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Lula e o julgamento da história

A história pode ser implacável, mas não é inclemente. Quer dizer, o julgamento da posteridade é livre dos pudores e receios que poluem os acontecimentos presentes, por isso é implacável; mas sabe perdoar o erro de poderosos e os excessos das multidões e portanto não é inclemente.

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A história pode ser implacável, mas não é inclemente. Quer dizer, o julgamento da posteridade é livre dos pudores e receios que poluem os acontecimentos presentes, por isso é implacável; mas sabe perdoar o erro de poderosos e os excessos das multidões e portanto não é inclemente. Getúlio Vargas cometeu muitos erros, como prender Graciliano Ramos e mandar Olga Prestes, grávida, de volta à Alemanha nazista, onde iria morrer num campo de concentração. Mas a história o perdoou em virtude de suas ações, que marcaram efetivamente não apenas o fim da república velha como se tornaram os fundamentos do Brasil moderno. Hoje pouca gente sabe disso, até porque a imprensa não comenta, mas foi Getúlio quem moralizou a burocracia, com a instituição de concursos e planos de carreira. Afora todas as outras coisas que fez, entre elas dar início à nossa indústria de base e criar as leis trabalhistas.

As multidões também erram, geralmente por causa de suas paixões, excessos, descontroles, como ocorreu na revolução francesa. Os impulsos mais heróicos e mais fundamentais da revolução francesa nasceram do povo. A tomada da Bastilha, símbolo maior da opressão totalitária da monarquia francesa, nasceu de uma ação espontânea. Histórias de solidariedade, bravura, e inteligência fora do comum, são abundantes nas descrições das revoltas populares que obrigaram a Europa a ser mais justa e mais humana com sua população. E igualmente não faltam narrativas de crueldade, linchamentos, traições, estupros em massa, inomináveis covardias, por parte das massas, sobretudo durante as turbulências que sucedem as revoluções.

A memória histórica, todavia, assim como a nossa própria consciência, prefere sempre guardar os momentos bons. E não por um chapa-branquismo inerente à sociedade, mas porque, depurados os fatos e as consequências, a conta dos prós e contras fica muito nítida, e podemos julgar o passado com muito mais imparcialidade do que podiam aqueles que viviam atemorizados pelo ruído das bombas e dos escândalos.

Dito isto, voltemos à polêmica aliança entre o PT e Maluf, que tanta controvérsia gerou nos últimos dois dias. Erundina, depois de ameaçar abandonar o barco, deu entrevistas dizendo que não era de “recuar”, indicando que permanecia vice-candidata de Haddad. Algumas horas mais tarde, porém, mudou de ideia novamente e o presidente do PSB, Eduardo Campos, admitiu que ela não mais faria parte da chapa do PT nas eleições paulistanas.

A candidata foi alçada, naturalmente, à condição de campeã nacional da ética. Os jornais amanheceram tecendo loas a Erundina. Lula, mais uma vez, apanhou feio. Colunas e editoriais capricharam na artilharia contra o ex-presidente.

O PT, por sua vez, passou a sofrer uma espécie de bullying virtual por parte da ultraesquerda, a quem a foto de Maluf com Lula e Haddad serviu maravilhosamente a seu objetivo de pintar o partido como uma legenda conservadora. O PSOL ganha status, sobretudo entre os jovens, toda vez que o PT mergulha no pragmatismo.

Seja como for, Lula conseguiu realizar ao menos um objetivo: rompeu o anonimato de Haddad, e o botou na boca do povo.

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Sua estratégia pode ser avaliada segundo vários parâmetros: partidário, político, ideológico, eleitoral, simbólico, pragmático. Pode ter sido um erro em alguns desses aspectos, e acerto em outro, mas uma avaliação neutra só será possível após a avaliação de seus desdobramentos futuros. Haddad irá ganhar ou perder? Se ganhar, que tipo de governo fará? Fazendo um governo assim, como reagirá a cidade? Quais serão as consequências reais para a sociedade paulistana? Quais os reflexos disso para o Brasil como um todo?

A própria Erundina deixou claro que o problema não foi a aliança com o PP, que afinal é um partido que compõe a base do governo federal há dez anos. O PSB também jamais se caracterizou pelo purismo não-aliancista, tanto que participou dos governos Alckmin e Kassab até poucas semanas atrás. O problema foi a foto.

