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Caso Pimentel faz Dilma mexer a sobrancelha

Os jornalões de São Paulo acordaram neste sábado pensando na Europa, e O Globo estampou manchete sobre os túneis do Rio. Os ataques à Pimentel continuam ferozes, mas apesar de ocuparem a maior parte dos cadernos políticos, a artilharia perdeu bastante a força, e o ministro conseguiu marcar alguns pontos importantes.

4 comentários
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Os jornalões de São Paulo acordaram neste sábado pensando na Europa, e O Globo estampou manchete sobre os túneis do Rio. Livro do Amaury? Claro, nem pensar. Sobre o tema, você precisa consultar a blogosfera, que ainda está digerindo a obra. Luis Nassif publicou um post hoje onde chama o livro da maior reportagem investigativa da década. Há também essa matéria na Record, furando o bloqueio.

Os ataques à Pimentel na mídia continuam ferozes, mas apesar de ocuparem a maior parte dos cadernos políticos, a artilharia perdeu força, e o ministro conseguiu marcar alguns pontos importantes:

  • Deu entrevista à Fernando Rodrigues, da Folha, prestando esclarecimentos bastante convincentes, com um mérito: o texto no site, aberto a não-assinantes, está mais completo do que o publicado na edição impressa.
  • Dilma entra no jogo de forma muito mais assertiva do que das outras ocasiões, praticamente ordenando que Pimentel resista bravamente a esta prova. Com isso, ela desvia parte da agressividade da mídia para ela mesma, que tem muito mais força. Como observou Maria Inês Nassif, em artigo recente publicado na Carta Maior, a presidente é o único representante com força para protagonizar a luta política contra a mídia de oposição.
  • Seria exagero afirmar que Dilma comprou a briga de Pimentel; para descrever com mais precisão as sutilezas da política, melhor seria dizer que a presidente mexeu as sobrancelhas, num delicado mas direto sinal de que a generala dessa vez pode entrar no ringue, se for preciso.
  • Aécio Neves faz declarações tão protocolares e brandas sobre Pimentel que soaram mais como apoio do que outra coisa.
  • O governador de Minas Gerais, o tucano Antonio Anastasia, defendeu enfatica e corajosamente Pimentel, chamando-o de  “amigo”.
Outro sinal de arrefecimento é o fato do Globo, em vez de atacar o Pimentel na página 3, publicar aí uma reportagem – bastante ridícula, aliás – sobre a inclusão, no orçamento para 2012, de verbas para emendas parlamentares junto aos ministérios de Turismo e Esporte. Escandalizar sobre verbas que ainda nem se sabe como e se serão usadas (pois sempre sofrem cortes e contenções) me parece uma tremenda forçação de barra. Ainda mais quando se sabe que Turismo e Esporte precisam mesmo da maior quantidade possível de recursos por causa da proximidade da Copa e Olimpíadas.
Na mesma página há destaque para foto de protestos anticorrupção, no Rio e São Paulo, com a presença, cada um, de sessenta pessoas…
A Veja aparece, por sua vez, com uma denúncia da época do mensalão, através da divulgação de gravações fornecidas, com exclusividade, pela Polícia Federal. A gravação mostra dois petistas armando a falsificação de documentos para incriminar políticos graduados da oposição, com objetivo de chantageá-los a não abrir uma CPI.  É uma denúncia grave, mas não a ponto de poder deflagrar uma crise política, pelos seguintes motivos:
  • A própria revista informa que o caso está sendo, republicanamente, investigado pela Polícia Federal, que é aliás tão “republicana” a ponto de entregar áudios sigilosos à Veja, o maior agente de oposição ao governo.
  • É um caso antigo, do início de 2006, pertencente a outro governo, e envolvendo nomes hoje afastados da direção do PT. Os deputados envolvidos nem integram mais o partido – migraram para o PDT.
  • A suposta chantagem não surtiu resultado: a CPI foi montada. Aliás, foram feitas várias CPIs na época, inclusive com apoio dos próprios partidos aliados.
  • No site, vemos uma foto gigante de José Dirceu; nada mais clichê. Toda vez que a mídia fica sem assunto para atacar o PT, publica uma foto do Dirceu em destaque.
De resto, temos um artigo de Guilherme Fiúza, tentando morder a Dilma, através do caso Pimentel, mas com dentes que não me parecem muito afiados. Fiúza é o novo enfant terrible do antipetismo midiático, e vem se dedicando exclusivamente a essa tarefa. Às vezes consegue dar uma boa mordida, mas vem se repetindo muito, e seus ataques perdem força por causa disso. O artigo de hoje traz incoerências lógicas gritantes, como ao afirmar que Pimentel já sabia que Dilma ganharia as eleições e que ele seria ministro – que usa como premissa para insinuar que ele praticou tráfico de influência. Tráfico de influência só se pratica quando já se é uma autoridade. Pimentel usou, obviamente, a sua influência, a sua experiência, a sua proximidade com o poder, para vender mais caro seus serviços. Se fosse um zé-ninguém, ninguém lhe contrataria. Mas tráfico de influência é um crime específico, cuja definição é bastante clara na Constituição, e mesmo assim tem sido extremamente difícil para a Justiça tipificá-lo e condenar as pessoas acusadas. Se formos começar a acusar não quem está no poder, mas quem pode vir a estar daqui a um ou dois anos, estaríamos extrapolando totalmente a questão legal, ou mesmo racional, inviabilizando qualquer sistematização concreta do combate a esse crime.
Merval Pereira também aplica umas dentadas em Pimentel, e parece muito feliz com seu novo achado genial: chamar Pimentel de “(ainda) ministro”. Assim mesmo, com o ainda entre parênteses, repetindo a expressão várias vezes. A arrogância de Merval reflete o deslumbramento da mídia com o sucesso de sua última caçada ministerial.
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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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paulo

