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A foto de Michel e o retrato de Dorian Gray

Por Denise Assis, colunista do Cafezinho* Desculpem, mas a divulgação da imagem oficial do Michel com a faixa presidencial não caiu bem. Não para nós, para quem tanto faz que ele esteja com ou sem faixa. Não o escolhemos, mesmo. A foto não caiu bem foi para ele próprio, que jamais se reconheceu na foto, […]

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Por Denise Assis, colunista do Cafezinho*

Desculpem, mas a divulgação da imagem oficial do Michel com a faixa presidencial não caiu bem. Não para nós, para quem tanto faz que ele esteja com ou sem faixa. Não o escolhemos, mesmo.

A foto não caiu bem foi para ele próprio, que jamais se reconheceu na foto, porque nunca foi reconhecido como legítimo dono do cargo que ocupa. E, por direito, não é mesmo seu. Foi “ganho” numa urdidura que até mesmo importantes veículos da mídia internacional classificaram de golpe. Daí o auto constrangimento.

Desde o início, quando se apossou da cadeira presidencial, que ele anda sorrateiro, pouco à vontade, constrangido mesmo, em assumir “de frente” a “entidade” presidencial. Porque não foi talhado para o cargo, porque não foi votado para ele, porque a sua apropriação, ainda que sonhada e perseguida, não o deixou realizado. Alguém o viu sendo aclamado pelas ruas da capital em carro aberto, ladeado pelos imponentes dragões da independência? Não. Alguém o viu sendo agarrado e abraçado por multidões de eleitores que amarrotam o traje oficial daqueles em quem votam e amam (mesmo que em momentos de insatisfação critiquem)? Não.

O que vimos, lá isto vimos, foi Michel ser tragado por uma estrondosa vaia – de intermináveis minutos – em sua primeira grande aparição pública, na abertura dos Jogos Olímpicos.

Longe de manter a fleuma de sua antecessora, Dilma Roussef, que enfrentou de cabeça erguida, durante a Copa do Mundo, o coro fascista que a desrespeitou, chamando-a de “vaca”, Michel tremeu, corou e preferiu não ser nem citado na cerimônia final. Em sentido figurado, saiu pela porta de trás.

Em Chapecó, na despedida do time de uma cidade inteira, chapinhou no gramado molhado sob olhares fuzilantes e silenciosos, como se todos lhe perguntassem: “o que veio fazer aqui? ”

Isto, depois de ter Mandado dizer aos familiares dos mortos na tragédia que vitimou 71 jogadores da Chapecoense, técnicos, dirigentes e jornalistas, que os receberia no aeroporto. Mais ou menos como se dissesse àquelas pessoas devastadas pela dor: “vão ver se eu estou lá na esquina”. Como troco, teve o silêncio digno, de um estádio lotado.

Desde que se sentou naquela cadeira, e mesmo antes, quando era um político de carreira, de gabinetes, Michel jamais experimentou o calor do povo. Ou melhor, retificando, sentiu sim. Aturou na porta de casa o “barulhaço” de estudantes e jovens militantes, quando ainda titubeava entre apossar-se do palácio com a sua bela, e arrancar-lhe os honrosos tapetes vermelhos, ou continuar no bairro paulista de classe alta. Nem mesmo a sua vizinhança, que clamou pela saída de Dilma teve clemência. Sugeriu que ele fosse logo para Brasília, para que pudessem desfrutar em paz das caminhadas matutinas.

E se não é fácil o cargo de presidente da república para os votados por milhões, imaginem para quem chega lá por um atalho.

Com certeza não deve ser tranquilo o seu diálogo com o espelho, da mesma maneira que não era para Dorian Gray, (do inglês Oscar Wilde), sua conversa com o quadro que envelhecia e ressaltava a passagem do tempo, enquanto ele continuava com os traços inalterados.

Há algo de Dorian Gray na obra do fotógrafo Orlando Brito, que com certeza procurou com suas lentes dar vida ao rosto do presidente, sempre “impassível”, como se acometido de uma paralisia facial.
“A intenção da foto é passar serenidade e confiança. Tudo o que se espera de um líder que tem a missão de tirar o país do caos e resgatar a esperança. Não é um culto à personalidade, mas um compromisso com a ordem e o progresso”, disse o publicitário Mouco, responsável pelos retoques no fotoshop e a pasteurização da imagem de Michel.

O que não disseram para Mouco foi que “confiança” não salta de uma foto. Confiança se conquista. Serenidade não vem diluída em suas cores, quando a alma está em conflito permanente. E um líder não abranda o caos de um país dilapidado por interesses espúrios, do alto de um retrato na parede. Um líder é forjado na trajetória que percorreu para chegar até lá, para posar com a faixa presidencial atravessada no peito. Para os que pegam um atalho, a faixa não cai bem. Nem na foto. (Jornalista*).

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Marcos Arruda

08/02/2017 - 00h01

Impedimento foi uma grave deterioração da frágil Democracia brasileira, sim.
Ótimo artigo, Denise!
Frágil porque só lhe restava a dimensão representativa, e agora nem esta lhe resta mais…
Assim, a luta por uma Democracia Integral – representativa e direta, socioeconômica, política e cultural – continua!
Abraços,
Marcos Arruda

Alex

27/01/2017 - 18h05

Não há luz ou retoque que dê jeito nessa cara de golpista.

josé maria pacheco de souza

26/01/2017 - 20h10

Faltou mencionar a ausência no velório/enterro de dom Paulo Evaristo Arns.
josé maria

Walter Pastori da Fonseca

26/01/2017 - 19h51

Escrever o que sobre um personagem desse, insipito, inodoro e incolor e golpista.

Trazibulo Meireles

26/01/2017 - 19h35

Esse será sempre o vice vigarista, traíra, canalha. Os vigaristas não conseguem tirar a famosa identidade com o retrato 3X4, teria que tirar a foto de identificação com a altura usada nos presídios, quem já delatado 43 vezes, informante dos E.U.A. É muita ousadia desse indivíduo deletério.

Matcelo

26/01/2017 - 19h33

Não sei se pegou mal pro Fora-Temer-Golpista sair na foto com a faixa, mas pegou muito mal pra faixa sair na foto com Temer !


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