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Destruir Temer, proteger Meirelles, atacar Lula: a ‘estratégia do jogo’ segundo Paulo Moreira Leite

Foto: Daniela Toviansky/Exame Do Brasil 247 Por Paulo Moreira Leite Época tenta esconder Meirelles Nós sabemos que no mundo da justiça-espetáculo as versões costumam ser mais importantes do que os fatos. Lembrei dessa regra ao ler o depoimento de 12 paginas de Joesley Batista a Época, reproduzido com tambores e trombetas na noite de sábado […]

31 comentários
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Foto: Daniela Toviansky/Exame

Do Brasil 247

Por Paulo Moreira Leite

Época tenta esconder Meirelles

Nós sabemos que no mundo da justiça-espetáculo as versões costumam ser mais importantes do que os fatos. Lembrei dessa regra ao ler o depoimento de 12 paginas de Joesley Batista a Época, reproduzido com tambores e trombetas na noite de sábado no Jornal Nacional. Alguns fatos e versões se encontram, indiscutivelmente, fora do lugar, formando uma construção que gera resultados políticos óbvios. O maior exemplo envolve o papel do ministro da Fazenda Henrique Meirelles, personagem numero 2 do governo comandado pelo “chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil” nas palavras de Joesley.

Graças ao silêncio da Época, o cidadão brasileiro permanece sem saber o papel do ministro da Fazenda Henrique Meirelles nos negócios do grupo.

É um clássico silencio ensurdecedor. Frequentador da porta giratória Estado-setor privado que lhe permitia deixar um cargo no primeiro escalão do governos Lula, e depois voltar na equipe de Temer, o nome “Henrique Meirelles” sequer é mencionado numa entrevista de 12 páginas. Nem uma única vez.

É uma falta de curiosidade espantosa, quando se recorda que entre 2003 e 2010, ele ocupou a presidência do Banco Central, onde era o grande cartão de visita que Lula apresentava ao mercado financeiro. Depois disso, entre 2012  e 2016,  foi presidente do Conselho de Administração da J&F, que administrava o conjunto de negócios bilionários do grupo. Também dirigiu o banco Original, dos mesmos sócios. Meirelles só deixou o cargo em maio do ano passado, para voltar ao governo, ocupando agora o segundo cargo mais importante da República, como Ministro da Fazenda.

De seu gabinete saíram as principais linhas da atual política econômica, desde a emenda constitucional que definiu o congelamento de gastos pela inflação como a reforma da Previdência, a reforma trabalhista. Estas medidas definem — não é adjetivo, apenas conceito — o governo Temer como o mais reacionário da história republicana.

Nessa condição, seria indispensável saber: a partir de 2016, quando voltou ao governo, como Meirelles se comportou ao lado do “chefe da quadrilha mais perigosa ?” Ajudou? Atrapalhou? Tentou impedir medidas ilegais? Deu conselhos? Quais propostas recusou, quais apoiou? Ajudou Joesley na fase 1, quando o chefe estava na quadrilha? Ou na fase 2, quando resolveu delatar?

Não sabemos se apresentou algum contato dos velhos tempos.  Se participou de jantares na presença de amigos ou se ofereceu informações estratégicas.

Alguma vez — quando era executivo da J&F — estranhou o desvio milionário e regular de recursos que eram enviados para esquemas políticos?

O que achava das conversas com Guido Mantega, um dos inimigos que deixou no governo?

Comportou-se como aquele tipo que, como gosta de lembrar o procurador da Lava Jato Luiz Fernando Lima, pode ser acusado de “cegueira voluntária”?

É um comportamento que chama a atenção em qualquer hipótese.

Mesmo que a ideia seja demonstrar que o atual ministro da Fazenda não passava de uma improvável Rainha da Inglaterra — eufemismo para definir o velho e bom testa-de-ferro — o leitor tem o direito de saber qual era sua função real. Mesmo porque um presidente de Conselho pode ter obrigações legais a responder no futuro. Não se trata de pré-julgar Meirelles nem imaginar coisas que não foram sequer insinuadas. A escola que leva a condenar sem respeito pela presunção da inocência não é a minha e só leva a reforçar um estado de exceção.

Só acho que não dá para esconder um personagem dessa estatura e achar que ninguém vai perceber. Não é jornalismo.

Também é fácil reconhecer que o silêncio sobre Meirelles atendeu a um propósito político.

Empenhadas num projeto de retirar Temer do Planalto, as Organizações Globo têm outro plano para o Ministro da Fazenda e a equipe econômica. Querem que seja mantido no cargo de qualquer maneira, para garantir a continuidade das reformas. Nos primeiros momentos da crise, o próprio Meirelles  já se ofereceu, pelos jornais, para permanecer no posto caso o presidente venha a ser afastado. Desse ponto de vista, o silêncio sobre seu papel — antes e depois — é providencial.

