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Os novos dentes do Brasil

Desde que o desemprego deixou de ser a maior preocupação dos brasileiros, estes elegeram a saúde pública como prioridade número um quando se trata de cobrar mais ação e mais recursos do governo. É uma demanda natural, lógica, conectada ao instinto de sobrevivência. Sem saúde, não há vida. Entretanto, por muitos anos, a saúde bucal […]

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Desde que o desemprego deixou de ser a maior preocupação dos brasileiros, estes elegeram a saúde pública como prioridade número um quando se trata de cobrar mais ação e mais recursos do governo.

É uma demanda natural, lógica, conectada ao instinto de sobrevivência. Sem saúde, não há vida.

Entretanto, por muitos anos, a saúde bucal não era incluída nos programas governamentais, razão pela qual o tratamento dos dentes se tornou um dos maiores divisores sociais no país. O Brasil era conhecida como um país de banguelas.

Para se ter uma ideia do abandono: 1ª Conferência Nacional de Saúde Bucal aconteceu apenas 1986, mostrando que precisamos esperar a volta da democracia para que as autoridades voltassem a se importar com o tema. A segunda Conferência Nacional aconteceu em 1993. E então o tema novamente é esquecido durante o longo pesadelo neoliberal da gestão FHC, e a terceira Conferência Nacional ocorre apenas em 2004.

A própria classe média sempre sofreu muito com os custos astronômicos para preservar a boa aparência bucal. Eu mesmo conheci gente que vendeu apartamento para poder custear o tratamento adequado de seus dentes. Com poucos dentistas no país,  os serviços dentários se tornaram um luxo de classe média alta.

O pobre se acostumou a só se dirigir ao dentista quando, desesperado de dor, precisa arrancar um dente.

Vale sempre lembrar que o efeito de dentes estragados na auto-estima de uma pessoa é devastador. Sem auto-estima, ninguém batalha para melhorar de vida, e, portanto, isso passa a ser um problema econômico, pois prejudica o avanço da produtividade laboral no país.

Por isso, acho tão importante divulgar a iniciativa do Ministério da Saúde de criar o Brasil Sorridente, que começou a operar em 2004. É importante para estimular que não só o governo federal, mas também os governos de estado e as prefeituras, criem programas próprios para ajudar os cidadãos a tratarem de seus dentes.

O poder público federal, antes do Brasil Sorridente, não tinha nenhuma ação substancial voltada para a saúde bucal da população.

Segundo o Ministério da Saúde, o programa beneficia 79,1 milhões de pessoas. O 2010, o número era de 20 mil equipes e cobria 4.830 municípios. Hoje já tem 23 mil equipes e cobre 4.952 cidades.

O Orçamento do Brasil Sorridente em 2013 foi de aproximadamente R$ 1 bilhão. Aliás, aí está um dos grandes problemas do programa: no termo “aproximadamente”. O Ministério da Saúde não criou um item orçamentário específico, dificultando o acesso a seu histórico de investimentos. Com isso, reportagens e análises sobre uma iniciativa tão importante ficam quase inviabilizadas.

Vamos aos dados: segundo o Ministério da Saúde, neste dia 23 de janeiro de 2014, em São Paulo, capital, será inagurado o milésimo Centro de Especialidades Odontológicas (CEO). Existem CEOs em 808 municípios, oferecendo gratuitamente à população uma série de serviços dentários especializados, como tratamento endodôntico (canal); cirurgia oral menor; periodontia (tratamento de gengiva); diagnóstico bucal, com ênfase ao diagnóstico de câncer bucal, podendo ainda oferecer a colocação de implantes e o tratamento ortodôntico.

Ainda segundo a assessoria do Ministério, em dois anos o Brasil mais que dobrou o número de próteses dentárias ofertadas pelo setor público. De 183 mil em 2010, passamos a ofertar 405 mil próteses em 2012.

Atualmente, 1.650 municípios ofertam próteses dentárias pelo Sistema Único de Saúde, ampliação de 153% comparado a 2010. Trabalham no SUS, hoje, 64 mil dentistas, o que corresponde a quase 30% do total de dentistas no país.

Entre as metas para 2014, diz o Ministério, está a de entregar mais mil Unidades Odontológicas Móveis (UOMs) para municípios integrantes do Brasil Sem Miséria. As novas unidades móveis vão aumentar em mais de cinco vezes a capacidade atual de atendimento, que é feito por 185 veículos atualmente.

*

Conclui-se que estamos diante de um programa extraordinário, mas que permanece invisível em virtude da precária comunicação do governo. Em primeiro lugar, é preciso deixar mais transparente a quantidade de dinheiro investida. Em segundo lugar, o ministério tem de oferecer imagens, vídeos, entrevistas, mostrando todos esses centros odontológicos construídos em tantas cidades. Tem de filmar o trabalho dos centros de atendimento móvel e dar um jeito de espalhar isso pelas redes sociais. Menos vídeos institucionais e mais vídeos reportagem, feitos pela TV pública.

Depois de alguma pesquisa, eu consegui encontrar alguns vídeos. Selecionei alguns para esta postagem:

Uma das consequências do enorme aumento de viagens ao exterior foi o recrudescimento do já célebre problema de auto-estima, o famigerado “viralatismo”. Volta-se da Europa e Estados Unidos, com suas cidadezinhas limpas e bem cuidadas, e tem-se um choque com o estado lamentável de nossas ruas, estradas, aeroportos.

No entanto, o brasileiro precisa ser informado de que, se o governo ainda não fez um super-aeroporto é porque investiu, entre outras coisas, em programas sociais, como o Brasil Sorridente, que custa bilhões por ano aos cofres públicos e deverá se tornar ainda mais pesado em 2014, em virtude da ampliação de um programa que, provavelmente, será uma das vitrines eleitorais de Dilma, em sua campanha de reeleição ao cargo para presidente da república, e de Alexandre Padilha, atual ministro da Saúde, na campanha para o governo do estado de São Paulo.

A importância da comunicação não pode ser subestimada. Nâo é apenas interessante para o político autor da obra. É também para o povo, porque, de posse da informação, ele poderá monitorar melhor o trabalho prestado pelos servidores responsáveis pelo programa em seu município. Afinal, esse é sempre um perigo na administração pública: implementa-se um programa inovador, inspirado numa filosofia sólida, com recursos financeiros abundantes, mas se esquece de monitorar o trabalho de cada servidor, responsável, na ponta, pelo contato com a população. Resultado: às vezes a população não é bem atendida por causa de um servidor negligente.

PS: Essa matéria foi feita com a colaboração de um dileto leitor e parceiro do blog, Julio Cesar Amorim (@juliocesaramor).

PS2: Para os agentes públicos interessados em participar do programa do governo federal, este link traz informações úteis.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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