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De Mauá a JBS e Odebrecht: a relação entre famílias ricas e políticos

(Joesley Batista presidente do conselho de administração da JBS. Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press) Abaixo, coluna nossa no site Colabora. *** De Mauá a JBS e Odebrecht, a relação entre famílias poderosas e políticos Livro conta a história do capitalismo brasileiros a partir dos clãs que dominam maiores empresas do Brasil por Denise Assis, para […]

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(Joesley Batista presidente do conselho de administração da JBS. Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press)

Abaixo, coluna nossa no site Colabora.

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De Mauá a JBS e Odebrecht, a relação entre famílias poderosas e políticos

Livro conta a história do capitalismo brasileiros a partir dos clãs que dominam maiores empresas do Brasil

por Denise Assis, para o Projeto Colabora
Atualizada em 19 de maio de 2017, 19:17

Os brasileiros encaram hoje, perplexos, as gravações obtidas nas delações premiadas dos donos da JBS, que envolvem o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves, entre muitos outros políticos, ou se decepcionam com a naturalização da propina revelada nos vídeos dos depoimentos na Operação Lava-Jato. Mas a História mostra que do Barão de Mauá ao clã Odebrecht, as famílias mais poderosas e ricas do Brasil desde sempre mantiveram relação estreita com os governos, aponta o livro “Os donos do capital: a trajetória das principais famílias empresariais do capitalismo brasileiro” (editora Autografia), uma coletânea de dez artigos organizada por Pedro Campos, professor do Departamento de História e Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e Rafael Brandão, professor de História da Universidade Federal Fluminense.

Os salões dos Guinle

Um exemplo está no artigo do historiador Cezar Honorato sobre a família Guinle: “A preocupação da família em tecer laços políticos sólidos pode ser atestada, também, quando Jorginho Guinle, filho de Carlos, ofereceu um almoço a Amaral Peixoto e Alzirinha Vargas em Los Angeles com o chefão da Warner Brothers e várias outras figuras ilustres de Hollywood, num total de 116 pessoas, em 1953.”

Mas abrir os salões para a classe política era apenas uma faceta dessa relação, cujo objetivo resvala – quase invariavelmente – no interesse econômico. “Parte dessa estratégia de negócios era articulada nos salões dos clubes da elite carioca, em conjunto com outros empresários, o jet set, escondendo, por trás do glamour, grandes negócios. O mesmo podemos dizer da necessidade de articulação com a imprensa, ajudando a constituir uma imagem favorável (empreendedorismo, filantropia, desprendimento etc.) que amplificava seus projetos existentes e os futuros”, escreve ainda Honorato. E prossegue: “As inúmeras doações realizadas a museus e clubes esportivos, por exemplo, foram fundamentais para a construção de um imaginário onde se destacava a imagem de uma família de filantropos que não queria somente enriquecer e ostentar a sua riqueza, mas também contribuir para a cultura brasileira.”

Empreiteiras e ditadura

O livro analisa a trajetória das famílias mais poderosas do país. Além de Barão de Mauá, Guinle e Odebrecht, estão Klabin-Lafer, Gerdau-Johannpeter, Bouças, Camargo, Andrade, Moreira Sales, Setúbal, Villela, Sarney e Marinho. Os clãs estão separados por áreas. Ao examinar o segmento de bancos, foram pinçadas as famílias Villela, Setúbal e Moreira Salles, que deram origem ao atual Banco Itaú. No setor das empreiteiras, foram destacadas a Camargo Corrêa, a Andrade Gutierrez e a Odebrecht, por serem os cases mais emblemáticos da área. Na indústria o enfoque foi para a Gerdau-Johannpeter, do ramo da siderurgia, e a família Klabin, de papel e celulose.

Campos, também autor de “Estranhas catedrais”, prêmio Jabuti no gênero pesquisa econômica em 2015, em que é destrinchada a relação das empreiteiras com a ditadura, seguiu nesta área no novo livro. Ele mostra, por exemplo, como a situação da Odebrecht evoluiu, desde que a companhia se envolveu nas obras ligadas a grandes projetos políticos, a partir da ditadura: “Foi em torno das demandas, incentivos e políticas estatais que os grupos das famílias Camargo, Andrade e Odebrecht se desenvolveram e se fortaleceram, assumindo o seu porte monopolista. Assim, se a ditadura constituiu um momento decisivo para ascensão dessas construtoras como grandes grupos empresariais, a manutenção de seu poder se deve justamente ao vínculo, presença e controle que esse capital monopolista detém sobre o Estado brasileiro no período posterior à ditadura, até os dias atuais”, escreve Campos.

Origem na escravidão

“Durante as pesquisas, notamos alguns padrões de comportamento e traços da classe dominante. Diferentemente das famílias abastadas do exterior, os negócios aqui vieram da escravatura, o que concede a eles um perfil autoritário, truculento, e com total desprezo pela democracia”, pontua Campos. Outro ponto em comum é a forte concentração de renda. “Eles são bem posicionados, têm contatos com os grandes capitalistas e costumam ter livre trânsito no jet-set, inclusive internacional”, explica o autor.