Essa postura seletiva, agora no sentido inverso, explica o esforço para minimizar as afirmações de Joesley sobre Lula, que compõem um depoimento obrigatório para quem responde a tantos inquéritos na Lava Jato. Numa cobertura séria, que envolve candidato a presidente que está em primeiro lugar nas pesquisas e enfrenta uma caçada judicial de anos, era uma novidade e tanto.

“Nunca tive uma conversa não republicana com o Lula,” diz o empresário conta-tudo. “Não estou protegendo ninguém,” acrescentou.

Referindo-se  às insinuações frequentes de que um dos filhos do presidente era sócio oculto da Fri-Boi, a mais conhecida empresa do grupo, Joesley deixa claro que se trata de uma mentira.

Em vez de dar o destaque ao testemunho pessoal, Época e a TV Globo deram prioridade a uma afirmação que Joelsey não sustentou com fatos. O carnaval foi feito em torno da frase de que “Lula e PT institucionalizaram a corrupção.”

Basta ler os diários de Fernando Henrique Cardoso no Planalto para encontrar provas de que o troféu originalidade está em disputa. Nem vamos lembrar de Fernando Collor de Mello, o protegido da Globo nos dois turnos de 1989.

No volume 2 de seus diários, FHC relata que acabou cedendo a pressão de integrantes da “quadrilha mais perigosa”  e assim, explicitamente, após muita pressão de Temer-Geddel-Padilha, acabou nomeando o último para o Ministério dos Transportes — decisão que ele mesmo sabia ser questionável.

Então deu para entender. Estamos combinados.

A estratégia do jogo: destruir Temer, proteger Meirelles, atacar Lula.

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Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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Comentários

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Mazinho Moraes

19/06/2017 - 16h51

isso é tão claro, o que eles querem é a tal reforma da previdência e trabalhista, o resto é detalhe….nunca foi por corrupção…….

Malu Marcon

19/06/2017 - 14h20

Essa lava jato foi criada exatamente para isso . Como todo mal feito , parece que o feitiço está virando contra o feiticeiro .

Roberto Moore

19/06/2017 - 11h57

Meireles era presidente da JBS…tá enrolado até o pescoço

Fábio Lopes Styrnik

19/06/2017 - 08h07

A maior quadrilha criminosa do Brasil é o PT, e em segundo lugar o PMDB.

    Estefânia Jimenez

    19/06/2017 - 09h42

    Cara, essa desculpa de jogar a culpa no PT não cola mais.Essa emissora dos infernos, que persegue Lula a mais de 40 anos ainda vai pedir desculpas por todos os crimes que cometeu contra ele e sua família, sua esposa morreu em função dessas perseguições. Nada, nada ,existe contra Lula, enquanto os verdadeiros bandidos com provas até pra vender, estão soltos, destruindo um país. Vc é um manipulado que acredita em Jornal Nacional, nas falácias da Rede Globo, de Época, a maior quadrilha existente nesse país se chama rede globo, que manipula as massas feito gado como você.

    Roberto Moore

    19/06/2017 - 11h58

    Esse é um idiota

    Cicerapereira Decarvalho

    19/06/2017 - 15h53

    Vai no google ver o PIB O ÍNDICE DE DESEMPREGO NA ERA LULA E DILMA OU CRIATURA GLOBAL OU SERA QUE ELES COMPRARAM O GOOGLE TAMBÉM?

    Mazinho Moraes

    19/06/2017 - 16h51

    e vc campeão de falar bobagens, kkkkk

    Marcelo Guilherme Castejon Dos Reis

    19/06/2017 - 17h43

    PSDB sempre foram os piores,os tucanos não tem limites para usar o dinheiro do povo para negócios obscuros!!!!!

    Castejon Júnior

    19/06/2017 - 17h57

    Marcelo Guilherme Castejon Mas é o PT no topo da pirâmide?E depois quase todos os partidos certo??

    Fábio Lopes Styrnik

    19/06/2017 - 19h30

    Que mane perseguicao ao lula. Ele rouboh a vida inteira assim como varios outros.

    Fábio Lopes Styrnik

    19/06/2017 - 19h31

    A culpa toda nao e so do pt, varios possuem parcela, mas e obvio q o pt esta e sempre esteve envolvido em roubos e corrupções.

Paulo Pretinho

19/06/2017 - 04h55

ainda estou desconfiado. Depois que essa turma largou o tucanato para apoiar o petismo, sem o que Lula jamais teria sido eleito, a direita esclerosada tem feito de tudo para destruir esse pois sabe que sem eles Lula e nenhum petista se elege mais presidente

Rafael Werdum Putin

18/06/2017 - 22h31

De onde vcs tiram teses tão estúpidas ?