Erundina, contudo, tornou-se há algum tempo um quadro de “opinião”, com poucas ligações com seu partido. A polêmica em que se meteu lhe trouxe grande projeção midiática, embora seja injusto acusá-la por isso. Ao contrário, a imagem fortalecida de Erundina poderá servir à campanha de Haddad, caso a deputada participe de sua campanha.

O único erro de Erundina, e um erro grave, foi sua lamentável indecisão. Declarou apoio, desistiu, asseverou em seguida que não recuava; e por fim recuou. Ninguém questiona sua integridade, mas não é aconselhável para nenhuma força política depender de um quadro que se move ao sabor das redes sociais. Não que estas não sejam importantes. São sim, claro, mas também são instáveis, e representam ainda um setor minoritário. Pelo que se pode depreender de sua entrevista ao Estadão, ela teria decidido pular fora do barco porque foi “atacada pelas redes sociais”.

No debate suscitado pela foto de Lula-Maluf-Haddad ressurgiram as velhas xaropadas contra a política, contra o aliancismo, contra os partidos, contra o Brasil. E houve confusão novamente com a figura de Lula, sobre quem valem algumas observações.

  • Lula jamais foi um esquerdista tradicional. E por isso até hoje a esquerda tradicional não consegue entender Lula. Ele nasceu em oposição aos conceitos fechados ideológicos. Ascendeu como sindicalista pregando o diálogo com patrões, na tentativa de arrancar deles não a sua cabeça, mas concessões concretas que melhorassem a vida do trabalhador.
  • Lula se opôs a Maluf e a Sarney, por exemplo, quando estes eram seus adversários políticos e tentavam impor suas ideias a ele. A partir do momento em que Lula ganhou a disputa, e estes passaram a apoiar os seus projetos de governo, Lula não mais os considerou como adversários. O ex-presidente sempre foi um pragmático, uma virtude que lhe valeu a admiração de todos os setores sociais, e do mundo inteiro.
  • Mesmo aceitando o apoio de Maluf a seu governo, a Polícia Federal prendeu o deputado. Ou seja, o PP pode até fazer indicações políticas para cargos no governo, como é de praxe num esquema de coalização, mas o monitoramento ético segue com independência. As ações de eventuais aliados de Maluf no governo serão acompanhadas pela CGU, monitoradas pela sociedade através do Portal da Transparência, e julgadas pelo Tribunal de Contas.  Essas instituições se fortaleceram muito nos últimos anos.

Outro ponto que merece consideração remete à uma confusão constante acerca do conceito de aliança política. Marta Suplicy também teve apoio de Maluf nas eleições de 2008. A diferença é que não tirou foto. Mas teve apoio. Também recebeu críticas por isso. Os argumentos usados então, valem hoje: o apoio de Maluf não significa influência nos programas centrais de governo, nem alteração dos eixos políticos da campanha.

O deputado federal Jean Wyllys, do PSOL, usou o episódio para detratar pesadamente o PT e o ex-presidente Lula. Acusou-os de fazerem de tudo em busca de poder. Acusou Lula em particular de querer derrotar o PSDB, o que para ele seria fruto de um sentimento de vingança.

Entretanto, é preciso lembrar que Jean Wyllys se elegeu com 13 mil votos, enquanto Lula, bem… não é preciso repetir aqui as perfomances eleitorais do ex-presidente.  Lula entendeu há tempos que ao povo não interessam proselitismos ideológicos para agradar acadêmicos de esquerda e militantes virtuais. O povo quer representantes políticos astutos e pragmáticos que derrotem a direita, assumam o poder e lhes melhorem a vida.

Por mais que essa frase soe brutal, me parece uma grande verdade: o povo não é ético, nem ideológico. O povo é pobre, simplesmente. Precisa de emprego, educação, saúde e um ambiente econômico que lhe permita ascender socialmente. O combate à corrupção, por sua vez, se faz através da implantação de ferramentas de transparência pública e o aperfeiçoamento das instituições de controle. Não cabe a um político do campo popular, diante de um pleito difícil, esnobar apoios. Lugar ladrão e corrupto é na cadeia, mas quem tem o dever de fazer isso são as instituições responsáveis. O Brasil já viu que políticos que se arvoram em polícia e juiz, em mosqueteiros da ética, acabam quase sempre se estrepando. Ou então se tornam reféns da mídia, que afinal é quem dá aval ou não para esse tipo de imagem. Erundina sabe disso, tanto que sua primeira exclusiva durante a polêmica envolvendo a aliança entre PT e Maluf, foi para a revista Veja.

