O buraco negro e a política

Hoje eu li no Estadão que cientistas da Califórnia descobriram dois buracos negros, cada um deles dez bilhões de vezes maior que o Sol, o que me fez pensar na seguinte questão: o PSD vai conseguir aumentar a sua verba partidária e ampliar seu tempo de TV?

Pensei nisso porque inicialmente senti uma ponta de inveja dos cientistas que estudam essas coisas, enquanto eu perco meu tempo analisando notícias aparentemente insignificantes e enfadonhas.

Depois lembrei, porém, que os fatos mais irrelevantes da nossa política correspondem, em última instância, a intercâmbios moleculares da mesma qualidade daqueles observados a 300 milhões de anos-luz de nosso planeta.

Eu não sei bem o que pretendo dizer com isso, mas deixemo-lo à guisa de  introdução. Talvez eu consiga, ao longo desse texto, descobrir uma relação mais consistente, nem que seja puramente retórica.

Hoje os jornais se esforçam em provar que Dilma errou ao não demitir Lupi na quinta-feira. Alguns colunistas, ainda um tanto embrigados com a euforia da vitória, afirmam que a presidente tem que ser mais obediente à mídia. Não adianta demitir alguns dias depois, tem que ser na hora ordenada. No Estadão, a mensagem vem expressa no editorial  e na coluna da Dora Kramer. No Globo, escreve-se a mesma coisa também num editorial e o Merval aborda o tema, mas num texto confuso, onde fala de João Havelange, Lupi, Tunísia e Rousseau; faltou pouco para adotar o estilo Candido Mendes, que escreve em sânscrito, embora utilize a língua portuguesa.

O Globo estampa na capa do site a seguinte manchete:

Que aliás também ocupa a página principal do caderno de politica da edição impressa, com direito a uma chamada na parte superior da capa.

É interessante ler a matéria para verificar como age um jornal quando realmente quer investigar a fundo a vida de um político. Todos aqueles que tiveram relações comerciais com o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, são abordados de maneira quase agressiva. Tem-se a impressão, também, que a matéria é uma tentativa de escândalo, mas ainda não bem sucedida. Claro que a descrição em detalhes da renda alheia gera aquela irritação lacerdista tradicional, mesclada à inveja, cujos exemplos a seção de comentários do site deve estar repleta. Mas não há nada de concreto contra o ministro, que tem se defendido com bastante eficácia. Até porque Pimentel, independente se goste dele ou não, é evidentemente um cara bem mais fino e preparado que Carlos Lupi ou qualquer outro ministro defenestrado este ano.

Hoje temos algumas notícias sobre a Lei de Acesso a Informações Públicas, outro marco no Estado brasileiro, que o transforma num dos mais transparentes do mundo. Esse é um fator fundamental para explicar a fragilidade de setores do governo diante da imprensa. A transparência enfraquece o governo, mas fortalece o Estado, o que tem um lado bastante positivo. Em meio a tantas injustiças, manipulações, pautas tendenciosas, sensacionalismo, denúncias seletivas, a transparência cada vez maior do aparelho federal corrói fatalmente antigas práticas e comportamentos no interior dos ministérios. As crises ministeriais correspondem a febre e seu mal estar, que porventura podem até piorar a situação do paciente. Mas significam também o caminho de cura.

Por fim, reproduzo abaixo uma fotografia que tirei do Estadão desta terça-feira, com um belo gráfico abordando a possível reforma ministerial.

Não consegui pensar numa conexão lógica entre a política nacional e buracos negros, que justificasse o uso da comparação no início o post. Talvez o leitor pense em alguma coisa.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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