Menu

O tédio e a preguiça mental do teatro em cartaz no TSE

Foto: José Cruz/Agência Brasil Do Justificando, na Carta Capital É impossível levar o teatro em cartaz no TSE a sério Por Brenno Tardelli No meio jurídico em que convivo é nítida a sensação de profundo tédio e preguiça mental do teatro de quinta categoria que está em cartaz no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Há dias, ministros […]

20 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Do Justificando, na Carta Capital

É impossível levar o teatro em cartaz no TSE a sério

Por Brenno Tardelli

No meio jurídico em que convivo é nítida a sensação de profundo tédio e preguiça mental do teatro de quinta categoria que está em cartaz no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Há dias, ministros fingem que debatem e julgam e a gente finge que o julgamento tem o mínimo de seriedade. Se você também estiver com essa sensação e ainda não souber entender o porquê, vou explicar algumas coisas para auxiliar-te a desenhar nitidamente as razões pelas quais o julgamento é uma farsa.

Vou recorrer a palavra farsa para designar essa ação várias vezes ao longo do texto. Vou explicá-la por casos concretos: Aécio Neves, autor da ação, afirmou que só entrou com o pedido para encher o saco. A ação chegou a ser arquivada pela fraca acusação baseada em alegações genéricas (seria como dizer: a Chapa roubou sem apontar o que, quando, onde, como, etc) e somente foi desarquivada no auge do movimento pelo impeachment por ninguém mais, ninguém menos, que Gilmar Mendes. O julgamento já era para ter acontecido, mas foi adiado para haver uma troca de dois juízes. A chapa do PSDB está tão ou mais envolvida no abuso na campanha eleitoral quanto a do PT/PMDB, os quais se defendem juntos agora, mas se o contexto político atual fosse diferente, não hesitariam em mudar seus papéis de palhaços nesse circo.

Explicada a farsa sob a qual o processo está montado, começarei pelos ministros que estão no julgamento. Penso que é importante para entendermos aquele ditado antigo “da onde menos se espera, é daí que não sai nada mesmo”. São 7 ministros que estão no julgamento. Desses, dois deles são ministros do STF que protagonizaram inúmeros episódios pitorescos. O primeiro, Gilmar Mendes, quase dispensa comentários, por estar às claras na mídia sendo o garoto propaganda da falência do Poder Judiciário. Sua amizade íntima com o réu que será julgado, sua baba de raiva que escorre pela boca toda vez que ouve alguém dizer “PT” e sua falta de vergonha de ser um parlamentar tucano numa corte que pretende, em tese, ser de juristas dão um pouco da mostra de incapacidade dele ser ministro.

Luiz Fux é mais desconhecido do público em geral, mas basta dizer da sua íntima relação com o PMDB do Rio de Janeiro, o qual destruiu o Estado pelo tanto de patrimonialismo na gestão; o episódio do “peito de aço”, isto é a promessa pela absolvição de acusados no mensalão que teria sido feito a Dilma para ele próprio ser indicado ao Supremo (e o pior de tudo: condenou todos, virando as costas para o que foi combinado na palavra, à lá Ali Baba), bem como suas liminares de prejuízo em bilhões para a população pagar a mordomia ilegal da magistratura e a campanha de lobby para indicação da filha com 35 anos para ser desembargadora do TJ-RJ. A menina tinha a mesma experiência jurídica de uma quintoanista boêmia da faculdade, mas isso não impediu o papi de intimidar diversas pessoas para que ela fosse indicada. Meritocracia pura.

Têm outros dois que ninguém conhece – Tarcísio Vieira e Admar Gonzaga, muito prazer – pois Michel Temer, réu na ação, conseguiu colocar os caras lá por conta de um risível adiamento por pedido de vista, estratégico para sensível troca de quadro no julgamento. Saíram os ministros Henrique Neves e Luciana Lóssio e entraram esses dois pelas mãos do acusado. Diga-me se isso não é uma piada: 2 substituições pelo réu em um universo de 7 juízes. Olha, não sou muito bom de matemática, mas deve ser algo próximo de 30% de influência extra da presidência no time. Tem coisas que acontecem só no Brasil, mesmo. Fala sério.

