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Porque o golpe será derrotado

[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)] Análise Diária da Conjuntura Política – 29/03/2016 Na última vez que enveredei por esse triunfalismo esquizofrênico, de anunciar uma vitória em meio à derrota e festejar uma suposta liberdade justamente no momento em que todas as ditaduras (midiática, judiciária, policial) soltam rojões por seus feitos, uma leitora me desancou, provavelmente com […]

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Análise Diária da Conjuntura Política – 29/03/2016

Na última vez que enveredei por esse triunfalismo esquizofrênico, de anunciar uma vitória em meio à derrota e festejar uma suposta liberdade justamente no momento em que todas as ditaduras (midiática, judiciária, policial) soltam rojões por seus feitos, uma leitora me desancou, provavelmente com muita justiça, dizendo que “vocês” eram ridículos.

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Irrita-me profundamente ser chamado de “vocês”, porque não quero arrastar ninguém para o abismo das minhas opiniões pessoais. Há pessoas que concordam comigo, há os que discordam, mas os nuances de pensamento de cada um, quero crer, são absolutamente singulares.

Então peço a esta internauta, e a outros que pensam como ela: se quiserem me xingar, não incluam meus leitores e amigos em suas invenctivas. Xinguem exclusivamente a mim.

Hannah Arendt, no prefácio do Origens do Totalitarismo, diz uma coisa correta, da qual ouso discordar discretamente.

“Os eventos centrais de nosso tempo não são menos compreendidos pelos partidários de que estamos destinados a uma desgraça inevitável, do que por aqueles que se entregaram a um descuidado otimismo.”

Em outras palavras, ambos são desesperados, cada um a seu jeito, pessimistas e otimistas, e nenhum dos dois teria capacidade, segundo a filósofa, para entender o tempo em que vivemos, que mescla grandes avanços e terríveis retrocessos.

Quero discordar, discretamente, de uma asserção tão inteligente. Não em favor dos pessimistas, tampouco em detrimento deles. Discordo porque não tenho certeza de que é possível “compreender” o nosso tempo, sobretudo em momentos de crise, quando todos os elementos contraditórios dançam, simultaneamente, no palco da história.

Projetar análises políticas elaboradas, fazer previsões de qualquer prazo, me parecem hoje como construir belos castelos de areia no minuto anterior à chegada de um tsunami.

Libertado da pretensão opressiva de compreender o que não pode ser compreendido, o que o analista político pode oferecer a seus contemporâneos é a sua opinião particular sobre os fenômenos que se abatem sobre a comunidade: uma opinião embasada em seus estudos, pesquisas, observações, leituras e vivência. E ainda assim, uma opinião.

Digo tudo isso para reiterar minha louca, quase bizarra, opinião – a de que estamos vencendo o golpe.

E iremos vencê-lo.

O fascismo será debelado, o golpe será derrotado e uma nova consciência política irá emergir no país, muito mais livre, independente, confiante em si mesma.

O golpe é o grito final de desespero de um conjunto de forças políticas, que foram se sentindo cada vez mais acuadas com as mudanças em curso no país – mudanças estas, porém, que não irão parar, porque nascem das entranhas da história.

Mais importante do que saber se o golpe que o consórcio criminoso liderado pela Globo e por juízes associados será bem sucedido, é entender que, desta vez, estamos sendo arrastados de olhos abertos e consciência límpida.

Isso é o que assusta: é como se estivéssemos num centro cirúrgico, sendo operados, e os médicos não tenham se dado conta de que a anestesia não fez feito.

É uma dor enorme assistir o povo sendo enganado, desinformado, manipulado. Schopenhauer falava que essa forma de violência é a pior de todas: ludibriar o indivíduo de tal forma que ele se volte contra si mesmo, contra seus próprios interesses.

Mas é uma dor necessária ao mesmo tempo, porque só ela permitirá o nascimento de uma consciência forte sobre a necessidade de uma imprensa mais plural e mais democrática.

O Globo publicou ontem notícia sobre supostos problemas enfrentados pela mídia “kichneristas”, que recebia recursos oficiais, que foram cortados. É muito cinismo. Os problemas, se existem, se dão porque o novo governo conservador argetino decidiu novamente concentrar recursos estatais nos meios tradicionais.

É mais ou menos o plano da nossa velha mídia, que espera assim reforçar uma ditadura midiática que já existe desde sempre no Brasil: apesar do crescimento de blogs e redes sociais, a hegemonia ainda é dela.

