Bahia: Refinaria privatizada provoca desabastecimento de Gás de Cozinha

Batendo cabeça

Por Miguel do Rosário

03 de maio de 2012 : 11h16

Um comprador anônimo arrematou o Grito, de Munch, por US$ 119 milhões, em leilão realizado ontem em Nova York. Sugiro que os membros da CPI investiguem se Cachoeira não andou ligando para os States…

Seja como for, quem está prestes a dar um grito semelhante ao personagem da pintura norueguesa é o leitor de jornais que tenta se informar sobre política. A cobertura midiática da CPI continua batendo cabeça. Cada jornalão fala uma coisa, e cada dia apresenta-se uma versão totalmente diversa da feita na véspera.

No Globo, o Merval inicia sua coluna em tom paranóico:

A reunião administrativa da CPI do Cachoeira foi cheia de indícios que confirmam que o governo vai tentar manipulá-la para proteger os seus e atacar a oposição.

A paranóia escala um degrau logo em seguida:

Usar o rolo compressor da maioria para utilizar a CPI para uma tentativa de aniquilamento político da oposição, colocando até mesmo o procurador-geral da República como suspeito no banco dos réus metafórico, como vingança pelas denúncias do mensalão, pode parecer a curto prazo vantajoso para o governo, mas será pernicioso para a atividade política a longo prazo.

Estaremos trilhando um caminho autoritário muito perigoso para a democracia brasileira.

Merval delira, ou melhor, distorce. Quem denunciou o mensalão não foi o atual procurador, mas o anterior, Antonio Fernando Barros e Silva de Souza. O atual foi reconduzido pelo próprio governo, e a mídia acusou-o, ano passado, de beneficiar o governo quando decidiu não denunciar o então ministro Antonio Palocci.

O debate sobre levar ou não o atual procurador a depor na CPI tem como razão o fato dele ter engavetado um inquérito da Polícia Federal que trazia fortes denúncias contra o senador Demóstenes Torres, bem antes de estourar a operação Monte Carlo.

Gurgel explica que o fez para não atrapalhar justamente a Monte Carlo, e de fato, caso encaminhasse a denúncia na época, seria muito difícil que tivéssemos o material que temos hoje. O esquema Cachoeira reveria completamente a segurança de suas comunicações.

Mas é um dilema complicado, porque, por outro lado, a passividade de Gurgel permitiu que o esquema Cachoeira continuasse agindo, e roubando, então os senadores e deputados querem entender que balança o procurador usou para decidir se era melhor agir logo ou esperar.

Gurgel não poderia saber, de antemão, os resultados da Monte Carlo. Se soubesse, valeria a pena esperar, tudo bem. Mas ele não sabia, então a sua postura tem algo de estranho sim. Ou não, tudo depende dos argumentos que ele usar.

A CPI não está acusando Gurgel de nada, e sim pedindo que ele se explique. Acusar Collor de querer se “vingar do mensalão” é absolutamente ridículo. Collor se beneficia e se beneficiou do desgaste petista causado pelo mensalão, visto que o PT não lhe dá votos. Ao contrário, a base política de Collor é o antipetismo alagoano.

No Estadão, a chamada na capa e a matéria da página A4 seguem na contramão da paranóia mervalista.

A mídia ainda está profundamente desconfiada. Um dia dá loas à CPI, no outro a detrata. Seu apoio oscila na medida em que se sente mais ou menos segura sobre sua influência nos rumos do inquérito.

É preciso notar, no entanto, que a blindagem maior quem está fazendo é justamente a mídia, ao sonegar ao público um dos aspectos mais importantes da investigação: a relação do esquema Cachoeira com a revista Veja. Não são um ou dois episódios. São dezenas, envolvendo escutas ilegais, ataques políticos, e interesses financeiros diretos da máfia Cachoeira.

Esta é a grande batalha, ainda meio surda, abafada, nos bastidores da CPI. O Panorama do Globo cita inclusive criação de uma frente parlamentar, juntando membros do governo e da oposição, apenas para evitar que a CPI ataque a imprensa. Que parlamentares são esses? Que ataques à imprensa?

Com exceção das bravatas colloridas, não tem ninguém atacando a imprensa, e sim denunciando o conluio entre o esquema Cachoeira e a Veja.

*

Mais um podre: Cachoeira e Demóstenes falam sobre depósitos em paraísos fiscais. Outro: Marcelo Miranda, eleito senador por Tocantins, mas impedido de tomar posse por decisão judicial, fazia parte do esquema Cachoeira. Aliás, um dos objetivos da CPI é verificar até onde se estendiam os tentáculos de Cachoeira no governo de Tocantins, tocado por Siqueira Campos (PSDB).

