Moro faz com réus o que nem a ditadura fazia: tortura alimentar

Incrível o que está acontecendo no Brasil.

Um surto de fascismo, com apoio da mídia.

Sergio Moro recusa a presos da Lava Jato o que nem os meganhas da ditadura proibiam: receber alimentação especial preparada em casa.

Leiam a notícia abaixo. Eu faço alguns comentários em seguida.

***

No Brasil 247.

EX-PRESO NO DOI-CODI APELA: ‘LIBERA O RANGO, MORO’

Em carta aberta ao juiz Sergio Moro, o jornalista Alex Solnik, que foi preso político pela ditadura militar durante três meses, nos idos de 1973, contesta a decisão do magistrado, que não permitiu comida especial aos empreiteiros presos na Operação Lava Jato; “fiquei estarrecido – data vênia – com a informação de que os empreiteiros presos na carceragem da Policia Federal de Curitiba foram proibidos de receber comida de casa por decisão sua, até mesmo os que estão sob dieta médica”, diz Solnik; “pesam sobre eles graves acusações, mas eles não são monstros e deveriam ser tratados com dignidade”; o jornalista lembra que enquanto esteve em poder dos militares recebeu comida macrobiótica, todos os dias, que vinha se sua casa; entre os empreiteiros, Marcelo Odebrecht solicitou dieta especial, alegando sofrer de hipoglicemia

21 DE JUNHO DE 2015 ÀS 15:04

Paraná 247 – Em carta aberta ao juiz Sergio Moro, o jornalista Alex Solnik, que foi preso político pela ditadura militar durante três meses, nos idos de 1973, contesta a decisão do magistrado, que não permitiu comida especial aos empreiteiros presos na Operação Lava Jato.

“Fiquei estarrecido – data vênia – com a informação de que os empreiteiros presos na carceragem da Policia Federal de Curitiba foram proibidos de receber comida de casa por decisão sua, até mesmo os que estão sob dieta médica”, diz Solnik. O jornalista lembra que enquanto esteve em poder dos militares recebeu comida macrobiótica, todos os dias, que vinha se sua casa – entre os empreiteiros, Marcelo Odebrecht solicitou dieta especial, alegando sofrer de hipoglicemia.

Leia, abaixo, o texto de Alex Solnik:

Prezado juiz Sergio Moro,

Fiquei estarrecido – data vênia – com a informação de que os empreiteiros presos na carceragem da Polícia Federal de Curitiba foram proibidos de receber comida de casa por decisão sua, até mesmo os que estão sob dieta médica.

Afinal, pesam sobre eles graves acusações, mas eles não são monstros, deveriam ser tratados com dignidade. É uma proibição absurda, data vênia, que não se justifica num regime democrático e nem na ditadura militar vigorou.

Saiba o senhor que, enquanto estive preso no DOI-Codi da rua Tutóia, em São Paulo, entre os dias 4 de setembro e 15 de novembro de 1973, nos terríveis anos Médici, depois dos sete primeiros dias em que todos ficavam incomunicáveis e eu tive que engolir aquela lavagem que eles dão aos presos, recebi comida de casa em todos os 38 dias restantes.

Minha mãe convenceu os meganhas que eu seguia regime macrobiótico. E nem atestado médico eles pediram. A primeira refeição chegou numa panela de alumínio embrulhada no Jornal da Tarde do dia 12 de setembro de 1973, a fim de manter o calor. Eu o li escondido, no banheiro, onde o carcereiro não poderia me ver. Trazia a notícia do assassinato de Salvador Allende no Palácio de La Moneda, golpe que deu início à ditadura Pinochet no Chile.

Dias depois começaram a chegar à carceragem guerrilheiros brasileiros apanhados pela polícia política chilena, dentro do esquema de colaboração entre as polícias da América do Sul, conhecido por Operação Condor. Um deles, Pedro Rocha, assaltante de banco, passou alguns dias na cela X-5 que eu dividia com Oswaldo Rocha, dentista e militante da AP.

A mesma cela onde dois anos depois Vlado Herzog seria suicidado. Dividimos com ele a refeição da minha mãe. E permitimos que lesse o jornal no banheiro. Não há mais ditadura, nem DOI-Codi, nem suicidados. Libera o rango, Moro!

***

Voltei.

Aí você vai nos comentários onde o texto foi publicado, no site 247, e encontra isso:

 

Durante os governos Lula/ Dilma foram implementadas vários avanços em matéria de política penal, a começar pela assistência à família do preso, um direito que, aliás, o atual congresso quer eliminar. Mais que isso: o próprio direito penal humanista é, historicamente, uma bandeira progressista, de esquerda.

Cesare Beccaria, o clássico do direito penal humanista, não parece ser o livro de cabeceira de Sergio Moro, nem de seus seguidores.

