O mau humor dos empresários, segundo o Valor

Hoje eu estou frenético no blog, escrevendo por hoje e amanhã, pois nesta sexta irei à São Paulo, a convite da União Nacional dos Estudantes (UNE), participar de um debate intitulado “A luta em defesa da liberdade de expressão e pela democratização da mídia”.

O debate integra o 62º Conselho Nacional de Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes (Coneg da UNE) e acontecerá às 15h na Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP).

Então o blog vai ficar meio paradão amanhã. Mas eu botei tanta coisa hoje que acho que já compensa.

Agora eu gostaria de comentar uma extensa matéria no valor (aqui, para assinantes), intitulada “As razões do mau humor no voto empresarial”, que me divertiu bastante. A repórter Leticia Casado entrevistou 20 empresários, de variados setores, e fez uma apanhadão do que eles pensam sobre Dilma Rousseff e as eleições de 2014.

Noves fora a asserção mais que duvidosa de achar que 20 empresários possam representar centenas de milhares de empreendedores, grandes, médios e pequenos, a matéria oferece, não obstante, algumas provocações e dados interessantes.

Todos se mantiveram no anonimato, deteriorando ainda mais o peso que podemos dar a sua opinião, mas tudo bem. Vamos relevar isso também.

Dilma até que se sai bem na matéria, que entrevista 20 super coxinhas.

Vou começar pela frase final: “Nenhum dos 20 entrevistados, nem mesmo em off, disse duvidar da idoneidade da presidente”.

Diante disso, o staff da presidente pode até gritar: “Alvíssaras!” Afinal, manter uma reputação ética intocável no meio do lamaçal, midiático ou real, que se tornou a política brasileira, é uma proeza para raros.

Aliás, tenho dito que essa “virgindade” de Dilma, que antes de ser presidenta nunca disputara eleição nem vivenciara lides políticas e partidárias que nunca são 100% limpas, foi a qualidade que fez Lula a escolher como candidata. Qualquer outro quadro do PT, a essa altura, já teria sido revirado pelo avesso pela grande imprensa de oposição. E poucos escapariam ilesos de uma devassa udenista sistemática. Um caixa 2, um porre, um processo, todo político tem alguma nódoa. Carro zero, só mesmo Dilma, e com seguro garantido por quatro anos. Ou oito.

Continuemos analisando a matéria. Dos 20 empresários, três deram declarações simpáticas a Dilma, e disseram que o segundo mandato pode ser melhor.

Dentre os que não gostam da presidente, um deles, do setor de vestuários e calçados, baseado no Nordeste, revela que o motivo de sua antipatia é o PT, que teria um “projeto de poder”. E não gosta do PT por causa da “famigerada Bolsa Família, que não tirou ninguém da pobreza”. O cara é empresário no Nordeste, cujo poder de consumo multiplicou-se várias vezes. Sem comentários.

Um deles, sem temer o ridículo, diz que prefere ver a Argentina ganhar a Copa do que assistir à vitória de Dilma.

Um empresário da construção civil faz algumas reclamações infantis. Após admitir que o setor foi fortemente beneficiado pelo PT na presidência, e que “a construção civil passou oito anos sem política de finaciamento para moradia nos governos do PSDB”, ele reclama da demora na entrega de elevadores para os prédios… Francamente, é para rir. O que a Dilma tem a ver com isso?

Esse quadrinho traz uma lista das “queixas”. Tem algumas com as quais eu até concordo.

A parte divertida é quando eles começam a falar da oposição. Ninguém consegue falar nada de bom de Aécio e Campos. Sobre Aécio, os entrevistados citam o “Choque de Gestão”, que “adotou a redução de salários do Executivo e da máquina pública”. Esse é o elogio à Aécio… O que é uma bobagem, porque os salários do Executivo, seja no estado seja no âmbito federal, são baixos, sobretudo se comparados aos do Judiciário e do Ministério Público.

Eles não conseguem esconder o medo da política econômica de Aécio, e mais especificamente de Armínio Fraga. A maioria suspeita que um eventual governo Aécio iria rever a política de financiamento do BNDES, seguindo a tradição tucana de ferrar o setor produtivo e privilegiar apenas bancos e mercado financeiro.

Um deles quase chama Aécio de burro: “Já um diretor de uma empresa do setor financeiro diz que (…) Aécio é incompleto do ponto de vista político. Não leu o suficiente para entender o que é política, faz na base do esforço”.

Outro empresário afirma que o PSDB “é desorganizado e está desaparecendo por isso. Mas ser desorganizado é bom. Ter sempre consenso indica algo errado”.

Agora ser desorganizado e estar em vias de desaparecer é bom… Claro, empresários querem partidos fracos, que são mais fáceis de manipular.

Mais: “O mesmo grupo que elogia Aécio demonstra certo receio em relação ao senador, que foi citado como ‘festeiro’ por três entrevistados, (…) gosta de carrões e Carnaval”. Ainda bem que não falaram em helicópteros…

Sobre Campos, um dos entrevistados bate pesado no governador:

“O presidente de uma rede varejista e rival político de Campos diz que é preciso calcular quanto dinheiro o governo federal despejou em Pernambuco nas gestões Lula e Dilma”. E vai mais fundo, praticamente chamando Campos de chantagista: “todo prefeito tem medo de Eduardo Campos porque sabe que ele tem capacidade de vetar as contas do município no Tribunal de Contas do Estado”.

Ao fim das contas, acho que, no frigir dos ovos, os empresários, mesmo com todo esse “mau humor” e antipatia pelo PT, vão acabar deixando o preconceito e a ideologia de lado e votando em Dilma.

É mais seguro do que votar num “festeiro”, que pode cortar financiamentos ao setor produtivo, ou em Campos, que chantageia prefeitos no Tribunal de Contas.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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