*

Brizola Neto nem assumiu, e já se tornou alvo de artilharia pesada da imprensa conservadora. O editorial do Estadão desta quinta-feira chega a ser engraçado. Não faz nenhuma acusação concreta, apenas balança um revólver abstrato e faz cara de mau. É um texto desequilibrado, incoerente, confuso. Numa hora fala que a presidente loteia o ministério aos partidos, no outro diz que a escolha de Brizola foi pessoal. A maior besteira, no entanto, é quando sugere que a presidente não deve prestar satisfação a nenhum partido na hora de montar sua equipe. Ou seja, o mesmo jornal que vive brandindo paranóias sobre tendências totalitárias do PT, quer que a presidente assuma uma atitude totalitária na hora de escolher seus ministros. Nem vale a pena se estender muito. O Estadão já fez ataques melhores.

*

Ainda no Panorama do Globo, uma notinha que diz muito sobre as aflições políticas do PSDB.

Defender um bandidinho de terceira como Leréia, outro lacaio de bandido, que usava o cargo até para conseguir vistos para familiares de Cachoeira, é o fim da picada!

Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Apoie O Cafezinho

Crowdfunding

Ajude o Cafezinho a continuar forte e independente, faça uma assinatura! Você pode contribuir mensalmente ou fazer uma doação de qualquer valor.

Veja como nos apoiar »

9 comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário »

Werner_Piana

06 de maio de 2012 às 15h27

a verdade é que aqueles que se (DES)informam apenas pelo PIG – a grande maioria da população, visto que comparativamente a audiencia de "blogs sujos" é comparativamente infima, está perdida, sem entender bulhufas, além dos obvios bandidos cachô e demostenes, além é claro do Agnelo, como um colega anti-trabalhista e amante do PIG gosta de pontuar… e muitos destes usuarios piguistas tem 4ª grau de escolaridade… educação formal não tira ninguem da ignorancia, do analfabetismo politico. Pena!

Responder

Elson

04 de maio de 2012 às 05h36

Pobre do brasileiro que se informa pelo PIG , fica mais burro a cada dia que passa .
Essa CPMI não deveria apenas investigar Cachoeira e seus cumplices , deveria trazer para a pauta do Congresso debates importantes como a regulação da mídia e o financiamento público de campanhas , que são assuntos que já passaram da hora de serem debatidos .
Quanto ao Brizola Neto , é como disse alguém :" Se a mídia não gostou , é por que foi uma boa escolha" , para o Brasil e os trabalhadores .

Responder

Alvaro

03 de maio de 2012 às 16h51

O Merval é engraçado. Consegue escrever um artigo inteiro sobre a CPMI sem citar uma única vez as palavras "DEM" e "Demóstenes", mas consegue enfiar nelas, "Lula", "José Dirceu" e "Mensalão". Ele é realmente muito divertido. Comparável somente ao impagável ex-cineasta Arnaldo Jabor, em suas manhãs furiosas na CBN.

Responder

J Fernando

03 de maio de 2012 às 14h01

"Torres explica que o fez para não atrapalhar justamente a Monte Carlo, e de fato, caso encaminhasse a denúncia na época, seria muito difícil que tivéssemos o material que temos hoje."
Não seria Gurgel ao invés de Torres?
Obs.: Não há necessidade de publicar o comentário.

Responder

Adriano Matos

03 de maio de 2012 às 12h48

Acertaste em cheio Miguel! A mídia tenta blindar e manipular a CPI, da forma exata com que acusa o PT. Mas eles não representam o povo, não têm mandatos.

Pela primeira vez o "quarto poder" tem seu telhado de vidro exposto. Por enquanto se protegem. Abandonarão a veja, porém, se a CPI for destemida e investigar fundo, pois os indícios de crime são contundentes. Ao fim, perderão parte do poder usurpado e, esse é o momento para pressionar pela regulamentação da atividade jornalística e do direito de resposta. Por uma lei da mídia.

Sei das tuas reservas em relação a esse assunto, mas a CF já protege a imprensa e o direito de crítica e de veicular opiniões. O que falta, eu acho, é uma lei infraconstitucional para limitar o abuso dessa liberdade.

Responder

Luiz M. de Barros

03 de maio de 2012 às 11h38

Que pena que as pessoas nao tenham quao importante acessar posts como esse. Cristalino

Responder

Helena Vargas

03 de maio de 2012 às 11h27

Tem uns membros da CPI que sequer escondem que seu único objetivo é parecer na TV. Ridículo.

Responder

Verúcia Cabral

03 de maio de 2012 às 11h27

A bomba está armada mesmo é no governo Marconi Perillo. Ali a coisa fede.

Responder

Deixe um comentário