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Temer vai gastar R$ 17 bilhões para salvar a pele (e deixar país à míngua)

(Crédito: Fotos Públicas) No DW Quanto a tentativa de salvar Temer de denúncia custa ao Brasil Às vésperas de votação na Câmara sobre acusação por corrupção, presidente promete bilhões de reais para emendas, cria cargos comissionados e atende a demandas de bancadas. Governo já cogita inclusive rever meta fiscal. Medidas adotadas contrastam com discurso de […]

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(Crédito: Fotos Públicas)

No DW

Quanto a tentativa de salvar Temer de denúncia custa ao Brasil

Às vésperas de votação na Câmara sobre acusação por corrupção, presidente promete bilhões de reais para emendas, cria cargos comissionados e atende a demandas de bancadas. Governo já cogita inclusive rever meta fiscal.

Medidas adotadas contrastam com discurso de “sacrifício” que Temer evocou ao assumir o governo
A poucas horas de enfrentar a sessão na Câmara dos Deputados que pode definir o futuro do seu governo, marcada para esta quarta-feira (02/08), o presidente Michel Temer tem usado sem cerimônia a máquina federal para conquistar votos de deputados.

Sua “campanha” inclui a promessa de bilhões de reais para emendas parlamentares e projetos em municípios e estados, criação de cargos comissionados e atendimento de demandas específicas de bancadas.

As medidas contrastam com o discurso de “sacrifício” que Temer evocou ao assumir o governo em 2016. Para se salvar de uma eventual admissão pela Câmara da denúncia criminal por suspeita de corrupção, o presidente pode gastar mais de 17 bilhões de reais apenas em emendas parlamentares e verbas destinadas para governos e prefeituras.

Ao ceder em projetos dispendiosos de deputados e criar mais cargos, Temer parece também estar jogando uma pá de cal na política de ajuste fiscal prometida no início do governo.

Emendas

Entre as medidas para convencer os deputados a ficarem ao lado do governo, a mais explícita tem sido o direcionamento de verbas para emendas – recursos pedidos pelos deputados que normalmente são gastos em suas bases eleitorais. Entre o início de junho e o final de julho, período em que o escândalo da JBS veio à tona, o governo destinou 4,1 bilhões de reais para esse fim. No acumulado do ano até maio – antes do caso JBS –, o governo havia empenhado apenas 102,5 milhões de reais.

Pelas regras, parlamentares governistas ou da oposição são contemplados com a mesma cota, só que o governo é que estabelece o ritmo da distribuição. De acordo com a ONG Contas Abertas, parlamentares que declaram abertamente apoio ao governo Temer receberam em média a promessa de 1 milhão de reais a mais do que os deputados que vão votar pela aprovação da denúncia.

A estratégia das emendas foi usada pela antecessora de Temer, Dilma Rousseff. Nas semanas anteriores à votação de seu impeachment pela Câmara, a presidente anunciou a distribuição de 3,2 bilhões de reais.

No caso de Temer, o laboratório para a tática foi a votação da denúncia pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, que fez a análise preliminar da denúncia na primeira quinzena de julho. Trinta e seis dos quarenta deputados que votaram a favor do presidente foram contemplados com 134 milhões, segundo a Contas Abertas. O campeão foi justamente o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que apresentou o novo relatório favorável ao presidente. No total, ele deve receber 5,1 milhões de reais.

Deputados da oposição vêm criticando a distribuição de recursos. Segundo Chico Alencar (PSOL-RJ), a destinação de tantas verbas para emendas “caracterizam evidente compra de votos, com consequências de obstrução à Justiça”.

Mais verbas e cargos

A distribuição de recursos não passa só pelo Legislativo. Após atravessar 2016 falando duro com estados da federação que estão atolados em dívidas, o governo parece ter mudado de ideia após o escândalo da JBS.

