Greve geral da CUT reflete o apagão político do governo


 

O apagão político do governo, que já era grave na gestão anterior, e ficou ainda pior nesta, acaba de provocar mais uma consequência funesta.

A CUT, central sindical que mais apoia o governo, decidiu, através de resolução da Executiva Nacional, fazer uma greve geral contra a política econômica do governo federal.

Ou seja, é uma greve contra Dilma. Da CUT.

E por que?

Por que o governo desprezou solenemente a construção de uma narrativa política que desse às centrais e aos movimentos sociais uma plataforma de defesa.

É tiro no pé das centrais? Provavelmente sim. Vai afundar ainda mais o barco de CUT, PT e governo.

Mas quem lhes deu a arma e a munição foi o Planalto.

Os sindicatos estão totalmente emparedados politicamente, pela incapacidade do governo em oferecer uma agenda progressista mínima.

Em 2003, Lula também adotou uma política econômica conservadora, mas tinha inúmeras bandeiras progressistas, a começar pelo combate à fome. Era um governo novo, cheio de programas inovadores, experimentais, e havia muita esperança na sociedade.

O governo Dilma não consegue oferecer uma mísera ideia nova, apesar de sua campanha ter sido toda lastreada em propostas de mudanças.

Não fazem sequer uma mudança de visual nos sites do governo e no blog da presidenta.

Em todos os momentos de crise, no Brasil e no mundo, governos bem sucedidos reagiram aumentando os investimentos públicos.

Aqui, fala-se em “ajuste fiscal” como se fosse o caminho da salvação.

Cadê o Mercadante, o Berzoini, o Rosseto? Sumiram.

Onde foi parar o “conselho político”?

O ministro da Justiça permanece calado diante de todo o tipo de arbítrio de um juizeco fascistóide do Paraná, que manda prender pessoas por tempo indeterminado, com base em matéria de Veja.

E esse mesmo juiz, com ajuda de um punhado de procuradores lunáticos e, claro, da mídia, conseguiu paralisar obras fundamentais de infra-estrutura e causar prejuízo de bilhões ao setor mais avançado da economia brasileira, provocando a destruição de milhares de postos de trabalho.

Dilma, por sua vez, incorporou o discurso conservador da mídia e dos especuladores internacionais e só fala em “ajuste fiscal”.

E dá-lhe cancelar discurso na TV com medo de panelaço, e fugir de comício em lugar aberto, com medo de manifestação.

Num dia, a mídia diz que Dilma quer se descolar do PT, no outro que o PT quer se afastar de Dilma, ambos fugindo de paneleiros e coxinhas. E o governo não responde, deixando que a versão se consolide.

Ora, a presidente tinha obrigação moral de defender o PT, porque é seu partido! Tentar se descolar é impossível e prejudica ambos: a presidenta fica com fama de covarde, e o PT com fama de portador de doença infecciosa.

Dilma tornou-se uma presidenta emparedada, afastando-se de movimentos sociais, centrais e milhões de eleitores dispostos a lhe apoiar entusiasticamente, caso oferecesse uma plataforma de iniciativas políticas progressistas concretas.

Prefere não oferecer nada e afundar, levando governo e PT juntos.

O PT, por sua vez, continua completamente atarantado. Apoia uma coisa no Congresso, muda de ideia no dia seguinte, apoia outra na TV, depois vai para a rua apoiar uma quarta coisa.

Rui Falcão diz na TV que o PT expulsará condenados, após passar anos protestando contra as condenações políticas e injustas de um Judiciário cada vez mais midiático e partidário.

Claro, não expulsará os condenados do mensalão, o que ofereceu à mídia um prato cheio para criticar sua incoerência.

Alguém sugira a Falcão ler este post do Cafezinho, reproduzindo matéria do Elio Gaspari, em que ele conta a história de um deputado federal republicano que chegou a trabalhar no congresso já condenado, usando uma tornozeleira eletrônica. Jay Kim foi expulso da política pelos próprios eleitores, numa prévia de seu partido.