Sempre que eu entro num restaurante cheio de tvs por todo o lado, todas sintonizadas no mesmo canal, penso em 1984, de George Orwell, uma ficção futurista que fala de um mundo dominado por um regime político que tudo vê e onde só ele tem voz.

O personagem principal do livro, Wiston Smith, apesar de tudo, consegue aos poucos libertar seu pensamento daquele mundo totalitário, refugia-se no único canto de seu apartamento onde as câmaras do Big Brother não alcançam e escreve. Ele dedica seus escritos, subversivos, a um tempo distante:

“Para o futuro ou ao passado, para um tempo onde o pensamento será livre, quando homens sejam diferentes uns dos outros e não vivam mais sozinhos. (…) De uma era de conformidade, de uma era de solidão, da era do Big Brother, da era do duplipensar – eu vos saúdo!”

Sim, haverá um tempo em que os brasileiros não serão mais escravos da mídia, e por ter a certeza de que este tempo não tardará é que permaneço partidário daquele desesperado otimismo mencionado por Hannah no prefácio de seu livro.

Wiston Smith somos nós, que já entendemos há tempos o jogo sujo da mídia e suas conspirações. E escrevemos, como ele, não apenas para o presente, mas para o futuro, onde a comunicação do país será plural e livre, refletindo a rica diversidade de nosso povo.

No metrô, nos trens, nos ônibus, nos engarrafamentos, nos elevadores lotados do centro, os Smiths contemporâneos trocam olhares desconfiados, irônicos, de reconhecimento.

A ditadura de hoje, assim como a do livro de Orwell, não quer apenas nos proibir de discordar dela. Sua meta é nos fazer pensar como ela, é que percamos a nossa singularidade e sejamos todos um bando de zumbis midiáticos idolatrando juízes justiceiros e gritando Fora PT.

A balbúrdia política, o conflito barulhento entre os diferentes interesses sociais, a confusão constante com a qual temos de lidar, não é necessariamente uma coisa negativa. São as dores de consolidação de nossa democracia, cujos princípios vão e vem de acordo com a conjuntura.

Tocqueville, ao visitar os Estados Unidos pela primeira vez, na primeira metade do século XIX, surpreendeu-se com o tumulto interminável das grandes cidades americanas:

Tão logo você pisa em solo americano e você logo se vê no meio de uma espécie de tumulto generalizado; um clamor confuso se eleva de todas as partes; mil vozes atingem seus ouvidos ao mesmo tempo; cada uma delas exprime um tipo de necessidade social. Ao redor de você, tudo se mexe.

Esse é o tumulto com o qual o Brasil terá que se acostumar, ao menos até que as grandes causas dessa instabilidade crônica, em especial a profunda desigualdade de renda, o racismo, o desequilíbrio entre as regiões, a concentração da mídia, sejam reduzidas.

O processo político de hostilização crescente ao voto popular, por ser um processo eminentemente midiático e portanto direcionado à psicologia social, instala-se primeiramente em nossa consciência, paralisando-nos com ansiedades, medo, depressão, angústia.

Contra esse golpe insidioso em nossa consciência também devemos lutar.

O fascismo político, que vemos emergir no Brasil, é provavelmente um soluço autoritário sem futuro, por várias razões. Uma delas é que ele está na contramão do que vemos no mundo desenvolvido. Os Estados Unidos, por exemplo, vive um bonito momento de reconciliação com suas forças progressistas, de esquerda, socialistas, comunistas.

O candidato mais popular entre universitários, acadêmicos e jovens, do partido democrata norte-americano, é Bernie Sanders, autodeclarado socialista, uma voz profundamente crítica ao neoliberalismo rentista que tem destruído não apenas as economias de tantos países, mas a própria democracia, que não tem sentido se não oferecer oportunidades iguais para todos.

O fato, portanto, de vermos este consórcio golpista bebendo forças de um fascismo completamente extemporâneo, um fascismo sem pai, sem mãe e sem futuro, reforça a minha tese de que estamos diante de um movimento natimorto.

Se o impeachment for consumado, o que acontecerá?

Que espécie de milagre se espera de um processo politicamente viciado por todo tipo de tropeços constitucionais, exceções parlamentares, manipulação da opinião pública, violências judiciais?

Às vezes eu observo com tristeza, mas ligeiramente divertido, os zumbis midiáticos virem aqui no blog vaticinarem “o nosso fim”, como se fosse possível remover da vida política milhões e milhões de pessoas.

Essa é a nossa diferença, aliás. Nós não queremos o fim de ninguém. Os governos populares mostraram que são democráticos, souberem e sabem conviver pacificamente com todas as diferenças. Que governo, em qualquer parte do mundo, convive de maneira mais dócil com uma imprensa tão truculenta?

