Menu

O desemprego e o saldo

Imagine um país com desemprego zero. Não será um mundo perfeito porque ainda haverá gente que não trabalha onde quer, ou que trabalha de má vontade, ou que não gosta de trabalhar, ou que é maltratada no emprego, ou que ganha mal. Inegável constatar, porém, que será um avanço. Todo mundo trabalhando. No entanto, a […]

12 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Imagine um país com desemprego zero.

Não será um mundo perfeito porque ainda haverá gente que não trabalha onde quer, ou que trabalha de má vontade, ou que não gosta de trabalhar, ou que é maltratada no emprego, ou que ganha mal.

Inegável constatar, porém, que será um avanço. Todo mundo trabalhando.

No entanto, a cada 30 dias, os jornais darão a notícia terrível:

Saldo de emprego próximo de zero!

Nunca foi gerado tão pouco emprego no país!

Saldo de emprego é o pior em 100 anos!

Parece absurdo. Como é possível que o desemprego de um país chegue a zero, e mesmo assim a opinião pública seja bombardeada, todo mês, com uma notícia péssima sobre o saldo de vagas criadas?

A explicação é simples. A relação entre a curva do desemprego e a da criação de vagas é “assintótica”.

Me perdoem se eu estiver usando incorretamente este conceito. Quem tentou me ensinar foi uma leitora.

Quanto mais cai o desemprego, mais a linha de criação de vagas tende a ficar horizontal, e baixa.

Não estou dizendo que deveríamos desprezar os dados relativos à criação de vagas. Eles servem para capturar a temperatura do mercado de trabalho.

Entretanto, se não forem cotejados com o nível de desemprego, haverá um distorção.

Observe os gráficos. Repare como o saldo de emprego vai seguindo a curva da desocupação.

IBGE

 


 

gráfico1 CAGED junho 2014


Vou tentar usar uma outra metáfora.

Imagine uma pessoa muito gorda.

Nos primeiros meses de regime, ela perde uma enorme quantidade de peso: 50 quilos.

Ela pesava 150 quilos, agora tem 100 quilos.

Ela quer emagrecer mais. Só que não poderá emagrecer 50 quilos novamente. Ela pode perder no máximo 10 ou 15 quilos.

E assim, conforme ela for emagrecendo, terá que perder cada vez menos peso. Até chegar num ponto onde não poderá perder mais nada.

Seria uma estupidez, contudo, lamentar que fulana, que no ano anterior conseguira perder 50 quilos, este ano perdeu apenas 5 quilos. Ora, antes ela tinha gordura extra para destruir. Agora, não tem mais.

A mesma coisa acontece com o emprego. Em 2003, havia um enorme contingente de desempregados. Tínhamos uma reserva de mão-de-obra ociosa. Conforme esta reserva foi se integrando ao mercado de trabalho, a própria reserva declinou.

Os saldos vão ficando menores.

A relação do saldo de criação de vagas com o desemprego só não é exata porque há outras variáveis, como a entrada de jovens no mercado de trabalho, e a aposentadoria de outros.

Também há sempre aqueles que desistem de procurar vaga e voltam a fazê-lo em momentos de grande aquecimento da economia.

Observe, por exemplo, que, em junho de 2008, houve uma criação recorde, de 309 mil vagas. Tínhamos ali a coroação de um processo de mudança profunda no mercado de trabalho, que em dois anos saiu de um patamar de dois dígitos, para algo em torno de 8%.

Em junho de 2003, o desemprego estava em 13%. O PIB cresceu apenas 0,5% aquele ano, câmbio instável, querendo explodir, inflação batendo em dois dígitos. No entanto, em junho de 2003, o saldo gerado foi de 126 mil postos de trabalho, cinco vezes mais que os 25 mil postos gerados em junho de 2014.

Ué, quer dizer que o mercado de trabalho em 2003 estava muito melhor do que hoje?

