Raramente, contudo, estive diante de uma melancolia tão profunda e tão sincera.

“Eu fico olhando as pessoas, pela janela”, conta-me o professor, “e não entendo como elas podem ser tão indiferentes ao que acontece em seu país”.

“Pois é”, concordo, “e o olha que o desemprego real já chegou há mais de 20%, um dos maiores do mundo. As pessoas, porém, reagem a isso com medo. Fecham-se ainda mais”.

“O egoísmo aumenta. As pessoas só querem saber de si mesmas”.

O pano de fundo da nossa conversa, evidentemente, é a sequência de golpes do governo contra o interesse nacional e popular.

“O governo parece uma babushka, aquelas bonecas russas. Ele vai tirando um golpe de dentro do outro, ao infinito. A babushka, porém, chega ao fim. Sempre tem a última bonequinha. Os golpes desse governo, não. A partir da ilegalidade primitiva, o impeachment, eles vão sacando outras, porque precisam sustentar as mentiras iniciais”.

“A burguesia brasileira é pífia, medíocre”, afirma o professor, sem compreender como o próprio setor do capital tenha comprado um golpe que apenas serviu para destruir, arrasar mesmo, a economia brasileira.

Entretanto, o que mais nos impressiona, a mim e ao professor, é a apatia e anomia da sociedade civil. “Eu não sinto nenhuma mudança, nem sequer possibilidade de mudança. Embora eu acredite que as coisas, um dia, possam mudar”, lamenta.

Ele admite que a conjuntura chegou a tal ponto que ele se pergunta se a sociedade civil brasileira não entrou num processo acelerado, irreversível, de degeneração moral e política.

“Não sei mais se das trevas nascerá alguma luz, ou apenas mais trevas”, opina o professor.

“Será que ela – a sociedade brasileira – não foi sempre assim, e nós é que não sabíamos, porque não havia internet, ou redes sociais?”, eu pergunto.

“É isso que eu também estou começando a achar”, ele diz.

O pessimismo do professor o leva a meditar sobre a ficção do progresso. “Não há, exatamente, nenhuma prova científica de que os povos evoluam. Pelo menos, não de uma forma linear”, ele filosofa.

A gente continua conversando e eu descubro que a depressão política do professor tem uma outra razão, ou um agravante. Ele sempre acompanha a produção bibliográfica do seu campo de estudo, ciência política, e nos últimos tempos, têm surgido livros em sequência que questionam as virtudes da democracia. Um dos mais fortes tem como título justamente “Against Democracy” (Contra a democracia).

Esses autores defendem que o processo de voto deixou de ser eficaz para a escolha das autoridades e governos que devem nos liderar. O que o mundo precisa, dizem eles, é de governos burocráticos, corporativos, liderados por uma elite preparada. É a velha tese da República de Platão, que Robert Dahl, adversário ferrenho dessa tese, chama de “guardianismo”. É o governo dos bons, dos iluminados, da aristocracia governamental. O pior é que, explica o professor, eles trazem muitas pesquisas para provar que a própria população aprova essa forma de governo.

Ele me mostra livros que lutam contra essa tese, alguns de maneira desastrada, outros com elegância, mas admite que, por enquanto, as teses antidemocráticas têm vencido o debate.

“Eles devem adorar a China, então”, eu comento.

Ele ri, mas diz que não.

“Esses autores explicam que um governo burocrático é a única maneira de manter protegidos os direitos e garantias individuais. Ao contrário da China. Claro, é um wishful thinking, que supõe uma elite ‘boazinha’, virtuosa, que protegerá os cidadãos. Evidentemente, é uma farsa”.

Eu comento que, de certa forma, muitos governos atuais já caminham para essa hegemonia burocrática, e menciono a burocracia brasileira, a Lava Jato, o Judiciário, que se arvoram como representantes de uma casta superior, acima da política.

“Eu fico imaginando como um desses príncipes do Ministério Público deve olhar um Vicentinho da vida, um sindicalista negro, baixinho, nordestino, que fala com a língua presa. O desprezo do burocrata pela política é infinito”, eu comento.

O professor assente, concordando.

Antes de nos despedirmos, eu dou uma olhada nos livros que o professor pretende doar a uma universidade. Ele já havia dado a entender que eu poderia escolher algum.

Escolho “As origens da democracia na Grécia Antiga”, que é um tema que sempre me interessou: como nasceu essa bagunça extraordinária que diz que o povo deve governar a si mesmo.