No dia 12 de julho, o Planalto anunciou a liberação de 11,7 bilhões de reais para apoiar o financiamento de obras e concessões de infraestrutura em estados e municípios. No dia seguinte, foi a vez de o Ministério da Saúde anunciar um investimento de 1,7 bilhão de reais para a rede de atenção básica no país, incluindo a compra de ambulâncias para 1787 municípios. As duas medidas foram anunciadas horas antes da votação da denúncia pela CCJ.

Além de direcionar recursos, o governo também abandonou sua propagandeada política inicial de reduzir o número de cargos comissionados. Segundo a Contas Abertas, entre maio e junho, o governo criou mais de 500 funções do tipo na administração federal, elevando o total para 20.321.

A liberação das verbas e criação de cargos também ocorre em um momento em que o governo prevê um rombo de 139 bilhões de reais nas contas públicas. Segundo o Ministério do Planejamento, tanto o envio de recursos para estados e municípios é um “procedimento absolutamente normal”. Já o empenho das emendas, segundo a pasta, é “um procedimento obrigatório previsto na Constituição e na legislação orçamentária”.

Ajuste fiscal em risco

A União tem a receber cerca 300 bilhões de reais em dívidas. Para tentar convencer os devedores – empresas e pessoas físicas – a quitarem os débitos, o Planalto pretende passar um projeto de lei para criar mais um programa de refinanciamento, ou Refis.

Na versão originalmente promovida pelo Planalto, o Refis de 2017 pretendia arrecadar pelo menos 13,3 bilhões ainda neste ano. Só que precisando de apoio, o governo pouco fez para impedir em 17 de julho a aprovação por uma comissão mista de um novo relatório que prevê descontos no Refis que podem chegar a 99%.

A iniciativa partiu de um deputado do próprio partido do presidente: Newton Cardoso (PMDB-MG). O texto ainda precisa ser votado no plenário da Câmara. Caso a medida passe, nem 500 milhões de reais devem chegar aos cofres do governo.

Nesta segunda-feira, o jornal Folha de S. Paulo informou que os ministérios da Fazenda e do Planejamento já cogitam ter que rever a meta fiscal e aumentar a previsão de déficit em 2017.
Não se sabe se Temer pretende usar o veto para confrontar os deputados, que têm em suas mãos o futuro da Presidência. Pelo menos 76 deles parecem diretamente interessados na aprovação de um Refis mais generoso. Empresas ligadas a eles devem 217,8 milhões de reais, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.

Outros 29 deputados têm 18,9 milhões de débitos inscritos em seus próprios CPFs. Até mesmo o relator Cardoso é um devedor. Empresas ligadas a ele devem 51 milhões de reais.
Reivindicações das bancadas

Sentindo o enfraquecimento do governo, bancadas da Câmara têm pressionado o Planalto para que suas demandas sejam atendidas. Em julho, a bancada ruralista conseguiu do governo a sanção da “medida provisória da grilagem” – como foi chamada por ambientalistas –, que prevê a legalização em massa de terras públicas invadidas.

Dias depois, o presidente aprovou um parecer da Advocacia-Geral da União que prevê que um entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a criação da reserva indígena Raposa Serra do Sol passe a valer para todas as demarcações.

Pelo entendimento do STF, só são terras indígenas as ocupadas por índios na data da promulgação da Constituição de 1988. A decisão do STF não tinha efeito vinculante, mas a bancada convenceu o presidente do contrário. O Ministério Público Federal classificou a medida como um retrocesso para a causa indígena no Brasil.

O deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), coordenador da Frente Parlamentar Mista da Agricultura, já disse que vai votar a favor do presidente. “É inegável que com Temer muitas pautas históricas defendidas pela bancada foram atendidas”, disse Leitão ao Estado de S. Paulo.

Já a Frente Parlamentar Evangélica conseguiu do governo em junho que o Ministério da Educação ordenasse o recolhimento de 93 mil exemplares de um livro de contos. A temática de incesto de um dos contos – que narrava a história de um rei que deseja se casar com uma de suas filhas – revoltou os evangélicos que compõem a Comissão de Educação da Câmara. A resposta do ministério mostrou que o governo vem cedendo para o grupo.

