Agosto tem menor inflação desde 2010

Análise Diária de Conjuntura – 10/09/2015

Vamos começar a análise com uma boa notícia. A taxa de inflação medida pelo IBGE (que é o índice mais importante) para agosto ficou em 0,22%, o menor número, para o mesmo mês, desde 2010. Os gráficos não mentem. A inflação está caindo.

A queda foi centrada nos itens que mais afetam a vida dos mais pobres: alimentação e moradia.

O mundo, portanto, não está acabando. Falta agora baixar os juros.

A má notícia do dia, veiculada ontem à noite mas repercutida hoje, foi o rebaixamento da nota do Brasil.

Ainda estamos, porém, bem acima dos níveis registrados no passado.

A repercussão à essas notas de agência de risco são um capítulo à parte na literatura do mundo financeiro. Todo mundo sabe que elas não são confiáveis, e mesmo assim o mercado confia. A bolsa brasileiro reagiu de maneira bastante negativa hoje.

Em sua época, FHC também costumava depreciar as agências.

A presidenta Dilma deu uma entrevista ao Valor. Ela tentou ao máximo agradar o mercado. Politicamente, me pareceu uma jogada firme para consolidar o apoio que ela já tem do grande empresariado, que não tem interesse nenhum num processo de ruptura política que poderia piorar muito o cenário de instabilidade política e econômica.

Na entrevista, Dilma se compromete de maneira bastante firme a manter uma política fiscal responsável e defende o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com muita ênfase.

A solução para a crise, segundo Dilma, virá da exportação, que ganha competitividade diante do dólar alto, dos investimentos e, por último, do mercado interno.

Mas faltou, como de praxe, um pouco de verve política à presidenta. Ela fala de economia de uma maneira muito fria.

É bom que ela dê entrevistas ao Valor, mas seria interessante que ela também desse entrevista aos jornais e revistas ligados aos movimentos sociais, que lhe dão sustentabilidade e, portanto, são peça chave na estratégia de superação da crise política e econômica.

Parlamentares de oposição criaram, na Câmara, uma frente pró-impeachment. Me parece, contudo, que eles perderam um pouco o timing. Tinham que ter feito essa frente em março, antes da primeira grande marcha coxinha.

O discurso em prol do golpe, aparentemente, perdeu força, apesar dos golpistas estarem mais entusasmados do que nunca. Mas, pelo jeito, eles continuarão tentando puxar o tapete de Dilma até outubro de 2018.

O Cafezinho entrou em contato com a imprensa do BNDES para saber mais sobre recente matéria de capa da Época, acusando Lula de praticar lobby junto ao BNDES, Odebrecht e Cuba, para construção do porto de Mariel. As informações que recebi são de que a viagem de Lula aconteceu após a aprovação dos contratos do BNDES para a Odebrecht construir o porto de Mariel, um dos maiores projetos de engenharia da história da ilha.

O BNDES informou ao Cafezinho que a acusação de “lobby” do presidente Lula dentro do BNDES é descabida, porque as decisões são todas tomadas por comitês independentes entre si, ocupados por funcionários de carreira.

Os financiamentos total do BNDES a exportações brasileiras de serviços e equipamentos em 2014 foi de apenas 2 bilhões de dólares em 2014, cerca de 2,5% do total de 188 bilhões de dólares investidos no mesmo ano. A proporção tem se mantido a mesma desde 2014.

O golpômetro do Cafezinho segue em dez pontos, levemente acima da minha última análise. A piora se deu em função dos movimentos erráticos do governo nos últimos dias, prometendo aumento de impostos antes de articular com a sua própria base no parlamento, além do rebaixamento da nota. A tendência, porém, é de baixa, a depender, é claro, do novo ciclo de escândalos do próximo final de semana.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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