Diante do golpe e dos ataques vergonhosos que a democracia brasileira vem sofrendo, é quase poético ler sobre um regime onde o cargo mais importante, de presidente da assembleia dos cidadãos, não durava mais que um dia e era distribuído por sorteio.

A gente se despede.

“Vamos curtir a nossa melancolia. Quem sabe as coisas melhoram”, me diz o professor.

“O pessimismo e a melancolia muitas vezes são ótimos inspiradores”, eu digo, tentando, em vão, extrair algo positivo do sentimento de depressão política.

Sempre que eu penso em depressão política, eu lembro de Arnaldo Jabor, de seus textos profundamente melancólicos, depressivos, que correspondiam à derrota política do grupo midiático para o qual ele havia alugado seu pensamento.

Há uma diferença importante, todavia: Jabor se deprimia ao mesmo tempo em que o país crescia de maneira espetacular. Pobres, nordestinos, negros, assalariados, os oprimidos viviam um momento de alegria, de expansão de renda, de libertação social, política e econômica. E não venham dizer que isso é a razão da crise atual, porque não é verdade. As contas públicas melhoraram nessa época. As dívidas públicas líquida e bruta não apenas caíram, como melhoraram sensivelmente de perfil, ficando menos expostas às intempéries internacionais. A questão energética foi sanada com grandes obras de infra-estrutura.

A depressão política do campo progressista é muito mais coerente com a nossa realidade. O povo brasileiro (embora, como admite o professor, a “maioria esmagadora” sequer tenha a consciência disso) está sendo humilhado por um governo ilegítimo, alçado ao poder sem voto, um governo criminoso, que mesmo consciente de sua ilegitimidade, já começou a destruir conquistas sociais históricas da classe trabalhadora.

Chego em casa e recebo um telefonema assustado de minha mãe. Ela me diz que minha tia foi ao salão de beleza e que “todo mundo está dizendo que Lula é o responsável pela morte de Teori”. Eu converso com ela por alguns minutos. Ela não acredita nesse boato, mas está chocada com o nível de baixaria que tomou conta do imaginário popular.

Eu explico que apenas Michel Temer e seus cúmplices do golpe ganham com a morte de Teori, porque ela lhes permitirá nomear um novo ministro. Se Lula fosse este ser maligno, para começo de conversa, ele não tinha nomeado ministros do STF que agiriam contra ele e seu partido, como agiram. Seria muito mais fácil ter nomeado gente que lhes protegesse, como fizeram os tucanos com Gilmar Mendes.

Após desligar o telefone, porém, eu fico pensando: é absurdo mas é tão lógico! Se Lula é pintado pela mídia, e pelos próprios powerpoints da Lava Jato, como o “comandante máximo”; se foi transformado em vilão de novela da Globo, então a associação é automática! Lula matou Teori! Aconteceu a mesma coisa após o acidente de Eduardo Campos. Não interessa se Dilma foi a mais prejudicada, por causa do crescimento exponencial de Marina, que só não ganhou as eleições em 2014 por causa de sua incrível incompetência política. A política brasileira degenerou numa luta sem qualquer base racional.

Voltando à entrevista com o professor: essa é a realidade sombria que nos deprime. A vitória da irracionalidade. Não adianta mais debater política. Para quê? O outro, o adversário político, virou “ladrão”, “assassino”, ou então “defensor de bandido”.

O secretário de juventude do governo federal, diante do massacre no presídio em Manaus, afirmou que era preciso ter uma chacina parecida todos os dias. Que era preciso matar mais.

“O que impressiona não é tanto que existam pessoas que pensem assim, mas…”

Faço uma pausa, a procura das palavras que possam expressar minha perplexidade.

“Sim, o despudor. O despudor da barbárie”, ele me ajuda, com o olhar mais triste do mundo.

Em algum momento da nossa conversa, o professor responde – com outra pergunta – a uma das questões que eu havia tentado levantar na entrevista:

“Alguém imaginaria, há alguns anos, que o PT apoiaria Rodrigo Maia, para a presidência da Câmara, em troca de cargos no terceiro escalão?”