Segundo um levantamento de O Estado de S. Paulo, 80% dos 213 parlamentares que não divulgaram até agora como vão votar na sessão que vai analisar a denúncia contra Temer fazem parte de uma das bancadas “BBB” (boi, bala e Bíblia).

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Augusto Carlos M. Moraes

01/08/2017 - 16h14

O cafezinho está esperneando à toa… Temer não vai cair, não é tão ignorante quanto Dilma… Fato!

Emília Shwartz Peixoto

01/08/2017 - 16h12

Mas essas verbas de emendas parlamentares são distribuídas assim mesmo. E os deputados às utilizam para investirem nas suas bases eleitorais, em forma de creches, postos de saúde, colégios, compra de ambulância, obras de infra-estrutura. Esse repasse já é previsto em lei, em todos os governos é assim, não há nada de ilegal ou anti-inconstitucional. Além de ser a forma mais fácil e direta do governo federal investir nos municípios.
Esse texto é tendencioso e procura fazer tempestade num copo d’água.

    Miguel do Rosário

    01/08/2017 - 17h04

    Emilia, dinheiro para saúde deveria ser gerido pelo ministério da saúde, para que as ações sejam integradas, e não bagunçadas.

    Brasileiro

    01/08/2017 - 19h14

    Dilma fez a mesma coisa….

Sidnei

01/08/2017 - 16h09

Ele já apertou o botão F de Dane-se…
o botão F.

Quanto tempo até arrumar este país de novo?

Clá

01/08/2017 - 15h45

Ah, outra coisa que a população nem imagina e que é respaldada pela mesma PEC 55 é o jorrar de dinheiro público para o sistema financeiro, dinheiro este proveniente dos impostos que o campo social paga e que, nos próximos 20 anos, não teremos nenhum retorno em bens e serviços. Miguel, se você não fizer esse esclarecimento à população, quem vai fazer? O Merval?

Clá

01/08/2017 - 15h41

Miguel: você precisa esclarecer aos leitores – e à população em geral – que em 13 de dezembro de 2016 foi aprovada a PEC 55 (hoje EC95) e que, por meio deste “dispositivo”, o chefe do Executivo fica autorizado a manejar os recursos públicos de acordo com as prioridades do momento, ou seja, como bem entender. Quando eu panfletei a PEC 55 e expliquei às pessoas como era seu funcionamento, eu fui muitas vezes chamada de “petista desgraçada”. As pessoas diziam: “Você é contra o Temer, então é uma petista desgraçada”. Hoje, quando eu escuto as reclamações a respeito da gastança irrefreável de dinheiro público, eu digo às pessoas que o que está sendo feito (as paralisações na Polícia Rodoviária Federal, a pausa na emissão de passaportes, a míngua dos recursos do Ciência sem Fronteira, do Minha casa minha vida, do PAC ) é absolutamente constitucionais, porque é respaldado pela maldita PEC 55, que NÓS, DO CAMPO SOCIAL, deixamos que aprovassem. O que as pessoas me dizem hoje? “Ah, então você é a favor do Temer, a favor da corrupção!” Tudo isso acontece por um único motivo: a população não só não compreendeu como funciona a PEC 55, como já esqueceu que ela foi aprovada. Se não houver um jornalista que tenha a cara e a coragem de explicar, em linguagem cotidiana, o que é, como funciona e quais os efeitos desse maldito “dispositivo”, a população vai se deparar, dia após dia, com miséria, desigualdade e outras barbaridades, sem entender, absolutamente, por quê isso está acontecendo. Miguel, por gentileza, escreva sobre isso. Será um diferencial para o seu blog – visto que ninguém ainda o fez – e, certamente, um grande serviço ao campo social. Eu aguardo um posicionamento seu a este respeito.


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