Campos é o “novo” que não quer mudar nada

Em entrevista recente no Roda Viva, da TV Cultura, Eduardo Campos voltou a afirmar que não pretende mudar em nada a legislação do aborto no país. Disse que é contra o aborto e ponto final.

Lula, ao menos, quando perguntado, saía-se sempre uma tirada um pouco mais democrática: sou pessoalmente contra, mas entendo que é um problema de saúde pública e acho que é um tema a ser debatido.

Dilma sempre fez a mesma coisa. Recentemente, Dilma sancionou a Lei da Vítima Sexual, que permite à mulher obter um aborto legal em qualquer hospital filiado ao SUS. As entidades medievais, naturalmente, acharam que isso é uma “brecha” para introdução do aborto no país.

Na mesma entrevista no Roda Viva, Eduardo Campos também respondeu que é contra qualquer relaxamento na repressão contra a maconha, indo na contramão do que vem acontecendo no mundo inteiro. Entrando em contradição, além disso, com sua própria vice, Marina Silva, cujo partido é formado por simpatizantes e usuários de maconha, segundo relato de um sociólogo que conhece a equipe de Marina de perto. E não menciono isso como crítica, mas como elogjo. Fumar maconha é melhor do que cheirar cocaína de helicóptero…

O que me espanta é que Campos não quer mudar nada. Não quer sequer debater nada. O novo para ele é um conceito vazio.

Tem mais.

Em encontro com empresários do setor farmacêutico, ontem, o candidato deu mais detalhes sobre a “nova política” que pretende implantar:

1) não quer revisar a Lei da Anistia, apesar das condenações duras que o Brasil vem sofrendo de organizações internacionais, e estarmos chegando, através do trabalho das comissões da verdade, a um estágio mais avançado de conscientização histórica sobre a ditadura.

2) não quer nem debater a regulamentação da mídia, apesar deste ser um dos temas mais discutidos no mundo inteiro. Olha o que disse Campos, segundo O Globo:

O presidenciável comentou ainda a decisão da Executiva do PT de incluir, nas diretrizes do programa de governo da candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff, a previsão de regulação dos meios de comunicação para “proteger e promover os direitos humanos e combater os monopólios”.

– Quem regula a imprensa é o eleitor. Se eu não gosto de determinado veículo eu passo para outro – declarou.

De acordo com Campos, a sua campanha não abordará o tema:
– Não está no nosso programa de governo nem é um prioridade do nosso programa de governo tratar dessa matéria.

Na prática, Campos é o candidato da mesmice. Não quer mudar nada. Fala mal do Sarney, mas se alia a Jorge Borhausen, a Heráclito Fortes e tentou de todas as formas estabelecer um acordo político com Ronaldo Caiado, até Marina dar um chilique e implodi-lo. Em São Paulo e Minas, seu partido sempre se aliou ao PSDB, e não vejo em que essas alianças são melhores do que alianças com Sarney. Muito pelo contrário, são alianças piores, porque o PSB tinha papel subalterno, chancelando as diretrizes e ordens ditadas pelos tucanos.

Para cúmulo do conservadorismo, Campos ainda me sai com essa pérola, ao ser perguntado sobre a regulação do preço dos medicamentos:

Antes, em palestra para representantes do indústria farmacêutica, Campos foi questionado sobre a regulação dos preços de medicamentos pelo Estado e disse ser contra a interferência excessiva.

–  Quanto menos o estado intervir definindo preços essa é a regra do sistema capitalista – disse.

Caramba! Campos não quer nem regular o preço dos medicamentos! E isso porque essa é a “regra do sistema capitalista”!

Falou o presidente do “Partido Socialista Brasileiro”!

Campos e Heraclito Fortes

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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