[Arpeggio – coluna política diária]

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Carla

18/06/2017 - 11h53

Para quem pretende aprender Russo, recomendo aulas pelo Skype com a Preply!
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Sandra Regina De conti

01/02/2017 - 11h00

Excelente texto, expressa o sentimento de todos aqueles que acreditam numa sociedade mais justa, todos aqueles que lutaram por isso, d que agora, assistem incrédulos o enorme retrocesso. como esta matéria, foi escrita antes dá decisão do PT ( por gigantesca pressa dos filiados e das bases), faço uma pequena correção, o mesmo não apoiará o golpista Maia, aliás, era um absurdo, inaceitável. Parabéns.

#depressão política

25/01/2017 - 18h47

O mundo político\social\economia em depressão, isso assusta! Parece que tudo vira uma geleia disforme e tudo o que ideologia está sob suspeita. Será que o capitalismo está morrendo de auto-suficiência? Como seria o mundo sem o fundamento do consumo atual: produzir, produzir, produzir, produzir….
Tem um filme muito bobinho: “Idiocracia” um mundo de valores bem similar ao nosso….

Luiz Carlos

25/01/2017 - 18h17

Como dizia Cazuza, “a tristeza é uma maneira da gente se salvar depois”. Imagino que torcer pelo pior faria os idiotizados voltarem do transe mais rápido, mas não tenho certeza se não ficarão ainda mais irracionais.

GusVSZ

25/01/2017 - 17h02

Miguel, quero te ajudar a compreender a democracia ateniense. Caro Miguel, como se trata de um texto de via única, na qual não conto com uma resposta, peço desculpas antecipadas por qualquer tom de arrogância ou de prepotência. Quero apenas compartilhar contigo a minha experiência sobre esse assunto. Então… Deve ter uns 15 anos que eu me interessei pelo estudo da Política. E para mim, igual a você, eu suponho, sempre foi um exemplo a experiência ateniense. Durante esses últimos 15 anos li bastante a respeito, como funcionava, os órgãos, o período. Uma questão sempre pairou por ai: quem eram esses gregos? O que faziam? Não é fácil encontrar essa resposta. Eu suponho/aposto que você não sabe, e que tem a mesma ideia que eu tinha. Veja se não estou correto: normalmente, quando se fala desse assunto, não se avança muito além de que era uma democracia direta, exercida por todos os cidadãos, com uma rotatividade dos cargos etc. Não é assim? Às vezes, alguém lembra, criticamente, como que querendo achar algum problema nesse sistema que parece impraticável nos dias de hoje: era uma sociedade cuja economia era sustentada pela escravidão, opressora das mulheres, em que cerca de 10% das pessoas (isso é chute geral) exerciam a cidadania. Eram os pais de família, sabemos também, não as esposas nem os filhos, mas os homens chefes de uma família. Isso em um território do tamanho de Goiás. Eu nunca vi alguém passar disso. Quer dizer, se fôssemos gregos atenienses, hoje, só seriam cidadãos quem não tivesse a necessidade de trabalhar para o próprio sustento, além de se excluirem as mulheres e os filhos. Em cima disso, a gente pode pensar assim: que mal há em estender a cidadania às mulheres, aos filhos, aos trabalhadores? Mas a questão ainda é um pouco mais embaixo: trata-se da força moral que essa posição existencial carrega. Reflita comigo: de um lado, o trabalhador, pode ser o brasileiro; do outro, um grego antigo, de Atenas ou de Esparta. Como você conhece a realidade do trabalhador, pense na realidade de um ateniense do séc VII a III a.c.: ele é um cara que tem uma esposa e alguns filhos, alguns escravos fixos, alguns escravos rotativos, alguns animais, plantações, armas e instalações para guardar comida e mercadoria. Tudo isso é dele: a mulher, os filhos, os escravos, os animais, as coisas. Ele sai de casa constantemente para ir fazer política, porque não perde tempo com coisas domésticas. Quando chega à praça, encontra não uma multidão de pessoas indeterminadas que exercem a cidadania, mas aquela mesma galera que ele sempre encontrou, o Xenofontes, o Zenon, o Eurípedes, enfim, homens como ele, donos de tudo o que ele também tem. Nesse sentido, eles são iguais. E eles, cada um deles não têm chefe. Não têm horário, salário, conta, nada disso. E a única coisa que sustenta tudo isso é a sua lança e o seu escudo, que você mesmo empunha quando preciso. E sabe quem ele encontrará na batalha pela sua existência? O Xenofontes, o Zenon, o Eurípedes. É daí que vem o respeito mútuo, o laço de amizade. É isso que mantém esse sistema funcionando. Espero ter ajudado, Miguel. Estou aberto a correções.