A criatividade do partido em seus programas corresponde a zero, apesar dos recursos visuais milionários. Apenas sabe repetir pela bilionésima vez que tirou tantos milhões da miséria, em vídeos sempre com a mesma estética, mesmas cores, mesma cara. Até agora não percebeu que o brasileiro quer olhar as coisas sob outra perspectiva, quer olhar para si mesmo como alguém que venceu por seus próprios méritos, não por ajuda do governo, o que é uma tendência natural no processo de reconstrução de sua autoestima.

Outra dica para o PT: assista a esse vídeo, feito em celular, que ajudou a garantir a vitória do candidato da esquerda uruguaia.

Não quer dizer que a nova classe média não seja grata ao governo, tanto que votou em Dilma. Mas é compreensível que ela não queira ficar ouvindo o tempo inteiro a mesma coisa. O cidadão quer ver a si mesmo como um heroi, que venceu sozinho as dificuldades.

É humilhante ouvir repetidamente que o governo te ajudou a sair da miséria, até porque se o governo e o PT ajudaram, não fizeram mais do que sua obrigação. A gratidão política não é eterna.

O PT não oferece uma plataforma de futuro, não fala de tecnologia, não fala ao jovem, não fala a uma classe média que ele mesmo ajudou a criar, tem medo de discutir ideologia e reage desastradamente aos ataques udenistas.

Outro dia fiquei sabendo, por um petista, que a decisão do partido de não mais receber dinheiro de empresas apenas vai piorar as coisas, porque os candidatos poderão receber à vontade. E apenas os candidatos já com cargo eletivo poderão receber. Os novos não poderão, ou seja, criar-se-á duas classes de candidatos, fechando o partido para um necessário processo de renovação de quadros.

A política brasileira entrou num processo degenerativo assustador.

Enquanto isso, a presidenta Dilma se recusa a falar sobre o problema da concentração da mídia no Brasil, um tema que está na boca de todas as universidades do país, e não só de comunicação, de todos os movimentos sociais, sindicatos, centrais e associações progressistas.

É inacreditável a incapacidade governamental de ler a realidade política.

Será que eles ainda acreditam em Merval Pereira?

Os mesmos paneleiros que vão as ruas protestar contra a corrupção, oferecem propina nas redes sociais a quem lhes vender pontos na carteira de habilitação.

E tome aumento de juros, corte no seguro desemprego, na aposentadoria dos mais pobres (que não é reajustada e está diminuindo), no seguro-defesa do pescador artesanal.

O quadro econômico não oferece mais consolo ao governismo.

A conjuntura está difícil, e quando a gente pensa que vai melhorar, um ministro vai aos EUA e fala em rever a política de conteúdo nacional e mudar o regime de partilha do pré-sal, semeando mais confusão na base política de Dilma, que não reage.

Ninguém pensa em gestão de crise, ninguém trabalha a gestão das expectativas eleitorais, ninguém parece se preocupar com gestão da imagem política do governo junto a seu próprio eleitorado, ninguém fala em aprimorar a comunicação, não se menciona um cronograma de agendas positivas.

Desculpem, não deu para publicar nada muito otimista hoje.

*

CUT reafirma posição contrária à política econômica do governo Dilma

Postado em 7 de maio de 2015 às 5:57 pm

Do site da CUT:

Resolução da Executiva Nacional da CUT

A Direção Executiva da CUT, reunida em São Paulo no dia 05 de maio de 2015, reafirmou sua posição contrária à política de ajuste adotada pelo governo para enfrentar a crise econômica, assim como reiterou a luta que a Central vem desenvolvendo, junto com centrais sindicais e movimentos sociais parceiros, para defender os direitos, a democracia, a reforma política, a democratização dos meios de comunicação, a Petrobrás e para combater, com igual peso, a corrupção.

