“Megadelação” da Odebrecht começou a vazar para a Folha

Foi muito oportuno, da parte de Carmen Lúcia, presidente do STF, decretar sigilo total da “megadelação” da Odebrecht.

Era isso mesmo que a Lava Jato e a mídia queriam.

O próprio Carlos Lima, procurador da Lava Jato (ele é procurador da Lava Jato e não do Ministério Público), o afirmou: delações podem comprometer o processo.

Se não fosse o sigilo, não poderia haver vazamento seletivo. E sem vazamento seletivo, a Lava Jato perde muito de seu poder de criar a narrativa desejada.

Como todos previam, iniciam os vazamentos seletivos e a mídia começou a passar um pente fino para descobrir informações sobre Lula.

E aí descobriu!

Um dos delatores disse que a Odebrecht bancou… tchan, tchan, tchán!

Adivinhem o que ela bancou?

O triplex?

O sítio em Atibaia?

Contas no exterior?

Não. A Odebrecht bancou – prestem atenção! – um… curso para o filho de Lula!

A reportagem da Folha não dá data, nem documentos, nem nada. É apenas um trecho, possivelmente selecionado pela própria Lava Jato, de uma delação secreta de um executivo anônimo da empreiteira.

Ponto.

Agora, sejamos francos!

Se o triplex e o sítio em Atibaia já eram acusações ridículas, do que podemos chamar isso?

Pagar cursinho para o filho de Lula?

Esse cursinho vai ficar dentro de um círculo, com uma seta apontando para o nome de Lula? Vai entrar no Power Point?

Que espécie de corrupto é Lula que pede a Odebrecht, que ganhou contratos de centenas de bilhões de reais do governo, para pagar a propina na forma de… um “cursinho empresarial” para seu filho.

Simples.

É mais uma palhaçada, mas que devemos levar à sério, porque tanto essa matéria da Folha, como a da Istoé, servem de combustível para a turma da extrema-direita encher as redes sociais, abertas ou fechadas, de acusações contra Lula. Talvez seja fruto de estudo recente, pago pela Globo e publicado no Valor, para saber porque tem gente que ainda vota em Lula.

É um desses cases de pós-verdade e jornalismo de guerra. Além disso, é mais uma prova de que a imprensa corporativa – em especial, o trio Globo, Folha e Veja – é a líder do consórcio do golpe. Eles têm acesso privilegiado aos dados sigilosos da Lava Jato e, junto com os meganhas do golpe, conseguem armar situações e narrativas que reforcem o Estado de exceção que vivemos.

Abaixo, eu reproduzo a matéria do Instituto Lula sobre o caso.

***

No Instituto Lula

Como a Folha e vazadores mudam versão de história sem provas em poucas horas para gerar manchetes contra Lula e sua família

Não há o que comentar diante de informações genéricas de origem ilegal, de apurações sem documentos que mudam em poucas horas

O jornal Folha de S. Paulo publica hoje matéria baseada em suposto vazamento de delação premiada contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A matéria vem com grande destaque na edição do primeiro domingo após pesquisa eleitoral indicar que, apesar da perseguição movida contra Lula por setores da imprensa e alguns agentes públicos, ele venceria as eleições para presidente da República tanto no primeiro quanto no segundo turno.

No contato feito com a assessoria de imprensa do ex-presidente (leia abaixo a troca de e-mails entre a Folha e a assessoria), a Folha de S.Paulo mudou em poucas horas a versão da sua apuração. Primeiro haveria um “interlocutor de Lula” que teria feito o pedido citado na suposta delação a que a Folha teve acesso. A reportagem informou que o nome desse interlocutor não seria revelado. Depois, o tal interlocutor sumiu em uma informação de última hora que teria chegado na noite de sexta-feira (quando os jornais fecham a maior parte da sua edição de domingo). Fica a impressão de alteração da história, pelo jornal ou por sua fonte, após terem sido questionados sobre a falta de informações básicas. A Folha de S.Paulo também não soube prover nenhum documento ou mesmo informações simples sobre a história que sustenta sua matéria: em que ano ela teria acontecido? Lula deixou a Presidência da República em 31 de dezembro de 2010 e não ocupa nenhum cargo público desde então. Diante de informações genéricas, sem documentos, de origem ilegal, que mudam em poucas horas, não há o que comentar ou dar crédito a suposições.