leila

25/01/2017 - 15h54

Escrevi à época do Reveillon em Copacabana:

Os fogos estavam ali,mas sem a mesma alegria !
As pessoas.em menor número. caminharam sem pressa e agora observam sem expressar nos rostos o encantamento do espocar dos fogos.que até pareciam mais esparsos.
Um espumante aqui e ali.um self pra postar.
Os turistas sorrindo em pequenos grupos e os ambulantes das lembranças…
E nós perambulando neste final de ano.procurando uma saída digna e um ingresso justo em 2017 para este país que desejamos nao seja uma esparsa lembrança …

Atreio

25/01/2017 - 15h34

Brasil, reDILMA-se!

sem crime, sem impeachment!

Lâmpada

25/01/2017 - 12h52

Tenho um grupo pelo Whatsup.que trocamos assuntos políticos, faz três ou quatro semanas que diminuí o ritmo, justamente por isso, as pessoas nao querem refletir e muito menos ler! Já tem uma opinião formatada pela mídia golpista!
Mas não dá para ficar só lamentando, temos que.lutar até o fim dos nossos dias, É UMA QUESTÃO DE PRINCÍPIOS!

Paulo Lima

25/01/2017 - 12h43

Não surpreende que um admirador de Bacha, economista neoliberal , operador do governo FHC, esteja tão macambúzio. Afinal Hilary- e o Velho Esquema!- perdeu, e seus acólitos brasileiros, velhos apostadores das bolsas, cá e acolá, estranham não só o novo croupier Trump mas a mudança de regras, desde o ttpp(?) até a nato. Sem esquecer que a nova comunicação, a la Trump, sem de papos na língua, choca sensibilidades democráticas(?) ao desmascarar, em seu primeiro dia, o jogo da imprensa, fazendo exatamente o que os donos da informação fazem: mentir sem piscar: empulho logo existo! Impor ” fatos alternativos” é a nova jabuticaba deles, já que o berry de nosso bolo, ou muqueca midiática, continua sendo o factoide, consagrado pelo pai de Rodrigo Maia (ele mesmo, o presidente da Câmara, Rodrigo -genro de Moreirinha gato angorá Franco!-, é um factoide político deambulante, em si, confundindo até atormentados parlamentares petistas).
Mas na manhã do domingo do dia 5 de fevereiro, vamos ao papo reto, protestar nas ruas contra a PEC 55, contra o atraso de salários, contra o desemprego, contra a entrega do pre-sal, contra o desinvestimento em educação, contra o desgoverno no Brasil. Sem depressão -pela saúde maior do Brasil e dos brasileiros- sem cinismo, mentiras ou tendenciosas “distrações” lavajáticas. No verão também é possível exercitar cidadania sem submissão, fevereiro pode ser mais que as folias do carnaval, e o “ano” não começa só depois da páscoa.
P.S.- As gerações evoluem sim: uma filha de Bacha, cineasta, conseguiu, malgré lui, um belo filme sobre a questão palestina. Resistir de alguma ou todas as maneira é necessário, pra existir sem aderir ou desistir. Fora Moro, Fora Temer

Raul de Carvalho e Silva

25/01/2017 - 12h27

Simplesmente brilhante o texto. O setor do capital com certeza voltaria atrás , se fosse possível, mas agora, só pode ir adiante fingindo que acredita nas novas mentiras esperando que algo mágico aconteça e mude o rumo da catástrofe econômica. A tal burguesia, não tem capacidade de entendimento e ainda acredita nas bobagens que à motivaram ir para as ruas pedir a saída de Dilma e do PT. Outros importantes atores do golpe, bem ou mal, acabaram sendo bem pagos pelo apoio ( mídia , judiciário, só para citar os mais importantes).

Maria Lúcia de Moura

25/01/2017 - 13h52

Não tenham preguiça de ler. Principalmente os aliancistas com golpistas!

    PH Samir

    14/02/2017 - 11h26

    Sim! Esse pessoal da aliança PT+PMDB é um tanto quanto preguiçoso!

