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Presença de Arminio

Primeira medida de Arminio Fraga, como presidente do BC, foi aumentar os juros de 25% para 45%.

27 comentários
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Arminio Fraga e Pedro Malan

Leio no blog do Kennedy Alencar, que Arminio Fraga é o ministro da Fazenda dos sonhos de Aécio Neves. Eles já conversaram a respeito e acertaram tudo. Segundo Aécio, “uma indicação antecipada de um ministro da Fazenda com esse perfil ajudaria a campanha tucana a atrair simpatia de investidores internacionais e de boa parte do empresariado brasileiro, sobretudo do grande capital financeiro.”

Pois bem, então eu lembrei dos “bons tempos” e fui pesquisar os jornais de 1999, mais especificamente, de março daquele ano, quando Fraga assumiu a presidência do Banco Central.

Sua primeira medida foi aumentar os juros de 25% para 45%. Foi talvez a maior paulada nos juros que já se deu, em qualquer civilização, nos últimos cinco mil anos.

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A grande imprensa comemorou. Em editorial, o Globo afirmou que “as medidas anunciadas pelo novo presidente do Banco Central, Arminio Fraga, vão na direção certa”.

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Fraga falou à imprensa que, para o futuro, a tendência dos juros era cair. Ah, bom.

O que ninguém falou é que a medida de Fraga significava dezenas, quiçá centenas de bilhões de dólares, na conta dos grandes credores nacionais e internacionais, ao longo dos meses seguintes. Dinheiro fácil, líquido e certo.

No mesmo dia, o Globo anunciava que os combustíveis iriam subir e que uma comissão da Câmara havia aprovado a nova CPMF (imposto criado para aplicação em saúde, mas que no governo FHC era usado para superávit primário). O acordo político entre governo e legislativo era quase cínico. O imposto não iria para a Saúde. Tanto que os jornais afirmavam, sem pejo, que o FMI aguardava, com ansiedade, a aprovação do novo imposto. Ou seja, o FMI queria a CPMF, porque esse dinheiro ia para os credores internacionais.
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Não pára por aí. Aquela sexta-feira, 5 de março de 1999, prometia muitas emoções. O colunista político do Globo, Marcio Moreira Alves, um digno jornalista que havia crescido dentro do Globo durante os esforços do jornal para se redimir com a opinião pública no pós-ditadura, comentava sobre uma certa “indiscrição” do ministro da fazenda, Pedro Malan. Malan havia encomendado estudos para a venda do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, o que provocou fortes contestações no Congresso. É aí que grande parte do PMDB, inclusive caciques conservadores, como Sarney e seus companheiros, rompem com os tucanos.

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A tentativa de privatização da Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa produz a grande fenda na elite política que iria sorver o PSDB e abrir espaço para uma nova coalizão governamental, uma aliança entre PT e a centro-direita, representada pelo PMDB, cujo nacionalismo repentino surpreendeu a mídia.

Mesmo com inflação estourada, juros a 45%, governo articulando não apenas para prorrogar a CPMF, mas para aumentar a alíquota, estudos para venda das últimas grandes estatais brasileiras, ministérios anunciando grandes cortes de servidores, nenhuma obra de infra-estrutura em curso, a grande mídia tentava afastar o “baixo astral”.

Teresa Cruvinel, outra colunista estrategicamente posicionada para amansar os ânimos esquerdistas do pós-ditadura, abria sua coluna daquela fatídica sexta-feira com um título solar e feliz: Apesar do baixo astral.

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Os jornais omitiam acintosamente informações sobre as consequências terríveis para as finanças públicas daquele “choque” nos juros. A dívida brasileira, já complicada, se tornaria quase impagável.

Em resumo, o governo FHC aumentava pesadamente a carga tributária, criava novos impostos, e espancava os juros, asfixiando a classe média, não para aprimorar os serviços públicos ou fazer obras de infra-estrutura, mas para transferir mais dinheiro aos credores domésticos e internacionais. A grande imprensa, sócia nessa empreitada, tinha missão de enganar a sociedade, afirmando que o remédio era necessário, e que tudo ia bem, “apesar do baixo astral”.

Enquanto isso, a Polícia Federal continuava sendo sucateada, e não havia nenhuma investigação séria, por parte do governo, contra os grandes problemas de corrupção no país. Nem na imprensa. O escândalo da compra de votos para a reeleição já havia sido devidamente abafado, a mídia preparava o terreno para as últimas grandes privatizações, entre elas a da Vale do Rio Doce.

Quem falasse em “concessão”, à época, seria considerado socialista. O governo não queria conceder nada. O objetivo era alienar completamente o patrimônio público, o mais rápido possível, entregando-lhe nas mãos de empresários politicamente afinados com o Planalto.

Bons tempos! A Globo não era incomodada por nenhum blogueiro sujo e podia continuar ganhando seu dinheiro, tranquilamente, no mercado financeiro, enganando os trouxas da classe média a quem vendia o discurso do “Estado mínimo”. Ou  seja, o governo aumentava a transferência de recursos do indivíduo para as grandes instituições controladoras do capital, Estado e bancos, através do aumento da carga tributária e juros, com auxílio luxuoso de uma imprensa sócia no butim. Não havia nenhum programa de “desoneração tributária”, como faz Dilma.

