Marcelo Odebrecht fala sobre Dilma e Estadão reedita o ‘Eles sabiam de tudo’ da Veja

(Marcelo Odebrecht. Foto: AFP)

Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho

Manchete no site do Estadão, hoje: ‘Dilma sabia tudo sobre o esquema do petrolão, afirma Marcelo Odebrecht’.

Um déjà vu da capa da Veja na véspera da eleição de 2014 é o melhor que a velha mídia consegue fazer para não deixar o ódio ao combalido PT morrer nos corações empedernidos dos que ainda leem o Estadão.

Ao clicar na matéria o título já muda: ‘Dilma não pediu vantagens, mas sabia tudo do petrolão, segundo delação de Odebrecht’.

Colocar que Dilma não pediu vantagens no portal do Estadão daria um nó na cabeça dos leitores de manchete, melhor deixar essa informação apenas para os que se preocupam em ao menos abrir a notícia.

Agora, o texto de Sonia Racy:

Acordo de leniência assinado ontem, delações na mesa, vai aqui quase direto da fonte: Marcelo Odebrecht, em sua delação premiada, livrou Dilma de crime mais grave ao declarar que a ex-presidente nunca pediu recursos para ela mesma.
Entretanto, ele foi claro ao afirmar que ela tinha, sim, conhecimento de todo o esquema da Petrobrás.
Dilma & Odebrecht 2
Assim, na avaliação de jurista conhecido, Dilma teria cometido prevaricação – e por isso poderia ser punida mesmo agora, como cidadã comum.
Como presidente, poderia estar submetida ao art. 85 da Constituição – que, em seu inciso V, considera crime de responsabilidade “a improbidade na administração”.
Que, na prática, é uma das definições da prevaricação.

Depois de muito relutar, Marcelo Odebrecht foi convencido por seu pai, Emílio Odebrecht, a fazer o acordo de delação premiada.

Mas para obter os benefícios da delação, Odebrecht pai e filho com certeza sabem o que deve ser feito: corroborar a tese do MPF.

Dallagnol e companhia têm convicção, há muito tempo, de que havia um cartel das empresas de engenharia na Petrobras e de que o grande comandante do esquema era Lula. Dilma, por tê-lo sucedido na presidência, só pode também ter ajudado a comandar o esquema. É a esdrúxula teoria do domínio do fato repaginada.

Talvez Dallagnol tenha sonhado com isso e interpretado como uma revelação divina (um sonho com um sapo barbudo coordenando pilhagens no reino animal, quem sabe?).

Só cabia a ele achar as provas para a tese revelada, o que fica muito mais fácil contando com delações premiadas direcionadas pelo aparato midiático e pelos próprios integrantes da Lava Jato.

A delação isolada não é prova de nada, mas, como o TRF da 4ª Região já declarou que a Lava Jato está acima da lei, não duvidemos de que bastarão as delações para Moro condenar o líder do ‘maior esquema de corrupção da história da humanidade’, nas palavras do grande historiador Marco Antônio Villa.

Os Odebrecht, nada bobos, sabem como a coisa funciona. Dilma nunca pediu vantagem pessoal, tudo bem, mas isso vai de encontro às convicções da Lava Jato.

O que fazer, então? Fácil: mandar o já clássico ‘ela sabia de tudo’, para satisfazer os investigadores e gerar as manchetes de sempre na mídia corporativa.

Para variar, nenhuma menção a alguma prova que sustente isso.

Mas pra que prova?

O ‘jurista conhecido’ consultado pelo Estadão, que não tem nome, já vaticinou que Dilma cometeu prevaricação.

E se o ‘jurista conhecido’ falou, tá falado.

Uma pena, para os golpistas, que Marcelo Odebrecht não delatou antes. Um impeachment por prevaricação sairia muito mais bonito do que por ‘pedaladas fiscais’…

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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