AF

25/01/2017 - 11h33

Sobre a evolução moral ou civilizacional dos povos, lembro de uma aula de História Moderna em que a professora (umas das grandes da área, a cena passa-se em uma universidade pública) tratava dos autos-de-fé da Inquisição e de como os lisboetas acorriam ao Terreiro do Paço para ver pessoas sendo garroteadas e/ou queimadas. Ela declarava seu espanto diante da curiosidade dos portugueses do período pela ocasião. Alguém da sala lembrou, então, que em pleno final do século XX, ao haver um acidente qualquer, forma-se sempre um enorme congestionamento causado pelas pessoas que diminuem a marcha ou param seu veículo na tentativa de ver o sangue, o corpo, a mutilação, as vísceras do acidentado. Não creio que as coisas tenham mudado no século XXI. Existiria mesmo uma profunda evolução?

Quanto ao quadro político brasileiro, estamos mergulhados na crise do modelo iluminista, que a princípio teve como adversários apenas os defensores do modelo aristocrático, mas a partir do século XIX passou a levar chumbo grosso dos românticos e, a partir dos anos 1920, também dos fascistas, que praticaram a explosiva união do cientificismo (da eugenia à propaganda subliminar) com o irracionalismo dos instintos primários.

As esquerdas, que a princípio eram iluministas (principalmente o marxismo hegemônico), na segunda metade do século XX (embaladas em ideias que identificavam a origem do fascismo no próprio Iluminismo, como a Escola de Frankfurt) passaram a aderir mais e mais a um anti-iluminismo, com forte viés romântico.

Como resultado, no início do século XXI o herói esquerdista não é mais o operário fabril, o sujeito-mór da modernidade iluminista. Nem mesmo o camponês do agronegócio.

O novo herói é agora o arcaico, o antiocidental (dado que ocidentalismo é identificado com o iluminismo).

Os novos heróis são os indígenas, os quilombolas, os pequenos agricultores orgânicos, os ‘sem’ alguma coisa. Pode ser também o muçulmano, o africano animista, todo aquele externo ao Iluminismo branco de base cristã. No limite, o novo herói é a própria natureza, que alguns movimentos ambientalistas cada vez mais ideológicos (beirando a religião) insistem em moralizar.

Há mesmo quem diga sonhar com uma Terra sem humanos, que seria a única versão possível do paraíso. Assim como cidades completamente cobertas pela vegetação.

Essa crise dos valores iluministas não é só brasileira, mas claro que em um país com nossa estrutura social ela ganha aspectos mais trágicos.

Pobre Iluminismo, pobre racionalidade. Pobres de nós.

Cristiano Torres

25/01/2017 - 11h31

Os EUA são a autêntica República de Platão, a burocracia corporativista é o resultado natural da Democracia Burguesa. Só um ingênuo acha que neoliberalismo é regime com estado mínimo (os EUA são a maquina estatal mais poderosa, única e exclusivamente dedicada à repressão social. O que precisamos é de um socialismo popular, que coloque as instituições publicas e privadas à serviço da população, numa pirâmide invertida (atenção primeira aos mais desfavorecidos), ao menos enquanto não é possivel alcançar uma sociedade sem domínio particular dos meios de produção (seja o Estado, seja o capital privado).

ceci vieira jurua

25/01/2017 - 11h08

Este artigo merece uma resposta, ou contestação educada, é claro. Isto porque no Brasil é difícil generalizar, tamanho o grau de heterogeneidade social e cultural. Povo? que segmentos? de onde, quais regiões? Burguesia? qual fração? ramos?

Cada povo reage de maneira distinta às ondas de barbárie que o assolam de tempos em tempos. Os brasileiros estão reagindo à sua maneira, aquela que desenvolveram em muitos séculos de luta e resistência contra colonizadores e imperialistas.

Noto que a Academia, os professores, foram absolutamente incapazes de prever o golpe, estuda-lo, denunciá-lo no tempo devido. Muitos escolheram, inclusive, criticar Dilma e ficar ao lado de reacionários e golpistas. Até hoje não li uma linha de acadêmicos brasileiros sobre as novas formas do imperialismo, nesse século 21.

Eugênio Ibiapina

25/01/2017 - 10h18

Não vejo nenhum problema na negociação se nao rolar, é claro, corrupção.
O PT nao consegue a presidência, logo é importante que ele participe das mesas e das.comissões. Nao faz sentido ele estar no parlamento e não exercer as funções que tem direito.
O PT está apenas fazendo politica no bom sentido.