12/12/2011 - 04h22

O pig nacional tentando detonar a imagem da presidenta Cristina http://www.youtube.com/watch?v=ce0LoAQ0O7M

_spin

11/12/2011 - 08h47

Este silêncio sepulcral diante do roubo de bilhões por tucanos. Incrível como a imprensa consegue se combinar ali na esquina para não dar um piu sobre questões graves e fazer o maior barulho diante de questiúnculas como o caso Pimentel. Este problema da mídia tem que ser encarado por todos os brasileiros, caso queiramos um país melhor. Se deixarmos, vai prevalecer este mundo fétidos dos jornalistas tipo Merval Pereira, Miria Leitão, Mainardi, Tio Rei…Incrível o poder de coesão e sincronia desta gente, isso não podemos negar. Se eles combinam para ninguém dar um piu acerca de um assunto, isso é obedecido por todos. Se combinam fazer o maior barulho para derrubar um ministro todos os tambores passam a rufar sem intervalo. As razões nós sabemos http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-report

Elson

11/12/2011 - 04h36

A mídia vai continuar a bater em Pimentel por mais tempo , é capáz que eles encontrem algum desafeto do tempo em que ele cursava a 4° série para acusa-lo de ter colado alguma prova ou ter cabulado aulas só para mantê-lo na alça de mira por mais um tempo . É a mídia Goebeliana , estão tentando re-escrever nosso código criminal transformando trabalho em crime .

baixadacarioca

10/12/2011 - 16h27

Cara, diferente do Lupi que eu disse que seria questão de tempo, essa sobre o Pimentel partindo dO Globo, sinto que não vai dar em nada – o que aliás eu acho: nada. Quer dizer que o cara não pode ser consultor e o FHC pode? O Cerra (PHA) pode? o Maílson da Nóbrega pode? O Ricúpero pode? E FHC pode cobrar centenas de reais e Pimentel não pode cobrar dezenas? Rapaz, As organizações (criminosa?) Globo não dá uma dentro!


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