Quem escreve a história, como se sabe, são os vencedores. Lula pode ter cometido um erro crasso ao obrigar Haddad a posar para fotos com Maluf, conforme acusam 10 entre 10 colunistas de jornal. Mas se o petista ganhar a eleição, a aposta do ex-presidente terá sido certeira. Quanto à militância de esquerda, seu protesto contra a foto e contra a aliança é natural, coerente e mesmo necessário, porque estabelece um limite político à candidatura Haddad, dando-lhe substância e sentimento. Mas também um tanto de injustiça, açodamento e incompreensão de política eleitoral e das premências sociais do povo.

Eu também gostaria de falar que Lula errou feio e posar de esquerdista paladino de causas sociais. Tenho dificuldade em fazê-lo porque vislumbro a possibilidade, como eu disse no post de ontem, de ter sido um genial factóide político de Lula com vistas à quebrar o anonimato de Haddad. Lula obrigou a mídia a falar de Haddad, que acabou ganhando uma visibilidade imensa. Lula não pensou em si mesmo, em sua vaidade. Sacrificou sua própria imagem em prol de uma aposta arriscada. Em prol de uma vitória política. Jean Wyllys pode estar muito satisfeito com suas prerrogativas de deputado federal, mas há milhões de brasileiros vivendo em grande dificuldade, a qual só pode ser sanada através de políticas públicas, que por sua vez só podem ser alteradas quando se toma o poder.

Conforme se disse tanto por aí, tentando justificar a aliança entre PT e Maluf, Churchill declarou que se aliaria ao demônio para acabar com Hitler. Poderíamos lembrar também de Prestes, e sua emocionante decisão de apoiar Vargas, que havia deportado sua esposa grávida, nas eleições de 1950.  Independente, porém, da presença de Maluf na chapa petista, o certo é que não é só o futuro de São Paulo que está em jogo nas eleições da cidade. Uma derrota do PSDB provocaria uma profunda crise (mais uma) na oposição e poria em risco a reeleição de Alckmin ao governo do Estado em 2014. A derrota do PSDB, tanto na capital, este ano, como no estado, daqui a dois, representaria a derrota de um projeto de Estado baseado no neoliberalismo, na privatização,  no sucateamento dos serviços públicos. Ou seja, do caldeirão de Lula, onde ele mistura catarro de Sarney, lágrimas de Collor e baba de Maluf, dentre outros venenos exóticos, poderão ser retirados muitas feitiçarias políticas contra os inimigos do povo.
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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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elsonfidofilo@hotmail.com

21/06/2012 - 06h22

Enquanto as esquerdas possuírem políticos ideológicos como Erundina, a direita estará confortável. Afinal, quem disse que Maluf irá governar São Paulo, o PP faz parte da base aliada do Governo Dilma, tem até um Ministério, más está sob rédeas curtas. O Pr foi para o colo do Serra, simplesmente porquê em São Paulo a zorra é total, aqui pode se roubar a vontade, a mídia amiga omite e esconde os descalabros.
Se Lula/Hadad se aliam à Maluf, tanto faz, é importante neste momento chegar ao poder e integrar a maior metrópole da América do sul ao resto país, oque não se pode é ficar com frescuras, isso é uma guerra, e quem está perdendo é o paulistano, que teve sua cidade entregue a um bando de saqueadores.

Garcia Davila

21/06/2012 - 03h21

Receber apoio não tem nada a ver com apoiar

Por: Helena Sthephanowitz, especial para a Rede Brasil Atual

Parte das reações entre petistas ao apoio recebido por Fernando Haddad (PT-SP) do PP, beiram a histeria. Há pessoas se comportando como se fosse o contrário: como se Maluf fosse o candidato a prefeito e como se o PT o estivesse apoiando. A própria desistência da candidata Luiza Erundina (PSB-SP) ao posto de vice-prefeita só aumenta a confusão.

Receber apoio do PP de Maluf não muda nada em Haddad, não muda nada em Lula, não muda nada no PT, não mudaria nada em Erundina, e nem mudará nada na situação de Maluf.