Victor Aronovich Cunha

25/01/2017 - 09h30

O barileiro “burrocrata”, sem conhecimento da política e da história, aos quais não se dá o desplante de tentar conhecer, é um ser totalmente alienado, que já não tem razões para julgar-se superior aos miseráveis, porque é tão ou mais inculto que estes, mas faz questão de posicionar-se contra os mesmos, ainda que batendo palmas para uma quadrilha de malfeitores que se apossou do país!!
Esta irônica e contraditória orientação e postura se baseia na revolta pela igualdade obtida no desfrute de pequenas regalias, leia-se televisão, celulares, entre outras benesses, mas que levaram a empregada a igualar-se à pátria, na visão da primeira.
A classe média há muito que desaprendeu de raciocinar, desaprendeu sobre solidariedade que nunca teve, desaprendeu dá autenticidade de admitir que em qualquer família brasileira existem gays, golpistas e uma ou outra puta, com seu cornudo de plantão, ou um mestiço
Esta classe média, burra e sem cultura, lê ou escuta a mídia em conta gotas, e aumenta seus “in”fundamentos, expondo uma ira e intolerância, na verdade gerados pelos golpistas, que a usaram e hoje deixam muito claro o que diz todo bandido: – Perdeu, cara!!!
Perdemos todos, porque cultos e pensantes somos e sempre fomos pouquíssimos. Perdemos porque sonhamos, e os “poderosos” só se satisfazem com a desgraça maior. A miséria crescente do pobre leva o remediado a sentir-se “rico”.
Perdemos porque sempre estivemos esparsos e tendo que escolher entre a luta para sobreviver e a participação ativa na defesa de nossos ideais.
E perdemos porque somos “de esquerda” mesmo sem o ser, assim rotulado aquele que defenda qualquer coisa que sugira igualdades ou defesa de direitos fundamentais.
No Brasil de hoje, Marias Antonietas reinam em seus feudos de pequenas relações, nos quais o falso moralismo justifica que só elas deveriam comer brioches.
E…Assim caminha o Brasil, rumo ao volume morto do “des” governo instaurado!!!

Leandro_O

25/01/2017 - 08h26

Falam da China como se a conhecessem, como se conhecesse os pelo menos 4000 mil anos de história… mas não, pegam da segunda guerra para frente, é o que sabem, o que leem. Afinal, praticamente não há livros em português sobre a China, dá para contar algumas poucas dezenas.

Angela Spesiali Aroeira

25/01/2017 - 08h22

Que realismo! Que triste!

Eduardo

25/01/2017 - 08h00

Uma boa não entrevista com essas tantas coisas que arrastam correntes a nossa volta. Pena que foi pra cima de um milhão e oitocentos mil pessoas, o PT, como se todas pensassem iguais. Sem o PT na vida nacional onde estaria esse país? Seria uma horda de esfomeados de tudo. A fome já é tanta que se come mesa de Câmara e Senado com 20% da pop em desemprego afundando em desespero.

marco

25/01/2017 - 04h26

De fato,linda matéria.Algumas perguntas,me permito. Porque tanta NOSTALGIA,com a tal DEMOCRACIA?Por acaso alguém pode me esclarecer,tirante a quantidade de SOFISMA que ela,a DEMOCRACIA lança ao pensamento,o que ela trouxe de bom,para a HUMANIDADE?A adoção de sofismas múltiplos,começando pelo VOTO? Atribuir-lhe tanta vulnerabilidade,que ao longo da história,as CLASSES RICAS SE ADONARAM DELA,E PROPAGARAM ÀS DEMAIS,QUE ELA É O mandar divino? A que divindades apelaram,AOS BUROCRATAS CELESTES? Pois para mim,a única maneira de resolver esses problemas,com todas as contradições que possa ter,não seria a DITADURA DAS MAIORIAS,sobre as minorias?Porque atribuir ao BUROCRATISMO DA MINORIA,as culpas por todas as mazelas,e com isso,fugir do debate,esse sim,o que mais interessa às MAIORIAS,O burocratismo socialista,que a despeito do discurso das minorias,tirou a RÚSSIA,de um atraso medieval e menos de meio século,a levaram a ser uma POTENCIA MUNDIAL? O socialismo soviético,fez milagres? Afinal,porque continuar a ACUSAR A CHINA,de somente ser BUROCRÁTICA?Não tem essa postura,a mesma postura da DIREITA HISTÓRICA RECENTE,ao respeito dos relatos sobre ” OS CRIMES DE STALIN”? Contados por eles,os da DIREITA,com seu JORNALISMO DEMOCRÁTICO,onde o dono do JORNAL,é um DITADOR,até no que devem pensar seus colaboradores ? Por que não abordar esse tema,sob ângulo mais científico ? Por que ? As BONECAS RUSSAS estão a disposição também,para abordar esse tema,pois são RUSSAS. E certamente ainda guardam,para alguns,a NOSTALGIA PERDIDA,dos socialistas de outrora,que parecem terem se esfumaçado,com os DITAMES DEMOCRÁTICOS DA DIREITA!

