Menu

Luis Felipe Miguel analisa as turbulências da coalizão golpista

No Facebook de Luis Felipe Miguel Mais cinco observações sobre o momento atual da crise: (1) A Rede Globo decidiu demonstrar sua força. Por motivos que ainda não estão inteiramente claros, ela resolveu rifar Michel Temer e reorganizar a coalizão golpista em outras bases. Não está sozinha nesse projeto, nem é necessariamente quem o comanda, […]

23 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

No Facebook de Luis Felipe Miguel

Mais cinco observações sobre o momento atual da crise:

(1) A Rede Globo decidiu demonstrar sua força. Por motivos que ainda não estão inteiramente claros, ela resolveu rifar Michel Temer e reorganizar a coalizão golpista em outras bases. Não está sozinha nesse projeto, nem é necessariamente quem o comanda, mas é sem dúvida o grande instrumento de sua execução. Ainda que o restante da mídia corporativa não tenha o mesmo propósito (como demonstra o esforço da Folha de S. Paulo para desacreditar as gravações de Joesley Batista), o empuxo da Globo é forte demais e todos já tratam a queda de Temer como questão de dias. Ou seja: as sucessivas vitórias do PT mostraram que a Globo não tem o poder de definir os resultados eleitorais, mas ela continua capaz de desestabilizar governos a seu bel-prazer. O fato de que o usurpador não mereça que se derrame uma lágrima por ele, muito pelo contrário, não significa que não precisemos entender o que significa esse poder tão desmedido.

(2) Temos hoje dois conflitos sobrepostos. O primeiro é interno à coalizão no poder. O golpismo está dividido, uma vez que Temer decidiu resistir e usa todos os recursos de que dispõe para adquirir os apoios que lhe garantam uma sobrevida, ainda que frágil. O problema, para ele, é que a principal ameaça vem não do Congresso, mas do TSE. A tranquila maioria que ele construiu nos últimos meses, para aprovar a esdrúxula tese da separação da chapa, não existe mais. O colegiado que vai definir sua sorte é menos suscetível aos agrados que o Executivo pode fazer e tende a seguir o consenso das classes dominantes, que cada vez mais aponta para a substituição de Temer. Afinal, com exceção do usurpador e de seus cúmplices mais próximos, todos julgam que rifá-lo é um bom negócio, se com isso superam a crise. O segundo conflito é entre o golpismo e o campo democrático. É aqui que entra a bandeira das diretas-já. O golpe não foi dado para que alguma vontade popular pudesse se expressar, muito pelo contrário. Foi dado para implantar um projeto que as urnas sempre rechaçaram. Por isso, as eleições diretas têm que ser evitadas a qualquer custo.

(3) Entre os problemas que as diretas-já geram, para os donos do poder, está o fato de que não haverá tempo para impedir a candidatura de Lula. Mas as diretas não são para eleger Lula. As diretas são para interromper e reverter o golpe. Por isso, a luta pelas diretas é indissociável da luta contra o retrocesso nos direitos. O povo deve ser chamado a se manifestar não para escolher um nome, mas para escolher um programa. O programa mínimo do campo democrático e popular é a revogação da emenda constitucional que congela o investimento social, o retorno da plena vigência dos direitos trabalhistas, a sustação da reforma da previdência, a plena vigência das liberdades – a partir daí, tentamos avançar, mas esse é o mínimo. Lula vai se comprometer claramente com esse programa? Ou não vai resistir à tentação de acenar para as elites, para recompor a “governabilidade” que deu no que deu? Seja como for, a realização desse programa depende da pressão organizada, mais até do que da eleição de A ou B.

(4) O oposto das diretas é a pressão ostensiva do “mercado” (que, no noticiário, é o nome de fantasia do capital) para que o sucessor não esmoreça nas “reformas” (o nome de fantasia para a retirada dos direitos). É impressionante como, na imprensa, a necessidade de ouvir a população é desdenhada como irrelevante ou estigmatizada como “golpe” (!), mas as vozes do capital são reverberadas cuidadosamente. O recado é claro: a vontade popular não pode atrapalhar a vontade do “mercado”. O casamento entre capitalismo e democracia, que sempre foi tenso, agora se mostra claramente como uma relação abusiva. A regra era que o capital impunha sua vontade pelos mecanismos do mercado, o que já lhe dava um poder de pressão descomunal, mas os não-proprietários tinham a chance de limitar esse poder graças ao processo eleitoral. Essa salvaguarda não é mais aceita. Ela terá que ser imposta novamente ao capital, como o foi nas primeiras décadas do século XX.

