E se a delação contra Cunha fizer parte do jogo?

Francamente, não acredito em mais nada nessa grande conspiração midiático-judicial que se tornou a Lava Jato e suas delações.

Tudo que vem dela merece minha desconfiança.

Aliás, numa conjuntura como essa, confiar em quem?

Que instituições merecem nossa confiança?

Ao contrário do que tenta passar a mídia, a política é o único esteio ao qual devemos nos agarrar.

Aqueles que defendem políticas públicas progressistas, modernas, nacionalistas, investindo nos mais pobres de um lado, em infra-estrutura de outro, são os únicos que merecem a nossa confiança. 

Por que a confiança não é exatamente em sua conduta pessoal, esta infelizmente sujeita às chantagens e brutalidades do jogo sujo da política, somadas às vaidades e fraquezas características do ser humano, mas em suas ideias e projetos, que se transformam em ações concretas para melhorar a vida do povo e acelerar o nosso desenvolvimento sócio-econômico.

Voltando às minhas paranoias: e se as acusações contra os presidentes das casas legislativas, Cunha e Renan, estiverem sendo feitas com objetivo de chantageá-los, com a possibilidade de prisão, caso não aceitem o esquema golpista?

E se há um grande esquema de chantagem em andamento?

O blog Conversa Afiada divulgou, há pouco, uma denúncia sinistra, de que ministros do TCU estariam sendo chantageados para não aprovar as contas de Dilma Rousseff.

Uma coisa está clara para mim desde muito tempo: Cunha é um pião facilmente manipulável pela mídia e seus braços dentro dos aparelhos de repressão, justamente por seu longo e sombrio passado de denúncias.

Alguns analistas dizem que as acusações contra Cunha o desmoralizam e dificultam que seja ele o líder do processo de golpe.

Só que Cunha nunca foi líder de nada. Esse processo tem sido liderado pelo PSDB, a mídia, e alguns ainda misteriosos patrocinadores estrangeiros.  A prova disso é a blindagem incrível gozada pelos tucanos.

O Ministério Público e a Polícia Federal não tem coragem de investigar tucanos.

Todo o mundo político tem sido exposto, justo ou injustamente, à sanha dos aparelhos de repressão.

Menos o PSDB.

Nas redes, agora faz sucesso marcar eventos de filiação de tucanos ao PT para ver se alguém investiga alguma coisa sobre seus governos, que protagonizaram escândalos e mais escândalos, todos abafados.

Cunha e seus acólitos na Câmara não dão a mínima para essa questão de “imagem pública”.

Prefiro manter, portanto, meu nível de paranoia em estado máximo.

Todas essas jogadas, o inquérito contra Lula, a delação contra Cunha, podem ter apenas um objetivo: o golpe.

Entretanto, com golpe ou não, temos que admitir uma coisa. Esse curto circuito entre as instituições mostra que o Brasil do PT é um Brasil diferente.

Todo mundo é investigado.

Uma pena que esta liberdade esteja sendo manipulada com finalidades políticas espúrias, e conspurcada por excessos da Polícia Federal, conspirações do Ministério Público, arbítrios do judiciário e manipulação das notícias.

Ao cabo, aliás, o último problema mencionado, a manipulação da informação, é o problema principal, por ser a plataforma a partir da qual todas as conspirações se estruturam.

Saímos de uma situação em que o governo mandava abafar qualquer investigação contra si mesmo e seus aliados, para uma outra, de aparente descontrole dos órgãos de repressão, que seguem apenas a orientação da mídia.

No fundo sombrio das minhas paranoias, porém, ainda alimento um fio de esperança de que, quando (e se) vencermos todos esses golpes, conspirações, arbítrios judiciais, teremos um Brasil bem melhor.

***

No El País.

Cunha cobrou propina de 5 milhões de dólares, diz delator da Lava Jato

Em depoimento, Julio Camargo acusou Eduardo Cunha de cobrar para facilitar contrato

GIL ALESSI São Paulo 16 JUL 2015 – 17:56 BRT

Às vésperas de completar seu primeiro semestre à frente da Câmara dos Deputados, o presidente da casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi acusado de ter cobrado 10 milhões de dólares em propina. Em depoimento à Justiça Federal, o consultor Julio Camargo, um dos primeiros delatores da Lava Jato, afirmou que Cunha exigiu pessoalmente o pagamento da propina como forma de viabilizar um contrato de navios-sonda da Petrobras. Os dois teriam se encontrado no Rio de Janeiro. As informações foram vazadas nesta quinta-feira à imprensa.