Outros números desmentem esse dado. Vamos desconsiderar os desligamentos, por exemplo, e observar somente as admissões: em junho de 2014, as empresas brasileiras contrataram 1,64 milhão de pessoas. Nos 12 meses terminados em junho, as admissões totalizaram 21,9 milhões de empregos.

Em junho de 2003, as admissões somaram apenas 825 mil postos de trabalho; nos 12 meses terminados em junho de 2003, foram 9,8 milhões de postos gerados.

ScreenHunter_4248 Jul. 18 15.25


Estamos muito melhor hoje!

A curva do saldo da criação de vagas tende a despencar especialmente a partir de um determinado patamar do desemprego, quando apenas as pessoas com menos preparo profissional passam a ocupar fatias maiores do universo total de desempregados.

Se o desemprego está próximo de 5%, conforme o IBGE, então temos o seguinte quadro: todas as pessoas com preparo já estão empregadas; não entrarão no saldo de criação de vagas. No máximo, podem pular de um emprego para outro, e de fato a rotatividade aumentou bastante nos últimos anos, com trabalhadores procurando empregos melhores.

Surpreende-me que o próprio governo federal não atente para essa distorção. 

O Brasil vive um momento próximo do pleno emprego, e o governo, ao invés de faturar com isso, deixa que a imprensa invente uma “crise” no mercado de trabalho com base numa interpretação mentirosa e antimatemática dos fatos.

Apoie o Cafezinho

Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Mais matérias deste colunista
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

Jose Antonio Guimaraes

21/07/2014 - 10h18

Para os perseguidos políticos do PT essa verdade nao se aplica e eu assim como vários colegas estamos exilados

Suzana Oliveira Lima

19/07/2014 - 07h44

DECLARAÇAO DE BENS AÉCIO NEVES 2010 KKK http://divulgacand2010.tse.jus.br/divulgacand2010/jsp/abrirTelaDetalheCandidato.action?sqCand=130000000952&sgUe=MG

Thião Cabeleireiros

18/07/2014 - 22h58

Existe pessoas que nao tem coragem pra nada e reclama que o pais esta ruim tem muitos imcapas curssos profissionalisantes te a vontade trabalho existe nao tem e pessoas qualificadas e pura preguiça por isso e Lula la e Dilma em outubro

    Vitor

    19/07/2014 - 12h52

    Sério, não acho que temos que escrever um português 100% correto na internet (eu mesmo não escrevo), mas não dá para entender muito o que você escreveu…

Roberto Marconi De Macedo Filho

18/07/2014 - 21h01

Sugiro fazer outra análise. Compara a população economicamente ativa com a empregada.
Acredito que será um número mais retumbante.

Teri Batelli

18/07/2014 - 19h28

Palmas para nosso jornalismo exemplar! Se superando dia após dia!

Teri Batelli

18/07/2014 - 19h28

Palmas para nosso jornalismo exemplar! Se superando dia após dia!

João Silva

18/07/2014 - 19h16

Seu post foi perfeito. Nós chegamos a um patamar de pleno emprego, as pessoas estão se especializando e com isso trocando de emprego… Hoje a pessoa consegue sair de uma firma e com uma semana entrar em outra, coisa que há 15 anos era impensável… Essa matemática idiota do pig é mesma usada no data folha de ontem…

João Silva

18/07/2014 - 19h16

Seu post foi perfeito. Nós chegamos a um patamar de pleno emprego, as pessoas estão se especializando e com isso trocando de emprego… Hoje a pessoa consegue sair de uma firma e com uma semana entrar em outra, coisa que há 15 anos era impensável… Essa matemática idiota do pig é mesma usada no data folha de ontem…

Vitor

18/07/2014 - 16h08

Perfeito o raciocínio Miguel!
Mas arruma um estagiário para montar seus gráfico e tabelas… Hehehe

Leinig Perazolli

18/07/2014 - 19h06

Medo infantil do comunismo, isto é de doutrinação na infância .

Paulo Alves Monteiro

18/07/2014 - 18h51

Para a oposição o copo nunca vai estar meio cheio !!


Leia mais

Recentes

Recentes