    Dantis Wal

    18/06/2017 - 23h35

    SIMPLES, O MEIRELLES OI PRESIDENTE DO BANCO DA JBS, E LE NEM FOI CITADOM

Marina Barros

18/06/2017 - 22h12

Calma gente um de cada vez ..Meirelles tá na pauta.rsrs ..na hora certa aperta o Google e compartilha

GABRIEL

18/06/2017 - 19h07

MUITAS ÁGUAS AINDA VÃO ROLAREM. E ENTRE UMA ÁGUA(DENUNCIA) E OUTRA ESSE CÂNCER TEMEROSO VAI SE ESVAINDO E COMPADECENDO. MOSTRANDO NITIDAMENTE SUA CARA. JÁ FOI DESCOBERTO O VERDADEIRO CHEFE DA OCRIM, QUE ANTES O DELLAGNON DO POWER POINT, EM SUA EXPOSIÇÃO ATRAPALHADA QUE SÓ SERVIU DE ZOEIRA, ATRIBUÍA A LULA. E AGORA FOI PRECISO QUE UM DOS MEMBROS DESSA OCRIM PROCURASSE AS ESTÂNCIAS SUPERIORES PARA QUE SEU TESTEMUNHO FOSSE LEVADO A SÉRIO. DEIXANDO A ENTENDER CLARAMENTE QUE A VAZA JATO NÃO É UMA OPERAÇÃO DIGNA DE CREDIBILIDADE. NÃO POR SUA IMPORTÂNCIA, E SIM PELA SAFADEZA, SELETIVIDADE, DESONESTIDADE, EXIBICIONISTIDADE E TENDENCIOSIDADE DE SEUS MEMBROS. ESSES SIM ESTÃO AGINDO DE FORMA COMPLETAMENTE REACIONÁRIA. ATÉ PARECE QUE LEVAM MUITO A SÉRIO QUANTO A EXPRESSÃO “REPUBLICA DO PARANÁ”, IGNORANDO QUE ISSO É SÓ UM LINGUAJAR, ATRIBUÍDO EXATAMENTE POR CAUSA DE SUAS EXCESSIVAS E SELETIVAS AÇÕES CONTRA O PARTIDO DO TRABALHADOR.

Marcus Valeria

18/06/2017 - 22h07

Myriam Marques Guarani Kaiiowá, lembrei da conversa de ontem

Luiz Carlos P. Oliveira

18/06/2017 - 18h25

“Nunca tive uma conversa não republicana com o Lula.”

“Lula e PT institucionalizaram a corrupção.”

Duas frases do Joesley. Uma não fecha com a outra. Como o Lula sempre afirmou que não se encontrava com empresários, a segunda frase parece ter sido inserida fortuitamente. Qual o objetivo do Joesley? Ficar bem na foto com a PGR? O mais interessante é que as propinas pagas por ele não citam ninguém do PT, pois atingem o núcleo da quadrilha do Temer e o Aéciopó. Ebas contas que só ele movimentou na Suiça? Por que ele não apresenta transferências dessas contas? Quem recebeu essa grana toda no Brasil? Afinal, ninguém “doa” 150 milhões de dólares em malas de dinheiro vindo do exterior.

Lili Brown

18/06/2017 - 21h11

STF anulacao do impeachment comprado e fraudulento ja! NAO sejam cumplices de corruptos no poder! Respeitem os cargos que ocupam. Esta mais que provado o impeachment foi comprado para proteger a maior e mais perigosa quadrilha de criminosos no Brasil!

    Estefânia Jimenez

    19/06/2017 - 09h34

    O STF é conivente desde o início, estão comprados, o golpe não teria acontecido sem o aval do Supremo, todos cúmplices! :(

Jonas Moreira

18/06/2017 - 18h09

O Meirelles está sendo super protegido, como se não tivesse nada a ver com a JBS, com o Temer e com a economia que destrói o país. Ele tem competência como embusteiro, pois conseguiu como ninguém se passar de energúmeno por genial…

José Roberto Alonso

18/06/2017 - 20h53

O Meireles foi por anos o homem forte da JBS.

    Maju Gomes

    18/06/2017 - 21h09

    Isso não é falado em lugar nenhum

    José Roberto Alonso

    18/06/2017 - 21h10

    Mas foi .

    Marina Barros

    18/06/2017 - 22h14

    Do banco tb …esteve bonito em todos governos

Mariangela Monteiro

18/06/2017 - 20h19

O Moro continua.Ataca o Lula

Alcione Gomes

18/06/2017 - 19h46

Jonas Moreira

18/06/2017 - 19h41

O Meirelles está sendo super protegido, como se não tivesse nada a ver com a JBS, com o Temer e com a economia que destrói o país. Ele tem competência como embusteiro, pois conseguiu como ninguém se passar de energúmeno por genial…

    Paulo Pretinho

    19/06/2017 - 05h36

    Meireles deixou a deputância tucana para ser ministro do governo Lula por puro amor ao Brasil e ao petismo. Assim como esse, e até corrupto costumaz como Valério, o petismo teve que aceitar ou nunca elegeria nada

Dantis Wal

18/06/2017 - 19h27

Cuidado coxinha o MEIRELLES VAI FURAR SEU Z@I@,


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