O que seria inaceitável para um petista é se Maluf fosse o candidato a prefeito, e o PT o apoiasse. Aí sim haveria motivo para rupturas. Mas receber apoio de mais um partido, entre alguns, é uma situação completamente diferente e inofensiva.

É do jogo dos serristas, nos putros partidos – mas principalmente na imprensa –, explorarem o assunto e procurarem baixar a guarda e desestimular a militância petista. Mas é muita ingenuidade cair nessa.

Quem tem consciência de seus ideais políticos sabe que receber apoios não muda a personalidade política de ninguém que os recebe, principalmente porque o PP não é um partido tão grande a ponto de exigir concessões que descaracterizem o programa de governo petista.

Baixar a cabeça para esse tipo de crítica é rendição ao adversário, e lembra o sapo que se deixa hipnotizar pela cobra e ser engolido sem reação.

http://www.redebrasilatual.com.br/blog/helena/receber-apoio-nao-tem-nada-a-ver-com-apoiar

Garcia Davila

21/06/2012 - 02h58

Resposta a Nassif sobre Erundina

Por Maurício Caleiro, no blog Cinema & Outras Artes:

O jornalista e blogueiro Luis Nassif publicou hoje um texto, intitulado “Luiza Erundina: tudo por uma foto” em que analisa a renúncia da deputada federal (PSB/SP) à candidatura de vice-prefeita pelo PT/SP, na chapa liderada por Fernando Haddad. O texto que se segue ao mencionado post, abaixo reproduzido, é uma resposta às críticas de Nassif.

*****

“Luiza Erundina: tudo por uma foto”

“Tenho um carinho histórico por Luiza Erundina.

Quando foi alvo de uma tentativa de golpe por parte do Tribunal de Contas do Município (TCM) devo ter sido o único jornalista a sair em sua defesa. Tinha o programa Dinheiro Vivo, na TV Gazeta, de público majoritariamente empresarial. Externei minha indignação que teve ter tido algum peso na decisão do presidente da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) Mário Amato, de visitá-la com uma comitiva de empresários, hipotecando-lhe solidariedade.

Defendia-a também quando operadores do PT criaram o caso Lubeca. E, recentemente, o Blog conduziu uma campanha de arrecadação de fundos, para ajudar Erundina a pagar uma condenação injusta dos tempos em que foi prefeita.

Sempre admirei sua luta pelos movimentos sociais, das quais sou periodicamente informado por irmãs lutadoras.

Por tudo isso, digo sem pestanejar: ao pedir demissão da candidatura de vice-prefeita de Fernando Haddad, Erundina errou, pensou só em si, não nas suas bandeiras políticas nem nos seus movimentos sociais. Foi terrivelmente individualista.

À luz das entrevistas que concedeu ontem, constata-se que os motivos foram fúteis. Estava informada da aliança do PT com Paulo Maluf; chocou-se com a foto de Lula e Haddad com ele. Foi a foto, não a aliança, que a chocou.

A foto tem uma simbologia negativa, de fato. Aqui mesmo critiquei o lance. Mas apenas simbologia. Não se tenha dúvida de que, eleito Haddad, Erundina seria a vice-prefeita plena para a periferia, seria os movimentos sociais assumindo uma função relevante na administração municipal.

No entanto, Erundina abdicou dessa missão, abriu mão de suas responsabilidades em relação aos movimentos sociais, devido ao simbolismo de uma foto. Ela sabia que, eleito Haddad, seria mínima a participação do malufismo na gestão da prefeitura; seria máxima a intervenção de Erundina nas políticas sociais.

Poderia ter dado uma entrevista distinguindo essas posições, externando sua repulsa do malufismo, mas ressaltando a diferença de poder entre ambos.

Mas Erundina se sentiu preterida, não por Haddad, mas por Lula, que deixou-se fotografar com Maluf e não com Erundina.

Seu gesto foi para punir Lula, pouco importando o quanto prejudicaria seus próprios seguidores, os movimentos sociais. Ela abriu mão de um cargo que não era seu, mas de seus representados, para punir Lula.

E quem ela procura para a retaliação? Justamente os órgãos de imprensa que mais criminalizam os movimentos sociais, que tratam questão social como caso de polícia. Coloca a bala no revólver e o entrega à revista Veja. A quem ela fortaleceu? Ao herdeiro direto do malufismo na repulsa aos movimentos sociais: Serra.

