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Xadrez dos zumbis, por Luis Nassif

No Jornal GGN Xadrez dos zumbis da política e as diretas SAB, 20/05/2017 – 14:27 ATUALIZADO EM 20/05/2017 – 16:02 Peça 0 – a lógica do caos O ponto de partida é entender a lógica do caos. Não há um comando estabelecido, nem um script pré-definido. Existem atores mais ou menos relevantes, respondendo a impulsos, […]

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No Jornal GGN

Xadrez dos zumbis da política e as diretas

SAB, 20/05/2017 – 14:27
ATUALIZADO EM 20/05/2017 – 16:02
Peça 0 – a lógica do caos

O ponto de partida é entender a lógica do caos. Não há um comando estabelecido, nem um script pré-definido. Existem atores mais ou menos relevantes, respondendo a impulsos, sem que ninguém tenha controle sobre a resultante final.

Os protagonistas principais vão se adaptando as circunstâncias, de maneira a preservar seus interesses, saltando de uma onda para outra, pulando obstáculos de maneira a não perder a liderança.

Desse modo, fatos novos que mudam a atitude de um dos personagens, imediatamente obrigam a um rearranjo dos demais atores.

Peça 1 – o papel de Rodrigo Janot

O novo movimento foi deflagrado pelo Procuradoria Geral da República (PGR) Rodrigo Janot, com a delação da JBS.

Há um conjunto de fatores mal explicados. Há tempos a JBS está sob investigação. Marcelo Miller, do grupo da Lava Jato ligado a Rodrigo Janot, anuncia sua saída do Ministério Público Federal (MPF) no dia 6 de março passado (https://goo.gl/uDZZ4h). Era homem da estrita confiança de Janot, trabalhando em sua assessoria pessoal para a área criminal.

O grampo de Joesley Batista em Michel Temer foi no dia 7 de março (https://goo.gl/uDZZ4h). O que significa que a preparação da operação controlada – e a decisão de Miller de deixar o MPF e assessorar a JBS – ocorreu no mesmo período.

Deixemos de lado, por enquanto, a participação de pessoas ligadas à Lava Jato, ou próximas dos principais protagonistas, no milionário mercado dos honorários para assessorar delações. E mesmo a suspeita de que o procurador Ângelo Goulart Villela, preso na operação, tenha sido uma espécie de boi de piranha. Não há nenhuma prova maior a respeito. Fica apenas o registro da suspeita.

O ponto central é que a operação resolvia dois problemas simultaneamente. Do lado da JBS, a possibilidade de limpar a área no Brasil e acertar o acordo de leniência com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, conseguindo se transformar em empresa norte-americana.

Do lado de Janot, a possibilidade de, pela primeira vez, assumir o protagonismo na Lava Jato, em um momento em que, no final de mandato, estava enfraquecido perante a categoria e o Ministério Público Federal (MPF) arriscado a perder a prerrogativa de eleger o PGR.

Peça 2 – o papel da Globo

Dois pontos chamam a atenção no desempenho da Globo.

O primeiro, o sigilo absoluto sobre a operação – e mesmo sobre a própria posição da Globo – provocando uma desorganização ampla no disciplinadíssimo esquadrão de comentaristas da emissora.

Os desempenhos da Mirian Leitão e de Ricardo Noblat foram bastante elucidativos. O primeiro movimento de Mirian foi uma defesa do governo, dando voz ao insuspeito Eliseu Padilha. Quando O Globo deu a freada de arrumação – o editorial pedindo o impeachment -, imediatamente Mirian soltou uma nota em seu blog dizendo que, à luz dos últimos acontecimentos, o governo Temer estava no chão. Mais ágil que eles foi Luciano Hulk, retirando do Twitter as fotos de amizade eterna com Aécio.

