Menu

Demóstenes e seus advogados

A imprensa amanheceu hoje com manchetes garrafais sobre a cassação de Demóstenes Torres.

4 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

(Ilustração capa: Basquiat)

A imprensa amanheceu hoje com manchetes garrafais sobre a cassação de Demóstenes Torres. Colunistas, secretários de redação, editorialistas, todo mundo deu pitaco. Chamou-me a atenção, contudo, a interpretação da Folha, expressa em dois textos, um de Alan Gripp, secretário-assistente de redação, outro de Janio de Freitas, colunista.

Ambos amenizam descaradamente os crimes de Demóstenes Torres, e abribuem sua cassação antes à uma espécie de vingança corporativa do Senado.

Em sua análise, Alan Gripp diz o seguinte:

O que fica é a conclusão de que este foi um caso diferente. E que o Senado não teve um arroubo ético. Parlamentares mais enrolados que ele continuarão a se salvar.

Longe de mim pretender que não haja outros bandidos no Senado brasileiro, mas a interpretação de Gripp é leviana. Torres foi cassado porque havia áudios, documentos e relatórios da Polícia Federal mostrando que Demóstenes era um despachante de luxo de Carlinhos Cachoeira. O mafioso menciona inclusive o pagamento de milhões de reais de propina para o senador. “O milhão do Demóstenes”, diz Cachoeira a um de seus secretários.

Janio de Freitas, por sua vez, tem se caracterizado por uma estranha defesa do Clube Nextel. Em sua coluna de hoje, volta a se posicionar em favor do grupo, ao amenizar as acusações contra Demóstenes.

Freitas faz uma bizarra defesa de Demóstenes, atacando inclusive o relator do seu processo de cassação. E ataca mais ainda Renan Calheiros, que não estava sendo julgado.

Diz Freitas, defendendo o senador bandido:

Não há dúvida de que no rol de acusações a Demóstenes Torres há afirmações infundadas, e não por equívoco.

(…)

Ainda assim, o relatório do senador petista Humberto Costa foi mais político do que objetivo. E com erros de informação e afirmação inadmissíveis, como Demóstenes Torres demonstrou.

Eu gostaria de saber que erros foram esses. Entretanto, mesmo que o relatório de Costa tenha erros, quem acompanhou o escândalo Cachoeira desde o início sabe que as provas de que Demóstenes era um bandido a serviço de outro bandido são fartas, múltiplas e estas sim, incontestáveis.

Inadmissível, a meu ver, é ver um jornalista probo e respeitável como Janio de Freitas defendendo um crápula nojento como Demóstenes Torres, que recebia dinheiro de Carlinhos Cachoeira, e integrava um esquema mafioso, envolvendo a Veja, a Delta e o jogo do bicho em Goiás.

Curiosas também são as asserções sobre o reflexo da cassação de Demóstenes na CPI do Cachoeira. Em editorial, O Globo diz que a cassação “pressiona a CPI do Cachoeira”, enquanto a Folha diz, com base em fontes anônimas do Congresso, que a CPI “tende a perder força”. A matéria não explica o porque, todavia. É uma asserção misteriosa.

Também senti falta, nos jornalões, de uma reflexão sobre as consequências partidárias da cassação de Demóstenes. Com a queda do senador, o DEM – e por tabela toda a oposição – sofre mais um duro golpe.

*

O Banco Central decidiu ontem reduzir os juros básicos do Brasil em 0,5%, levando-os a 8%, a menor da taxa da história. Descontando a inflação, a taxa fica em 2,3%.

Uma das consequências mais importantes da queda determinada ontem pelo BC é que ela permitirá uma economia superior a R$ 30 bilhões ao governo federal, dinheiro que era gasto com juros, e que poderá ser aplicado em investimentos.

E pensar que a taxa básica chegou a 45% nos “bons tempos” tucanos…

A queda nos juros, somada à entrada de grande volume de recursos por parte de partidos e candidatos, para financiar as eleições deste ano, deverão promover uma choque positivo na economia deste segundo semestre.

Apoie o Cafezinho

Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Mais matérias deste colunista
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

alex

12/07/2012 - 11h41

Jânio está gagá!
quando jornalista começa a defender bandido, ou está gagá ou está levando por fora.
Agora sabemos que existe um monte de periodistas que fazem parte dos mensalões da vida.
Jânio não é disso.
Mas ao defender Cachoeira e sua gangue, digo: Jânio está gagá

Jose Mario HRP

12/07/2012 - 10h17

Um sujeito com tudo não mão para ser grande , mas abraça a arrogância, a cupidez, a convivencia com poderosos e finalmente perde a noção de limites e da bondade e caridade!
Saiu humilhado, reclamão e arqueado com as asas podadas!
Não fiquei alegre ou com qualquer bom sentimento, pois ver um homem sangra assim é triste, embora ele tenha perseguido isso.

e

12/07/2012 - 09h47

Com a queda do ex demo Torres só sobrou a oposição se aliar aos golpistas paraguaios e a mídia. E pelo andar da carruagem muitas cabeças vão rolar.

Adriano Matos

12/07/2012 - 09h11

Não sei onde li que na defesa do seu relatório Humberto Costa acusou Demóstenes de ter vazado para Cachoeira uma iminente operação policial. A operação era armadilha para comprovar vazamento mas se fosse pra valer poderia ter colocado em risco a vida de policiais.

Sobre o outro assunto, da redução da Selic, vemos agora como foi bem conduzida a troca das dívidas públicas em dólar para Real, realizada no mandato de Lula. Agora a redução da dívida é regida por um índice sobre o qual o Estado tem autonomia.


Leia mais

Recentes

Recentes