Roberto Ponciano: não somos golpistas!

Não somos golpistas, o PL2648 não tem nada que ver com o impeachment de Dilma.

Por Roberto Ponciano – Diretor da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e do Ministério Público da União (Fenajufe)

Ontem, infelizmente, um comentário numa notícia veiculada pelo jornal Valor Econômico, relativa ao PL 2648, de reposição salarial dos servidores do Judiciário, virou “verdade” na imprensa em geral e inclusive nos blogs sujos. A de que o PL2648, da reposição salarial dos servidores do Judiciário Federal, teria servido de moeda de troca para o impeachment da presidente Dilma.

NÃO SOMOS GOLPISTAS!

Os blogueiros progressistas que estão repassando esta notícia deveriam primeiro certificar-se do que aconteceu.
O PL2648 que repõe (e não dá aumento como alguns mencionam) 41,5% de perdas passadas (só entre 2009 e 2012 de cerca de 34%), é para ser pago em 4 anos, ou seja, o valor real de reposição é de apenas 10% anuais.

Contando-se os 34% não repostos, com os 4 anos vindouros, a remuneração dos servidores vai seguramente perder da inflação.

“A negociação do projeto em troca do impeachment” não é uma falácia, é uma mentira. Isto nunca existiu.

O PL2648 é fruto de um acordo entre o Executivo e o Judiciário firmado em agosto do ano passado. Ele só não foi votado em 2015 por conta de um movimento (este sim incentivado pela oposição) chamado de derruba-veto, que era de forçar a votação do PL6613, sem acordo e sem orçamento. Para entender melhor, havia um projeto em tramitação, o 6613, que previa 56% de reposição em dois anos. Este não tinha acordo com o Governo nem verba no orçamento, o Governo estava a poucos dias de fechar um acordo conosco. Numa junção de forças entre a oposição golpistas e setores extremistas do Judiciário, se forçou a votação do PL sem orçamento para que se criasse uma tensão permanente contra o Governo.

O 2648 foi o reverso disto. Foi o acordo feito ainda em agosto entre Executivo e Judiciário, com anuência dos Ministérios do Planejamento e da Fazenda.

Reitero, o projeto só não foi votado no ano passado, exatamente pela exploração de se manter indefinidamente a pressão da pauta-bomba com a derrubada do veto.

Portanto, o 2648 e quem o defendeu, em nenhum momento serviu de chantagem contra Governo nenhum e muito menos precisava ser acordado como moeda de troca pelo impeachment.

Escutaram o galo cantar, mas não sabiam aonde.

Sobre o aumento da magistratura, sem nenhuma defesa dos juízes, o Parlamento legisla em causa própria, só podem votar o próprio aumento depois do aumento do teto.

Portanto, em nenhum dos dois  casos há qualquer índice de “permuta pelo impeachment”.

Os trabalhadores que lutaram pelo 2648 desde seu início, inclusive eu, Roberto Ponciano, jamais trocaríamos reposição (e não aumento salarial, não há aumento na pauta do Congresso, apenas reposição das perdas passadas) salarial por um golpe ou uma ditadura.

Não vendemos nossa alma pelo diabo, lutamos uma luta justa, inclusive a luta contra o impeachment também.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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