Minc é a nova Geni?


 

O artigo abaixo me foi enviado pelo Theo em 16 de janeiro, mas ficou perdido numa caixa de spam e não o publiquei na época.

Publico agora.

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Por que o Ministério da Cultura é a nova Geni?

Por Theófilo Rodrigues, colunista eventual do Cafezinho

Desde que a presidenta Dilma Rousseff começou a anunciar o seu novo ministério, notícias e mais notícias sobre os indicados surgiram na imprensa. Contudo, as matérias ou entrevistas nunca passaram muito além dos perfis dos novos ministros. Do ministério da Fazenda ao ministério da Educação, as novas equipes indicadas pelos ministros passaram completamente em branco. Com a exceção do ministério da Cultura…

A pergunta que fica é: por que o ministério que possui o menor orçamento de toda a Esplanada merece uma atenção tão minuciosa da mídia sobre cada um dos nomes que estão sendo indicados para compor a equipe?

Primeiro foi o jornalista Fernando Molica no jornal O Dia. Molica utilizou metade de sua coluna diária para tecer sua crítica contra a professora Ivana Bentes, nova Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do ministério. O curioso foi o método utilizado pelo jornalista: uma busca completa por todo o histórico de Ivana no Facebook para apontar os momentos em que a professora fez críticas ao governo. Até mesmo a participação em um debate ao lado da black bloc Sininho foi apontada em tom de denúncia. Poucos sabem, mas o filho de Fernando Molica, Julio Molica, foi o repórter da Globonews agredido pelos black blocs em 2013. Mas aí já é outra história…

No dia seguinte foi a vez do jornal O Globo fazer matéria de meia página sobre a história de Ivana Bentes e os motivos pelos quais foi indicada para a Cultura. Nenhum fato desabonador sobre Ivana apareceu na matéria, apenas suas posições políticas. Meia página para contar a história de uma indicada para uma secretaria interna da Cultura. Um privilégio que nenhum outro ministério teve. Como diria Ancelmo Gois: “Parece estranho. E é”.

A estranheza, todavia, acabou-se. Hoje foi o editorial do Estadão que mirou no ministério. Intitulado “Cultura sem chefe” o jornal foi bem didático em explicar para os desavisados quais são os motivos que estão levando a imprensa a avançar sobre o novo ministro Juca Ferreira e sua equipe. O jornal ataca o fato de Juca ter anunciado a criação do “Gabinete Digital”, espaço de participação na internet para consulta pública sobre as ações do ministério.

Nas palavras do editorial do centenário jornal paulista, “a proposta parte de uma visão ideológica da coisa pública, em que os cidadãos organizados e os movimentos sociais seriam os verdadeiros titulares da administração”. Diz ainda que, “na prática, ao propor a participação social como estratégia de gestão de um ministério, está deixando o Ministério com outras pessoas”.

Pronto. De forma clara e legítima o Estadão explicou para todos nós qual o principal motivo do ministério da Cultura merecer tanto apedrejamento por parte da imprensa, tal qual uma Geni. O motivo é o desprezo que certa imprensa comercial possui por qualquer ação que vise a participação e deliberação popular. Mas desse programa político Juca Ferreira e sua equipe – Ivana Bentes e João Brant – parecem não abrir mão. Ainda bem.

Theófilo Rodrigues é cientista político.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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