Por lei, delações não são provas, quanto mais vazamentos de supostas delações, sem documentos, contexto, provas do ocorrido ou sequer o ano em que teria acontecido o fato. Servem apenas para gerar manchetes sensacionalistas contra Lula e sua família. A Folha de S. Paulo costuma publicar esses ataques contra Lula aos domingos, atribuindo como “presentes” ao ex-presidente um estádio que é do Corinthians, ou uma piscina que é do Palácio do Planalto.

Supostas acusações de delatores divulgadas com estardalhaço na imprensa não têm se confirmado em depoimentos em audiências, onde mais de 11 delatores chamados como testemunhas de acusação pela Lava Jato foram incapazes de apontar qualquer ato ilegal ou vantagem indevida recebida pelo ex-presidente Lula. A imprensa, que faz estardalhaço de versões sem contexto e distorcidas de supostas delações, não dá destaque algum quando delatores como Paulo Roberto da Costa, Nestor Cerveró ou Pedro Barusco dizem, perante o juízo e com compromisso de dizer a verdade, jamais terem ouvido falar do envolvimento de Lula em ilegalidades ou recebimento de qualquer vantagem indevida (veja vídeo em https://www.facebook.com/Lula/videos/1219752334760431/).

Abaixo, a troca de mensagens entre a assessoria e a reportagem da Folha que mostra as informações faltando na matéria e a mudança de versão na história ao longo do dia.

Em 17 de fevereiro de 2017 13:20, Bela Megale escreveu:

Ola, tudo bem?

Tivemos a informação de que o Alexandrino Alencar, delator da Odebrecht, disse em acordo com a Lava jato que a empresa pagou um orientador de carreira, uma espécie de coach, para ajudar Luis Claudio Lula da Silva na sua carreira no marketing esportivo e na implementação do campeonato Touchdown.

Também temos a informação de que o pedido foi feito por um interlocutor do ex-presidente Lula.

Gostaria de saber se o fato aconteceu e se Luis Claudio, Lula ou a defesa deles gostaria de comentar o assunto.

Poderia nos dar uma resposta até as 19h?

Obrigada.
Bela

Em 17 de fev de 2017, às 14:04, Ass. de Imprensa – Instituto Lula escreveu:

Caros,

Imagino que seja para a manchete de domingo. Sempre é bom receber esses contatos na sexta, é bom saber que mantemos alguma relevância.

Esse interlocutor tem nome?

Atenciosamente,

Em 17 de fevereiro de 2017 14:12, Bela Megale escreveu:

Ola,

Não vamos abordar o nome do interlocutor na matéria.

Em 17 de fev de 2017, às 14:24, Ass. de Imprensa – escreveu:

Vocês não sabem o nome do interlocutor, ou sabem e não vão dar? Sabem dizer o ano do ocorrido, ou isso também não será abordado na matéria?

abraço,

José

Em 17 de fevereiro de 2017 14:34, Bela Megale escreveu:

Chrispiniano, não iremos citar o nome e o ano. Pode passar o contato da assessoria do luis Claudio?

17 de fevereiro de 2017 15:17

De: Ass. de Imprensa – Instituto Lula
Enviado: sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017 15:17
Para: Bela Megale
Cc: Walter Henrique Nunes
Assunto: Re: Questão matéria luis Claudio

Caros

segue a resposta da assessoria do ex-presidente:

A pergunta, e pelo que você me diz também a matéria, baseiam-se em suposta delação para obtenção de benefícios judicias que deveria estar sob sigilo, sem apresentar transcrição, documento, contexto, época do ocorrido ou qualquer informação básica que permita até compreender o que está sendo perguntado. Não vamos comentar supostas informações incompletas baseadas em supostos documentos fora de contexto que estariam sob sigilo judicial.

Em 17/02/2017, às 20:23, Bela Megale escreveu:

Chrispiniano,

Desculpe, mas tivemos a correção de uma informação há poucos instantes. O pedido da contratação do orientador profissional teria partido do próprio ex-presidente Lula.

Esse dado constará na matéria. Se quiser enviar alguma resposta sobre o fato, pode encaminhar até sábado, amanhã às 11h, ou hoje até qualquer hora.

Obrigada

Bela Megale
Folha de S. Paulo

Em 17 de fev de 2017, às 20:28, Ass. de Imprensa – escreveu:

Mantenho a nota, ainda mais porque a história vai assim mudando conforme avança o dia.

Você tem documento sobre o assunto, que comprove essa líquida apuração?

Atenciosamente,

Jose

Em 17/02/2017, às 21:29, Bela Megale escreveu:

Olá, não abrimos os documentos que tivemos acesso. Obrigada

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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