Saiu bem na foto da mídia, melhor do que Lula com Maluf, mas a um preço muito superior. E quem vai pagar a conta são os movimentos sociais, pelo fato de sua líder ter abdicado de um cargo que a eles pertencia.”

Fim do texto de Nassif.

*****

Uma primeira questão a ser analisada diz respeito à premissa adotada pelo título e reproduzida pelo post: Erundina teria renunciado “por uma foto”, ou seja, por atenção e holofotes midiáticos. Teria sido mesmo essa sua motivação? Parece pouco provável. Em primeiro lugar, porque Erundina está na política profissional há quase quatro décadas e em nenhum momento demonstrou avidez por holofotes midiáticos – pelo contrário: discrição e a recusa em modelar o seu discursode acordo com o que a mídia quer ouvir são duas características distintivas de sua atuação.

Em segundo, porque, se se mantivesse candidata, ela teria, no mínimo, mais de três meses de exposição diária, sendo que exclusivamente positiva nas propagandas eleitorais. Achar que ela trocou tudo isso por uma exposição momentânea na mídia e a qual, ao mesmo tempo em que a promove, incita ódios exacerbados entre sinpatizantes do partido mais votado do país parece pouco lógico.

O poder da imagem

Além dessa premissa questionável, o texto omite que Erundina renunciou à posição de vice mas se comprometeu a continuar fazendo campanha, ou seja, a atuar junto às bases sociais do partido, embora com menos proeminência – dado que desmonta um dos principais argumentos de Nassif, de que Erundina “abriu mão de suas responsabilidades em relação aos movimentos sociais”.

Há, ainda, dois pontos altamente questionáveis no artigo: o primeiro é a afirmação de que uma foto é “só simbologia”, fingindo desconhecer que simbologia é a essência, o fator preponderante em uma eleição. E sendo que a foto em questão, de Lula “beijando a mão” de Maluf na mansão deste – comprada sabe-se lá com que dinheiro -, é até agora, e tende a continuar sendo por um bom tempo, a imagem-símbolo da campanha.

Para além da Veja

O segundo ponto questionável é aproveitar-se da disseminação de justificado sentimento antimídia para tipificar Erundina como uma espécie de parceira da Veja – e, portanto, de Serra. “Coloca a bala no revólver e o entrega à revista Veja” é um período indigno do jornalista equilibrado que Nassif costuma ser, trai o (em seu caso, particularmente justificável) ódio subjacente à revista dos Civita e, escrito com o fígado, evidencia as reais motivações do ataque a Erundina.

Porém, haja simplismo: para além das maquinações da mídia, o fato é que tanto a surpreendente desistência de Erundina, como a aliança do outrora combativo PT com o político de cujas práticas deriva o verbo “malufar” são, inquestionavelmente, matéria de interesse jornalístico, de Veja inclusive.

Protagonismo das redes

A bem da verdade, quem alienou movimentos sociais e beneficiou Serra, quando Erundina ainda “era” vice, foi o PT/SP ao se aliar à mais nefasta figura do conservadorismo populista paulista, um individuo que não pode botar os pés fora do país sob risco de ser preso pela Interpol. Quem convive com petistas e com os movimentos sociais sabe que foi a partir dessa aliança esdrúxula que uma parte talvez minoritária, mas certamente volumosa da militância passou a se dizer “broxada” e “sem tesão” pela campanha.

E, como boa matéria de Luciano Coutinho no Observatório da Imprensa revela, foi ao receber esse feedback negativo de setores da militância nas redes sociais que Erundina convenceu-se de que deveria renunciar à candidatura – um gesto que não pode, portanto, ser classificado de “terrivelmente individualista” nem de dar-se sem levar em consideração os movimentos sociais. Pelo contrário: como observa Coutinho, “O episódio marca o momento em que as novas mídias se sobrepõem à mídia tradicional numa disputa eleitoral no Brasil”.

Quem tudo quer…

Ainda mais importante: por paradoxal que pareça, a decisão de Erundina, não obstante prejudicial, neste momento, à candidatura petista, tem tido um efeito renovador, ao escancarar o autoengano da direção e de muitos militantess, dispostos a vender a alma, a mandar “às favas os escrúpulos”, em troca de um minuto e meio na TV.

