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O artigo de Paulo Nogueira sobre Pizzolato & outras histórias

Reproduzo abaixo um artigo do Paulo Nogueira, em seu blog, e aproveito para acrescentar alguns comentários. Preparem-se para todo o tipo de baixaria e armação quando o tema é Pizzolato, porque é efetivamente o seu caso que pode desmoralizar a farsa da Ação Penal 470. A primeira baixaria é essa: criminalizar o dinheiro que Pizzolato […]

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Reproduzo abaixo um artigo do Paulo Nogueira, em seu blog, e aproveito para acrescentar alguns comentários.

Preparem-se para todo o tipo de baixaria e armação quando o tema é Pizzolato, porque é efetivamente o seu caso que pode desmoralizar a farsa da Ação Penal 470.

A primeira baixaria é essa: criminalizar o dinheiro que Pizzolato ganhou em mais de 40 anos como alto funcionário do Banco do Brasil, fundador e presidente da CUT do Paraná e conselheiro da Previ, o maior fundo de pensão do país. Todas essas funções, e isso é importante dizer, ele alcançou através de eleições livres dos próprios funcionários. Foi o primeiro funcionário do Banco do Brasil a ascender profissionalmente a partir de eleições internas. Antes dele, se ascendia apenas por indicação política vinda do alto. Pizzolato não ascendeu por pertencer ao PT, mas apesar de pertencer ao PT, porque sempre foi fortemente discriminado politicamente dentro do Banco do Brasil, até hoje dominado por tucanos. Ao contrário do que se lê na mídia ou do senso comum, as grandes empresas públicas federais são dominadas por uma burocracia de classe média que lê Globo e Veja e, portanto, tem forte tendência antipetista.

Pizzolato nunca foi dirigente partidário do PT. Foi sim, candidato a governador do Paraná, numa campanha sem dinheiro, na qual ele se engajou apenas para ajudar o partido.

Eu conheci Pizzolato em 2013, e tive várias conversas com ele. Imagino que oito anos de tortura midiática quebram a crista de qualquer um, e suponho que, antes desse tormento, ele deveria ser mais altivo, quiçá até arrogante. O Pizzolato que eu conheci, porém, era um homem muito simples (apesar de rico, como eu vim a saber bem mais tarde, embora isso fosse óbvio, em função da longa carreira já mencionada; mas nem disso eu tenho certeza, pois ele também gastou muito com sua defesa) e extremamente cordato. Me pareceu uma boa pessoa. Claro que posso estar enganado. Mas essa foi a impressão. Ele chamava sempre jornalistas, advogados, militantes, intelectuais, curiosos, para reuniões onde explicava a sua situação, apresentava provas de sua inocência, sempre repetindo, com paciência infinita os argumentos principais de sua defesa.

Nenhum “bandido” perderia tempo, como Pizzolato fazia, explicando para o militante mais simples, mais modesto, as arbitrariedades que foram cometidas contra ele. Sua mulher, Andrea Haas, dizia que o problema de Pizzolato era ser “bobo” demais, “pacato” demais.

Avaliem vocês mesmos quem era o sujeito. Neste vídeo, ele explica, a um grupo de militantes do PT, os absurdos cometidos contra ele:

Qualquer tentativa de pintar Pizzolato como um sujeito “perigoso”, aí sim, é profundamente ridícula.

Um leitor falou uma coisa interessante. É impressionante como a polícia achou Pizzolato com facilidade. Já aquele Roger Abdelmassih, acusado de dezenas de estupros, ganhou habeas corpus do STF e nunca mais foi visto. E a polícia nem aí. Não acharam contas dele, nem imóveis, nem nada. Já com Pizzolato, descobrem tudo num minuto: onde tem conta, quanto tem, onde comprou casa, quanto custou a casa, etc.

Tenho receio, contudo, que os tentáculos da nossa mídia, cujo poder eu não subestimo, já que é controlada pela família mais rica do país, cheguem até a Itália. A família Marinho é três vezes mais rica que Berlusconi. Então, estou preparado para tudo.

A imprensa jamais fez qualquer matéria sobre os “bens” dos Marinho, que, com certeza, não se limitam a uma casa de classe média numa cidadezinha litorânea da Espanha.

No escândalo do ISS da prefeitura de São Paulo, a imprensa descobriu que apenas 4 servidores envolvidos tinham um patrimônio somado superior a R$ 100 milhões. Só um deles tinha quase 200 apartamentos em São Paulo.

Já Pizzolato, envolvido no “maior escândalo da história”, compra 3 imóveis (após ter vendido todo seu patrimônio no Brasil, por razões óbvias) e isso é um “descalabro” para o coxinha útil leitor de jornais.