De acordo com advogados presentes no interrogatório, Camargo teria dito que Cunha afirmou que o dinheiro seria dividido entre ele e o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, tido como o operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras. O depoimento foi prestado na presença do juiz Sérgio Moro. Cunha negou as acusações, e chamou Camargo de mentiroso. “Obviamente, ele foi pressionado a esse tipo de depoimento. É ele que tem que provar”. (Leia a nota completa do peemedebista abaixo)

Na audiência, Camargo disse que “o deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva”, mas que foi “extremamente amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de 5 milhões de dólares”. O peemedebista teria dito ainda que era importante saldar a dívida o quanto antes, já que havia uma eleição municipal à vista.

É a acusação mais grave contra Cunha desde o início das investigações da Lava Jato, das quais ele também é alvo – ele já havia sido citado anteriormente pelo doleiro Alberto Yousseff. O peemedebista se consolidou como uma das maiores pedras no sapato do Governo desde que assumiu a presidência da Câmara em fevereiro deste ano. Ele impôs seguidas derrotas a Dilma Rousseff, e nos bastidores ameaça retaliar contra a petista devido aos desenvolvimentos da Lava Jato. Ele acredita que o Planalto tem estimulado os vazamentos de denúncia envolvendo seu nome. Apesar de acossado pelas investigações, o peemedebista conta com apoio maciço dos parlamentares, inclusive de deputados da oposição, como o PSDB.

Após operações de busca na quarta-feira em imóveis do deputado Fernando Collor (PTB-AL), Cunha chegou a brincar, dizendo que os agentes sabem onde ele mora. “Eu acordo às 6h, só peço para não chegarem antes disso”, disse a jornalistas.

As delações premiadas do consultor já implicaram também o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu – que pediu um habeas corpus preventivo para não ser preso. Segundo Camargo, o petista teria recebido 4 milhões de reais em propinas por intermédio do empresário Milton Pascowicth.

Em maio o presidente chegou a defender a convocação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para depor na CPI da Petrobras. A razão foi um mandado de busca e apreensão no departamento de informática da Câmara para apurar se Eduardo Cunha teria usado o seu mandato parlamentar para ajudar a quadrilha que desviou bilhões de reais da Petrobras. Desde então ele tem adotado um discurso de que é perseguido pelo Governo. “Ele [Janot] escolheu a mim e está insistindo na querela pessoal porque eu o contestei. Virou um problema pessoal dele comigo”, afirmou à época.

Em nota, Cunha desmente delator:

Leia na íntegra a nota de Eduardo Cunha sobre a delação de Camargo.

“Com relação à suposta nova versão atribuída ao delator Júlio Camargo, tenho a esclarecer o que se segue:

1- O delator já fez vários depoimentos, onde não havia confirmado qualquer fato referente a mim, sendo certo ao menos quatro depoimentos.
2- Após ameaças publicadas em órgãos da imprensa, atribuídas ao Procurados Geral da República, de anular a sua delação caso não mudasse a versão sobre mim, meus advogados protocolaram petição no STF alertando sobre isso.
3- Desminto com veemência as mentiras do delator e o desafio a prová-las.
4- É muito estranho, às vésperas da eleição do Procurador Geral da República e às vésperas de pronunciamento meu em rede nacional, que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo Procurador Geral da República, ou seja, obrigar o delator a mentir.”

***

Por fim, eu queria deixar um link de uma matéria publicada no site The Conversation, sobre a Lava Jato.

A reportagem reproduz algumas platitudes justiceiras de um dos principais procuradores da Lava Jato, o Carlos Lima.

Lima fala em “capitalismo de cumpadres”, como justificativa para sua sanha em destruir grandes empresas brasileiras.

O repórter, Anthony Pereira, saudavelmente cético diante da tão notoriamente hipócrita postura do procurador, encerra o texto lançando suspeitas suaves sobre suas intenções.

“(…) é difícil imaginar a visão de Santos Lima se tornando realidade. Muitas grandes companhias no mundo são altamente dependentes de favores do governo, num sistema capitalista global que é mais desigual e talvez mais competitivo e predatório do que nunca.

Lutar por leis mais fortes e mais repressão é muito bom, mas é difícil não ver as palavras do procurador como reflexos de uma tola moralidade de classe média sobre um escândalo ao fim do qual – como ocorreram em escândalos de corrupção do passado – alguns interesses privados e partidários irão prevalecer sobre outros.”

Pois é, Pereira foi na veia. O desmantelamento de poderosos setores da nossa construção civil não resultará, necessariamente, num ambiente mais saudável e mais competitivo no Brasil. Ao contrário, a destruição de empresas nacionais abrirá espaço para que grandes companhias estrangeiras, com apoio de seus respectivos governos, ocupem o espaço gentilmente aberto por um ministério público socialmente irresponsável, para dizer o mínimo.

O repórter também aborda a questão partidária. Claro que há, diz o repórter, interesses partidários de que a investigação siga por este ou aquele caminho. E nós sabemos muito bem que caminho está seguindo: basta ver que tipo de vazamentos seletivos tem sido feito e para onde se encaminham esses vazamentos.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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