A culpa pelo desastre é deles, quem deu uma banana aos movimentos sociais ligados ao PT foram eles, quem impôs uma decisão vinda de cima, acabando com a tradição de democracia interna do PT são eles, que devem agora responder por suas ações, ao invés de transferirem covardemente o ônus destas a terceiros, que tiveram o desplante de expô-los como mero mercadores. Erundina não pode ser responsabilizada por agir de forma límpida e restituir a primazia da ética sobre o ultrapragmatismo.

Gesto desmistificador

Sua atitude é o contrário de uma ação individualista e covarde, de prima-dona, como sugere Nassif: é um gesto de extrema coragem e de altruísmo, que renuncia à possibilidade iminente de ascensão ao poder e à chance única de encerrar sua carreira política em alto estilo; um gesto que tem e terá consequências dolorosas, que já lhe cobram um preço altíssimo, através da agressão de petistas descontentes que ora udo fazem para transformá-la em um pária e em conspurcar sua imagem (até com Demóstenes Torres ela foi hoje comparada…).

Achar que a figura pública diferenciada que ela sempre foi ousou um gesto tão redentor e que acarreta tantos revezes pessoais só para “ficar bem na foto” é indigno de Erundina – e de Nassif.

Helena Vargas

21/06/2012 - 02h42

No blog do Nassif, o post sobre Erundina está bombando. Eu pesquei esse comentário:

Sergio Saraiva:
Prezados, há muito mais coisa aí.

Maluf é um bom pretexto, mas só pretexto.

Erundina tem 77 anos e muita experiência política. Foi prefeita e sabe como penou por falta de apoio parlamentar. Participou do governo Itamar que era o supra-sumo das coalizões, acho que dos grandes partidos só o PT ficou fora. Acompanhou no Congresso os governos FHC, Lula e Dilma, sabe portanto da necessidade de coalizões para se vencer e para governar.

Quanto a alegação de coerência ideológica, isso não se sustenta. Erundina está no PSB que está na base do governo Dilma. Maluf e o PP estão na base do governo Dilma. Pelo que sei, vivem muito bem. Erundina é do PSB paulista e paulistano, o PSB paulista apoia Alckimin e Serra/Kassab, Maluf e o PP também. outra vez, pelo que sei, aqui também vivem muito bem.

Logo, por quê agora a impossibilidade de convivência?

O problema não é o Maluf, é o PT paulista e paulistano, é o Rui Falcão e o “grupo da Marta”.

Erundina já havia condicionado sua presença na chapa à plena aceitação de seu nome pelo PT, ou seja, por Rui Falcão e Marta Suplicy, salvo engano, seus desafetos. Aliás, hoje em dia, de quem Marta não é desafeta?

Erundina já vinha demostrando desconforto, a ponto de criticar o slogan de campanha do Haddad, considerando-o preconceituoso em rerlação às pessoas da terceira idade. É uma picuinha, mas serve para marcar posição e testar níveis de poder.

Algo que não sabemos e Erundina não contou aconteceu. Seja o que for tem a ver com sua aceitação dentro do PT paulistano. Erundina sentiu que, se eleita, seria novamente atalhada por esse grupo e preferiu cair fora.

Maluf foi um pretexto, um bom pretexto e só isso.

Paulo

20/06/2012 - 23h26

Algum tempo atrás eu escrevi um comentário que você era um “dois pesos duas medidas” e devido aos posts recentes venho afirmar novamente isso.
O comentário foi no post: CPI deve pedir fim de publicidade estatal na Veja de 29/04/12

Em outro comentário meu no post de 24/04/12: Demóstenes, o lacaio de um bandido – você me respondeu que daria um tratamento tão severo em seus posts se envolvidos em escândalos e etc fossem do PT.
Pois bem! Não é o que leio.

Vamos aos fatos:
Você refere-se ao Cachoeira com bandido.
Ou seja: você já julgou e condenou, mas as investigações oficiais ainda estão acontecendo.
Mas no caso PT + Maluf você minimiza ao máximo a merda feita.

O tratamento dado ao Maluf não me parece tão severo quanto ao dado ao Cachoeira.

Maluf é bandido procurado pela INTERPOL.

No post de 15/06/12 – Haddad terá o maior tempo de TV em São Paulo

Você não cita a palavra MALUF, apenas o partido PP numa tentativa clara de desvincular o nome maldito da aliança.

Depois no post de 19/06/12 – A polêmica aliança entre PT e Maluf
Você escreveu: “PT e Maluf tem milhões à sua disposição, o primeiro através do fundo partidário e doações; o outro, por vias mais tortuosas.”