Além desses quatro, muitas pessoas puderam conhecer o Napoleão Nunes Maia, o qual tem o privilégio de ser desconhecido pois poucas pessoas se importam com o STJ, onde ele ministro, apesar de sua enorme relevância e do bilionário custo para os cofres públicos. Napoleão mostrou-se a todos como o cão de guarda de Temer e Gilmar no julgamento, prestando-se a um papel ridículo. Sem problemas absolver, desde que não seja para fazer oba-oba com o ridículo e a desfaçatez de quem tem a sanha punitivista em um segundo (quando é Dilma no cargo, basicamente) e no outro vira o maior garantista que vocês respeitam (quando Temer está no cargo).

obram Rosa Weber e Herman Benjamin, os quais dedicarei um tempo contigo para explicar onde está a piada, pois eles têm o mérito de, pelo menos, parecerem honestos, o que já é um trunfo no tribunal. Por isso, muitas pessoas têm idolatrado Herman e suas alfinetadas em Gilmar – vamos falar sério, nada é mais fácil do que expor o podre de Gilmar. É tudo tão explícito que criticá-lo por suas falhas éticas é como empurrar bêbado pela ladeira. Gilmar só não cai em desgraça por conta da benevolência da classe política e da mídia em geral, incluindo a jurídica, com ele (daí vocês podem se perguntar as razões dessa benevolência, o que fica para outro artigo).

Voltando aos dois juízes que têm o mérito de parecerem decentes, ao contrário dos demais, ainda assim a piada persiste, pois eles são, no mínimo, iludidos em seu conteúdo por tentar emprestar alguma credibilidade jurídica a um processo farsesco desde o primeiro segundo. Como explica a produtora cultural, Ísis Vergílio, no teatro existe um conceito chamado de representação sincera. Seria algo como a interpretação compenetrada do ator ou atriz na peça, que passa a acreditar no seu papel. Rosa e Herman parecem acreditar que, de fato, estão fazendo algo próximo de ser juiz naquela farsa, o que chega a ser um pouco engraçado, mas ao mesmo tempo deprimente.

Mas o pior nem é isso. São iludidos que estão pela moralidade e condenam a chapa com base em conceitos absolutamente ultrapassados e autoritários, como a busca da verdade real, que permite que provas que não foram objeto de discussão na ação e na contestação se tornem centrais para condenar. A falta de ligação entre acusação e sentença, que admite, inclusive, uso retórico de delações feitas quando o caso estava pautado para ser julgado torna o processo mais próximo de uma discussão de botequim do que de uma corte superior propriamente dita. Ou seja, até quem condena e tem se portado como se espera de ministro, falha miseravelmente.

Dito isso, talvez você entenda melhor porque é impossível levar esse julgamento a sério.

Brenno Tardelli é diretor de redação no Justificando.

Apoie o Cafezinho

Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

Mais matérias deste colunista
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

Luiz Antonio Briotto

13/06/2017 - 21h44

Carta Capital, já devolveu o dinheiro roubado que recebeu do Petrolão ???

Rafael Santana

11/06/2017 - 21h42

Com o Gilmar no STF os corruptos podem ficar tranquilos. Esse Ministro precisa ser impeachmado urgentemente para o bem das instituições e da Democracia.

Laercio Ferreira

11/06/2017 - 20h31

OS IRMÃOS METRALHAS DO JUDICIÁRIO NACIONAL , LEI SÓ PRA QUEM TEM PEDIGREE EM PINDORAMA , PRECISA SER DA SOCIALITE , DA ELITES ENTREGUISTAS , E BABA OVO NO SACO DO IMPERIALISTA DO NORTE , O TÉDIO E A PREGUIÇA MENTAL DO TEATRO DO TERROR NO TSE, EM PINDORAMA TUDO É POSÍVEL EM NOME DESSES GRADUADOS EM CORRUPÇÃO?/

Gilmar Damasceno

11/06/2017 - 20h08

Cena de cinema, teatro, alguns atores tiveram inveja das interpretações, nada sério, deixa o voto minerva para o Gilmar Mendes é como dar queijo pra rato, todos sabem o resultado.

EDER

11/06/2017 - 16h40

SUCUPIRA REAL., ODORICO PARAGUAÇU FALANDO COM DESENVOLTURA: “PRATRASMENTE QUERIA A CASSAÇÃO DA DILMA, PRESENTEMENTE, QUERO A ABSOLVIÇÃO DE TEMER”. PRATRASMENTE EU ERA CONTRA A CORRUPÇÃO BOLIVARIANA. PRESENTEMENTE SOU A FAVOR DA CORRUPÇÃO TEMERÁRIA. EU QUERO É MAMAR. PÁRA ISSO COLOCOU DOIS DIRCEU’S BORBOLETA A VÉSPERA DO JULGAMENTO E PARA REFORÇAR JÁ CONTAVA COM PANTALEÃO: É MENTIRA TERTA!