Não havia nenhuma obra de infra-estrutura. Era só pau, pau, pau. E, no entanto, a classe média leitora do Globo, com ajuda de Marina Silva e Eduardo Campos, ainda acredita no “tripé econômico” e na maravilhosa gestão de Fernando Henrique.

 

Arminio Fraga e Pedro Malan

Arminio Fraga e Pedro Malan

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Jose Mesias

13/11/2013 - 03h23

o compromisso deve ser com país não com esse dilema PT x PSDB já encheu!

Jose Mesias

13/11/2013 - 03h21

oh paspalho você nem precisa chegar ao meu nível eu fiz economia em uma grande faculdade no RJ! já que você não entende do assunto pesquisa e não fica comprando discurso ! Deixa de ser otario!

Ze Luis

12/11/2013 - 14h06

Muito bom!

Fernando Puga

12/11/2013 - 15h24

“Estuda economia” boa piada… não adianta discutir, este é um sábio leitor da Veja, O Globo, Estadão que lê e acredita!!

Mauro

12/11/2013 - 11h16

Vou tentar novamente.

Caro Miguel,

Eu sugiro a leitura dos livros do John Perkins :Confissões de um Assassino Econômico ,
Enganados , A História secreta do império americano. Nesses livros ele conta como os EUA fazem para provocar o subdesenvolvimento nos países, usam o Banco Mundial, o FMI e outras instituições, para se tornarem o primeiro império verdadeiramente mundial da história da humanidade.
Há um livro do Greg Palast , A melhor Democracia que o Dinheiro Pode Comprar, cuja 2ª edição tem um capítulo dedicado ao Brasil e tem o sugestivo título “Sua Excelência Robert Rubin, Presidente do Brasil”.Nele, o autor conta que o Brasil estava quebrado, com o Real sobrevalorizado artificialmente.Mas era interesse dos EUA a reeleição do FHC, por isso , com ajuda dos americanos, FHC conseguiu a reeleição.A partir daí o Brasil teve dois presidentes: o de direito, FHC; e o de fato, o Secretário do Tesouro americano mencionado no título.

Além desses tem um outro muito interessante que relaciona J.F.Kenndy, Jango e Rockfeller.
A Carta Maior traz uma reportagem sobre um assunto semelhante, e bem atual: A devassa que a CIA , com o Serviço Secreto Canadense, fez no Ministério de MInas e Energia.

http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1336

Diz a matéria :
“…A desfaçatez, no caso do pente fino nas Minas e Energia, pode estar associada à pressa em obter informações estratégicas, antes da votação do novo Código Mineral proposto pelo governo…”
A matéria aponta um livro de 1998 , “Seja feita a Vossa Vontade ” ( http://www.editoras.com/record/04532.htm ) e traz uma entrevista com seus autores.
Repare nas duas últimas falas, da Charlotte :
Charlotte – Ele (Rockefeller) acreditava que o desenvolvimento da Amazônia daria um novo respiro econômico aos EUA, assim como foi a colonização do Oeste americano.
Charlotte – Cheguei a ler memorandos de Rockefeller para seus assessores em 1963 que diziam que Kennedy não estava cooperando. E ele colocava Kennedy e João Goulart na lista das pessoas que eram obstáculos para seus objetivos. Kennedy morreu em novembro de 1963 e Goulart sofreu um golpe em março de 1964.
Charlotte – Simplesmente a proteção dos interesses americanos. E isso faz parte da História. As corporações americanas sempre quiseram estabilidade para seus investimentos. E por isso apóiam os governantes que se alinham com o pensamento americano. Caso saiam da linha, pagam as consequências.

O Sr. Messias é que está precisando estudar não só economia, como também história, do Brasil e do mundo.

    Miguel do Rosário

    12/11/2013 - 14h08

    Oi Mauro, o comentário caiu no filtro, por causa do link. Só vi agora.

Mauro

12/11/2013 - 11h15

Caro Miguel,

tentei enviar duas vezes um comentário.
Não sei se foi censurado ,ou o que aconteceu.

O Cafezinho

12/11/2013 - 10h47

jose mesias, país quebrado sim, depois do golpe do câmbio do FHC, que o segurou para se reeleger, torrando alguns (muitos) bilhões de reservas e nos escravizando ainda mais ao FMI

Jose Mesias

12/11/2013 - 02h53

país quebrado pelego? estuda economia! o pais estava entrando no cambio flutuante! fora as crises dessa época no mex, argentina e na asia pelegão! assim pelo que diz parece que viviamos no haiti e hoje estamos na suiça

    Manoel Teixeira

    12/11/2013 - 13h23

    Zezinho,
    O Brasil foi quebrado 3 vezes durante a gestão da tucanalha. Qualquer crise no exterior, e o Brasil entrava com o pires na mão, pedindo dinheiro ao FMI.
    Gustavo Franco, o homem do ‘saco de maldades’ ( para o Brasil ), colocou os juros em 45% a.a., queimou $ 40 bi em reservas e você vem defendê-lo? São números e os números não mentem. Onde estão seus dados?
    Em 2008, durante a segunda gestão de Lula Magno, explodiu a maior crise do capitalismo desde a quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929. O Brasil não fez o que o mestre mandou e continuou gerando empregos, milhões deles. Estamos numa economia de pleno emprego , com mais de U$ 370 bi em reservas internacionais e com a dívida pública muito menor que aquela herdada da tukanalha.
    São fatos, e contra fatos, não há argumentos.