Que história é essa de que Maluf tem milhões à disposição por vias mais tortuosas?
Via tortuosa é o c@r@L#*. È roubalheira mesmo.
Isso foi outra tentativa falha de minimizar o problema e tapar o sol com a peneira.

Mais uma vez quero saber aonde está o tratamento igual e com a mesma severidade.

Quanto você recebe para não falar mal do PT ?
Você anda subestimando a inteligência dos leitores com seu egocentrismo, achando que todos vão adorar seus textos e colocar comentários puxando o saco.

    admin

    21/06/2012 - 00h47

    Prezado Paulo, que confusão você faz hein? O comentário sobre alianaç entre PT e PP não é meu. Eu reproduzo um artigo do Estadão.

    Maluf não é dono de revista com anúncio estatal.

    Eu não recebo nada para “não falar mal do PT”. Eu não falo mal de partido nenhum. Eu analiso a mídia e a política. Eu falo mal da mídia, isso sim, e de vez em quando externo opiniões de caráter pessoal.

    Via tortuosa não me parece um termo que minimiza nada.

    O PP integra a aliança do PT há dez anos. Maluf apoiou Marta Suplicy em 2008.

    A política de alianças faz parte do sistema político brasileiro.

    É o lado mais duro da política, mas faz parte da democracia. Afinal, quem decide acerca do poder concedido a Maluf ou Lula não são Maluf e Lula, mas os eleitores respectivos de cada um.

    A partir do momento em que um deputado é eleito, e que ele representa um partido político, ele espelhará determinadas forças sociais.

    Eu nunca votei nem nunca votaria em Maluf. Mas votaria em Francisco Dornelles (do mesmo partido), por exemplo, que é um senador melhor do que muito senador metido a ético. Lutou pelo Bolsa Família, lutou pela CPMF, ajudou o governo Lula a fazer reformas que deram resultados econômicos e sociais importantes ao bem estar do povo brasileiro.

    Não peço ninguém para adorar meus textos. Eu apenas me esforço para fazer uma análise útil à compreensão do processo político. Não sou perfeito, nem sou um robô de imparcialidade e neutralidade.

    Obrigado pelo comentário, pela observação atenta e preocupada ao que eu escrevo.

    Cordialmente,
    Miguel do Rosário

pedro cavalcante

20/06/2012 - 17h05

Miguel
ostrotskistassãoassim
por quê?

Adriano Matos

20/06/2012 - 16h21

Não sei se o preço pelo apoio do PP, e dos minutos de propaganda eleitora de que dispõe, era fazer uma foto com Maluf. Não sei se havia escolha em não fazê-lo. Haddad parece constrangido e fez muito bem Lula em acompanhá-lo e ser ele quem recebe a carga e aperta a mão do “leproso político”.

Só quem tem estoque de credibilidade pode dar-se ao sacrifício de sujar as mãos assim. A história marcará, sem dúvida, o governo Lula como aquele que reduziu a taxa de desemprego pela metade e fez o salário mínimo aumentar de 63 para 293 dólares, numa democracia.

É só isso que importa.

    Gond

    20/06/2012 - 17h36

    A Gerundina se pronunciou novamente sobre o caso:

    “Vou voltar para o logotipo da Casa do Pão de Queijo que é o melhor que eu faço!”, disse.

Guilherme Scalzilli

20/06/2012 - 13h26

Um minuto e meio de incoerência

Houve exagero nas reações contra o apoio de Paulo Maluf à campanha de Fernando Haddad. Os petistas não pareceram tão chocados quando o PP se engajou na reeleição de Lula e na vitória de Dilma Rousseff, com direito a ministério. E nem de longe a imprensa fez as mesmas caretas de nojo diante da aproximação do PSDB com o malufismo, gesto que traiu a herança do então recém-falecido Mário Covas.

A batalha contra o serrismo privata só ganha limites ideológicos no front paulistano? E os entulhos autoritários só parecem monstruosos numa foto com Lula e Haddad?

Por mim, Maluf passaria seus últimos anos de joelhos, esfregando latrinas com a própria escova de dente. Mas não acredito que o Poder Executivo, em qualquer nível, pudesse fazer algo para realizar essa fantasia. Não mais que o Ministério Público e o Judiciário, instâncias com meios e prerrogativas apropriados, embora estranhamente ineficazes e, apesar disso, imunes às bravatas do jornalismo oposicionista.