O segundo ponto foi o rapidíssimo alinhamento da Globo com a tese do impeachment. Nenhuma surpresa. Até então, era a principal madrinha da posse de Temer. A divulgação dos malfeitos de Temer e quadrilha tem o condão de ressuscitar a tese das diretas. A estratégia adotada, então, foi cavalgar a onda do impeachment, sair na frente pedindo o impeachment, vender o peixe da isenção jornalística – assim como a Lava Jato do PGR (não confundir com a Lava Jato de Curitiba) – e vender a boia da salvação de um novo governo garantindo as tais reformas. Que, com Temer, mostravam poucos sinais de serem aprovadas.

Peça 3 – o desmanche da frente do golpe

Aí entram em cena dois integrantes fortes do cartel da mídia, a Folha e o Estadão.

Ambos enfrentam crises financeiras agudas e dependem fundamentalmente do pacote de bondades montado por Eliseu Padilha e quadrilha. São doses maciças de publicidade e patrocínios para eventos, da Petrobras e de outras estatais, escondendo o nome dos patrocinadores.

Não vai dar certo. Ambos não têm controle sobre Tribunal de Contas e outros órgãos para passarem isentos por essa extravagância – de patrocínios em off.

Por outro lado, não teriam fôlego para recompor o pacote de publicidade governamental caso a crise da sucessão seja prolongada. E não poderiam correr o risco de uma sucessão que optasse por não reafirmar as juras de amor desinteressado com a quadrilha de Temer.

Peça 4 – os próximos lances

Aqui, se entra no imponderável. A Globo é o único dos veículos que ensaia lances estratégicos. Mas, como bom estrategista brasileiro, só consegue imaginar um lance na frente.

Ao mesmo tempo, o PSDB parece ter se dado conta dos riscos de uma nova aventura do impeachment. Seu único elo com o poder é Temer. Com a destruição das principais lideranças do partido, sem o anteparo dos cargos no governo Temer, haveria uma revoada imediata sabe-se lá para onde.

A aposta em Henrique Meirelles é furada. Desde 2.010 repousa nas gavetas indevassáveis da PGR um inquérito contra Meirelles por crime tributário (https://goo.gl/z5BVWz). Ele faz parte da geração de filhos de Anápolis, que inclui, entre outros, a família Batista e Carlinhos Cachoeira.

Aliás, outra dica de pauta: as imbricações entre o bicho e a expansão inicial da JBS. O comendador Arcanjo – outro dos campeões do bicho de Goiás – foi um dos financiadores dos maiores sojicultores do estado, através de lavagem de dinheiro. Nas conversas de Joesley com Temer, ambos acertam formas de pressionar Meirelles embora, até agora, não haja nenhum indício maior de que as pressões tenham sido bem-sucedidas.

Um outro agente inseguro é o próprio mercado. No tambor do revólver da Lava Jato há a delação de Antônio Palocci que pode pegar grandes bancos, elucidar episódios pouco esclarecidos do CARF e alguns episódios pesados, de como o Pactual comprou o silêncio da imprensa.

Outro, a economia como um todo, exposta mais vez a esses jogos de poder. O estrago que vier pela frente será debitado, agora, ao exercício indiscriminado de poder pela Globo.

Por outro lado, os grampos de Joesley apenas registraram o que está ocorrendo à luz do dia no governo e no Congresso, um assalto despudorado, desesperado, do qual o melhor exemplo é Aécio Neves arrostando perigos para arrancar os derradeiros R$ 2 milhões da JBS.

Como resistir à enxurrada de lama das demais delações? Independentemente da motivação das denúncias, não dá mais para varrer debaixo do tapete o que apareceu.

A sobrevida de Temer dependerá exclusivamente da maior ou menor rapidez dos diversos personagens em reconstruir alianças e definir interesses. E, principalmente, em convergir para um nome, caso emplaquem eleições indiretas.

A recomposição política brasileira passará, em algum ponto do futuro, por um amplo pacto em torno das eleições diretas, a única maneira de reconstruir a coesão social.

Não há saída possível fora de uma reconstrução do centro. Mas, seguramente, a crise ainda não produziu o grau de amadurecimento necessário.

