Os esquemas de Cunha demonstram a urgência do financiamento público de campanha

Brasília - O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), renunciou há pouco à presidência da Casa (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

(Eduardo Cunha. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho

“Mas tem de ser em segredo”. A frase é de Eduardo Cunha e foi encontrada pela PF no celular do empreiteiro Otávio Marques de Azevedo. Os dois conversavam sobre modificações propostas pela Odebrecht em um projeto de lei não identificado. Cunha afirma que “acertou” uma das modificações, mas pede segredo.

Aí está um dos piores crimes de Cunha contra a democracia: contrabando de emendas parlamentares para dentro de projetos de lei e medidas provisórias. Ciro Gomes denunciou há algum tempo que quando Michel Temer era presidente da Câmara, designava Cunha para ser relator de projetos nos quais seriam incluídas emendas que beneficiavam os aliados de ambos no meio empresarial. Tudo às custas dos cofres públicos, logicamente.

Ciro exemplifica: “Quando Michel Temer era presidente da Câmara, o senhor Cunha recebeu a tarefa de ser relator do Projeto Minha Casa, Minha Vida. Nessa ocasião, Cunha apresentou emenda criando crédito superior a R$ 80 bilhões para atender o lobby da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp)”. Só imagine o tamanho do assalto aos cofres públicos que acontecerá a partir de agora, quando os aliados da Fiesp estão no comando do executivo e legislativo.

Tal aberração – um deputado, em tese representante do povo, incluindo emendas em projetos para ajudar seus amigos empresários – só é possível por causa do financiamento privado de campanha. Empresas bancam campanhas de políticos para cobrar a fatura ali na frente. Trata-se de investimento, não de doação.

Eduardo Cunha arrecadou, na campanha de 2014, inacreditáveis R$ 6.832.479,00. Dentre as doadoras estão Bradesco Saúde, Vale, BTG Pactual, Ambev, Coca-Cola, Banco Safra, Banco Santander, shopping Iguatemi e Líder Táxi Aéreo. A quem o deputado vai prestar contas: aos milhares de anônimos que votaram nele ou às empresas que bancaram sua eleição “doando” milhões de reais? A resposta é óbvia. O eleito que atrever-se a contrariar o interesse das empresas financiadoras sabe que na próxima eleição não receberá nem um aperto de mão dos executivos.

E como fazer com que os representantes do povo trabalhem pelos interesses do… povo? Financiamento público de campanha. A proibição do financiamento empresarial é um bom primeiro passo, mas só com financiamento totalmente público teremos meios de afastar a influência do dinheiro pesado nas eleições e garantir um mínimo de equilíbrio na disputa.

O argumento de que não devemos gastar dinheiro público com isso é desmontado pela atuação de Eduardo Cunha como deputado. Além do prejuízo monetário aos cofres públicos, como demonstram as emendas contrabandeadas por Cunha, é incalculável o prejuízo à democracia ao termos deputados fazendo leis de acordo com os desejos de seus financiadores. O interesse de bancos, planos de saúde e multinacionais não costuma convergir com o interesse da população em geral.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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