Se o PP tem condições de barganhar minutos de propaganda, que ocupe seu inevitável antro estatal sob a coordenação de alguém como Dilma ou Haddad e o escrutínio feroz que a mídia corporativa dedica às administrações que odeia. Com José Serra, a lambança talvez não tivesse freios nem controle. Basta ver os descalabros cotidianos em São Paulo, feudo histórico do malufoquercismo tucano.

Um efeito nefasto da maleabilidade pragmática é o espírito reacionário contaminar a plataforma vitoriosa nas urnas. Mas esse perigo não se restringe aos partidos menores, tampouco aos da direita tradicional. O excesso de fidelidade doutrinária progressista deveria rechaçar acordos com o PMDB, o PDT e o PSB, cujos líderes regionais vivem fazendo conchavos espúrios e propondo legislações execráveis. Um passeio pelo interior paulista daria bons motivos para Luiza Erundina trocar de partido.

Os ataques injustificados à candidatura Haddad evidenciam o medo que ela inspira naqueles que fingiam menosprezá-la. E não chega a surpreender o número de líderes e militantes de esquerda que pertencem a esse grupo.

http://www.guilhermescalzilli.blogspot.com.br/

oliveira

20/06/2012 - 12h28

Posso estar errada, mas quero falar 2 coisas:
1) O Haddad e o Lula fizeram bem em posar para fotografia. Uma aposta arriscada, mas, pra mim, valeu pela transparência. È assim que deve ser.Nada de esconder do eleitor seu palanque. Isto é coisa de tucano escamoteador;
2)Gosto da Erundina, mas ela agiu com covardia e egoísmo. Perdeu ponto comigo (não sou eleitora de SP). Covardia porque diz que o problema foi a foto e não a aliança com Maluf (quer dizer que se não houvesse foto ela aceitaria? Que ética é essa? Que indignação com a cova coletiva no cemitério de Perus é essa? O que ela queria?Que fosse tudo na surdina? Na calada da noite?). Covardia também porque tem medo das redes sociais. E agiu com egoísmo porque pensou somente na imagem dela. Se quis lograr êxito de imagem com essa manobra de ir e vir, pode ter ganho ponto com alguns, mas não com todos. Até acho que ela não agiu assim tão malandramente, como voce,Migué. O que acho é que ela não raciocinou direito. Ela agiu em meio a uma chuva de críticas provocadas por uma foto. Saiu e depois falou que a aliança com o PP (não tem como desvincular Maluf do PP de SP, tem?) não tinha nada de mais.
Enfim, não gostei e não quero mais falar sobre isso! A não ser que ela volte atrás novamente.

    Gond

    20/06/2012 - 14h04

    Eu acredito que o Maluf terminou de enterrar sua biografia depois daquela foto como o Lula.

alex

20/06/2012 - 11h54

Miguel: com ou sem Erundina a midiaPIG paulistana sangrará até a morte quem vier a substituí-la. Digo mais: paulistanos deixariam de votar no Maluf (desta vez) em razão da aliança.
São Paulo não gosta do PT, não gosta do Lula, não gosta da nordestina Erundina, odeia a Marta …
Erundina tem todo o direito de ter pulado da canoa. Ela não é obrigada aguentar um cara que é procurado pela Interpol só para derrubar os Tucanos do poder. São Paulo é PSDB. O Estadão é tucano. A Veja é tucana. A Folha idem. A rede Globo é tão tucana que ganhou um terranaço de lambuja na Berrini, Zona Sul da cidade. Lá está seu quartel general.
E quer saber mais: o PT errou. Deveria ter deixado Maluf dar um abraço no Serra. Perderia 2 minutinhos… Mas acho que seria mais fácil ganhar a eleição. Ouvi de uma petista no trabalho: “uma parceria entre Serra e Maluf seria tudo de bom para nós”. Tb acho.

Feijoada Política

20/06/2012 - 11h40

Excelente análise!
Apenas a posteridade nos dirá a extensão desta escorregada de Lula. Que, por hora, parece não ter causado ferimentos tão profundos.
Também produzimos um texto sobre o tema para o Feijoada Política, seria um prazer se puderem dar uma passada por lá:

http://feijoadapolitica.com/2012/06/20/lula20/


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