A crise política que vivemos era um fato anunciado há tempos, porque como é possível esta situação: um governo sob ataque violentíssimo diário de praticamente todo o tradicional sistema de comunicação, representante das forças do atraso e do conservadorismo?

Para sobreviver – e lamentavelmente o governo ainda não tem dado mostras de que tomou consciência disso – o governo tem de desenvolver ferramentas democráticas de contraponto político à mídia velha. É o que permitiu o governo chavista sobreviver por vários anos após o golpe de 2002, e a se manter de pé, com relativo apoio popular, mesmo numa situação econômica infinitamente pior que a nossa.

Na Venezuela, há programas de grande audiência que oferecem contraponto à mídia, e com isso ajudam o judiciário a não se vergar a um só tipo de narrativa.

O golpe será derrotado porque eles perderam o controle da narrativa.

Os coxinhas – e aí incluo os coxinhas dentro dos aparelhos do Estado – vaticinam o “fim dos blogs”, mas fingem não ver que ocorre justamente o contrário: quanto mais eles põem em risco a democracia com suas violências, mais cresce a audiência dos blogs e mais declina a audiência da velha mídia.

Imaginar censura no Brasil, a essa altura do campeonato, seria ridículo, até porque poderíamos fazer nossos blogs de qualquer parte do mundo.

Os golpistas imaginam, por acaso, que depois de tanta agitação e debate nas universidades, as pessoas irão aceitar passivamente o seu direito político ser violentado?

Sim, porque é preciso deixar isso claro: não estamos todos defendendo a liberdades e direitos políticos, que são as joias da coroa da nossa democracia? Qual a liberdade e o direito maior de todos senão a liberdade e o direito de escolher o presidente da república?

E não adianta criticarem Dilma. A gente também critica! E queremos também esse direito e essa liberdade, de poder criticá-la sem que os golpistas usem essa crítica como razão para derrubar o governo!

Não é isso que fazem os institutos de pesquisa? Manipulam o direito justo e necessário da população, quase o dever, de criticar o governo, e fazem disso uma arma para derrubá-lo e pôr em seu lugar um governo que a população não escolheu.

Enfim, permaneço otimista. Desesperado, mas otimista.

Se eles derem o golpe (toc toc toc), será uma derrota moral – para eles – tão mal cheirosa, um processo tão sujo, liderado por bandidos, mafiosos da mídia, vampiros do mercado financeiro, possivelmente com patrocínio de abutres do imperialismo petroleiro, que não durará muito.

Eles queriam um golpe limpo, rápido, indolor, costurado por um judiciário criminosamente partidário, associado a uma mídia atordoada com a chegada de novos agentes de informação.

Não conseguiram. O seu golpe está cada dia mais sujo, mais denunciado em fóruns nacionais e internacionais.

E apenas começamos a construir uma reação.

Tudo isso, justiça seja feita, sem ajuda nenhuma do governo, o qual prossegue, mesmo à beira do abismo, dedicado à sua principal tarefa: dar tiros no próprio pé. O ministro da fazenda, Nelson Barbosa, ao invés de gerar fatos políticos positivos, que sirvam para coesionar a base social do governo e vencer a instabilidade política que tanto agride a economia, só tem aparecido para defender “cortes de servidores públicos”, ou seja, dificultando ainda mais as articulações políticas das centrais sindicais, hoje inteiramente comprometidas na luta contra o golpe.

(Aliás, este é um ponto algo sinistro, porque o governo Dilma havia se comprometido politicamente com Lula que ele apenas entraria no governo se houvesse uma inflexão da política econômica. O ministro Nelson Barbosa está desonestamente – talvez traiçoeiramente – rompendo um pacto político firmado com Lula e com todas as forças sociais que estão na luta contra o golpe).

Por isso – por não ter conseguido evitar o surgimento de tantos furos em sua narrativa – o golpe será derrotado.

Sem consentimento social incontestável, sem prestígio inabalável, duas coisas que o golpe já mostrou não possuir, não será possível assegurar legitimidade a um governo golpista.

O perigo, portanto, é que sem legitimidade, sem estabilidade, o governo golpista degenere numa nova ditadura, o que seria uma tragédia, e igualmente uma derrota histórica para o status quo. E uma ditadura não mais encontraria sustentação política no Brasil.

As aflições políticas por que passamos, portanto, serão a terra que usaremos para cobrir a sepultura das forças antidemocráticas!

A democracia brasileira prevalecerá.

Não vai ter golpe!
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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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