A CUT reprova a atual política econômica do governo por ser incoerente com o projeto que os/as trabalhadores apoiaram e que foi vitorioso nas últimas eleições, por levar o país à recessão e por penalizar a classe trabalhadora com o desemprego, a retirada de direitos, a precarização das relações de trabalho e a regressão de políticas públicas. Considera inaceitáveis as perdas de direitos contidas nas MPs 664 e 665 e posiciona radicalmente contra sua aprovação no Congresso Nacional. No lugar de penalizar os setores menos favorecidos da população, as medidas de ajuste deveriam incidir sobre os setores mais abastados da sociedade que concentraram renda e poder sonegando impostos e se beneficiando de uma política tributária regressiva.

A CUT questiona igualmente a eficácia da elevação da taxa de juros como medida de combate à inflação e seu efeito deletério na economia, ao provocar a elevação da dívida pública, limitar o investimento do Estado em infraestrutura e políticas públicas e inibir o investimento privado na produção. Reafirma a posição, explicitada na Plataforma da CUT, a favor de uma política que promova o crescimento econômico com inclusão social, proteja o emprego e a renda, preserve e amplie os direitos dos/as trabalhadores/as.

A CUT é radicalmente contra o PL 4330, repudia a forma truculenta como foi submetido à votação na Câmara Federal e denuncia os parlamentares que votaram a favor do projeto como traidores da classe trabalhadora e ladrões de direitos. Questiona sua constitucionalidade e continuará a luta contra a terceirização nas ruas, nas redes sociais e no próprio Congresso Nacional, pressionando pelo seu arquivamento no Senado.

A CUT questiona também a aprovação das PECs (PEC 215 na Câmara Federal e PEC 38 no Senado), que transferem a demarcação das terras indígenas do Executivo para o Legislativo, favorecendo os interesses do capital internacional e das empresas nacionais na apropriação dessas terras para o agronegócio, acentuando, dessa forma, a já impressionante concentração fundiária e de poder por parte de setores minoritários da sociedade brasileira. Reivindica também a abertura de diálogo para discutir os investimentos públicos nos portos e em transporte. Exige a aprovação da PEC das domésticas e a ampliação de seus direitos.

A direção da CUT manifesta irrestrita solidariedade aos servidores públicos em greve, particularmente os professores, e repudia a forma brutal como suas legítimas manifestações foram reprimidas, como no Paraná, considerando essas ações um atentado aos direitos humanos e à democracia. Denuncia a degradação do ensino e das condições de trabalho na rede pública estadual e exige que essas condições sejam revertidas, assegurando-se a prioridade constitucional dada à educação. Reitera a necessidade de regulamentação da Convenção 151 da OIT que reconhece e regula a negociação coletiva no serviço público, assim como considera fundamental o reconhecimento do direito de greve no setor público. Questiona, da mesma forma, os cortes federais na educação e as restrições impostas ao FIES, decorrentes da política de ajuste, que frustram as expectativas e interrompem a formação de milhares de estudantes universitários pobres.

Finalmente, a CUT conclama suas bases a darem continuidade às lutas, ao lado dos movimentos sociais, no local de trabalho e nas ruas, em defesa dos direitos, da democracia e do projeto de desenvolvimento vitorioso nas últimas eleições. Essa luta ganhará intensidade com o Dia Nacional de Paralisação, em 29 de maio, rumo à greve geral.

DIREITO SE AMPLIA, NÃO SE DIMINUI!

PÁTRIA EDUCADORA SE FAZ COM INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO!

PELA REFORMA POLÍTICA E PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA!

CONTRA A CORRUPÇÃO E EM DEFESA DA PETROBRAS!

29 DE MAIO: DIA NACIONAL DE PARALISAÇÃO E MANIFESTAÇÃO CONTRA A TERCEIRIZAÇÃO, AS MPs 664-665 E EM DEFESA DOS DIREITOS E DA DEMOCRACIA!

RUMO À GREVE GERAL!

SOMOS FORTES, SOMOS CUT!

São Paulo, 07 de maio de 2015.

EXECUTIVA NACIONAL DA CUT

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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