Marina e o verdismo de extrema direita

Quando a gente pensa que já viu tudo… Hoje me deparei com a seguinte nota na coluna do Ilimar Franco.

“Democratizar a democracia é mais Joaquim Barbosa e menos Zé Dirceu”

Slogan usado pelo Partido Rede
Partido de Marina Silva, na campanha por sua criação nas redes sociais

A ser verdade, e me parece bastante coerente com o que temos visto, a campanha de Marina Silva, seja lá por qual partido vier, está se posicionando no espectro mais radical da direita política. O slogan não faz sentido, porque Joaquim Barbosa não pertence à política. A sugestão, portanto, significa uma negativa radical da política em prol de soluções de força via judiciário.

Visitando o site da “Rede”, confirmo a triste decadência conservadora de Marina Silva. As notícias comparam a votação da medida que moraliza os partidos políticos, restabelecendo a regra que havia antes do STF bagunçar o coreto, a um golpe. Agora é assim: ganhar democraticamente no Congresso, com apoio de ampla maioria, é “golpe”. Bloquear uma medida através da intervenção do ministro mais conservador e mais autoritário do STF, aí temos uma “vitória da democracia”.

Hoje Marina anuncia, com tremenda pompa, que irá se encontrar com Joaquim Barbosa.

Os “sonháticos” caminham, desta maneira, a formar um verdismo de extrema-direita, com uma visão autoritária e rancorosa de democracia. É curioso, aliás, que todos os opositores de Dilma vêm pela direita, apesar do enorme espaço aberto à esquerda, em função dos desgastes naturais do governo e seu engessamento ideológico numa coalização onde a direita vem ampliando cada vez mais seu poder de influência.

Isso é bom para Dilma, e talvez bom para o Brasil, porque jogará o eleitorado conservador para o outro lado, deixando o governo dependente do eleitor progressista e suas demandas.

Por outro lado, o governo Dilma também continua dando passos firmes à direita, como revela a nomeação do ex-malufista Afif Domingos para o ministério da pequena empresa. Eleitoralmente, é uma jogada astuta, porque amplia o arco de alianças formais com segmentos conservadores da sociedade. Não podemos esquecer que há dois tipos de conservadorismo: aquele de opinião, interagindo o tempo todo com o lacerdismo e a mídia, que votará na oposição, e o conservadorismo difuso, popular, fisiológico, ligado aos currais eleitorais dos caciques tradicionais da política brasileira. Ambos são numerosos. Dilma, alijada do primeiro segmento, poderá obter a maioria do eleitorado conservador não-ideológico, em virtude da estabilidade econômica, em primeiro lugar, e o apoio dos partidos de direita e centro-direita que integram a base aliada.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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