A truculência de Aloysio versus a gentileza de Genoíno

As reações de Aloysio e Genoíno diante de perguntas espinhosas

qua, 07/05/2014 – 16:08 – Atualizado em 07/05/2014 – 16:32

Cíntia Alves, no Jornal GGN.

Jornal GGN – Essa semana, em um fórum sobre liberdade de imprensa e democracia, representantes de veículos como Folha, Estadão, Correio Braziliense e TV Globo criticaram o relacionamento do PT com a mídia. Todas as críticas foram no seguinte sentido: desde que assumiu o poder, o partido tem se esforçado para manchar a imagem da imprensa nativa, numa atitude “anti-democrática e contrária à liberdade de expressão”. Sem debatedores de outros veículos, o fórum deixa a dúvida no ar: seria o PT a única legenda a exercer algum tipo de repressão contra a imprensa?

A diferença entre as reações de Aloysio Nunes (PSDB) e José Genoino (PT) diante de perguntas espinhosas pode ser um exemplo de que não. Basta considerar o recente estouro do senador tucano com um “blogueiro” que lhe perguntou sobre seu “suposto envolvimento” na formação do cartel dos trens paulistas e, de outro lado, a postura do ex-deputado petista diante da insistência do programa CQC (Custe O Que Custar) em entrevistá-lo com aquela dose de “humor” já conhecida pelo público.

Nesta quarta-feira (7), repercute nas redes sociais um vídeo gravado por Rodrigo Grassi. O militante abordou Aloysio Nunes nos corredores do Senado. Se apresentou ao tucano como colaborador, “na blogosfera, do Botando Pilha”. Rodrigo foi assessor da deputada petista Erica Kokay e ganhou notoriedade após publicar um vídeo em que o ministro Joaquim Barbosa é hostilizado por populares.

Grassi fez três perguntas a Aloysio Nunes:

– Qual a importância das CPIs?

– O que o senhor acha do seu partido lá em São Paulo, ter enterrado algo em torno de 70 CPIs?

– E o seu suposto envolvimento no caso [da formação de cartel para fraudar as licitações da CPTM e Metrô]?

Grassi foi preso pela polícia do Senado após o episódio, mas já está solto. Ao jornal O Globo, o senador, que correu atrás do militante dizendo “vá pra p* que te pariu, vagabundo. Eu vou comer o teu c*”, afirmou que “não tinha outra atitude que não partir para cima dele para lhe dar um pescoção”. Aloysio disse que foi “agredido”. “Não tenho envolvimento em caso nenhum de metrô. (…) Só não dei um pescoção nele porque ele correu mais do que eu”, concluiu.

Durante pelo menos cinco anos, como pode se constatar em vídeos disponíveis na internet, o programa CQC tentou insistentemente entrevistar José Genoíno. A busca por uma fala do ex-deputado se intensificou após ele ser condenado por corrupção ativa no julgamento do mensalão, em 2013.

Naquele ano, o CQC produziu um quadro especial em que prometia a “primeira entrevista de Genoíno” ao programa. Genoino – que classificou, por inúmeras vezes, o “jornalismo provocativo” do CQC como uma prática desprovida de preocupação em extrair informações da fonte, se limitando apenas a constrangê-la em rede nacional – se recusou a falar com a equipe de reportagem destacada para segui-lo pelos corredores do Congresso.

Mesmo assim, frente ao silêncio absoluto de Genoíno, o CQC fez as seguintes perguntas:

– Genoino, você veio aqui (Congresso) se esconder porque na prisão é pior? Aqui tem mais bandido, então é mais fácil?

– Tá fazendo voto de silêncio, deputado? Vai ser bom na prisão, porque lá X9 (gíria para quem fala demais) se ferra…

– Você não ficou chateado porque o Maluf não foi preso ou condenado, o pessoal todo não foi condenado, e o senhor está aí. Foi o único que foi com o João Paulo Cunha, esse pessoal (do mensalão)?