Campos lembra que, nos Estados Unidos, é comum as famílias doarem arquivos de suas empresas e documentos familiares para institutos de pesquisas ou para acervos de instituições que levam seus nomes. Um bom exemplo são os Rockefeller. No Brasil, no entanto, este é um mundo distante da população.

“A ideia do livro vem nesta linha, e tem a intenção de dar a conhecer como essas famílias e suas fortunas foram formadas e as características dos seus negócios. Queremos demonstrar a origem da nossa burguesia. Pegamos as famílias do Sudeste e alguns exemplos de outros locais, para mostrar casos regionais, como os da família Sarney, que foi ramificando a sua atuação, formando uma verdadeira oligarquia, na região”, afirma Campos, lembrando que o clã de José Ribamar Sarney tem negócios variados, mas, graças à atuação na área da comunicação e da política, ganhou projeção e poder em todo o estado.

Os empresários e a queda de Jango

Curiosidades e revelações estão no livro. O Barão de Mauá, por exemplo, era simpático à causa abolicionista, mas mantinha escravos em suas empresas. Os autores também se aprofundam na participação de empreiteiros e banqueiros, no Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipês), onde se reuniram para tramar a queda do presidente João Goulart. A criação do instituto aconteceu já em 1961, com a meta de defender os interesses dos poderosos que se preocupavam com a situação econômica do país, com o que julgavam despreparo do governo, que, na opinião deles, estava sob a influência dos comunistas.

Vargas e os Klabin-Lafer

Outra trajetória que reafirma a ligação das maiores famílias capitalistas aos governos é a do grupo Klabin-Lafer, que se aproximou de Getúlio Vargas para conseguir acumular o capital social necessário para seus interesses político-empresariais, explica a obra. “Para se fortalecer politicamente, era imprescindível atuar amplamente em muitas instituições da vida social, articulando sua ação de classe com os espaços sociais de construção do poder político do período. A conjuntura política e econômica que emergiu, durante a Segunda Guerra, criou as condições para que o grupo fosse favorecido pelo apoio governamental, interessado em incentivar a formação de indústrias de base. A fábrica de celulose e papel chamada de Indústrias Klabin do Paraná de Celulose, em cuja construção o grupo estava investindo, supriria parcialmente a demanda de pasta de madeira e papel imprensa tanto para agências do Estado-governo quanto para as classes empresariais ligadas aos setores jornalístico e editorial.”

Depois desse mergulho no universo das famílias mais poderosas do país, o organizador da obra se convenceu que vem da classe dominante grande parte das mazelas nacionais. Para ele, a visão estreita da burguesia brasileira mostra o quanto “eles são segregadores”. O fato de terem construído suas fortunas a partir do trabalho escravo, da opressão, como aponta o livro, trouxe ao longo dos anos o ranço do preconceito contra os menos favorecidos. “Eles veem o Brasil como o país das áreas de serviço, dos elevadores privativos”, lamenta Campos.

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Denise Assis

Denise Assis é jornalista e autora dos livros: "Propaganda e cinema a Serviço do Golpe" e "Imaculada". É colunista do blog O Cafezinho desde 2015.

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Comentários

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Maria Dolores Rosa

22/05/2017 - 09h26

Muito interessante

Claudio

21/05/2017 - 20h58

Mais do que nunca é preciso saber escolher seus candidatos, não só para presidente, mas principalmente para DEPUTADOS e SENADORES.
Vamos acordar esse Gigante chamando BRASIL.

Petrus Castro

21/05/2017 - 21h27

Essa questão do Joesley ser o delator do Temer, quase que obrigando a saída do decrépito do cargo, e já no dia seguinte toda a imprensa falar no nome do Henrique Meirelles para assumir a Presidência da República através de eleição indireta é por demais cabulosa, principalmente quando nós nos lembramos qual foi o último cargo do Meirelles: Executivo da JBS, tá bom assim, ou alguém acha que o Lula corrupto é quem tem de ir pra cadeia???

Tonirico

21/05/2017 - 15h55

Querida, porque não nomeou Lula, Dilma. E Mantega entre os citados na delação. São os maiores beneficiados deste empresário corrupto.

Juveneu de Araujo

21/05/2017 - 18h30

Acho que nois assinou um atentado de trouxas contou a Istoria dele é embarcou num luxuoso jato

Juveneu de Araujo

21/05/2017 - 18h27

É esse que é o joesley safadão do nosso país

Lúcia Helena Cusini

21/05/2017 - 18h22

Certamente nunca mais nenhum brasileiro irá olhar para um político, um membro do judiciário, um empresário ou um banqueiro do mesmo jeito que olhava antes! Essa delação foi cruelmente didática, não possibilita que ninguém continue se enganando sobre quem são os “verdadeiros inimigos do povo” e onde se escondem.

    Lucia Sotero

    22/05/2017 - 12h51

    brasileiro que tem inteligência, que não se deixa manipular.


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