O petrolão vulgar do jornal O DIA


 

O jornal O Dia tem adotado uma linha editorial razoável, se a compararmos ao Globo, mas essa matéria publicada hoje sobre o estudo da FGV nos oferece um exemplo triste de vulgaridade jornalística.

Não é o “petrolão” que vai tirar os R$ 87 bilhões da economia brasileira, mas a irresponsabilidade com que o juiz Sergio Moro, os procuradores, e a mídia, tratam o escândalo, e sobretudo o esforço contínuo para impedir o governo de encontrar soluções racionais que evitem a falência de empresas estratégicas para o projeto de desenvolvimento nacional e renovação da infra-estrutura.

Além do mais, a matéria, ou o estudo, misturam o “petrolão” com o ataque especulativo à Petrobrás, num contexto geopolítico adverso, no qual os preços internacionais do petróleo caíram fortemente, forçando petroleiras do mundo inteiro a pisarem no freio.

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Publicado no jornal O DIA.

Petrolão tira R$ 87 bilhões da economia brasileira

Estudo da FGV e do Cedes aponta encolhimento do PIB brasileiro em 2015

O DIA

Rio – Os reflexos do esquema de corrupção detectado na Petrobras pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, vão atingir a economia brasileira este ano com redução em R$ 87 bilhões do Produto Interno Bruto (PIB). Esta é a previsão de estudo do Grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Centro de Estudos de Direito Econômico e Social (Cedes).

Os R$ 87 bilhões que deixarão de circular são suficientes, por exemplo, para a construção de 1,2 milhão de unidades do programa ‘Minha Casa Minha Vida’. E permitiriam a construção de mais de 72 ‘maracanãs’ e de quase três hidrelétricas de Belo Monte. O R$ 87 milhões representam ainda 2,3 vezes da infraestrutura dos Jogos Olímpicos de 2016.

Para chegar aos R$ 87 milhões de encolhimento do PIB, o estudo leva em conta os efeitos da redução de gastos da Petrobras sobre toda a cadeia de fornecedores. A estimativa é de redução de R$ 27,5 bilhões nos investimentos da Petrobras. A partir desse valor, foram calculadas perdas na produção, nos empregos, nos salários e na geração de impostos.

A previsão é que, com as demissões previstas, o pagamento de salários deverá diminuir R$ 13,6 bilhões. Isso trará efeitos negativos sobre o consumo de produtos, serviços e até de produtos agrícolas. Além disso, os cofres públicos de União, estados e municípios deverão ter uma queda na arrecadação de cerca de R$ 5,7 bilhões.

Pelo estudo, o impacto mais forte recairá sobre as grandes construtoras, que também são alvo da Lava Jato. Só nesse setor da economia, a contribuição para o PIB deverá cair R$ 10 bilhões, com corte de 192 mil vagas, redução de R$ 1,7 bilhão nos salários pagos e recolhimentos tributários R$ 652 milhões menores.

Na semana passada, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) divulgou estudo em que mostra que pelo menos 144 empreendimentos estão ameaçados de paralisação, depois das denúncias de esquema de corrupção na Petrobras. A interrupção de projetos com a deflagração da Lava Jato representa risco de R$ 423,8 bilhões em investimentos no país.
Desse total, R$ 242, 8 bilhões estão previstos para 109 obras de infraestrutura e o restante, R$ 181 bilhões, são para o setor de petróleo e gás. No Rio de Janeiro, são R$ 46 bilhões de investimentos ameaçados em infraestrutura e R$ 58,9 bilhões em petróleo e gás.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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