– Genoino, você vai passar onde o revéillon? Papuda? Já sabe qual vai ser a prisão?

O ex-deputado petista nada fez ou disse diante das investidas do CQC.

Genoino e a “imprensa provocativa”

Em 2013, Genoino, durante entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, na RedeTv!, afirmou que tem “uma posição crítica aos programas de humor”. “E faço questão de não citar esse programa. Porque o humor que ataca a pessoa, que faz execração pública, que desrespeita as normas civilizatórias e usa a pessoa para criar uma situação de constrangimento é um fenômeno de intransigência.”

O jornalista perguntou a Genoíno se não seria mais fácil ele dar a entrevista e evitar a repercussão negativa do caso, já que, inevitavelmente, o CQC, assim como outros programas e veículos de comunicação, tem licença para trabalhar dentro do Congresso.

Genoino explicou, então, que não considera o jornalismo praticado pelo CQC legítimo. “Eu me recuso a dar [entrevista] para não legitimar esse tipo de programa. Você dá a entrevista e ela é enfeitada, botam adereços na sua cabeça”, comentou, em alusão aos efeitos de edição. “Eu falo e discuto em qualquer entrevista, seja dura ou não, desde que seja uma entrevista”, pontuou.

O petista ainda sustentou que a atual legislação não facilita o uso do direito de resposta quando o entrevistado ou personagem de alguma reportagem se sente prejudicado. “Eles têm o direito de estar lá e eu tenho o direito de não dar entrevista, porque as perguntas são provocativas, são de ataque, não têm nível respeitoso de transmitir a informação. E no Brasil não tem o direito de resposta, isso é uma lacuna em nossa legislação”, finalizou.

PS Cafezinho: vale assistir também ao vídeo com o deputado Amaury Teixeira.

PS 2 Cafezinho: É simplesmente estarrecedor. Os tucanos mandam demitir jornalistas. Mandam prender. Xingam. Tentam agredir fisicamente. Lembram de Barbosa (que para mim é um tucano de mão cheia) xingando um repórter do Estadão? E os lacaios da mídia satanizam o PT por fazer críticas genéricas, políticas, ao comportamento da grande imprensa… Esse fórum sobre liberdade de imprensa e expressão é uma piada pronta. Os filhotes de ditadura não aceitam ser criticados por sua conduta de manipuladores contumazes de informação, e ao invés de criticarem a truculência tucana contra jornalistas (Serra manda demitir, Aécio manda prender, Aloysio xinga, bate e manda prender), eles se voltam contra um PT que nunca agrediu jornalistas, mesmo sob o bombardeio mais covarde e mais vil, como é o exemplo de Genoíno citado no post acima.

É por isso que eu falo: Joaquim Barbosa, com sua truculência animal, apenas repete os vícios da Casa Grande, igualmente copiados por Aloysio Nunes e Serra. Para eles, jornalista tem de ser obediente e submisso. E jamais ter ideias próprias! A Globo pactua com isso, vide a matéria tentando difamar os blogueiros, na qual a repórter ligou para todos os anunciantes, numa inacreditável ação de terrorismo econômico.

Tá brabo, irmãs e irmãos! Imprensa alternativa não pode ter anúncio privado, porque a Globo apavora todo mundo com seu golpismo truculento. Ninguém quer anunciar em veículos que criticam a mídia. Não pode ter anúncio público, porque aí vira alvo de ataques da mesma mídia (da mesma mídia que recebe bilhões em anúncios públicos). Não pode fazer matérias contra tucanos, senão a polícia prende, arrebenta e mata. E ainda toma processos do Ali Kamel por causa de críticas que fazemos à Globo, e não a ele.

E o governo que apanha, e vê seus quadros irem presos em virtude de uma farsa jurídica na qual a imprensa desempenhou o papel principal, continua ajudando esses filhotes da ditadura…

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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