Manoel Teixeira

11/11/2013 - 20h26

Quem elevou os juros para 45% a.a. em 1999 foi Gustavo Franco, que na sequência queimou U$ 40 bi em reservas.
Armínio Fraga criou o título da dívida pública interna, indexada ao dolar, fazendo a felicidade total dos especuladores. O dólar ultrapassou R$ 4,00 em 2002, quebrando os cofres públicos. É bom observar que os títulos tinham vencimento em dois anos, no início do primeiro governo Lula. A inflação ultrapassou os 12% a.a. e ficamos com menos de U$ 12 bilhões de reservas próprias e outro tanto em empréstimos do FMI.

Carlos Mathias Carlos Mathias

11/11/2013 - 21h51

É muito importante que os jovens leiam isso, para ver o que era um país quebrado, falido, sem esperanças. Faltou citar a taxa de desemprego da época.

Lulu Pereira

11/11/2013 - 03h16

Turma do Leblon

Jose Mesias

10/11/2013 - 21h08

o governo aumentou a Selic no período porque deixou o cambio flutuante! vamos falar toda a verdade ok! ou vocês queria que o brasil seguisse a argentina e quebra-se?

André Kitagawa

10/11/2013 - 19h44

Juros altos são para os endinheirados a contrapartida para os impostos “escorchantes” que eles supostamente pagam para o governo. Uma forma de empatar o jogo e manter as desigualdades. Da parte do BC, a motivação para os ultimos aumentos de juros deve ser menos o combate à inflação (pois é quase inocuo, dado que os spreads sempre se mantem estratosfericos, mesmo que os juros fossem zero) do que uma forma de amenizar a histeria desses agentes que contamina toda a economia e atravanca o crescimento. É uma forma de acalmar a crise de abstinencia daqueles que acham que é um direito ganhar dinheiro sem produzir nada.

André Kitagawa

10/11/2013 - 19h30

O maior indício da cara de pau desse pessoal é que eles estão o tempo inteiro cobrando do governo contenção nos gastos. Mas na reivindicação deles nunca entra nessa conta o gasto com juros, oa mesmo tempo em que estão sempre cobrando seu aumento, supostamente pra combater a inflação, o que acrreta em mais gastos para og governo. No minimo, contraditório. O pagamento de juros é tão sagrado pra eles que nem deve ser considerado uma despesa, um gasto, e nunca deve ser posto em discussão, está acima até da merenda das crianças ou da aposetadoria dos velhinhos.

Márgara Morais

10/11/2013 - 18h22

Oportuno o artigo, já que convém sempre lembrar o passado, ainda que desastroso

Lúcio Nicolau

10/11/2013 - 16h34

Poucos querem e podem ganhar muito dinheiro sem trabalhar !

Penha Bueno

10/11/2013 - 15h03

tem carro demais pra pouca gasolina,, tem aeroporto cheio

Francisco Moraes

10/11/2013 - 15h00

o pt não pode perder mesmo é para isso que eles querem ganhar a eleição nos tomo mesmo fu….. não tem jeito

Neto Peneluc

10/11/2013 - 14h58

Kkkkkkkkkkkk… esse O Globo me mata de rir.

Socrates Niclevisk

10/11/2013 - 14h24

Era o tempo do governo da latinha. Pra todo canto que se andava alguém comentava que “lá tinha uma fabrica”, “lá tinha uma panificadora”, “lá tinha isso ou aquilo”… Oh saudade que me deu… Já passou!!!

Mariana Silveira

10/11/2013 - 14h18

Senhor, nos livre deste mal. Amém.

Ricardo Melo

10/11/2013 - 14h12

Quando tudo era tão maravilhoso…

O Cafezinho

10/11/2013 - 14h02

franklin, a manchete é de 99

Renato Inácio Pereira

10/11/2013 - 13h57

Pra quem, é rico não tem coisa melhor que juro alto assim, né?. Não precisa se arriscar abrindo negócio, gerando emprego, pagando imposto, nada. Faz sua graninha se multipliar e os pobres que se fodam…

Franklin Jorge

10/11/2013 - 13h56

Essa ellevação dos juros vai levar muitos brasileiros ao desespero. Como vai ser a vida de todos os que ainda conseguem comer porque usam o cartão para comprar a crédito? Muitos vão passar fome.


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