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Estados Unidos é cúmplice de plano golpista contra Dilma

Para o alto representante do Mercosul, a política exterior atual, e toda a política exterior aplicada pelos governos do PT desde 2003, estão em risco por Darío Pignotti, na Carta Maior Para o alto representante do Mercosul e ex-deputado federal Doutor Rosinha já é hora de convocar o bloco como forma de frear o golpe contra […]

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Para o alto representante do Mercosul, a política exterior atual, e toda a política exterior aplicada pelos governos do PT desde 2003, estão em risco

por Darío Pignotti, na Carta Maior

Para o alto representante do Mercosul e ex-deputado federal Doutor Rosinha já é hora de convocar o bloco como forma de frear o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, um processo que ele compara com o que derrubou Fernando Lugo no Paraguai há quatro anos. “A atual conjuntura brasileira deveria ser analisada pelos membros do Mercosul, para se verificar a aplicação das cláusulas democráticas previstas nos protocolos Ushuaia I e Ushuaia II, que garantem a manutenção da ordem democrática nos países”.

No Paraguai, o chefe da conspiração foi o vice-presidente Federico Franco, que após a queda de Lugo assumiu o governo, mas nunca foi membro do Mercosul, que suspendeu o país do bloco, em observância da cláusula democrática. Se a saga paraguaia se repetir no Brasil, quem vier a ocupar o cargo de Rousseff poderia, eventualmente, sofrer as mesmas sanções que foram aplicadas contra o golpista paraguaio Federico Franco, que nunca participou das cúpulas presidenciais do grupo.

Por enquanto, a deposição de Dilma é apenas uma possibilidade, ainda não concretizada. O fato é a crise política que o maior país latino-americano atravessa, e a hipótese de que o Mercosul estabeleça uma rede de sustentação democrática para abortar tentações golpistas. “Há uma data marcada para essa reunião do Mercosul?”, perguntou Carta Maior a Doutor Rosinha: “Isso está sendo conversado neste momento, e eu espero que avance rapidamente, não posso afirmar nada agora, só posso dizer que estamos trabalhando no tema”.

Nesta entrevista com Carta Maior, o ex-parlamentar do PT situa a crise brasileira dentro do quadro de regressão política que domina a região uma década depois do encontro histórico da Cúpula das Américas de Mar del Plata, que significou impedir a implementação da ALCA. O alto representante do Mercosul é cauteloso e diplomático na maioria de suas respostas, exceto quando se refere à “participação dos Estados Unidos nos eventos de desestabilização política contra o governo de Dilma”.

Que grupos de interesse norte-americanos estão envolvidos na desestabilização?

Um deles é o das petroleiras, eles nunca aceitaram que a Petrobras seja o eixo da exploração dos imensos poços da zona do Pré-sal, o que foi estabelecido no novo regime de partilha, sancionado em 2010. Não tenho dúvidas de que esses interesses estão atuando fortemente para tirar a Dilma do governo. Por isso concordo com a análise do professor Luiz Alberto Moniz Bandeira sobre a interferência estadunidense, que existe um plano desestabilizador onde estão envolvidas as grandes petroleiras e também o poder de Wall Street. Não me peça provas porque não as tenho, mas há muitos interesses norte-americanos que foram afetados pelos governos de Lula e de Dilma.

Washington pressiona para enterrar a atual política exterior?

A política exterior atual, e em geral toda a política exterior aplicada pelos governos do PT desde 2003, estão em risco. Por exemplo, os grupos conservadores que estão impulsando os ataques institucionais contra Dilma já avisaram que o Mercosul não está entre suas prioridades, e que retomarão o projeto de indiscriminada abertura neoliberal, nos moldes de velhos acordos, como a Alca (Área de Livre Comércio para as Américas), ainda que não seja mais possível recriar totalmente a Alca, que foi derrotada pelos presidentes Lula, Kirchner e Chávez, junto com outros aliados, em 2005.

Se a direita voltar ao poder, acabará com a politica solidária com Cuba, que sempre foi vista com maus olhos pelos Estados Unidos. Como disse o ex-presidente (uruguaio) José Mujica, em recente visita ao Brasil, os norte-americanos nunca perdoarão os governos do PT e sua aproximação com Cuba. Os Estados Unidos nunca aceitarão de bom grado a construção do Porto de Mariel, com apoio brasileiro. Washington pressiona para uma grande mudança de rumo, frear nossa inserção soberana no mundo. Se a direita chegar ao governo, será obediente nesse sentido, por isso espero que não chegue.

 

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O ex-deputado federal Doutor Rosinha (PT-PR), no Congresso Nacional

Washington também pressiona por mudanças geopolíticas?
Uma coisa tem a ver com a outra. Se houvesse um novo governo conservador, haveria uma nova diplomacia e uma nova configuração geopolítica. Lembremos que em 2007, quando se anunciou que tínhamos reservas enormes em nosso mar territorial, os norte-americanos reativaram a IV Frota. Em 2013, a presidenta suspendeu uma visita oficial aos Estados Unidos, em repúdio ao fato de que a NSA (Agência Nacional de Segurança estadunidense) roubou documentos da Petrobras.

Para os Estados Unidos, e para os poderosíssimos grupos econômicos estadunidenses, é muito conveniente que a crise política siga crescendo. Para eles, o escândalo do “Petrolão”, é muito favorável, porque isso debilita mais a Petrobras. Eles não se importam com a corrupção ou se os corruptos serão condenados ou não, o que querem é manchar a imagem da Petrobras, prejudicando seu valor de mercado, obrigando-a a diminuir seu plano de investimentos. Não temos nada contra o combate à corrupção. Também se está atacando as empreiteiras brasileiras, que são muito fortes dentro de fora do país, porque há interesses de preparar o mercado brasileiro para em que desembarque das companhias construtoras de fora, permitindo que elas possam realizar obras de infraestrutura em nosso país.

O golpe é irreversível?
Não parece ser algo inevitável. Os movimentos populares, o PT, muitos grupos estão se mobilizando, porque não vão aceitar o rompimento da norma institucional, que se interrompa o governo de uma presidenta legitimamente eleita.

O que significa a presença de Lula no governo, como ministro ou como assessor?
A chegada de Lula ao gabinete é uma grande conquista. Quando falamos de Lula, estamos falando de um líder popular extraordinário, que se comunica melhor que ninguém com as bases, e ao mesmo tempo é alguém com capacidade de diálogo com os dirigentes de todos os partidos. Com Lula, renasce a esperança de que podemos construir novos consensos para superar a crise política. Seu retorno ao governo nos permite ter um gabinete hierarquizado, com uma figura de inquestionável projeção internacional, e isso é importante no atual momento.

E essa figura é Lula, alguém com poder de interlocução com as personalidades internacionais, que tem um grande reconhecimento na América do Sul, o que nos ajudará a trabalhar melhor em nossa região, para convocar as forças democráticas. Porque não tenho nenhuma dúvida de que, se no final deste processo, o golpe vencer, isso prejudicará toda a América Latina, porque o Brasil tem um tamanho e uma importância econômica que contagia os países irmãos. Corremos o risco de que o Brasil termine sendo governado por um salvador da pátria, um oportunista vestido de herói, aclamado por essa parte da sociedade que odeia a política, e que tem sede de vingança contra os governos de esquerda, populares e democráticos do PT.

* Tradução de Victor Farinelli.

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