Pelos meus cálculos, se Pizzolato vendeu 8 imóveis no Brasil entre 2006 e 2012 (segundo reportagem do Correio Braziliense), pode ter apurado até 6 milhões de reais. Ou mais ou menos isso. E nem estou contando com possível herança familiar ou patrimônio à parte de sua esposa, sobre quem sei menos ainda.

O imóvel que ele comprou na Espanha foi onde ele morou com a esposa, de 2006 a 2012.

É possível que ele ou sua esposa tenham mais dinheiro guardado no exterior? Sim, é possível. Aliás, espero que sim. Mas eles também podem não ter mais quase nada. Não sei. Não importa. Não me interessa. É a vida particular dele. O que me importa é a arbitrariedade, cometida não apenas contra Pizzolato, mas contra o Brasil, já que usaram-no para chancelar uma farsa política de enormes proporções.

Como Pizzolato tem o dom de não conseguir esconder nada, nem a si mesmo, daqui a pouco será revelado ao mundo todos os centavos que ele tem guardado em cada canto desse mundo. E obviamente a imprensa tentará escandalizar isso ao máximo.

Entretanto, precisamos separar eventuais ilícitos ligados a sua fuga, à que foi forçado pela fúria assassina do STF e da Procuradoria, dispostos a transformá-lo num bode expiatório de todos os males da nação, dos crimes dos quais foi injustamente acusado.

Na minha opinião, Pizzolato deveria receber um indulto presidencial, por ter sido condenado por um crime que não cometeu. Os ilícitos que porventura tenha cometido ao fugir, deveriam ser perdoados como forma de indenização ao dano moral causado a ele e a sua família pela violência arbitrária de instituições públicas contaminadas politicamente.

Ao artigo do Paulo:

*

O que a Folha deixou de dizer sobre Pizzolato

Paulo Nogueira, no Diario do Centro do Mundo.

Má fé cínica ou obtusidade córnea.

A célebre sentença de Eça de Queirós me ocorreu ao refletir sobre a informação da Folha de S. Paulo a respeito das compras de imóveis de Pizzolato na Espanha.

Mas há na verdade uma terceira hipótese, uma combinação de ambas as coisas, má fé e obtusidade.

Não há contexto no que a Folha trouxe. Pizzolato simplesmente, por força das circunstâncias, aparece aos olhos do leitor como um gatuno.

O site O Cafezinho fez o que a Folha não fez: pesquisou. Encontrou uma reportagem do Correio Braziliense de alguns meses atrás sobre o mesmo Pizzolato.

Nela, Pizzolato, aparece se desfazendo dos imóveis que tinha no Brasil. Importante: todos os imóveis estavam em sua declaração de renda, esmiuçada pela Receita Federal.

Pizzolato tinha vendido seus imóveis já há alguns anos por razões estritamente lógicas. Ele ao ver a fúria assassina do STF temia que o patrimônio de uma vida inteira fosse ficar indisponível exatamente na hora em mais precisava dele.

Na mesma linha da lógica da sobrevivência ele se separou legalmente da mulher Andrea, mas não de fato. Assim, ele poderia pôr seus bens no nome dela.

A reportagem do Correio Braziliense conta que ele chegou a morar na Espanha, com intenções de se fixar lá.

Tudo isso que estou colocando aqui estava ao alcance da Folha com um simples clique no Google. Por que o jornal não fez nada?

Voltamos então à frase de Eça de Queirós.

A “revelação” da Folha foi suficiente para provar teses de colunistas arquiconservadores. Reinaldo Azevedo por exemplo, disse que as compras de Pizzolato tornavam ridículas as vaquinhas dos condenados do mensalão.

Azevedo – que tem uma comovente fixação por mim desde que critiquei seu amigo Diogo Mainardi alguns anos atrás – é o mesmo que disse que Margareth Thatcher morreu pobre. Thatcher, como todo mundo sabia exceto Azevedo, deixou uma casa em Mayfair, o bairro mais nobre de Londres, no valor calculado de 15 milhões de reais. A casa era apenas um dos bens de Thatcher.

A mesma disposição que a Folha sente em investigar Pizzolato não se manifesta, infelizmente, quando se trata de alguém poderoso. A Folha abandonou abjetamente a investigação da sonegação bilionária da Globo depois de ter dado uma única nota. Recebeu um pito da Globo, provavelmente.

No planeta Folha a sonegação – documentada – simplesmente deixou de existir. Este é o jornal que durante anos nos atormentou com o slogan publicitário em que dizia que não tinha rabo preso com ninguém.

O caso Pizzollato tem sim que vir à luz. Mas não do jeito que a Folha está fazendo.

Mais uma vez: é má fé ou inépcia – ou ambas as coisas.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Norberto

24/02/2014 - 17h16

Otimos artigos. Concordo plenamente com o que o Cafezinho e o Paulo Noqueira escreveram.


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