Menu

Sobre a desumanização das estatísticas socioeconômicas

Comentário do blog: as professoras autorias do inteligente e sensível artigo abaixo se perguntam sobre o que teria acontecido no Brasil, em 2016, para que se registrasse um desastre sócio-econômico tão profundo, que foi a duplicação do número de desempregados no Brasil. Como não é o objetivo do artigo, então isso não é dito, mas […]

3 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentário do blog: as professoras autorias do inteligente e sensível artigo abaixo se perguntam sobre o que teria acontecido no Brasil, em 2016, para que se registrasse um desastre sócio-econômico tão profundo, que foi a duplicação do número de desempregados no Brasil. Como não é o objetivo do artigo, então isso não é dito, mas a gente diz aqui, neste blog político: foi o golpe. O golpe mais sujo da história do Brasil.

No Jornal GGN

Desemprego no Brasil em 2016: golpe, austericídio e banalização das estatísticas, por Cristina de Borja Reis e Fernanda Cardoso

QUA, 01/02/2017 – 08:40

A lógica do jornalismo econômico não só interpreta os números conforme lhe convém, como também desumaniza seus significados

Por Cristina Fróes de Borja Reis e Fernanda Graziella Cardoso
?
A estatística recém-divulgada da pesquisa PNAD contínua do IBGE é desoladora: 12,3 milhões de pessoas desocupadas no país no último trimestre de 2016. Em relação ao mesmo período de 2015, o crescimento foi de 36%, ou seja, três milhões de pessoas desocupadas a mais! Quando se compara a 2014, a quantidade de pessoas desocupadas simplesmente dobrou!!

Números tão expressivos, envolvendo tantas pessoas e famílias, demandam uma reflexão cuidadosa e responsável. O que teria acontecido com a economia, a política e a sociedade brasileira em apenas dois anos para implicar tal catástrofe socioeconômica? Mas, ao contrário, as manchetes da mídia de massa são análises superficiais, banalizando tais acontecimentos. Milhões de desempregados adicionais são tratados pela grande mídia com a mesma negligência e irresponsabilidade com que defendem as reformas conservadoras em marcha desde que Temer se tornou presidente interino.

Não é de hoje que no Brasil o jornalismo econômico tem uma lógica tacanha de funcionamento, via dois gatilhos principais. De um lado, aguardam as estatísticas (especialmente as de inflação, produção, emprego, balança comercial e, diariamente, da cotação do dólar e dos movimentos das bolsas de valores) para tratar da conjuntura superficialmente, sem refletir sobre as raízes estruturais que as implicam. Ou de outro, aguardam novidades da política econômica que pretendam enfrentar aquela conjuntura superficialmente analisada, apresentando-as seletivamente e com viés tendencioso aos interesses de grupos específicos (que também controlam a grande mídia), sempre preocupados com o humor do mercado. Entrevista-se meia dúzia de especialistas, fracamente diversificados em termos de abordagem e ocupação. Pertencem, quase que invariavelmente, a instituições como consultorias, bancos e universidades correlacionadas àqueles mesmos grupos no poder. Em meio às frases entrecortadas, propõem parcamente o contraponto (para validar a “ética” da notícia), geralmente encaixado de forma obscurecida e deturpada.

Porém por trás das estatísticas, existem pessoas reais atingidas pelas políticas econômicas. O desemprego, em particular, é uma questão social profunda. A desocupação não desejada de uma pessoa provoca o aumento das dificuldades financeiras dos domicílios, o bem estar diminui de forma geral ao envolver outras esferas da vida social, originam-se e se agravam traumatismos psicológicos, perspectivas educacionais para as crianças e jovens se reduzem, famílias se desestruturam; há muito sofrimento humano envolvido. Mais além, o desemprego deflagra pobreza, miséria, violência e uma triste sorte de problemas sociais. E ainda, a redução do emprego e da renda torna mais aguda e de difícil solução a crise econômica, na medida em que solapa o consumo e o investimento. Considerando, ademais, a situação desfavorável da demanda externa, caberia ao Estado atuar anti-ciclicamente e promover medidas de impacto estrutural em prol do desenvolvimento sustentável.

Mas, para isso é preciso democracia, que foi justamente o alvo maior do golpe de 2016. Desde então o propósito da política econômica e das reformas constitucionais tem sido enfraquecer o Estado e as instituições democráticas, endossado pela narrativa midiática. Defendem o regime macroeconômico da austeridade, que promove uma política monetária com taxa de juros elevadas, por um lado, e uma política fiscal de vez engessada pela PEC dos gastos aprovada em dezembro de 2016. Paralelamente, direitos vão sendo eliminados via “propostas” autoritárias de reforma previdenciária, trabalhista, da saúde e do ensino médio, entre outras – somadas à desnacionalização de recursos estratégicos, ataques aos movimentos sociais, inclusive às universidades públicas, e mudanças nas regras orçamentárias – por exemplo, relativa ao seguro desemprego.

Os resultados do austericídio não deixam dúvidas: os maiores golpeados são os trabalhadores. Lutar pelos direitos, pelo emprego e pela renda requer o reconhecimento da raiz do problema e, para tal, faz-se mister a disputa pela narrativa. É, portanto, necessário o aprofundamento do nível e da pluralidade do debate público sobre política macroeconômica.

Cristina Fróes de Borja Reis e Fernanda Graziella Cardoso – Professoras de Economia e de Relações Internacionais da UFABC, coordenadoras do grupo de pesquisa em Cadeias Globais de Valor e do Núcleo de Estudos Estratégicos em Democracia, Desenvolvimento e Sustentabilidade da UFABC.