(5) Não se vê uma única voz se levantar em favor de Aécio Neves. O pragmatismo da direita devia servir de alerta àqueles que a servem: são todos descartáveis. “Acéfalo” com a prisão da irmã, como disse a Folha de S. Paulo; sem poder contar sequer com o abraço amigo de Luciano Huck… Triste fim do Al Capone de Ipanema.

Apoie o Cafezinho

Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Mais matérias deste colunista
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

Antônio

29/05/2017 - 16h00

Uma importante reflexão

Nicola Cruciol

22/05/2017 - 09h47

A GLOBO É UMA DAS MAIORES DEVEDORAS DA PREVIDÊNCIA BANDO DE URUBUS.

Roseli Verlindo

21/05/2017 - 19h52

Pois é. Os motivos da Globo não estão claros. Já li várias teorias, desde acordo com a JBS, até medo da delação do Palocci, todas sempre envolvendo interesses maiores do q as reformas.

Barbara Ribeiro

21/05/2017 - 18h22

Temos que ficar super atentos !!!

Wagner Simones

21/05/2017 - 18h00

Porque a JBS recebeu uma montanha de dinheiro do BNDES sendo o segundo maior devedor da Previdência (1,6 bilhões)?
Essa é a pergunta que não quer calar?

    Simone Dos Santos

    22/05/2017 - 04h38

    Talvez porque você não seja da área bancária

Elza Maria Villas Boas

21/05/2017 - 17h53

A Globo optou pelo patrocínio da JBS, Temer ela troca por outro “chegado”

Marilene Flores

21/05/2017 - 17h35

Ai tem ,E MISTERIO !

Roberto Araujo

21/05/2017 - 17h28

Só tolos da que assistem a globo para não ver

Rita Candeu

21/05/2017 - 14h15

perfeito!!!

é muito bom ter todos voces fazendo esse trabalho magnifico!!!!

me sinto muito grata por todos os nossos blogueiros

Antonio Cerqueira

21/05/2017 - 17h06

AÍ TEM!

Antonio Cerqueira

21/05/2017 - 17h06

Thaís Helena Góes

21/05/2017 - 16h57

A globo é quem decide isso foi assim com o Collor ela cria depois ela mesmo destrói e paga de isentona

Marcelo Cabaldi

21/05/2017 - 16h57

Dillma e Temer sao da mesma chapa.Temos que achar uma alternativa que nao seja ligada a turma do Lulla.

    Gerson Pompeu

    22/05/2017 - 23h56

    Judas também era apóstolo.

Adelson Green Rodrigues

21/05/2017 - 16h49

Diretas-já.

Lenira Barbosa Zandomenico

21/05/2017 - 16h43

Talvez ela se convenceu de que Lula e Dilma nao tem contas em outros países…

Miriam Cazarotto

21/05/2017 - 16h29

Também não entendi até agora porque a Globo soltou essa bomba!!! Se eram totalmente a favor do impectmant da Dilma e a favor do Temer!!!

    Marcos Moret Moret

    21/05/2017 - 16h40

    A coisa é tão grande que optaram em divulgar primeiro antes dos outros para parecer santinhos

    Rita Candeu

    21/05/2017 - 14h18

    rei morto (foi inevitável) rei posto – a Globo já está fazendo campanha para colocar outro da escolha dela –

    Temer era só um testa de ferro que não conseguiu aprovar todas as medidas

Paul Cesar

21/05/2017 - 16h26

Essa história Globo.. .está mal contada…

Anildo Leal Matsdorf

21/05/2017 - 16h25

Como fez com Collor…

Jaime Passos

21/05/2017 - 16h22

#ForaTemer e #DiretasJá


Leia mais

Recentes

Recentes