J. Sculder

25/01/2017 - 01h49

Um dos melhores textos que já li em qualquer Blog progressivo. Paralelamente, porém, é extremamente desolador.
Fez-me lembrar do sonho do Faraó, narrado no Genesis, capítulo 41. “E as vacas feias à vista, e magras de carne, comiam as sete vacas formosas à vista e gordas. Então acordou Faraó. ”
Tenho pensado demais nisso. Na passividade do povo, na aceitação resignada do seu destino.
Lamentável o caráter do nosso povo.

Valdir Borges Filho

25/01/2017 - 01h04

Excelente, porém me deprime tanto quanto vocês. Não vejo uma luz no fim do tunel, isto me preocupa. Não há como argumentar com quem não quer ouvir. Mostro os atores, mostro o fato e não ouvem ou apenas se fecham. Angustiante.

Lenita

25/01/2017 - 00h28

Terrível momento de Brasil. Estamos descobrindo o que sempre fomos: um país abandonado e vira-lata. Melancólico demais.

Karl Smith

25/01/2017 - 00h20

Basta sair às ruas, andar ao léu por qualquer lugar do Rio, zona sul, subúrbios, centro, não importa: televisões ligadas na Globo, não raro, na maior altura, na maioria dos estabelecimentos comerciais, algo para além de assustador, é surreal a fixação do carioca/brasileiro pela televisão. Os comentários nos trens, entre os pedestres, dentro dos ônibus são cópia fiel da mensagem da emissora.

No lado oposto, apenas a Record-IURD e suas pretensões, cada vez mais avançadas, de implantar o estado teocrático no país.

Não sobrou mais nada: nós, meia dúzia de gatos pingados (entre 200 milhões de brasileiros) que acessamos blogs sujos e acompanhamos confortavelmente de camarote a total devastação do país – alguma possibilidade plausível de fazer algo concreto, além de se fechar em nossas míseras vidas e esperar a poeira da destruição soterrar nossas portas de modo que não possamos abrí-las mais? Não vejo nada, absolutamente nada que possa ser feito pelo cidadão comum e que sabe o que está acontecendo…

Adriana F Cardoso

25/01/2017 - 02h05

Um texto tão interessante com reflexoes profundas acaba de maneira simplista e rasa. Achar que o PT está em vias de apoiar o Maia por cargos é de uma maledicência que abraça os haters. Sou contra o apoio, mas entendo os reformistas que se iludem e tentam salvar algumas das conquistas sociais para o trabalhador

Felipe Simoes

25/01/2017 - 02h00

Somos maioria contra o golpe. Não é possível que nas próximas eleições não mudemos isto. Não podemos desistir. Estamos na era digital. Precisamos de mais informações básicas tipo uma tabela mostrando de um lado a dívida antes golpe, outro lado pós golpe, de um lado quantos empregos antes golpe e pós, PIB antes, PIB pós, Brasil categoria de economia mundial ranking antes e pós, microcrédito antes golpe e pós, quanto valia a Petrobras antes do PT e quanto passou a valer pós PT. E enchermos a internet de informações firmes. Como vamos convencer nossos amigos sem dados? E outra coisa muito importante é colocar a fonte por exemplo fontes de sites do próprio governo. Outra coisa tb seria colocar as leis que não aprovaram no governo Dilma para boicotar seu governo e aprovaram depois com o golpista. Será que conseguimos????

Rita Candeu

25/01/2017 - 01h42

sensacional –

Eduardo Londero

25/01/2017 - 00h37

É patológico. E cíclico, profundamente enraizado na cultura brasileira arrasar com o país. Parecem guardas de campo de concentração uruguaio que deixavam os presos fazer uma horta, os tomates, as verduras cresciam, e numa manhã aparecia um caminhão para asfaltar o lote.


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