Apoie o Cafezinho

Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Mais matérias deste colunista
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

Carrapa-VK

02/02/2017 - 10h08

A coisa mais triste hoje, é a situação dos desempregados. Além de passar pelo constrangimento de ter que chegar em casa e contar para a família que foi demitido, ainda tem que passar pelo constrangimento de ter que estar acordado às SEIS DA MANHÃ, PARA CONSEGUIR AGENDAR O ATENDIMENTO DO SEGURO-DESEMPREGO.
Sim, é sério. Para agendar o benefício, o desempregado precisa estar conectado à internet (em banda larga, porque discado, não terá a mínima chance!) às SEIS DA MADRUGA, porque é a hora em que o agendamento é liberado e também ser rápido no mouse, pois, são disponibilizadas pouquissimas vagas e elas se esgotam em SEGUNDOS, porque é uma disputa POR TODOS OS DESEMPREGADOS DAQUELE ESTADO DA UNIÃO.
O outro meio de agendamento, é o RIDÍCULO telefone 158, que sempre responde que seus operadores estão todos ocupados naquele momento e que o desempregado, ligue mais tarde e em seguida, ENCERRA A LIGAÇÃO, NA CARA DO CONTRIBUINTE DESEMPREGADO.
Ou seja, a lógica do governo golpista, é PERVERSA E CRUEL. Não leva em conta que por detrás dos número do CAGED, estão PESSOAS, SERES HUMANOS, que sentem dores na alma… Que sentem VERGONHA, CONSTRANGIMENTO. É uma lógica “fiscalísta”, que quer “impedir fraudes e corrupção” no sistema do Seguro-desemprego, a partir da criação de DIFICULDADES para a concessão do benefício. Por Deus!! Mas, já não chega a DIFICULDADE DE ESTAR DESEMPREGADO? De ter que PROCURAR EMPREGO EM UM MERCADO ENCOLHIDO E SEM PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTO? E quando o desempregado já tem mais de 40 anos de idade? Isso chama-se CRUELDADE.
Outro drama, é a APOSENTADORIA. As regras propostas pelo governo golpista, seriam até cômicas, se não fossem trágicas. Beiram a insanidade.
Imaginem que a pessoa terá que contribuir por 49 ANOS ININTERRUPTAMENTE ou SESSENTA E CINCO DE IDADE, em um país em que a perspectiva de vida é de SETENTA ANOS DE IDADE, ou seja, na prática, TRABALHAR ATÉ A MORTE. Os técnicos não levaram em conta que nesses 49 ANOS, haverá casos de DESEMPREGO, o que gerará – dependendo da estabilidade ou não, do Mercado – um intervalo destas contribuições.
Além disso, não difere mais a questão de homens e mulheres, equalizando seu tempo de serviço, sem considerar que as mulheres tem a desvantagem (longe de ser superada em uma sociedade machista) da “DUPLA JORNADA”, pois, após enfrentar a condução, para ir e vir do trabalho, as quais são caótica na maioria das cidades, enfrentar o trabalho em si, ainda tem que fazer ou esquentar e servir a comida, lavar a louça do jantar, tomar as lições das crianças e no fim ainda “ser mulher”. Mas, isso jamais seria levado em conta em um governo “macho-golpista”.
Vamos ver a perspectiva de homens e mulheres para se aposentar. Sendo homem, se tiver de se aposentar aos 65 anos, o jovem terá que ter a sorte de conseguir emprego de carteira assinada ao DEZESSEIS ANOS, o que é extremamente difícil, pois empregadores não costumam dar emprego ao rapaz, enquanto ele não definir a sua situação militar, o que só ocorre a partir dos 19 anos, o que levaria o rapaz a se aposentar aos SESSENTA E OITO ANOS DE IDADE.
No caso das mulheres, as dificuldades não diminuem e menciono apenas que aos 16 anos, a moça dificilmente conseguirá um emprego qualificado, mas apenas sub-empregos como pequenos comércios locais (que em tempos de crise, costumam falir ou mantém-se na informalidade e por isso não recolhem FGTS) ou “casas de familia”, que também pagam pouco e sonegam recolhimento de direitos.
Desta forma, o tema é importante para discussões, inclusive em escolas e igrejas, que consideramos dois dos pilares da sociedade saudável.

Ronaldo rangel

02/02/2017 - 08h36

Adorei a materia e sinto esse massacre da midia todos os dias, e na minha Família tenho gerações diferentes,, amaioria se nutrem das globos e sinto que mimha opiniao fica opiniao fica sem convencimento e um sobrinho me enviou para me desafiar uma reportagem de Gabriel Tenoury pra mim Think Tank da Insper:13 gráficos que provam que Dilma e o PT arrasaram o Brasil com um poder e logica de jornalismo econômico fiquei sem resposta, assim gostaria se possivel fosse que esse blog c seus thinker buscasse a materi e em cima fizesse um contra ponto destruindo a logica apresentada.

    Carrapa-VK

    02/02/2017 - 09h21

    Certamente, dados distorcidos. É impossível, tanto na teoria quanto na prática que os treze anos de PT, tenham arrasado o país. Número e indicadores SÉRIOS, indicam o contrario do que o seu sobrinho apurou.
    Agora, Ronaldo, se o pestinha insistir que o que está aí e o que está por vir são melhores que o PT, tome de volta o Playstatio que deu a ele de presente de aniversário e diga a ele para comprar um, QUANDO CONSEGUIR SE APOSENTAR.


Leia mais

Recentes

Recentes