Haverá ainda um bom período de caos, antes de se produzir a nova ordem.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Edjalma Santos Eloi

23/05/2017 - 09h48

Admiro seu trabalho como jornalista, mas seria muito bom ler mais e fazer uma análise a respeito de Zumbi dos Palmares, por que ele seria nos dias de hoje um homem dígino de assumir a presidência do Brasil. Da forma como é colocado em sua matéria, a chamada deixa claro um grande preconceito para com o que vem do povo negro escravizados até os dias atuais. Reveja sua posição a respeito do nosso grande guerreio negro.

Joel Araujo

21/05/2017 - 14h43

Ótima análise!

Pedro Beneci Da Rosa Alves

21/05/2017 - 12h32

Excelente

Atineli

21/05/2017 - 07h34

Análise do Nassif é justa mas parcial. Os atores golpistas sabem muito bem articular o foco principal que é empurrar as reformas e matar Lula e Dilma. As perdas de “tipos” como Temer vai sendo substituido e programado a medida que o golpe avança. Apesar da imprevisibilidade de algumas estratégias, as táticas são sempre as mesmas: defender e blindar os seus e jogar na fogueira o resto. Nassif tb esqueceu de consultar o povo : o protagonista principal que entra pra valer no jogo de xadrez.

Eduardo Silverio Oliveira

21/05/2017 - 09h53

“O áudio presidencial é estarrecedor. Ao longo de mais de meia hora, um presidente da República ouve confidências de tráfico de influência, interferência no trabalho do Ministério Público e outras barbaridades de um empresário sob investigação, audivelmente um escroque. Troca impressões com ele, faz recomendações, dá conselhos, aponta caminhos tortuosos, trata de várias formas de advocacia administrativa e de procedimentos judiciais. Aos sussurros, como um rato. E não dá voz de prisão ao sujeito. Não é que não tenha mais condição de continuar na Presidência: já não tem mais condição de sair de casa. Mas não basta afasta-lo: é preciso impedir a maioria congressista corrupta e o Capital de colocarem outro, genérico ou similar, no lugar. Do contrário a crise continuará, pois quem quer que aceite ser eleito por essa maioria de safados já se coloca, desde logo e por isso mesmo, sob suspeição”.

Adriano Pilatti, professor de Direito Constitucional da PUC-Rio.

Viviane

21/05/2017 - 04h06

Nassif é ótimo. Mas no fundo gostaria de poder falar bem do PSDB. Sugeriu a não muito tempo que Lula se aproximasse de FHC para um “pacto”. E ainda esta semana escreveu jogando na mesa o nome do tucano Nelson Jobim para assumir a presidência.
Agora fala em reconstrução do centro. Ora Nassif… todos sabemos qual é a natureza do centro no Brasil, há décadas….
Então Nassif… vc que é ótimo, não tenha nostalgia do passado. Pense grande!

Neusa Lindegger

21/05/2017 - 00h58

Luiz Lindegger. Rubens Silva

Lobo

20/05/2017 - 18h06

Quem produziu caos? Personagens envolvidos são do golpe, mas nem todos tem poder de tirar curinga do baralho. Agora, uma coisa é certa – poder de mexer pauzinhos tem, com certeza, o Mentor e aqueles acionados por Mentor, no nosso caso o Janot. Ele quem viajou no Estados Unidos para apanhar as provas. Provas que nunca apresentou. Não apresentou porque são fruto de espionagem. Claro que Mentor adicionou Janot, porque ele pode passar por cima da Republiqueta de Curitiba. Então, num lado temos Mentor (resolveu de vez acabar com golpistas, usados para jogo sujo), a Globo, como principal propagandista contra o Temer e pro indiretas, bem como parte do PF, PGR e STF (os personagens vão aparecendo aos poucos) e, claro, curinga – JBS!. Caro chefe brasileiro parece Janot, mas deve ser alguém do STF. Do outro lado temos golpistas usados, Temer, com quadrilha do PMDB, Aécio com quadrilha do PSDB, Folha, Estadão, Republiqueta de Curitiba, com Moro i Dallagnol e parte do PF, ligado ao eles. E ainda tem oposição sem noção o que esta acontecendo, movimentos sociais e povo adormecido e anestesiado.


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