Brito Pereira

11/06/2017 - 17h38

Esses três, são uma vergonha para judiciário brasileiro

Jose Fernandes

11/06/2017 - 16h35

bunda lêlê privada brasil; GM caga em cima das consequências …

Bob

11/06/2017 - 13h08

Sugestão para a CUT dia 30 de junho em Brasília. Em vez de dirigir o movimento para o palácio do planalto, dirigi-lo para o STF como forma de pressão para exigir a anulação do impeachment farsesco de Dilma Rousseff, que devido às complicações legais das “diretas já”, torna-se uma luta mais palpável, além de não capitular perante o golpe. Segue que se bem sucedida a anulação, inviabilizaria futuras tentativas de golpe. Uma vez reempossada Dilma convocaria um referendo revogatório de todos os atos do ilegítimo usurpador MT, sejam nomeações (inclusive Alexandre de Moraes), negociatas, leilões, pecs, etc. Haveria também no referendo um campo para saber do desejo da população sobre eleições gerais, tudo dentro dos padrões democráticos.

Geovane Geronço

11/06/2017 - 15h37

“Não se iludam com os cabelos brancos, os CANALHAS também envelhecem. (Rui Barbosa)

Katia Galvão

11/06/2017 - 14h31

Ionesco sentiria inveja desse teatro.

Maju Gomes

11/06/2017 - 13h14

DEPLORÁVEL TRISTE

Arlindo Valdenebro Borges

11/06/2017 - 12h28

Nojo, nojo,nojo.

Lili Brown

11/06/2017 - 12h25

STF e urgente que a Constituicao seja respeitada e que a democracia volte ao Brasil pois senao so teremos o caos institucional e a miseria absoluta da populacao brasileira e a falencia de empresas brasileiras. O impeachment contra a Constituicao brasileira e a nossa presidente honesta foi o que declanchou a queda do Brasil, e e IMPERATIVO que o STF restabeleca a justica institucional e a volta do Estado de Direito atraves da ANULACAO do impeachment sabido comprado e fraudulento que teve como objetivo retirar do poder a v unica pessoa que combateu a corrupcao e que teve a coragem de encarar poderosos corruptos que sempre fizeram parte do establishment politico brasileiro. Respeitem o nosso Brasil e nos brasileiro e respeitem os cargos que ocupam e anulem o impeachment!

Clá

11/06/2017 - 09h19

Não é possível! Até quando a população (campo social) vai permanecer inerte? As nossas vidas estão absolutamente ameaçadas e não se vê uma manifestação massiva como as jornadas de junho em 2013. Os filhos da puta vão para o campo de futebol, vão para o show de rock, vão para o inferno, mas se recusam a encher as ruas de forma contundente. Isso seria a nossa ÚNICA arma contra as ameaças e as agressões que estão caindo sobre o campo social. A História se repete: as maiores atrocidades da História da humanidade aconteceram com a conivência do campo social. Voilà.
O pessoal que se mobiliza para paralisar o país: tenha a santa paciência! vão fazer greve de sexta-feira? De 24h00hs? Tem que paralisar por, no mínimo 48hs e no meio da semana! Tenha a santa paciência…

Marilourdes Castro

11/06/2017 - 12h08

Eu aprendi muito cedo que os cabelos brancos eram sinal de respeito. Hoje vendo um poder supremo da República com estes representantes que nos envergonham, fico a imaginar , o que será do nosso País.

    Marcos Silva

    11/06/2017 - 16h19

    “Não se deixe enganar pelos cabelos brancos, os canalhas também envelhecem.”

Paulo L Maia

11/06/2017 - 11h47

João Valente

11/06/2017 - 11h35

Vocês ainda tentam explicar “isso”, a força de ofício tem seu mérito.
Não consigo mais achar palavras para definir a atitude destes seres, muito menos suas ações.
Talvez o olfato, o cheiro de sangue e escrementos ainda possa nos sensibilizar.

Julio Oliveira

11/06/2017 - 11h32

Um acobertando o outro tornando nosso judiciario um teatro onde só atuam palhaços….

Marlene Rosa Barboza

11/06/2017 - 11h23

A justiça Brasileira é uma verdadeira vergonha “INTERNACIONAL”.


Leia mais

Recentes

Recentes