Vou lhes dar outro exemplo. Um comentário publicado há pouco no Cafezinho, num dos posts sobre a Venezuela, por um sujeito chamado Edson Ritter:

“NÃO É CERTO ESCREVER O TEXTO E NÃO ASSINAR. O COMUNISTA ASQUEROSO Q ESCREVEU O TEXTO DO BLOG TEM Q ASSINAR PARA SABERMOS SEU NOME. ASSIM ELE TBM PODERÁ SER PERSEGUIDO E PRESO QUANDO OS MILITARES TOMAREM O PODER.”

(Detalhe, o meu nome vem junto ao título. O sujeito é que não percebeu).

Estamos diante de uma onda de sentimentos malignos, de vingança, sadismo, bem característicos de tempos sombrios e autoritários.

O fascismo crescente no Brasil criminaliza até a solidariedade, que não escolhe classe.

Por isso houve fascismos de esquerda e direita, e o termômetro sempre foi o grau de solidariedade e de humanismo no seio de cada um.

O inimigo, afinal, nunca pode ser o indivíduo, seja rico ou pobre, e sim a injustiça, de um lado, e o sistema, de outro.

Acusam a Venezuela de “ditadura comunista”, o que é uma mentira, mas é aqui no Brasil que se prendem empresários com acusações políticas.

A prisão preventiva, está bem claro, tornou-se a principal ferramenta do golpe. A condenação política e midiática, bem mais brutal do que a condenação legal, porque não admite possibilidade de defesa, começa por esta prisão preventiva, usada de maneira arbitrária e indiscriminada.

É o poder absoluto sobre a liberdade física do cidadão em mãos de um juiz político, que se sente todo-poderoso em função do apoio da mídia e das parcelas da população que o aplaudem justamente em virtude de sua postura partidária.

A esquerda, por sua vez, é criminalizada quando luta por melhorar a vida dos pobres, incluindo aqueles que são vítimas de um sistema penal reacionário.

E agora também é criminalizada quando defende um tratamento digno para um grande empreiteiro, vítima de uma conspiração midiático-judicial de inspiração fascista.

O fascismo clássico não vê classe: todos são vítimas de sua violência, desde que não estejam vinculados diretamente à matriz de seu poder, que, no Brasil, esconde seu rosto atrás de uma mídia brutal e brutalizadora.

Na ditadura, são conhecidos os processos contra grandes empresários brasileiros, vítimas de um sistema penal contaminado pela política. Os proprietários da TV Excelsiur, da Panam linhas áereas, e de tantas outras grandes empresas, viram seus patrimônios serem destruídos por perseguições político-judiciais.

Sempre há outros empresários que auferem os lucros com o declínio de seus concorrentes.

No caso da Odebrecht, temos a Halliburton, o monstro norte-americano que vem lucrando dezenas de bilhões com a destruição de países, como fizeram com o Iraque e a Líbia.

A Halliburton já está no Brasil e certamente lucrará com o declínio da Odebrecht, inclusive a nível internacional.

Essas guerras fratricidas não afetam o capitalismo. Ao contrário, o capital parece se regozijar com esses processos de autodestruição, que resultam invariavelmente em mais concentração de renda e de patrimônio.

Ao invés de empreiteiras nacionais, teremos uma Halliburton dominando as grandes obras no país.

Moro quer – e não esconde isso – transformar a prisão preventiva numa pré-condenação, numa tortura psicológica, que convença os réus a aceitarem acordos de delação, e para isso cuida para que recebam o pior tratamento possível.

Moro não quer ser conhecido como um juiz magnânimo, e sim como um juiz cruel. Sua preocupação não é evitar que os presos de baixa condição econômica recebam tratamento indigno do Estado, e sim que os presos de alta condição, como da Lava Jato, sejam vítimas da mesma humilhação que se impõe aos mais pobres.

É a nova ideologia da direita brasileira: a democratização da barbárie.

Explora-se, naturalmente,  os preconceitos populares. Os sentimentos maus do povo são usados, enquanto suas virtudes são abafadas ou escondidas. Igualzinho se fez em todos os movimentos que iniciaram os fascismos.

A matriz dessa onda fascista, deve-se repetir sempre, é a mídia. Somente dela se poderia esperar movimentos de repúdio a essa estratégia.

Mas essas conspirações, no Brasil, começam exatamente na mídia. Os movimentos de Moro são claramente acordados com a mídia. Não é a tôa que a Globo pagou propina a Sergio Moro, através do prêmio Faz Diferença.

O governo deveria interromper, de uma vez por todas, qualquer subsídio à mídia, antes que seja tarde demais.

A máquina do golpe voltou a girar suas roldanas, com bastante velocidade.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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