Yunes, a nova isca da Lava Jato

(Foto: 21.jun.2013 – Zanone Fraissat/Monica Bergamo/Folhapress)

A Lava Jato e seus porta-vozes na mídia, no afã de tentarem provar que não aderiram ao governo, voltaram a jogar uma isca para enganar a opinião pública.

Com ajuda da esquerda mais ingênua do mundo, eles sempre conseguem criar um novo factoide, pautar o debate público, enquanto prosseguem desmontando o Estado.

São bem espertos, os golpistas, e, desde o início da operação midiático-judicial chamada Lava Jato, mostraram que sabiam manipular a opinião pública de maneira magistral.

Setores da esquerda se empolgam, com a afobação típica de quem já não tem nada a perder. Eles também jogam o jogo, porque não vêem outra saída: o enfraquecimento do governo Temer, acham eles, lhes fortalece. De fato, isso é verdade. Eu gostaria, porém, de ver um pouco mais de malícia e maturidade na esquerda, após tantos anos caindo como patinho nas armadilhas do consórcio midiático-judicial.

A última novidade é o vazamento de uma delação da Odebrecht contra Padilha, homem forte de Temer, ministro da Casa Civil, e José Yunes, “amigo pessoal e ex-assessor” de Michel Temer.

Em entrevista ao blog de Lauro Jardim, da Globo, Yunes afirma que havia comentado com Michel Temer sobre a entrega de um “envelope” em seu escritório. Um cara – o doleiro Lucio Funaro – deixou o envelope. Mais tarde, outro veio buscar.

Ora, é possível sim, que Yunes sequer soubesse o conteúdo do envelope – dinheiro para eleger a bancada de Eduardo Cunha. Em períodos de campanha, isso é mais comum do que os moralistas, à esquerda e à direita, terão coragem de admitir: uma grande quantidade de “envelopes” são distribuídos para as campanhas, tanto de caixa 1 quanto de caixa 2.

Quando um dia voltarmos à normalidade institucional, alguém poderá dizer, sem medo: isso também é democracia. Afinal, como você acha que as campanhas são feitas?

Se você ler com atenção, no entanto, a nota de Lauro Jardim, verá que ela é puro fogo de artifício. É uma coisa estudada, que não traz nada de concreto contra Michel Temer.

O único risco (calculado) dos golpistas é o seguinte: Cunha foi posto lá para dar o golpe. Provavelmente, muitos outros “envelopes” fluíram pela Câmara, para que os deputados se unissem, de maneira tão determinada, para destruir a democracia brasileira.

A imagem de Michel Temer, porém, é atingida apenas superficialmente. Ele já explicou que não se importa com isso. Amanhã, a Globo o blinda novamente.

O próprio Yunes falou que não sabia que havia dinheiro no “envelope” deixado em seu escritório por Lucio Funaro, então a sua acusação de que Temer “sabia” não significa nada. Serve apenas para gerar manchetes e fazer um pouco de relações públicas em favor da Lava Jato.

Sobre a “mega-delação” da Odebrecht, de que irá provocar um tsunami no mundo político, só acredito vendo.

O mais provável é que a mega-delação da Odebrecht já tenha sido inteiramente mastigada, filtrada e dominada pela Globo, que já determinou exatamente quais serão suas consequências.

As consequências são: mais poder para a mídia e para o judiciário, e manter o governo Temer ainda mais submisso às orientações neoliberais exigidas pelo golpe.

De qualquer forma, não há risco do governo Temer “cair”, porque, a bem da verdade, nunca existiu um governo Temer. Existe uma junta provisória, sediada na Globo e no STF, que usa Temer como fachada.

O golpe precisa empurrar um governo bem fraco até 2018. É importante, aliás, que Temer permaneça fraco, porque o golpe também não confia nele, nem em ninguém do PMDB. O golpe só ficará realmente tranquilo depois que prender Lula, ou tirá-lo da disputa, e emplacar um tucano na presidência ao final de 2018.

***

No blog do Lauro Jardim

Yunes afirma que Temer sabia que ele foi usado por Padilha como mula

POR GUILHERME AMADO23/02/2017 23:25

O advogado José Yunes, amigo pessoal e ex-assessor de Michel Temer, afirmou em entrevista à coluna que o presidente sabia que Eliseu Padilha o havia usado como “uma mula”, em 2014, para Lúcio Funaro repassar um “documento”, possivelmente dinheiro.

Segundo Yunes contou à revista “Veja”, Padilha o procurou em setembro de 2014 e pediu se uma pessoa poderia deixar no escritório dele, em São Paulo, um “documento”, para que, depois, outra pessoa retirasse. Yunes diz ter permitido sem saber que se tratava de dinheiro.

Mais tarde, Yunes estava no escritório quando foi avisado pela secretária de que um homem de nome Lúcio viera deixar um envelope. Era Lúcio Funaro, o operador de Eduardo Cunha, preso desde o ano passado pela Lava-Jato.

Diz Yunes:

— Essa pessoa foi lá deixar o documento e se apresentou como Lúcio Funaro, falou um pouco sobre política e deixou o documento. Fui almoçar, depois a secretária disse que uma pessoa havia passado para buscar o pacote. E havia levado o pacote.

Segundo Yunes, Funaro afirmou que estava em curso uma estratégia para eleger uma bancada fiel a Cunha, para conduzi-lo à presidência da Câmara.

— Ele me disse: “A gente está fazendo uma bancada de 140 deputados, para o Eduardo ser presidente”. Perguntei: “Que Eduardo?”. Ele respondeu: “Eduardo Cunha”.

Após o episódio, Yunes foi pesquisar quem era Funaro. Ao ver que se tratava de um ex-doleiro, já preso no mensalão e envolvido em diferentes episódios de corrupção, procurou Temer.

— Contei tudo ao presidente em 2014. O meu amigo (Temer) sabe que é verdade isso. Ele não foi falar com o Padilha. O meu amigo reagiu com aquela serenidade de sempre (risos). Eu decidi contar tudo a ele porque, em 2014, quando aconteceu o episódio e eu entrei no Google e vi quem era o Funaro, fiquei espantado com o “currículo” dele. Nunca havia conhecido o Funaro — afirmou Yunes.

Em delação, Cláudio Melo, ex-executivo da Odebrecht, afirmou que Yunes recebeu em seu escritório, em dinheiro vivo, R$ 4 milhões que seriam parte de um repasse de R$ 10 milhões. Yunes pediu demissão do cargo de assessor especial da Presidência em dezembro, após a delação vir à tona.

Segundo Yunes, ele voltou a conversar sobre o assunto com Temer em dezembro, ao saber da delação da Odebrecht.

A coluna tentou contato com Eliseu Padilha, mas não obteve retorno.

À revista “Veja”, Padilha afirmou não conhecer Funaro. No entanto, Yunes disse acreditar que Eliseu Padilha e Funaro tenham uma relação mais próxima.

— Eu acredito que Padilha e Funaro tenham um relacionamento mais estreito. Mas, com o Padilha, nunca toquei nesse assunto. Eu acho que ele deveria tocar no assunto até para se justificar.

Procurado, o Palácio do Planalto ainda não respondeu à coluna.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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